A graça é
gratuita, mas hoje, mesmo em ambientes tradicionais, pode-se verificar quão
pouco esta verdade é entendida, e isto de duas maneiras.
A
primeira, ao cair na lógica reivindicativa pela qual temos direito a tantas
coisas e em religião, aos sacramentos; assim, haveria um direito à graça.
A
segunda, que se pode garantir a graça freqüentando os sacramentos onde se
apresentam, como se a fé fosse para eles e não o contrário.
Porém, é
justamente no contrário que se cimenta a verdadeira fé, para a qual os
sacramentos válidos – sinais da graça divina – foram instituídos.
Ao
sacramental sempre aspirou a alma espiritual do ser humano, em todo tempo e
lugar, através de sacrifícios. Eram ofertas, às vezes para pedir, mas não para
reivindicar direitos humanos; estes são do tempo das revoluções, entre as quais
não se exclui hoje a mais fingida e interessada: a sacramental.
Atenção,
pois, ao reverso da moeda: atrás da ideia reluzente de direitos e vantagens vem
o preço do controle de novos poderes, entre as quais não se excluem hoje pactos
clericais obscuros em nome do Santo Sacrifício da Missa.
Vejamos o
que diz a propósito do sacrifício o livro do Profeta Malaquias.
Javé diz:
«Eu amo-vos» e vós perguntais: «De que modo nos amas?» (1, 2)
… como
Pai e Senhor, onde está o respeito que Me é devido? Javé fala-vos a vós,
sacerdotes que desprezais o seu Nome. Vós perguntais: «Como foi que desprezamos
o teu Nome?» – Vós ofereceis sobre o meu altar alimentos impuros, e ainda
perguntais!”
O que há de
mais impuro que a intenção interesseira no que é sagrado?
(7) Quem
entre vós fecha as portas do Templo, ou acende o fogo sobre o meu altar,
gratuitamente? (10) Vós já não Me agradais – diz Javé dos exércitos. Eu não
aceito a oferta das vossas mãos. (11) Desde o Oriente até ao Ocidente, é grande
o meu Nome entre as nações. E em todo o lugar se oferece incenso ao meu nome e
uma oferta pura, pois grande é o meu Nome entre as nações – diz Javé dos
exércitos. (12) Vós profanais o meu Nome quando dizeis: «A mesa do Senhor está
contaminada e o que está em cima dela não tem valor». A impureza da
hipocrisia no altar do Sacrifício.
(13)
Dizeis: «Que trabalho!» desprezando-Me – diz Javé dos exércitos.
Aqui se
pode perguntar como foi possível que nas palavras de consagração das espécies
na oferta da Missa que celebra o Sacrifício do amor de Deus, fosse introduzida
a palavra «trabalho»: «fruto do trabalho do homem»?
Como é
que para celebrar a oferta divina de um amor infinito, selado no Sangue de N.
S. Jesus Cristo, a intellighenzia conciliar se tenha lembrado
de agregar a «trabalheira humana para produzir o pão e o vinho»?
Foi para
agradar sindicatos comunistas com que simpatizavam?
Fato é
que até na mais reles etiqueta social, quando se oferece algo se tira o preço
do custo. Mas aqui os grandes sacerdotes fizeram de modo sinuoso o contrário, o
que é revelador da mentalidade do culto do homem vítima.
E isto
justamente quando se ocupavam de adaptar o Sacrifício divino.
O sentido
da profecia de Malaquias coloca em cheio esse grave desrespeito diante de Deus.
Se era assim com o sangue animal, o que dizer da «Oblatio munda» da
Santa Missa da Igreja de Deus?
(2, 2) Se
não Me ouvirdes e não tiverdes no coração o desejo sincero de glorificar o meu
Nome – diz Javé dos exércitos – mandarei contra vós a maldição, e amaldiçoarei
as vossas bênçãos. E vou amaldiçoar-vos porque nenhum de vós as leva a sério.
(3) Vou atirar-vos estrume à cara, o estrume das vítimas sacrificadas nas
vossas festas; vou varrer-vos junto ao vosso estrume. Assim ficareis sabendo
que fui Eu que vos dei esta ordem, para que permaneça a aliança que fiz com
Levi – diz Javé dos exércitos. (5) A minha aliança estava com Levi; significava
vida e paz, e era isso o que Eu lhe dava; significava respeito e ele respeitava
e honrava o meu Nome. Um ensinamento fiel estava na sua boca, e nada de errado
se encontrava nos seus lábios; Levi caminhava comigo na paz e no direito,
afastando muitos do pecado. Porque os lábios do sacerdote guardam o
conhecimento, e na sua boca se procura o ensino [da Fé íntegra e pura],
pois ele é um mensageiro de Javé dos exércitos. Vós, porém, desviastes-vos do
caminho e fizestes tropeçar muitos com o vosso ensino. Vós quebrastes a aliança
de Levi – diz Javé dos exércitos. Por isso, agora vos tornei desprezíveis e
abjetos aos olhos de todo o mundo, porque não seguistes os meus caminhos e
fostes infiéis na aplicação da minha Lei.
A relação do Sacrifício com a fé do sacerdote que o
oferece
Tudo isto
parece que teve suas razões esquecidas na Igreja conciliar, que deste modo cria
uma relação perversa: os fiéis deveriam seguir sacerdotes que não os levam à
fé, mas desviam. O mesmo, destes com os bispos.
E ainda o
mesmo dos bispos com os papas da fé modernista no culto do homem vítima e
reprimido no seu direito à liberdade de consciência e de religião. Tudo como se
essa hierarquia não tivesse sido instituída para a Fé íntegra e pura suscitada
por Nosso Senhor, mas para o novo poder clerical.
A dúvida
sobre essa ordem parece resolvida para muitos crentes na certeza que o valor
dos sacramentos, se válidos, é ex opere operato. Logo, não importa,
para o valor do sacramento, se são bons ou maus pastores.
O que
acontece, porém, quando uma «hierarquia invertida» impõe uma nova «fé», segundo
uma «nova consciência da Igreja»? Quem aceita esta, não está aceitando quem
corrompe a Fé e, por conseguinte, corrompeu a razão mesma dos sacramentos? Não
se coloca então este «complacente» entre os que, não defendem nem a Fé nem os
verdadeiros Sacramentos?
Aí voltam
a dizer: isso é problema pessoal do sacerdote. Os sacramentos que ele ministra
continuam a ser bons para a fé, pois são ex opere operato!
Assim não
se defende nem a Fé que agrada a Deus, nem os sacramentos, que a reforça nos
fieis, crendo que o testemunho na defesa da Fé vem após, ou é independente de
onde e de como se recebem os sacramentos.
Nunca foi
esta a prioridade ensinada pela Igreja quando a Fé estava em perigo. Até os
monges deixavam sua vida contemplativa para defendê-la.
São Hermenegildo foi declarado mártir por São
Gregório Magno por ter sido decapitado (585) ao recusar indignado receber a
comunhão da mão de um bispo herege. Este sacrifício sangrento teve frutos para a
Igreja porque seu irmão, sucessor no trono de seu pai ariano, tornou-se
católico e assim toda a Espanha guiada pelo bispo São Leandro voltou à
verdadeira Fé.
Note-se
que, à diferença dos sacramentos transformados da Igreja conciliar, os
sacramentos arianos não eram essencialmente diversos dos católicos. No entanto
deixavam de levar os fiéis a testemunharem a verdade da Igreja onde a Fé é
vilipendiada. Podiam servir de «seguro» para uma santificação?
Com esta
idéia há uma ruptura doutrinal de tempos apocalípticos, de geral apostasia,
pela simples razão que, com a maioria de «católicos» reverentes à falsa
«autoridade na fé» de conciliares que a corrompem em tudo, mais do que o
fizeram os arianos, a Igreja fica aberta à «hora do Anticristo»; como é que os
sacramentos podem ser meio de defesa da Fé e portanto de salvação em modo
independentes do testemunho fiel.
E como
este pode ser fiel sem a oposição ao que e a quem corrompe a Fé?
Podem
tais crentes não se perguntarem se a fidelidade apenas a um grupo, com seu latinorumtradicional,
agrada a Deus sem testemunhar a Fé contra quem a corrompe ocupando a Sua Igreja
para mudá-la?
Que
testemunho é esse se reconhecem a autoridade dos corruptores?
É claro
que essa preocupação de assegurar os sacramentos, a despeito desse testemunho
posto em surdina, indica a mentalidade pela qual a fé vem depois do
reivindicado direito ao «seguro
sacramental».
Aqui
voltamos então ao reverso da moeda: deste modo não só se abandona a verdadeira
defesa da Fé da Igreja, dependente do poder legítimo nos seus vértices, como se
cai na submissão a um novo poder clerical comprometido que decide sobre a nova
“obediência” e “fidelidade” a quem convém.
Deste
modo, com o “consumismo sacramental” se criou uma nova regra de poder que é
adverso à Fé. Por exemplo, se os chefes de uma Fraternidade tradicionalista ou
um novo «bispo conciliar», como é o caso do P. Rifan, decidem que
há que seguir um anticristo e quem não obedece fica sem os sacramentos,
os fieis apavorados acabarão por seguir justamente quem altera os sacramentos, com que se preocupam mais do que da própria
Fé.
É o caminho mais direto para desagradar a Deus, adotando, sem nem se dar conta
do falso testemunho, as ordens dos vigários do inimigo de Deus.
Com isto
é também ignorada a Caridade que se manifesta nas obras de conversão à única
Igreja, e abandonada a Esperança que ela seja restaurada com o retorno de quem
representa a autoridade integralmente católica, apostólica e romana,
reconhecível no empenho pela pureza e continuidade dos Sacramentos de Jesus
Cristo.
Para a
força desta Fé foram instituídos os Sacramentos, assim como para confirmá-la e
defendê-la existe o Clero e a Hierarquia católica.
Eis o que
deve ser o primeiro testemunho, do qual não está isento nenhum católico, e a
tempo e a contratempo da própria tranqüilidade e segurança, bem como do risco
de telhados e da periculosidade de nossas catacumbas.
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