A GUERRA E A PAZ
Alberto Carlos Rosa Ferreira das
Neves Cabral
Escutemos a palavra do Papa Pio XII, na encíclica “Summi
Pontificatus,” de 20 de Outubro de 1939:
«Não, veneráveis irmãos, a salvação dos povos não pode provir dos meios
externos; a espada que pode impor condições de paz, não pode criar a paz. As
energias que devem renovar a face da Terra devem partir do interior, do
Espírito. A nova organização do mundo, da vida nacional e da vida
internacional, quando cessarem as amarguras e as cruéis lutas hodiernas, não
deverá mais repousar nas areias movediças das normas mutáveis e efémeras,
deixadas ao arbítrio do egoismo colectivo e individual. Devem elas antes erguer-se
sobre sólida base, sobre a rocha inabalável do Direito Natural e da Revelação
Divina; dali deverá o legislador humano atingir aquele espírito de equilíbrio,
aquele apurado senso de responsabilidade moral, sem o que é fácil desconhecer
os limites entre o legítimo uso e o abuso do poder. Tão só assim as suas
decisões poderão ter consistência eterna, nobre dignidade e sanção religiosa e
não ficarão à mercê do egoísmo e da paixão. Porquanto se é verdade que os males
sofridos hoje pela Humanidade, procedem em parte dos desequilíbrios económicos
e da luta de interesses, no intuito de alcançar uma distribuição mais
equitativa dos bens que Deus concedeu aos homens, como meios do seu sustento e
progresso, verdade é que eles possuem uma raiz muito mais profunda, a tocar nas
crenças religiosas e convicções morais, pervertidas pelo afastamento
progressivo dos povos da unidade de Doutrina e de Fé, de costumes e de moral,
promovida outrora pela obra indefessa e benéfica da Santa Igreja. A reeducação
da Humanidade, para possuir qualquer resultado positivo, deverá ser sobretudo
espiritual e religiosa; deverá, portanto, partir de Nosso Senhor Jesus Cristo,
sua base indispensável, deverá ser actuada pela justiça e coroada pela
Caridade.»
Bem se pode afirmar, dogmàticamente, que a guerra decorre directamente
do pecado original e dos pecados actuais; efectivamente, se o Paraíso terrestre
tivesse continuado, num mundo sem pecado, qualquer conflito seria impossível,
na exacta medida em que todas as inteligências se uniriam na Verdade, e
todos os corações na Caridade; existiria, sem dúvida, um ordenamento
hierárquico, MAS TAL ORDENAMENTO NÃO SERIA COACTIVO.
A verdadeira Paz não é, nem pode ser, uma imposição exterior, mas deve
resultar, necessàriamente, duma participação real, Sobrenatural, na Lei Eterna,
princípio Incriado de ordem de qualquer natureza criada ou possível.
O Profeta Isaías fala-nos, no seu capítulo 11, dos Bens Messiânicos e da
Paz Messiânica como corolário irradiante e sobrenaturalmente regenerador da
presença soberana de Deus Uno e Trino em todas as almas, que assim se não podem
odiar, nem guerrear, umas às outras.
A nossa vida neste vale de lágrimas é necessáriamente fundamentada na coacção
social constitucionalmente unificada e legitimada no Estado e pelo Estado.
A tendência dos homens para o mal é tão grande, que para conferir à
existência terrena um mínimo de segurança, têm os indivíduos de alienar ao
poder estatal o monopólio do uso da força; num mundo ideal, sem pecado, os
homens seriam gregários, pois tal constitui parte integrante da definição da
sua natureza, todavia congregar-se-iam num espírito e numa intenção essencial e
intrìnsecamente purificada, luminosamente transparente, sobrenatural, e
totalmente livre de coacção, como já afirmámos.
Além disso, num mundo sem pecado, existiria, sim, uma sociedade hierarquizada,
mas ESTA NÃO SE FRAGMENTARIA NUMA PLURALIDADE DE NACÕES E DE ESTADOS – A
UNIDADE DO GÉNERO HUMANO SERIA PLENA E SEM FISSURAS.
O facto dos homens se organizarem em Nações e Estados para precaverem a sua
segurança individual não impede, bem pelo contrário, que as rédeas desses
Estados caiam muitas vezes nas mãos de grandes criminosos de delito comum, QUE
UTILIZAM OS MECANISMOS SOCIAIS DE ESTRUTURAÇÃO E O APARELHO DE ESTADO PARA
COMETEREM OS SEUS CRIMES – caso paradigmático no século XX foi o regime nazi.
As duas guerras mundiais do século XX constituíram, directamente, um grande
castigo colectivo que a Humanidade sofreu, em consequência do processo de
apostasia dos Estados ocorrido com a revolução de 1789.
Emancipados criminosamente de qualquer Lei Objectiva, Eterna e Imutável,
vinculados interna e externamente apenas por liames humanos e terrenos, muitos
deles até gravemente pecaminosos, conduzidos por homens, também eles
pessoalmente imersos nas maiores misérias morais – os Estados correram para a
ruína comum.
Em 1914, O Imperador da Áustria solicitou a São Pio X uma benção para as suas
tropas – o santo Papa respondeu: «Eu abençoo a paz, não a guerra».
Desde o século XIV, que um processo simultâneamente intelectual (nominalismo),
religioso (reacções anti-Tomistas) e político (laicismo pré-revolucionário),
veio dissociar as grandes sínteses medievais, edificadas para maior Glória de
Deus e salvação das almas, atomizando os dados da inteligência, com consequente
perda do sentido do Sobrenatural; Marsílio de Pádua, por exemplo, laico e
protestante antecipado, defendeu no seu livro “Defensor Pacis” uma concepção
puramente naturalista, terrena e democrática de Igreja, e uma concepção
nacionalista de Estado, tendo com estas ideias contaminado o Sacro Império, que
a partir daí (1328) sofreu um processo de dessacralização e descaracterização
como braço secular da Santa Madre Igreja.
Marsílio de Pádua defendia ainda no seu sacrílego e hediondo livro que a
Santa Igreja constituía a maior ameaça para a paz, devendo por isso o Imperador
despojá-la de toda a propriedade imobiliária e de todo e qualquer poder
temporal; defendia ainda que as funções eclesiásticas deviam constituir meras
delegações da vontade popular.
Guilherme de Ockham (1295-1350) era outro correligionário de Marsílio,
que no plano filosófico dissociou a ordem lógica da ordem ontológica, e no
plano teológico negou a necessidade da Graça Sobrenatural, substituindo-a por
um mero acolhimento Divino às obras da criatura; e seguindo na peugada de
Escoto caiu num errado voluntarismo teológico, em que o Bem e o Mal dependem da
vontade Divina, recusando a Tomista posição intelectualista, na qual o Bem é
intrìnsecamente conforme à Natureza Eterna e Incriada.
Os chamados “inovadores protestantes” não o foram tanto como usualmente se
pensa. E assim se foi desbravando o descaminho dos Estados, que quanto mais
APOUCAVAM A ORDEM SOBRENATURAL, MAIS PRIVILEGIAVAM UM NACIONALISMO ÍMPIO; a
chamada Paz de Vestefália (1648), proscreveu definitivamente a Soberania dos
Corações de Jesus e Maria como fundamento da Ordem Internacional; esta “paz”
foi condenada pelo Papa Inocêncio X na bula “Zelum Domus Dei”; Portugal e
Espanha não aderiram ao espírito desta “paz”.
A Revolução de 1789, e revoluções suas derivadas, laicizou estruturas e
hierarquias, sem dúvida, mas estruturas que já haviam perdido muito do seu
conteúdo Sobrenatural, muito especialmente em França.
PORQUE NÃO EXISTE PAZ SEM NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, PODE EXISTIR É UM
ARMISTÍCIO. A melhor definição de Paz e precisamente a de: TRANQUILIDADE NA
ORDEM; efectivamente a Ordem consiste na conjugação unificante duma pluralidade
enquanto teleològicamente orientada por, e para, uma finalidade, e essa
Finalidade só pode ser Deus Uno e Trino, O Qual é gerador da tranquilidade
Sobrenatural beatificante, da contemplação da Verdade e da Bondade Eterna do
Ser – DA PAZ.
Por isso mesmo a guerra, mesmo ofensiva, só é legítima para conquistar a
verdadeira Paz em Nosso Senhor Jesus Cristo, para moderar, mesmo por meios
muito violentos, o concurso geral dos entes de forma a ordená-los para Nosso
Senhor Jesus Cristo, segundo um só princípio, que não há outro, QUE É O
PRINCÍPIO DA FÉ CATÓLICA, DA ESPERANÇA CATÓLICA, DA CARIDADE CATÓLICA.
A luta anti-modernista deve constituir para nós uma verdadeira guerra santa;
TEM CONTUDO QUE SER TRAVADA HIERÁRQUICA E OBJECTIVAMENTE, SEGUNDO OS RECURSOS
NATURAIS E SOBRENATURAIS À NOSSA DISPOSIÇÃO, QUE SÃO OS DA SANTA MADRE IGREJA;
e o primeiro de todos é a SANTIDADE, na total ausência de remoques e de tiques
subjectivistas.
Monsenhor Lefebvre pedia reiteradamente a Deus Nosso Senhor a Graça de o
conduzir sempre na base dos princípios da Fé, e não segundo ideias, caprichos e
ódios pessoais. DEUS UNO E TRINO É QUEM PODE TUDO, É O PRINCÍPIO E O FIM; MAS
EXIGE QUE AS CRIATURAS REALIZEM O QUE ELAS PODEM REALIZAR.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Lisboa, 4 de Dezembro de 2013
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