“UM CRISTIANISMO A SEU TALANTE, UM NOVO ÍDOLO QUE NÃO SALVA, QUE NÃO
REPUGNA ÀS PAIXÕES DA CONCUPISCÊNCIA DA CARNE, QUE NÃO REPUGNA À AVIDEZ DO OURO
E DA PRATA QUE FASCINAM A VISTA, À SOBERBA DA VIDA”
Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves
Cabral
Escutemos o Papa Pio XII,
numa passagem da sua Radiomensagem “Nell’Alba e Nella Luce”,
pronunciada a 24 de Dezembro de 1941:
«Quando se indagam as
causas das presentes ruínas, diante das quais a humanidade, que as considera,
fica perplexa, ouve-se não raro afirmar que o Cristianismo falhou na sua
missão. De quem e de onde parte tal acusação? Porventura daqueles Apóstolos,
Glória de Cristo, daqueles heróicos zeladores da Fé e da Justiça, daqueles
pastores e sacerdotes, arautos do Cristianismo, que através de perseguições e
martírios, amansaram a barbárie e a prostraram devota ao Altar de Cristo,
iniciaram a civilização cristã, salvaram as relíquias da Sabedoria e da arte de
Atenas e de Roma, uniram os povos no Nome Cristão, difundiram o saber e a
virtude, alçaram a Cruz sobre os zimbórios e abóbadas das Catedrais, imagens do
Céu, monumentos de Fé e de Piedade, que ainda levantam a fronte veneranda sobre
as ruínas da Europa? Não, o Cristianismo, cuja força deriva d’Aquele que é
Caminho, Verdade e Vida, e com Ele está e estará até à consumação dos séculos,
o Cristianismo não faltou à sua Missão. Mas os homens rebelaram-se contra o
verdadeiro cristianismo, fiel a Cristo e à Sua Doutrina; forjaram UM
CRISTIANISMO A SEU TALANTE, UM NOVO ÍDOLO QUE NÃO SALVA, QUE NÃO REPUGNA ÀS
PAIXÕES DA CONCUPISCÊNCIA DA CARNE, QUE NÃO REPUGNA À AVIDEZ DO OURO E DA PRATA
QUE FASCINAM A VISTA, À SOBERBA DA VIDA; UMA NOVA RELIGIÃO SEM ALMA, OU UMA
ALMA SEM RELIGIÃO, UMA MÁSCARA DE CRISTIANISMO MORTO, SEM O ESPÍRITO DE CRISTO
– E PROCLAMARAM QUE O CRISTIANISMO FALTOU À SUA MISSÃO.
Cavemos até ao fundo da
consciência da sociedade moderna, procuremos a raiz do mal: Onde é que ela
prende? Também aqui não queremos calar o louvor devido à prudência dos homens
do governo que, ou favoreceram sempre, ou quiseram e souberam repor no seu
lugar, com vantagem do povo, os valores da civilização cristã nas felizes
relações entre a Igreja e o Estado, NA TUTELA DA SANTIDADE DO MATRIMÓNIO, NA
EDUCAÇÃO RELIGIOSA DA JUVENTUDE. Mas não podemos fechar os olhos à triste visão
da descristianização progressiva individual e social, que do relaxamento dos
costumes passou ao enfraquecimento e à negação declarada de verdades e forças
destinadas A ILUMINAR AS INTELIGÊNCIAS SOBRE O BEM E O MAL, A CORROBORAR A VIDA
FAMILIAR, A VIDA PARTICULAR, A VIDA NACIONAL E PÚBLICA. Uma anemia religiosa,
semelhante a contágio que alastra, feriu assim muitos povos da Europa e do
mundo, e produziu nas almas tal vácuo moral, que nenhum simulacro de religião,
nem mitologia nacional ou internacional, o poderá preencher. Com palavras e com
factos, e com providências governativas, que outra coisa se tem sabido fazer, há
dezenas e centenas de anos, SENÃO ARRANCAR DOS CORAÇÕES DOS HOMENS, DESDE A
INFÃNCIA À VELHICE, A FÉ EM DEUS, CRIADOR E PAI DE TODOS, REMUNERADOR DO BEM E
VINGADOR DO MAL, DESNATURANDO A EDUCAÇÃO E A INSTRUÇÃO, COMBATENDO E OPRIMINDO
COM TODAS AS ARTES E MEIOS, COM A DIFUSÃO DA PALAVRA E DA IMPRENSA, COM O ABUSO
DA CIÊNCIA E DO PODER, A RELIGIÃO E A IGREJA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO?
Precipitado o espírito no
báratro moral, com o afastamento de Deus e da prática Cristã, que outra coisa
restava senão que pensamentos, propósitos e cuidados, estima das coisas, acção
e trabalho dos homens, se voltassem e só olhassem para o mundo material,
afanando-se e suando por se dilatarem no espaço, por crescerem cada vez mais,
além de todos os limites, na conquista das riquezas e do poder, para competirem
em produzir, mais ràpidamente e melhor tudo o que parecia requerer o
adiantamento e o progresso material. Daqui, na política, a prevalência de um
ímpeto desenfreado para a expansão e para o mero prestígio político, sem preocupações
de moralidade; na economia, o dominar das grandes e gigantescas empresas e
associações; na vida social, o acorrer e acumular-se de multidões de povos, em
prejudicial superabundância, nas grandes cidades e nos centros industriais, com
a instabilidade que segue e acompanha sempre uma multidão de homens que mudam
de casa e residência, de terra e de emprego, de paixões e de amizades.»
Embora a esmagadora maioria
dos homens não pense nisso – É A MORTE QUE CONFERE SENTIDO À VIDA. Uma vida
terrena, corruptível, mas imortal, constitui uma verdadeira e própria
contradição de termos. Esta realidade não é acidental, porque é constitutiva da
condição humana depois do pecado original.
Os homens não gostam de
pensar na morte PORQUE NÃO SABEM USAR RECTAMENTE DA VIDA, NÃO SABEM GOVERNAR
SOBRENATURALMENTE OS BENS CRIADOS.
Em Nosso Senhor Jesus Cristo,
Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem, existiu o temor ordenado do sofrimento e da
morte; Jesus Cristo era, e é, um Homem perfeitíssimo, possuindo todas as
virtudes em grau formalmente infinito. Evidentemente, sendo Homem, Nosso Senhor
não podia possuir qualidades fìsicamente infinitas; as Suas Virtudes, a Sua
Caridade, possuíam um limite físico, todavia, sendo as Virtudes do Verbo
Encarnado, podem e devem afirmar-se como formalmente infinitas.
Mesmo numa Ordem puramente
natural, que nunca existiu, os homens estariam sujeitos à morte e ao
sofrimento, embora não tivessem que suportar a ferida na natureza, algo que os
debilita extraordinàriamente.
Estamos na Terra como lugar
de prova, a nossa missão é conhecer, amar e servir sobrenaturalmente a Deus,
sobre todas as coisas, e assim sermos admitidos na Família da Santíssima
Trindade por toda a Eternidade. Mas é servindo, sobrenaturalmente, a Deus Nosso
Senhor que nos preparamos para a morte. A única realidade que é ontològicamente
constitutiva da nossa santidade é precisamente a Graça Santificante, pois é
esta que mede todas as virtudes Teologais e Morais. Os Dons do Espírito Santo
são-nos facultados em ordem ao aperfeiçoamento destas virtudes, mas não são
eles mesmos que medem o nosso grau de Santidade. A morte deve ser encarada como
UM NASCIMENTO PARA DEUS NOSSO SENHOR, UM INGRESSO NA ETERNIDADE, OCEANO DE
VERDADE E DE BEM, PERANTE O QUAL A NOSSA EXISTÊNCIA AQUI NA TERRA É MENOS DO
QUE UMA GOTA DE ÁGUA. Mas é na Terra, e só na Terra, que podemos merecer o Céu,
o qual, de modo algum deve ser pensado como uma realidade heterogénea aos meios
sobrenaturais deste mundo, muito pelo contrário, há entre eles uma perfeita
homogeneidade transcendental. Ao contrário do que se possa pensar, a Graça
Santificante permanece na Eternidade, assim como os Dons do Espírito Santo.
Grande é o erro daqueles
racionalistas que desprezam a moral católica, acusando-a de ser interesseira na
busca egoísta de recompensas. A RECOMPENSA DO AMOR SOBRENATURAL A DEUS SOBRE
TODAS AS COISAS E AO PRÓXIMO POR AMOR DE DEUS – É O PRÓPRIO DEUS!
Durante a revolução de 1789,
certas religiosas foram condenadas à morte, acrescentando o Juiz que a crime
único pelo qual eram condenadas era – O FANATISMO!
– E o que significa
fanatismo? – inquiriram elas.
– É amardes a vossa vocação e
a vossa religião, de forma exclusiva e sobre tudo o mais – respondeu o Juiz-
– Ah! Sim, se o fanatismo é
isso, nós somos fanáticas, e como tal queremos morrer – retorquiram as
religiosas. E foram todas decapitadas.
O mundo sempre acusou os
verdadeiros adoradores e servidores de Deus como sendo fanáticos. Todavia, o
epíteto “fanático” só deve ser aplicado a criminosos de delito comum, que usam
qualquer sistema político, religioso, ou pseudo-religioso, como pretexto dos
seus crimes- é o que sucede com os movimentos terroristas islâmicos actuais, e
o que sucedeu com o nazismo e com o estalinismo.
O verdadeiro católico,
ornamentado com a Graça Santificante e a Caridade, pode e deve ser denominado
apenas como CATÓLICO INTEGRISTA, por oposição a católico em estado de pecado,
membro morto do Corpo Místico. O católico por puro hábito social, será então
denominado – nominal.
A real preparação para a
morte só se processa naqueles católicos que possuem a Graça Santificante, ou não
a possuindo, se esforçam, com a Graça de Deus, para recuperá-la.
A Santa Madre Igreja sempre
ensinou que difìcilmente morre mal quem viveu bem; e difìcilmente morre bem
quem viveu mal; e quanto melhor tiver vivido maiores são as probabilidades de
morrer bem. Sem dúvida que é sempre possível um milagre moral à hora da morte,
mas tenhamos presente que Deus não governa o mundo através de milagres, físicos
ou morais.
Deus Nosso Senhor converte,
preferencialmente, aqueles que viveram com integridade alguma doutrina oposta à
Fé Católica, por exemplo, alguns comunistas. Porque Deus não quer gente morna,
quer gente forte, íntegra de carácter, ainda que fria, ou seja não católicos ou
mesmo anti-católicos, e estes, Deus, em certos casos, converte-os com um
milagre moral. São Paulo constitui um belo exemplo do que estou referindo.
Tal acontece, porque existe
uma determinada proporção extrínseca entre a Ordem Sobrenatural e a Ordem
Natural.
Outros, não sendo
pròpriamente convertidos, são contudo projectados a um muito elevado padrão de
santidade por algum desgosto que lhes fez sentir a ilusão, e até a falsidade
derradeira, das ambições terrenas, mesmo legítimas. Santo Afonso de Ligório,
tendo-se empenhado na carreira de advogado, perdeu uma causa apaixonante. Santo
Inácio de Loyola, havendo apostado na carreira militar, foi ferido e logo
inutilizado.
Porque este pobre mundo, por
sua própria natureza infectada gravemente pelo pecado, está, e sempre esteve,
total e desordenadamente orientado para os bens terrenos, que mesmo enquanto
legítimos e criados por Deus, necessitam de um princípio moral
sobrenaturalmente ilustrado, para serem governados segundo a nobreza própria
dos seus fins. Só a Lei Divina pode consignar esse princípio de ordem, que ao
contrário do que pensa a esmagadora maioria dos homens, constitui igualmente o
princípio da felicidade e da paz possíveis neste mundo.
A Religião verdadeira nunca
pode ser princípio de sofrimento; exactamente porque este representa uma
privação de ser, e a Religião verdadeira só pode conduzir e constituir à
plenitude do ser. Recordemos que o sofrimento e a morte não constavam dos
planos primitivos de Deus, que concebiam e arquitectavam um mundo sem pecado e
exuberante de uma excelência Teológica, ontológica e antropológica, só inferior
à Beatitude Celeste. Consequentemente, a nossa preparação para a morte não deve
cultivar a morte em si mesma, enquanto é privação de ser, mas
enquanto tributo necessário
de uma natureza ferida pelo pecado, fonte reparadora dessa mesma privação, que
na morte de Nosso Senhor Jesus Cristo e pela sublime união com essa morte,
encontra a plenitude dos Bens Incriados, indissociável da sanção moral,
objectiva, de uma vida à qual a morte deu sentido. Exactamente por isso,
comemoramos os santos na data da sua morte; porque nesse dia foram sancionados,
eternamente confirmados, na amizade infinita de Deus Uno e Trino.
Como afirmámos há pouco: É a
morte que confere sentido à vida, e esse sentido foi Nosso Senhor que no-lo
deu, porque só possuem valor salvífico as obras realizadas em união
Sobrenatural com Nosso Senhor Jesus Cristo. Não somos predestinados por
realizar tais obras, nós as realizamos, sim, porque somos predestinados.
Diz São Paulo: “Ignorais,
porventura, que todos nós, que fomos baptizados em Cristo, fomos baptizados na
Sua morte?
Pelo Baptismo sepultámo-nos
juntamente com Ele, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos,
mediante a Glória do Pai, assim caminhemos nós também para uma vida nova”(Rom
6, 3-5).
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR
JESUS CRISTO
Lisboa, 26 de Setembro de
2017
Alberto Carlos Rosa Ferreira
das Neves Cabral
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