Na Declaração de 21 de novembro de 1974 de Dom Lefebvre,
encontra-se esta alínea relativa à santa Missa: Não se pode modificar
profundamente a Lex orandi sem modificar a Lex credendi. À missa nova,
corresponde catecismo novo, sacerdócio novo, seminários novos, universidades
novas, Igrejas carismáticas, pentecostalistas, todas coisas contrárias à
ortodoxia e ao magistério de sempre.
Consequentemente, a Declaração de fidelidade às posições da
Fraternidade São Pio X afirma que o rito da missa nova de Paulo VI é “mau
em si” pois, ainda que sua validade seja possível, o perigo de invalidade
é grandiosíssimo. A razão disso é que “ele se afasta de modo
impressionante, no conjunto como no detalhe, da teologia católica da santa
Missa” (cf. Breve exame crítico dos cardeais Ottaviani e Bacci), e, em
particular, porque 1) o rito favorece uma interpretação protestante da missa;
2) as traduções em línguas vernáculas são ruins e deterioram ainda mais o
sentido das palavras da missa; 3) os modos diversos e fantasistas cujos padres
a celebram agravam o problema.
Que o novo rito seja mau em si resulta logicamente de um princípio
tomista metafísico: Bonum ex
integra causa; malum ex quocumque defectu. Ou seja: para que algo seja
bom, é preciso que ele o seja sob todas suas relações; para que ele comece a
ser mau, basta que ele contenha apenas um único defeito. Ora, o novo rito
apresenta três defeitos que, concretamente, se cumulam: o sentido protestante,
as traduções defeituosas, os modos fantasistas de celebração. Eis porque ele é
mau em si.
Em seguida a Declaração de fidelidade apenas deduz desta conclusão
as aplicações pastorais necessárias para os padres membros da Fraternidade São
Pio X: Nunca celebrarei a
santa Missa de acordo com o novo rito, mesmo sob a ameaça de penas
eclesiásticas; e nunca aconselharei quem quer que seja, de modo positivo, a
participar ativamente em tal missa.
O estatuto da missa de São Pio V “Ecclesia Dei” goza de
um estatuto totalmente diferente. Basta refazer o percurso canônico desta “missa
dos ralliés“. No dia 3 de outubro de 1984, ela começa a se beneficiar de
um indulto especial intitulado Quattuor
abhinc annos, que concede a celebração da missa antiga aos padres e fiéis
que “não têm nada a ver com aqueles que questioam a legitimidade e a
retidão doutrinal do Missal romano promulgado pelo papa Paulo VI“. Em 2 de
julho de 1988, no Motu proprio Ecclesia
Dei afflicta, publicado na manhã seguinte da pretendida excomunhão de Dom
Lefebvre por João Paulo II, pode-se ler:
Nas presentes
circunstâncias, desejo sobretudo dirigir um apelo, ao mesmo tempo solene e
comovido, paterno e fraterno, a todos aqueles que até agora, de diversos modos,
estiveram ligados ao movimento do Arcebispo Lefebvre… e de não continuarem
a apoiar de modo algum esse movimento… Deverá ser respeitado o espírito de
todos aqueles que se sentem ligados à la tradição litúrgica latina, mediante
uma ampla e generosa aplicação das diretrizes, já há tempos emanadas pela Sé
Apostólica, para o uso do Missal Romano segundo a edição típica de 1962″.
E o fim desta frase remete a uma nota de rodapé: cf. Congregação
para o Culto divino. Carta Quattuor abhinc annos, 3-x-1984; D.C. nº 1885 (1984)
p. 1124. Portanto, as disposições tomadas em 1988 não são ainda para “aqueles que
questionam a legitimidade e a retidão doutrinal do Missal romano promulgado
pelo papa Paulo VI“. No Motu proprio Summorum
Pontificum, de 7 de julho de 2007, de Bento XVI, pode-se ler no artigo 11:
Que a
Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, ereta em 1988 por João Paulo II, siga levando
adiante sua função”.
Esta é uma referência implícita aos dois documentos precedentes.
Portanto, novamente: missa tridentina para aqueles que não se opõem à missa de
Paulo VI… A posição Ecclesia Dei não tem nada a ver com aquela da Fraternidade
São Pio X. De um lado, prefere-se a missa antiga sem recusar a missa nova; do
outro, conserva-se a antiga por princípio e combate-se a nova tirando disso as
conclusões lógicas que são impostas para a proteção da Fé dos padres e dos
fiéis! Portanto é a mesma missa, mas não é o mesmo combate! Que combate? O
combate da Fé!
Pequeno erro nos princípios, catástrofe nas conclusões! Em 1993,
por exemplo, o padre Reckenwald, professor do seminário de Wigratzbad
(Fraternidade São Pedro) afirmava:
Cooperamos com
padres que utilizam o rito novo; alguns deles, aliás, ministram conferências em
nosso seminário. Damos nosso apoio, na nova liturgia, para distribuir a
comunhão ou assegurar a homilia. Demonstra-se assim que a boa vontade de ambas
as partes permite uma coexistência pacífica da antiga e da nova liturgia”
(Offerten Zeitung – Apostolisches, nº 11 – nov. 1993, p. 22).
Frequentar a “missa Ecclesia Dei” é renunciar ao combate pela
missa e escorregar pouco a pouco rumo à missa de Paulo VI!
Abbé Guy Castelain
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Antes de postar seu comentário sobre a postagem leia: Todo comentário é moderado e deverá ter o nome do comentador. Caso não tenha a identificação do autor (anônimo) ou sua origem via link não seja identificada e mesmo que não tenha o nome do emitente no corpo do texto, bem como qualquer tipo de identificação, poderá ser publicado se julgarmos pertinente ou interessante ao assunto, como também poderá não ser publicado, mesmo com as devidas identificações do autor se julgarmos o assunto impertinente ou irrelevante. Todo e qualquer comentário só será publicado se não ferir nenhuma das diretrizes do blog, o qual reservamos o direito de publicar ou não, bem como de excluí-los futuramente. Comentários ofensivos contra a Santa Madre Igreja não serão aceitos; de hereges, de pessoas que se dizem ateus, infiéis, de comunistas só serão aceitos se estiverem buscando a conversão e a fuga do erro. De indivíduos que defendem doutrinas contra a Verdade revelada, contra a moral católica, de apoio a grupos ou ideias que, contrários aos ensinamentos da Igreja, ao catecismo do Concílio de Trento, ferem, denigrem, agridem, cometem sacrilégios a Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, a Mãe de Deus, seus Anjos, Santos, ao Papa, ao clero, as instituições católicas, a Tradição da Igreja, também não serão aceitos. Apoio a indivíduos contrários a tudo isso, incluindo ao clero modernista, só será publicado se tiver uma coerência e não for qualificado como ofensivo, propagador do modernismo, do sedevacantismo, do protestantismo, das ideologias socialistas, comunistas e modernistas, da maçonaria e do maçonismo, bem como qualquer outro tópico julgado impróprio, inoportuno, imoral, etc. Alguns comentários podem ser respondidos via e-mail, postagem de resposta no blog, resposta no próprio comentário ou simplesmente não respondido. Reservo o direito de publicar, não publicar e excluir os comentários que julgar pertinente. Para mensagens particulares, dúvidas, sugestões, inclusive de publicações, elogios e reclamações, pode ser usado o quadro CONTATO no corpo superior do blog versão web. Obrigado! Adm do blog.