“A
perda da fé ao longo dos últimos 500 anos, somada ao subjetivismo liberal,
produziu o retorno do paganismo, da bruxaria, das religiões satânicas no nosso
mundo moderno.”
Os
estudiosos dos mitos explicam que uma das características dessas criações é a
crença na realidade do mito, por mais bizarro e absurdo que seja. Todos os
mitos têm um fundamento religioso, e realizam-se como uma ação sagrada, o que
explica a adesão intensa dos espíritos às coisas assim produzidas.
O que pensar, por exemplo, da
origem das castas tibetanas? O que pensar do ovo nascido dos cinco elementos e
que dará origem a 18 ovos, um dos quais desenvolve membros, depois os cinco
sentidos, e transforma-se, enfim, num jovem de grande beleza? Há nessa estranha
trama algo ainda mais radical: os homens vão dando crédito a essas bruxarias
porque lhes foram transmitidas ao longo do tempo, por tradição oral. Não
possuindo a verdadeira Revelação, apegam-se ao que lhes foi transmitido pelos
ancestrais.
Todo esse mundo pagão é cheio de misturas, entre sabedorias
naturais e bizarrices antinaturais. A perda da fé ao longo dos últimos 500
anos, somada ao subjetivismo liberal, produziu o retorno do paganismo, da
bruxaria, das religiões satânicas no nosso mundo moderno. Também novos mitos
foram criados e são transmitidos para as gerações futuras. Porém, hoje, essa
transmissão não é restrita aos antepassados de um povo, globalizou-se,
tornou-se universal pela ação da mídia internacional.
Os intelectuais que comandam
esse mundo da informação conseguiram um feito grandioso: imprimiram nas
consciências aquela mesma adesão, perenidade, constância próprias de uma
religião. E o fizeram através dos jornais, televisões, dos escritores de
sucesso e, claro, dos fantásticos fundadores da tecnologia da informática.
Quando eles tratam da questão do
chamado “holocausto” dos judeus, por exemplo, adotam uma atitude típica de uma
ação religiosa. Já não lhes interessa a verdade dos fatos, mas sim a imposição
de um comportamento e de uma atitude. Como a grande maioria já não pensa de
modo autônomo, os homens modernos sentem-se na obrigação de agir do modo a que
foram induzidos, para agradar aos deuses. Basta um sinal e o mundo inteiro
produz a unanimidade espalhafatosa que desdenha o fato histórico em favor do
mito.
No caso do enterro de um
ex-nazista, em Albano Laziale, próximo de Roma, em outubro passado, ficou
patente esse descontrole fanático da mídia instigadora de mitologias. A
realidade mostrava um homem que, sendo cidadão alemão e militar, comandou um
massacre medonho há mais de 50 anos. Esse senhor foi merecidamente condenado
pelo crime de guerra e viveu em prisão domiciliar. Converteu-se ao catolicismo,
assim como sua mulher, batizou seus filhos e freqüentava a missa e os
sacramentos regularmente, com a licença do tribunal que o condenou. Durante o
seu julgamento manifestou publicamente o drama de consciência que viveu na
época da guerra, e afirmou não apoiar as perseguições do regime ao qual
pertenceu. E, sobretudo, apresentou-se ao santo Tribunal da Confissão, pedindo
perdão a Deus pelos seus pecados.
Nada disso interessa à mídia.
Dentro da concepção fatalista do mito, esse homem não pode nem mesmo ser
enterrado. O próprio Vaticano proibiu a cerimônia religiosa de um homem
católico que freqüentava os sacramentos. Abandonou-o aos abutres! E como a
Fraternidade São Pio X, que não o conhecia até então e que não se mistura com
as questões de ideologia, aceitou realizar uma cerimônia privada, discreta, e
com poucos parentes e amigos, logo foi apedrejada e caluniada.
A verdade não muda. Não é a
mídia quem detém autoridade para julgar se um católico pode ser enterrado ou
não. Existe uma lei canônica na Igreja, e o sr. Erich Priebke, pelos seus atos
de convertido, merecia a sepultura católica.
Esse é o único fato relevante
nessa polêmica que, mais uma vez, lançou injusta lama na Fraternidade São Pio
X. Ao aceitar fazer o ato religioso a Fraternidade não está apoiando seus
crimes, ao contrário: faz o rito justamente porque o sujeito se arrependeu e
foi à confissão.
Outro exemplo muito claro de
mito moderno criado pela mídia é o nosso caso brasileiro do Movimento cívico
militar de 1964. Ao longo de 50 anos a memória do povo brasileiro foi
literalmente mudada, despojada da realidade histórica e lançada num turbilhão
mitológico com todas as características de uma criação, cosmogonia religiosa e
fanatizada.
De nada adianta os homens de bem
levantarem dados históricos, trazerem testemunhos pessoais sobre tudo o que
aconteceu, lembrarem a ação do Congresso Nacional, que votou, em sessão comum
da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, a moção conclamando o Exército
Brasileiro a exercer seu papel histórico de salvaguarda da ordem e da paz; de
nada adianta os documentos apresentados em livros, artigos, ou mesmo, hoje, em
tribunais, pois a máquina estatal, qual rolo compressor, segue sua rota
inexorável de achatar e trucidar qualquer lembrança da derrota do comunismo e
do terrorismo no Brasil.
O mito da bondade dos
terroristas e da maldade dos nossos soldados é algo tão generalizado e
fanatizado que qualquer mendigo ou bêbado de botequim, após décadas de lavagem
cerebral, sobe num banquinho para cuspir na tal “ditadura”. Se um técnico de
futebol fala sobre a seleção campeã do mundo em 1970, cospe nos militares; se
uma diretora de colégio dá uma entrevista sobre método de ensino, pisa de salto
alto na jugular de algum militar.
E esse mesmo mito é capaz de
criar seus semideuses. O que é um Che Guevara, senão um boneco desse Olimpo
mitológico? Só assim poderia ser venerado religiosamente um homem incapaz,
derrotado em todas as atividades de responsabilidade que lhe deram, cruel,
movido pelo ódio, como ele mesmo declarou, e que se gloriava de ser apelidado
“o sujo”. O que mais pode ser um Lula, senão outro semideus? Como tal, é levado
ao topo do governo brasileiro com a única credencial de ser esperto no jogo
político e blindado pelos adeptos da religião do PT.
O pior de todos os mitos
modernos é aquele que instituiu religiosamente, como todo mito, a falsa
religião dentro da Igreja Católica. O Concílio Vaticano II é o mais perigoso, o
mais radical, o mais pernicioso mito, porque toda a sua religiosidade ataca,
por sua mesma natureza, a verdadeira Religião. Não fez apenas outra coisa,
criou a anti-Igreja.
Cabe aqui, pois, lembrarmos que
a realidade, a verdade, as coisas como elas são, vão muitas vezes manifestar o
aspecto bizarro e falso dos mitos. Com mais forte razão, a verdade Revelada por
Deus na única Religião verdadeira é a prova da caduquice de ritos e crenças
pagãs que, por mais antigas que sejam, por mais ligadas à cultura de algum
povo, e mesmo apesar de aspectos naturais muitas vezes interessantes e
verdadeiros, como aparecem em alguns folclores, apoiam-se em esquisitices e em
atos de falsas religiões pagãs.
No caso do Concílio, o mito
atinge em cheio a própria Revelação. Após tomarem o poder dentro da Igreja com
seus elementos modernistas, com seus documentos contrários à Tradição católica,
com sua reforma dos Sacramentos, que rebaixou todos os ritos católicos a atos
banalizados e humanos, os criadores do mito farão a mesma lavagem cerebral que
vimos em outros casos, levando a massa dos fiéis a uma nova crença, a uma nova
religião, ao culto de um novo deus.
Cinqüenta anos após o Concílio,
o povo das ruas já não tem laços com a prática da vida católica de outrora. O
trabalho foi tão bem feito que os homens perderam a noção das coisas mínimas,
das coisas simples, que antigamente se aprendiam no simples convívio de casa ou
da escola.
A obra de Vaticano II provocou
uma devastação. Com uma precisão digna da moderna tecnologia, por meio de
métodos longamente elaborados nos laboratórios da moderna psicologia, da
neurolingüística e da manipulação das consciências, criou-se um novo tipo de
homem religioso, que se diz ainda católico, mas não tem ideia do que é, de
fato, ser católico.
O fenômeno é conhecido e já foi
descrito por grandes pensadores. É conhecido o caso dos anglicanos, por
exemplo, que um dia, sem grandes solavancos ou rupturas, acordaram
protestantes. Aconteceu com os católicos algo de paralelo ao massacre dos
ucranianos por Stálin. O famoso pogrom estabelecido
pelo fanatismo comunista ensinava que era preciso criar o terror para subjugar
a população. Para isso, mataram de fome, em um ano, 10% da população da
Ucrânia, ou seja, sete milhões de pessoas. Um terror semelhante foi produzido
dentro da Igreja, pela ameaça de punições severas a qualquer ideia de alguém se
levantar contra o movimento histórico que implantou dentro da Igreja uma nova
religião. Eliminaram todo e qualquer resquício de Tradição, de modo rápido e
completo.
Ainda hoje, se um padre da
Igreja oficial, celebrando a missa tradicional graças ao Motu Proprio de 2007,
ousar emitir alguma crítica ao Concílio Vaticano II, é logo reconduzido à sua
insignificância, mudado para paróquias afastadas, privado de qualquer cargo de
confiança, execrado como mau exemplo. São poucos os que ousam enfrentar o
sistema mitológico de Roma. O Concílio é o Oráculo dos deuses. Ai daquele que
agir contra a voz do Olimpo.
Dentro dessa realidade,
assistimos, hoje, às ações do Papa Francisco à frente da Igreja. Não nos
interessa, aqui, relatar mais exemplos de escândalos, de palavras contrárias à
doutrina e à prática da Igreja. Não é nosso interesse analisar os meses já
transcorridos desde sua eleição. O que nos move a escrever sobre o papa é a
evidência de que estamos em uma situação cada dia mais clara para o católico da
Tradição.
Estamos assistindo a um fenômeno
curioso nos ambientes “conservadores”. Os mesmos homens que aplaudiam Bento
XVI, acreditando ser ele o papa da restauração, da Reforma da reforma, e que
não se esqueciam de nos dirigir críticas violentas e amargas, chamando-nos de
cismáticos e excomungados, hoje não sabem para onde correr. Perderam o rumo. É
muito claro que não aceitam os desmandos do atual papa, lamentam e choram super flumina babylonis os tempos
conservadores do outro papa ainda vivo. Muitos se levantam como paladinos da
ortodoxia, e fazem críticas em seus blogs mais virulentas do que as
equilibradas e constantes críticas dos fiéis ligados à Fraternidade São Pio X.
Cabe, então, a pergunta: por que perderam o rumo?
A resposta mais óbvia seria a
mudança de atitude de um papa para o outro. Mas é preciso compreender de modo
mais profundo o que isso significa. Se esses senhores perderam o rumo ao se
aposentar um papa mais conservador, então a bússola que os guiava não apontava
para o verdadeiro Norte. O que eles nunca tiveram acertado é o critério de
avaliação da sua ortodoxia. Apoiaram-se em Bento XVI sem perceber que não havia
diferenças essenciais entre este e os que o precederam no governo da igreja de
Vaticano II; como também não há diferenças fundamentais entre Bento XVI e
Francisco I.
Muda o estilo, muda a capa
exterior que mostrava, ontem, um homem requintado, intelectual, amante do belo
e do nobre, de um lado; e hoje, o homem do povo, prático, mais banal do que
simples. Mas os dois agem segundo o espírito do mesmo Concílio Vaticano II; os
dois têm suas almas enraizadas no espírito do ecumenismo, do liberalismo, do
democratismo.
Os dois são adeptos do mito
Vaticano II, do mito do espírito de Assis, seguidores submissos dos semideuses
João XXIII, Paulo VI, João Paulo II, em vias de serem admitidos no Olimpo pelas
falsas canonizações anunciadas.
O único critério que temos é a
Fé católica. Pouco importa se um papa, em Roma, ou um bispo em sua diocese, é
conservador ou liberal. Enquanto estiverem pregando a nova religião de Vaticano
II, serão seguidores dos mitos dessa babilônia moderna. Pela Fé sabemos que
nossa adesão incondicional ao ensinamento de um papa futuro só poderá ser
aplicada no dia em que o papa voltar a falar a linguagem dos santos, a ensinar
a doutrina de sempre, a castigar e coibir os erros e as práticas contrárias ao
que a Igreja sempre ensinou e sempre praticou.
Não existe espaço para
escrúpulos diante dessa situação de combate. Alguns se envergonharam de
combater durante tanto tempo, e decretaram que Vaticano II era certo porque não
poderíamos ficar tanto tempo nas catacumbas.
Outros se juntaram ao mito da
falsa Roma na presunção de que poderiam converter aos modernistas, ou
acreditando que haveria um movimento de retorno à Tradição. Como nos ensina
Nosso Senhor nos Evangelhos: não lhes demos crédito, são cegos conduzindo a
cegos.
Mons. Lefebvre dizia que, no dia
em que o papa voltar a ser católico, totalmente católico, no dia em que o mito
de Vaticano II, causador do maior escândalo já produzido na vida dos homens,
for lançado no fundo do mar com a mó que o asno faz girar, então não haverá
necessidade de acordos, de entendimentos, pois seremos reconhecidos como
aqueles que, no meio da tormenta, fugiram para os montes a guerrear os inimigos
da Santa Igreja. E voltaremos, como novos Macabeus, para reconstruir o Templo
destruído.
"no dia em que o papa voltar a ser católico, totalmente católico, no dia em que o mito de Vaticano II, causador do maior escândalo já produzido na vida dos homens, for lançado no fundo do mar com a mó que o asno faz girar, então não haverá necessidade de acordos, de entendimentos, pois seremos reconhecidos como aqueles que, no meio da tormenta, fugiram para os montes a guerrear os inimigos da Santa Igreja."
ResponderExcluirSerá que Mons. Lefebvre e o autor do texto (Dom Lourenço Fleichman?) conseguem imaginar a Sede da Verdade reconhecendo seus erros, reconhecendo a superidade de um outro grupo na promoção da Fé, e pedindo desculpas por ter se equivocado durante tanto tempo? E, pior: ainda por cima condenando aqueles que resolveram cortar os laços com ela, como se dissesse: "nós estávamos errados, sim, mas vocês tinham que se manter unidos a nós, reconhecendo nossa autoridade". Essa é a Sede Infalível da Verdade? Se for, então eu não sei o que significa Infalível, nem o que significa Verdade.
Numa coisa concordo com o autor: "O trabalho [da seita conciliar] foi tão bem feito que os homens perderam a noção das coisas mínimas". Os católicos, incluindo Mons. Lefebvre e o autor do texto, perderam a noção do que singifica ser infalível, do que significa verdade, do que significa autoridade, do que significa papa católico - será o papa católico o infalível sucessor de Pedro, ou nada mais que um simples cargo honorífico, um mero figurante, sem qualquer prerrogativa, que pode ser habitualmente questionado, desobedecido, e até insultado?
Porque é que este artigo não está assinado? Com medo das represálias dos apóstatas que comandam a FSSPX?
ResponderExcluirAssim não vamos lá.
Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral - Lisboa