COMENTÁRIO
DE SANTO TOMÁS DE AQUINO À SEGUNDA EPÍSTOLA DE
SÃO PAULO AOS TESSALONICENSES
– CAPÍTULO
II –
O
ADVENTO DA SEGUNDA VINDA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO E O ANTICRISTO
TÍTULO
DO ORIGINAL LATINO:
SANCTI
THOMAE AQUINATIS DOCTORIS ANGELICI SU PER SECUNDAM EPÍSTOLAM
SANCTI PAULI APOSTOLI AD THESSALONICENSES EXPOSITIO
TRADUZIDO
POR RODRIGO SANTANA
Nota: O
presente texto que apresentamos aos nossos leitores é parte de
um belíssimo e extraordinário comentário da
Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicensses feito pelo
mais Doutor dos Santos e o mais Santo dos Doutores da Igreja, isto é,
de Santo Tomás de Aquino.
A
tradução para a língua portuguesa foi feita por
Rodrigo Santana através de um texto editado em castelhano pela
Editorial Tradicón , S. A., Av. Sur 22 No. 14 (entre Oriente
259 y Canal de San Juan), Col Agrícola Oriental. México
- Codigo Postal 08500) de 1977. A edição em castelhano
(disponível no site da Congregação para o Clero:
http://www.clerus.org) se deu através de um exemplar em latim
intitulado Sancti Thomae Aquinatis Doctoris Angelici su per
Secundam Epístolam Sancti Pauli Apostoli ad Thessalonicenses
expositio editado por Petri Marietti em 1896.
O texto
bíblico citado por Santo Tomás é o da Vulgata de
São Jerônimo, infelizmente as atuais traduções
em português não são tão fiéis aos
termos empregados nesta referência católica das
Escrituras, desta forma optamos por traduzir da Vulgata os textos
utilizados neste comentário, dando assim maior uniformidade e
fidelidade ao texto latino de Santo Tomás.
O
QUE NOS MOTIVA A PUBLICAR O PRESENTE TRECHO DO COMENTÁRIO DE
SANTO TOMÁS (SOBRE O CAPÍTULO 2 DE 2 TESS) É QUE
ELE TRATA DE UM TEMA AINDA MUITO INCOMPREENDIDO ENTRE NÓS
CATÓLICOS DESTE SÉCULO: O ANTICRISTO. NESTE TRECHO DE
SEU COMENTÁRIO O DOUTOR ANGÉLICO APRESENTA-NOS A
DOUTRINA TRADICIONAL DA SANTA IGREJA CATÓLICA A RESPEITO DESTE
TEMA QUE É DE ESPECIAL INTERESSE EM NOSSO TEMPO. É
MISTER LEMBRAR AINDA QUE OS PONTÍFICES ROMANOS NÃO SÓ
RECOMENDARAM-NOS À DOUTRINA DO AQUINATE (SANTO TOMÁS),
MAS TAMBÉM EM DIVERSAS OPORTUNIDADES CONFIRMARAM A AUTORIDADE
DE SEUS ENSINAMENTOS PARA TODA A IGREJA CATÓLIA (ALGUNS
EXEMPLOS: AETERNI PATRIS DE LEÃO XIII, DOCTORIS ANGELICI DE S.
PIO X , CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO DE 1917, STUDIORUM
DUCEM DE PIO XI, ALÉM DE OUTROS.)
LIÇÃO
1: 2 TESSALONICENSSES 2,1-5
Admoestamo-los
a não apartar-se da verdade, como se o dia do juízo
estivesse próximo, porque primeiro há de dar-se a
conhecer o Anticristo, que São Paulo chama o homem do pecado.
1
Entretanto, irmãos, vos suplicamos, pelo advento de Nosso
Senhor Jesus Cristo, e de nossa união à Ele.
2
que não abandoneis rapidamente vossos sentimentos, nem os
assusteis com supostas revelações, com certos discurso,
ou com cartas que se suponham enviadas por nós, como se o dia
do Senhor estivesse muito próximo.
3
Não deixai-vos seduzir por nada e de nenhum modo, porque não
virá este dia sem que primeiro haja acontecido a apostasia
geral dos fiéis, e aparecido o homem do pecado, o filho da
perdição,
4
o qual se oporá à Deus e se levantará contra
tudo o que se diz Deus, ou se adora, até chegar a por seu
assento no templo de Deus, dando-se a entender que é Deus.
5
Não vos recordais que, quando estava entre vós, vos
dizia estas coisas?
No
capítulo anterior o Apóstolo correu o véu aos
acontecimentos futuros no que mostra as penas dos maus e o prêmio
dos bons; aqui anuncia os perigos que correrá a Igreja
no tempo do Anticristo; e primeiro anuncia a verdade
desses perigos futuros, e exórta-os logo a
permanecer na verdade. Quanto ao primeiro, excluída a
falsidade, os instrui na verdade. Traz-lhes também a
consideração à (tripla) razão que servirá
para persuadí-los, e a que: "a não deixar-se
alterar tão facilmente"; e toma do meio que pudera
abordá-los. Induze-os, não com mandatos (Fil 1) senão
com seus próprios rogos:"os suplicamos". Pelo
advento de Cristo, embora terrível para os maus (Am 5),
desejável para os bons (2Tm 4; Ap 22); Pelo desejo e amor de
toda a congregação dos Santos, "nele
mesmo", e à saber, onde está Cristo,
porque "onde está o corpo, ali se juntarão
as águias" (Mt 24). Ou nele mesmo, porque todos
os Santos, em lugar e glória, estarão no mesmo, segundo
o mesmo:"junta-lhe seus santos". Mas a que os
induz? "a que não mudeis de ligeiro vossos
sentimentos". Mas uma coisa é mover-se e outra ser
presa do terror. Move-se de seu sentir quem deixa o que teve; como se
dissera: não deixes tão rapidamente minha
doutrina. “Quem pronto crê é cabeça
leviana” (Eclo. 19). Mas o terror é um gênero
de trepidação, como o medo do contrário. Por
isso disse: "nem os aterrorizeis", como o
ímpio, em cujos ouvidos "soa sempre um estrondo
que lhe aterra" (Jó 15,21). Também se
houver paz, é suspeita sempre ciladas e traições,"pois
sendo como é medrosa a maldade, traz consigo o testemunho de
sua própria condenação" (Sab
17,10).
a)"com
supostas revelações". Dá de mão
ao que poderia movê-los, em especial e no geral: "que
nada os seduza"; e é um seduzido ou enganado por uma
falsa revelação; donde diz: "com supostas
revelações" ou pelo espirito, isto é:
se alguns disserem que o Espírito Santo revelou-lhe algo de
encontro a minha doutrina, "não os aterrorizeis"
(1Jo 4; Ez. 13). Algumas vezes também Satanás
transfigura-se em anjo de luz, como se diz em 2Co 11 e 3
Reis,22:"sairei e serei um espirito mentiroso na boca de
todos seus profetas"; b) por um raciocínio
ou falsa exposição da Escritura; por isso diz: "com
certos discursos" (2Tm 2; Ef 5); c) por
uma autoridade distorcida a um perverso sentido."Segundo que
também nosso caríssimo irmão Paulo os escreveu
conforme à sabedoria que lhe foi dada, como o faz em todas
suas cartas... nas quais há algumas coisas difíceis de
entender, cujo sentido os indoutos e inconstantes pervertem, da mesma
maneira que nas demais escrituras de que abusam, para sua propria
perdição" (2 Pedro,3,16). Mas sobre o que
versava o engano?: "como se o dia do Senhor estivesse já
muito próximo". E adiciona: "ou com cartas
que se supunham enviadas por nós"; porque na PrimeIra
Carta, se mal se entende, parece dizer que a vinda do Senhor está
já à porta, como aquilo: "logo nós
os que vivemos... "
Diz
o mesmo no geral: "que nada os engane de nenhum
modo" (Lc 21; 1Co 15). A razão pela qual o
Apóstolo tira do meio estas “pedras de tropeço”,
é porque o prelado por nenhum motivo há de querer que
valendo-se de mentiras se consigam alguns bens.
"A
mais disso, somos convencidos de testemunhos falsos" (1Co
15,15). Assim mesmo porque a coisa crida era perigosa: que se
aproximava a chegada do Senhor. Primeiro, porque se daria ocasião
a maior engano, já que haveriam alguns, depois de mortos os
Apóstolos, que diriam serem eles o Cristo (Lc 21). Por isso o
Apóstolo não quis que houvesse lugar a dúvidas.
Também porque o demônio pretende com frequência
fazer-se passar por Cristo, como consta na Vida de São
Martinho; e não quis que os Tessalonicenses passasem pelo
mesmo. Santo Agostinho põe outra razão: porque correria
perigo a fé; pois algum diria: tardará em vir o Senhor,
e então me prepararei para recebê-lo. Outro: logo virá,
agora vou-me preparar. Outro, enfim: não sei; e este está
mais no justo, porque concorda com o que diz Cristo.
Mas
o que vai mais errado é o que diz: logo, porque, passado o fim
da pregação, os homens entrariam em desespero e creriam
que fosse falso o que estava escrito.
Estabelece
logo a verdade, ao dizer: "porque não virá este
dia sem que primeiro haja acontecido a apostasia"; e mostra
primeiro o que acontecerá à vinda Anticristo, que são
duas coisas: uma anterior à sua vinda; outra, a sua mesma
vinda.Primeiro está a apostasia, que a Glosa explica de
muitas maneiras, e primeiro da fé, que, segundo
estava anunciado (Mt 24), todo o mundo a receberia. Esta é,
pois o sinal precursor, que -segundo Santo Agostinho- ainda não
se cumpre; depois dela haverá muitos apóstatas (1Tm 4)
"e pela inundação dos vícios se resfriará
a caridade de muitos" (Mt 24,12).
Ou
entenda-se a apostasia ou separação do Império
Romano, ao que todo o mundo estava submetido. Segundo Santo
Agostinho, figura sua era a estátua de Daniel, em cujo
capítulo dois se nomeiam quatro reinos, os quais terminariam
no acontecimento da vinda de Cristo; e que isto era um sinal a
propósito, porque a firmeza e estabilidade do Império
Romano estava ordenada a que, debaixo de sua sombra e senhorio se
ensinasse por todo o mundo a fé cristã. Mas como pode
ser isto, sendo já passados muitos séculos desde que os
Gentios se apartaram do Império Romano e, isso não
obstante, não havia vindo ainda o Anticristo?Digamos que o
Império Romano ainda segue em pé, mas mudada sua
condição de temporal em espiritual, como disse o Papa
São Leão em um sermão sobre os Apóstolos. Por
conseguinte, a separação do Império Romano há
de entender-se, não só na ordem temporal, senão
também na espiritual, e, a saber, da fé
católica da Igreja Romana.E isto é um sinal muito a
propósito, porque, assim como Cristo veio quando o Império
Romano senhoreava sobre todas as nações, assim pelo
contrário o sinal do Anticristo é a separação
dele ou apostasia.
Prediz
em segundo lugar ao Anticristo, quanto a sua culpa e pena, que toca
implícitamente e em comum, e seguidamente explica, e quanto ao
seu poder. Disse pois: primeiro virá a apostasia e então
se deixará ver. E chama-se "o homem do pecado, o
filho da perdição", segundo a Glosa, porque
assim como em Cristo abundou a plenitude da virtude, assim também
no Anticristo a multidão de todos os pecados; e assim como
Cristo é melhor que todos os santos, assim o Anticristo pior
que todos os maus. Por isto se chama o homem do pecado, porque ele
todo, dos pés a cabeça, será um puro pecado. Mas
isto não quer dizer que não pudesse ser pior, porque o
mal jamais corrompe totalmente o bem, conquanto ao ato não
poderá ser pior; contudo melhor que Cristo nenhum homem.
Disse-se "o filho da perdição",
isto é, destinado à perdição final (Jó
21). O filho da perdição, isto é, do diabo, não
por natureza, senão pela malícia acabada, que nele se
acumulará. E disse: "se fará manifesto";
porque assim como todos os bens e virtudes dos santos, que precederam
à Cristo, foram figura de Cristo; da mesma maneira em todas as
perseguições da Igreja os tiranos foram como figura do
Anticristo no que ele estava latente; e assim toda aquela malícia,
que estava escondida neles, se fará patente a seu tempo.
Ao
dizer logo: "no qual se oporá à Deus",
explica o que havia dito , e demonstra como é o homem do
pecado e como é filho da perdição. Assim mesmo
prenuncia sua futura culpa, que descreve e demonstra e indica sua
causa, e diz que não anuncia nenhuma doutrina nova. Da também
um sinal dessa culpa, que é duplo, a saber, aoposição
contra Deus e o preferir-se a Cristo. De onde diz: "que
faz oposição" a todos os espíritos
bons (Jó 15; Is 3) e "se levantará contra
tudo o que se diz Deus". E diz-se Deus de três
maneiras: a) por natureza. "Escuta, Israel, o Senhor teu
Deus é um só Deus" (Deut. 6); b) na
opinião dos povos. "Todos os deuses dos Gentios
são demônios" (Sl. 95). c) por
participação. "Eu disse: sois deuses
" (Sl. 81). E a todos estes prefere-se o
Anticristo, "e se levantará soberbo e insolente
contra todos os deuses; e falará com arrogância contra o
Deus dos Deuses" (Dan. 11,36).
(nt.
do tradutor: quanto à relação a não
anunciar nenhuma doutrina nova, Santo Tomás está se
referindo ao Apóstolo São Paulo e não ao
Anticristo. Como pode se notar no último parágrafo
desta parte da tradução *)
Sinal
de sua culpa é o que diz: "até chegar a
por seu assento no templo de Deus"; pois a soberba do
Anticristo avantaja em muito a de todos os que lhe precederam. Porque
assim como se lê de Caio César que quis em vida pusessem
em todos os templos uma estátua sua e lhe dessem culto; e do
rei de Tiro se diz em Ezequiel 28: "eu sou Deus";
assim é crível o faça o Anticristo chamando-se
Deus e homem; e na prova disso se sentará no templo. Mas em
que templo?
Acaso
não foi destruído pelos Romanos? Por isso dizem alguns
que o Anticristo é da tribo de Dan, que não se nomeia
entre as outras doze (Ap 7); e por isso também os Judeus o
receberam primeiro, e reedificaram o templo em Jerusalém, e
assim se cumprirá o de Daniel 9,27: "e estará no
templo a abominação da desolação"
(Mt 24). Mas alguns dizem que nunca será reedificada
Jerusalém, nem o templo, senão que durará a
desolação até a consumação no fim
do mundo. Crença que admitem também alguns Judeus; por
isso a explicação que dão de "no
templo de Deus" a referem à Igreja,
porque muitos eclesiásticos o receberão. Ou,
segundo Santo Agostinho, se sentará no templo de Deus, isto é,
exercerá seu principado e senhorio, como se fosse ele mesmo
com os seus o templo de Deus, como Cristo o é com os seus.
Mostra
que nada novo escreve, ao dizer: "não vos recordais que,
quando estava todavia entre vós, vos dizia estas coisas?";
como se dissera: já antes, estando convosco, havia vos dito
(1Jo 2; 2Co 10).*
LIÇÃO
2: 2 TESSALONICENSSES 2,6-9
Põe-se
de manifesto a morte do Anticristo, e declara-se a demora de sua
vinda.
6
Vós já sabeis a causa que agora o detém, até
que seja manifestado a seu tempo.
7 O fato é que já
vai obrando o mistério da iniquidade; entretanto, o que está
firme agora mantenha-se até que seja tirado o impedimento
8
E então se deixará ver aquele perverso, a quem o Senhor
Jesus matará com o alento de sua boca e destruirá com o
resplendor de sua presença
9
aquele iníquo que virá com o poder de Satanás,
com toda sorte de milagres, de sinais e falsos prodígios,
10
e com todas as ilusões que podem conduzir à iniquidade
àqueles que se perderam, por não haver recebido e amado
a verdade a fim de salvarem-se.
Chega
o Apóstolo, anunciando o futuro, contou a chegada e culpa do
Anticristo; aqui nos mostra a causa que impede essa vinda; e primero
descobre que eles já sabem a que causa se refere, e a propõe
em termos obscuros. Assim pois: digo que é necessário
se dê a conhecer o homem do pecado. "Já
sabeis vós a causa que agora o detém", isto é,
a causa de que se tarda, porque eu já lhes disse, de sorte que
o que ao presente lhe detém, "a seu tempo",
isto é, oportunamente,"se dará a
conhecer" (Ecle.8).
-"O
fato é que já vai obrando ou tomando forma o mistério
da iniquidade". Explica por que se demora o Anticristo; e
este texto tem muitasinterpretações, porque
mistério pode estar emnominativo ou acusativo.
No primeiro caso o sentido é este: digo que a
seu tempo se dará a conhecer, porque ainda o mistério,
isto é, - figuradamente ocultado (enigmáticamente
proposto), já está obrando nos fingidos
(cristãos), que parecem bons, e na realidade são maus,
e estão fazendo o ofício do Anticristo, "mostrando,
sim, aparência de piedade, mas renunciando ao seu
espírito" (2Tm 3,5). No segundo
caso, ou no acusativo, se interpreta assim: porque o
diabo, em cujo poder permanecerá o Anticristo, já
começou ocultamente, por meio dos tiranos e enganadores,
a cometer suas iniquidades; porque as perseguições à
Igreja deste tempo são figuras dessa última perseguição
contra todos os bons e, em comparação com aquela, são
como a cópia respectiva da original. "Entretanto
o que está firme agora". Isto também tem
múltipla explicação. Uma - segundo
Santo Agostinho e a Glosa- diz que, na opinião de
alguns, o Anticristo é Nero, o primeiro perseguidor dos
cristãos, que não foi morto, senão roubado
fraudulentamente, e que algum dia será restituído em
seu lugar. Donde o Apóstolo, dando por vã esta
opinião, diz:"entretanto o que está firme
agora", tendo em suas mãos o Império, "mantenha-se,
até que seja tirado o impedimento", isto é, até
que morra. Mas explicado desta maneira não cai
bem, porque há muitos anos que Nero está morto, à
saber, o mesmo ano que o Apóstolo. Refere-se
melhor a Nero, como pessoa pública do Império Romano,
até que seja tirado do meio, isto é, o Império
Romano, deste mundo(Is 23,9: foi o Senhor dos Exércitos
que o decidiu, para fazer murchar o orgulho de tudo que se honra).
Ou
de outro modo: "entretanto o que tem", isto é,
detem agora a chegada do Anticristo, detenha-o para que não
venha; qual se fosse necessário que alguns venham todavía
à fé e alguns se apartem dela, como se dissera: para
deixar franquia à porta a ires e vires, entradas e saídas,
o que agora detém até que venha detenha até que
seja tirado do meio este homem obsceno. Ou também assim:
entretanto o que tem agora fé tenha-a, isto é,
mantenha-se firme nela (Ap 2). Até que seja tirado do meio,
isto é, a reunião revoltosa de maus, se separe dos bons
e se ponha aparte, como se fará na perseguição
do Anticristo. Ou entretanto... isto é, que o
mistério de iniquidade, a iniquidade misteriosa, que detém,
detenha, até que a removam de seu esconderijo ao centro da
praça, à vista do público; pois muitos pecam
agora às ocultas, mas chegará o dia no qual farão
à luz do dia;porque Deus suporta os pecadores enquanto às
ocultas cometem seus pecados; mas o dia em que encontrarem o limite,
então se lhe acabará a paciência, como sucedeu
com os Sodomitas. Com tudo isso, Santo Agostinho confessa
ignorar o que é o que o Apóstolo lhes diz, se já
o sabiam; por isso diz: "já sabéis o que
agora detém". Ademais não era coisa muito
necessária de saber-se.
Ao
dizer logo: "e então se deixará ver",
põe-se a chegada do iníquo e sua pena; primero sua
manifestação, logo sua pena. Quanto ao primeiro diz:
aquele, o único, iníquo, perverso, se deixará
ver, porque sua culpa se fará patente, "a quem o Senhor
Jesus matará com o alento de sua boca". - "O
zelo do Senhor dos exércitos é o que fará estas
coisas" (Is 9,7), isto é, o zelo da justiça,
que é amor; porque o espírito de Cristo é o amor
de Cristo, e este zelo é o que o Espírito Santo tem
para com a Igreja. Ou com o alento de sua boca, isto é, por
ordem dela; porque São Miguel lhe dará morte no Monte
das Oliveiras, de onde Cristo subiu aos céus. De sorte
parecida encontrou seu fim Juliano o Apóstata, executado por
mão divina. E esta é a pena presente, embora também
será castigado com a eterna, porque "o destruirá
com o resplendor de sua presença", isto é, com
sua chegada que tudo o porá como um sol (1Co 4). E o
destruirá, digo, com a eterna condenação (Sl.
27). Diz também resplendor, porque o Anticristo
pareceu encher de trevas a Igreja, e as trevas são desterradas
pelos resplendores; porque tudo o que o Anticristo dará a
conhecer será demonstrado haver sido engano. (Et
dicit, illustratione,
quia ipse visus est Ecclesiam obtenebrare, et tenebrae expelluntur
illustratione, quia quicquid Antichristus ostenderit, ostendetur
fuisse mendacium.) trad. mendacium = mentira, invenção,
disfarce.
No
latim: (Et haec est poena praesens, licet futura
etiam aeternaliter punietur, quia destruet
illustratione, etc., id est, in adventu
suo omnia illustrante. I Cor. IV, 5:illuminabit
abscondita tenebrarum, et cetera. Et
destruet, inquam, aeterna, scilicet damnatione. Ps. XXVII, v.
5:destruet illos,
et cetera. Et dicit, illustratione,
quia ipse visus est Ecclesiam obtenebrare, et tenebrae expelluntur
illustratione, quia quicquid Antichristus ostenderit, ostendetur
fuisse mendacium. Deinde cum dicit eum
cuius est adventus, praedicit
potestatem Antichristi. Et circa hoc duo facit, quia primo ponit
potestatem eius ad seducendum; secundo huius causam ex domini
iustitia, ibieo quod charitatem.
Iterum prima in tres, quia primo ponit actorem huius potestatis;
secundo modum seducendi; tertio ostendit seducendos. Actor huius
potestatis est Diabolus, et ideo destruet eum Christus)
-"aquele
iníquo que virá com o poder de Satanás".
Prediz o poder do Anticristo, para seduzir, e a causa deste poder de
sedução, a justiça do Senhor, "por
não haver recebido e amado a verdade para salvar-se os que
pereceram". Põe também ao autor deste poder, o
modo de seduzir, os seduzidos ou enganados. O autor deste poder é
o diabo; por isso Cristo o destruirá, que para isso
veio, "para desfazer as obras do diabo" (1Jo
3,8). Por isso diz que o Anticristo "virá com o
poder de Satanás", isto é, governará
por instigação diabólica. "Será
solto Satanás de sua prisão, e sairá e enganará
as nações" (Ap 20,7). Pois das obras que
fará algumas serão segundo a operação de
Satanás, como as do endemoninhado ou possuído, em quem
não só instiga a vontade senão ainda impede o
uso da razão; em cujo caso não se lhe imputa a culpa,
porque não usa de seu arbítrio.Mas o Anticristo não
será assim, porque usará de seu arbítrio, e
dentro dele estará o diabo instigando-lhe, como se disse de
Judas (Jo 13,27).
E
enganará desta maneira: primeiro valendo-se do poder
secular; segundo, da força dos milagres.
Quanto ao primeiro diz:"com toda sorte de milagres",
a saber, do mundo. "Se fará dono dos tesouros de
ouro e de prata e de todas as preciosidades de Egito"(Dan.
11,43). Ou com virtude fingida. Quanto ao segundo diz: "de
sinais". Os sinais são uma espécie de
"milagretes".* Os prodígios, entretanto são
grandes, que demonstram que uma pessoa é um ser prodigioso,
como quem diz à distância: distante, em dígitos:
do dedo (Ap 13). E diz: "falsos prodígios".
Chama-se falso um milagre, ou porque lhe falta a verdadeira razão
do fato, ou a verdadeira razão do milagre, ou o devido fim do
milagre. O primeiro é o que fazem os ilusionistas,
melhor dito, o que se faz por arte de magia e bruxaria, quando o
diabo se encarrega de dar “gato por lebre” para
que pareça outra coisa do que é; como fez Simão
Mago com um carneiro que mandou degolar, que logo se deixou ver vivo;
ou com um homem, que todos criam degolado e, por haver-lhe visto logo
vivo, creram-lhe ressuscitado. E isto fazem os homens fazendo
fantasmas na imaginação para enganar.
*No
latim: Prodigia vero magna, quae aliquem prodigiosum ostendunt, quasi
procul a digito.(como se medisse a dedo)Ap. XIII, 13: fecit
signa magna, ita ut et ignem faceret descendere de caelo, et
cetera. Matth. XXIV, 24: dabunt signa magna et prodigia, ita
ut in errorem inducantur, si fieri potest, etiam electi.
Procul
(latim): à distância , ao longe, de longe
A
segunda espécie de milagres, impropriamente chamados
assim, são os que despertam grande admiração,
por ver-se o efeito, sem conhecer-se sua causa. Assim pois "os
milagres", que tem não simplesmente sua causa oculta,
senão para algum oculta, dizem-se não simplesmente
milagres, senão maravilhas. Mas os que tem simplesmente sua
causa oculta são propriamente milagres, cujo autor é o
mesmo glorioso Deus, porque estão acima de toda a ordem da
natureza criada. Mas algumas vezes se fazem algumas maravilhas, cujas
causas estão ocultas, mas não fora da ordem da
natureza; e isto com mais razão o fazem os demônios, que
conhecem as virtudes da natureza e tem determinada eficácia
para especiais efeitos; e estas fará o Anticristo, mas não
as que tem verdadeira razão de milagre, porque não tem
poder naquilo que está sobre a natureza.
Dizem-se
milagres em terceiro lugar os que estão ordenados a
servir de testemunho à verdade da fé, ou a subtrair os
fiéis a Deus, como se diz em São Marcos. Mas se algum
tivesse a graça de fazer milagres, e não se valesse
deles para este fim, os milagres seriam verdadeiros quanto à
razão do fato e à razão do milagre; mas seriam
falsos quanto ao devido fim e à intenção divina.
Mas
isto não sucederá com o Anticristo, porque ninguém
faz verdadeiros milagres contra a fé, já que Deus não
é testemunha de falsidades. Donde um que ensine uma falsa
doutrina não pode fazer milagres, embora um homem de má
vida bem o poderia.
Logo
sinala aos que se deixaram enganar, ao dizer: "àqueles
que se perderam", isto é, aos destinados à
perdição. "Nenhum deles tem perecido senão
o filho da perdição". E isto precisamente
porque "minhas ovelhas ouvem minha voz" (Jo
10).
LIÇÃO
3: 2 TESSALONICENSSES 2,10-16
O
Anticristo seduzirá aos que não tem caridade; por isso
há que pedir à Deus que se digne chamar-nos e não
permita que nos apartemos da verdade.
11
Por isso Deus lhes enviará ou permitirá que obre neles
o artifício do erro, com que creiam na mentira,
12
para que sejam condenados todos os que não creram na verdade,
mas que se comprazeram na maldade
13
Mas nós devemos sempre dar graças à Deus por
vós, irmãos amados de Deus, por Deus havê-los
escolhido por primícias de salvação, mediante a
santificação do espírito e a verdadeira fé
que lhes foi dada;
14
na qual os chamou assim mesmo por meio de nosso Evangelho, para
fazê-los chegar a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.
15
Que assim, meus irmãos, ficai firmes e mantenham as tradições
que haveis recebido, ora por meio da pregação, ora por
carta nossa.
16
E Nosso Senhor Jesus Cristo, e Deus, nosso Pai, que nos amou, e deu
eterno consolo, e boa esperança pela graça,
17
alente vossos corações e os confirme em toda obra e
palavra boa.
Depois
de indicar a quem seduzirá o Anticristo, à saber,
os destinados à condenação, aqui explica o
porque do dito e como serão seduzidos; os fiéis, pelo
contrário, como serão livrados. Assim mesmo indica só
sua culpa, a pena com a culpa, só a pena. E este é o
passo-a-passo com que procede o pecado: que primeiro é um
desamparado da graça pelo demérito do primeiro pecado,
e cai em outro pecado (porque um abismo chama a outro abismo), e por
último na condenação eterna.Disse pois que a
causa pela qual serão enganados é o não haver
recebido e amado a verdade, isto é, a verdade do Evangelho (Jo
8; Jó 24); e diz: "caridade da verdade",
porque, ao não estar informada a fé pela caridade, não
tem nenhum valor (1Co 13; Gal. 6). E acrescenta o proveito que trai a
verdade dizendo: "a fim de salvar-se" (Rm
5).Mas, por culpa de não haver recebido a verdade, a pena
será seu engano; de donde diz: "enviará",
isto é, permitirá que obre neles "o
artifício do erro" (Is 19; 3 Reis
22). Por isso diz: "com que creiam na mentira",
isto é, na falsa doutrina do Anticristo (Rm 1). Mas
a pena é a eterna condenação; donde
acrescenta: "para que sejam condenados", com
sentença de condenação (Jo 5), "todos
os que não creram na verdade" (Jo 3).
Ao
dizer logo: "mas nós", mostra porque os
fiéis de Cristo se verão livres; da graças por
eles e relembra a memória dos benefícios divinos, pelos
quais se veêm livres desses males. Diz pois assim: eles serão
enganados, mas "nós devemos dar graças" (Rm
1). E recorda dois benefícios divinos, à saber, a
eleição de Deus, que é eterna, e a vocação,
que é temporal. Disse pois: "porque nos elegeu" a
nós, os Apóstolos, "e a vós",
os fiéis (Ef 1; Jo 15). Toca em três pontos na matéria
da eleição, à saber, na ordem dos eleitos, no
fim da eleição e no meio de conseguir o fim. Todos os
santos tem sido eleitos desde o princípio do mundo (Deut. 33);
mas as primícias de modo especial são os Apóstolos
(Rm 8). Por isso diz:"primícias da fé".
Assim mesmo o fim da eleição é a salvação
eterna, como diz: "para a salvação"(1Tm
2). E isto se leva à efeito primeiro, da parte de Deus, por
meio da graça santificante; donde diz: "mediante
a santificação do espírito"; segundo,
da parte nossa, com o consentimento de nossa vontade por meio da fé;
por isso acrescenta: "e na verdade da fé ".
-"à
qual os chamou". Põe o segundo benefício, que
é a vocação temporal de Cristo, que segue-se à
eleição (Rm 8). E sobre esta vocação
repara na parábola do que fez a grande ceia (Lc 14) "por
meio de nosso Evangelho" pregado por mim. Mas a qual
ceia nos convida? "para fazer-nos chegar a glória",
isto é, para que alcancemos a glória de Cristo.
Logo,
quando diz: "assim que, meu irmãos", os
admoestam a manterem-se firmes na verdade e interpõe a oração
para este fim. E faz o primeiro, porque nuestras obras dependem de
nossa vontade, e o segundo, porque é necessário o
auxílio da graça.
E
primeiro admoesta-os a estarem firmes (Gl 5); ensina logo o modo de
está-lo: "e mantenham as tradições",
isto é, os ensinamentos que receberam de seus maiores; porque
os que se recebem dos menores algumas vezes não tem de ser
observados, à saber, quando se opõe aos ensinamentos da
fé (Mt 15); mas sim quando dizem respeito aos mandamentos
divinos, "que haveis aprendido". "Recomendavam
aos fiéis a observância das tradições e
decretos acordados pelos Apóstolos e os presbíteros que
residiam em Jerusalém" (At 16,4). E estas
tradições de duas maneiras lhes deram à
conhecer: umas com palavras; donde diz: "ora por meio da
pregação"; outras por escritos; por isso
acrescenta: "ora por carta nossa". Donde se põe
de manifesto que haviam muitas coisas na Igreja não escritas,
que os Apóstolos ensinaram e, por conseguinte, hão que
se observar; pois muitas coisas - disse Dionísio -, a juízo
dos Apóstolos, eram melhor ocultá-las. Por isso disse o
Apóstolo: "quanto ao mais já o disporei
quando lá chegar" (1Co 10). - "E
Nosso Senhor Jesus Cristo e Deus nosso Pai ...": Pondo esta
frase, como se dissesse: estas são minhas recomendações,
mas de nada serve sem o auxílio divino. Por isso põe
primeiro um duplo benefício de Deus: o amor que nos tem e pelo
qual nos concede outras coisas; por isso diz: "nos
amou"; e a consolação espiritual: "e
deu eterno consolo"(2Co 1; Is 40). E diz consolo eterno, à
saber, contra todos os males iminentes e futuros. Por isso estamos na
expectação de "uma boa esperança",
isto é, desses bens eternos que infalivelmente nos estão
prometidos (1Pe. 1). E isto "pela graça",
pela qual esperamos conseguir a vida eterna (Rm 6). Pede para eles
uma exortação, que é uma admoestação
encaminhada a mover o ânimo a que queiram; e esta pode fazê-la
o homem exteriormente; mas não seria eficaz, se interiormente
não o alentasse o espírito de Deus; donde
disse: "alente vossos corações",
isto é, o mova. "Eu a levarei à solidão
e falar-lhe-ei ao coração" (Os 2). Assim
mesmo pede a confirmação; por isso diz: "e
os confirme"(Sl. 67); como se dissesse: nos alente com sua
graça para que queiramos, e nos confirme para que eficazmente
queiramos. E isto "em toda obra e palavra boa".
A obra leva a dianteira da palavra, porque Jesús começou
primeiro a obrar e depois ensinou.
Segue-se:
1)Biblia
Clerus;
2)
Texto Biblico (investiga un texto bíblico y su comentario) -
en espanhol;
3)
Comentarios (na barra lateral esquerda – abaixo do título:Parágrafo
citado en estos instrumentos biblicos);
4) em
Tomás de Aquino : Aquino
- 2 TESALONISENSES
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