BREVE
APOSTÓLICO DA BEATIFICAÇÃO
1-
Porque "Cristo amo a Igreja e se entregou a si mesmo para a
santificar" (Ef V, 25), nunca faltaram nem poderão
faltar, entre os fiéis, os que se avantajem aos outros em
virtude, de modo que os seus exemplos sejam propostos à
imitação. Por isso em todos os tempos, uma nobilíssima
falange de Santos e de Bem-aventurados, ingente multidão "que
ninguém pode contar, de todas as nações e tribos
e línguas" (Apoc VII, 9), homens e mulheres de todas as
idades e condições, não cessarão de
acrescer a beleza e multiplicar a alegria da Esposa de Cristo, até
à consumação dos séculos.
2-
A esta fulgidíssima falange até a nós, que,
embora sem méritos, estamos ao leme da barca de Pedro em
tempos tão procelosos, concedeu o benigníssimo Senhor
que, especialmente no passado Ano Santo, acrescentássemos
muitos ilustres heróis, cujo triunfo celebramos com grande
alegria do nosso espírito. Mas aprouve a suavíssima
clemência de Deus conceder hoje ao Vigário de Cristo na
terra uma graça que, há mais de dois séculos,
isto é, desde o ano de 1712 em que Pio V foi inscrito no
cânone dos Santos por Clemente XI, não foi concedida a
nenhum dos Nossos Predecessores: poder agregar ao número dos
Bem-aventurados outro Sumo Pontífice, um Pontífice que
nós próprio conhecemos, cujas exímias virtudes
admiramos de perto, ao qual prestamos dedicada e devotamente a nossa
colaboração - Pio X.
3-
Nasceu ele na humilde aldeia de Riese, na diocese de Treviso, a 2 de
junho de 1835, filho de João Batista Sarto e Margarida Sanson,
ambos de condição humilde mas ilustres pela honestidade
e virtude antiga, aos quais Deus circundou de uma coroa de dez
filhos. Batizado no dia seguinte, recebeu o nome de José
Melchior. Menino de índole vivaz e alegre, sob a direção
da sua piedosíssima mãe distinguiu-se de tal modo na
piedade que o pároco da freguesia não duvidou
proclamá-lo "a mais nobre alma" da paróquia.
Depois de completar os estudos elementares na escola local, levado
pelo seu grande desejo de estudar mais, freqüentou os estudos
secundários, dirigindo-se para isso todos os dias, durante
quatro anos, muitas vezes de pés descalços, à
próxima povoação de Castelfranco. Recebeu o
Sacramento da Confirmação em 1º de setembro de
1845 e fez a Primeira Comunhão em 6 de abril de 1847 e, como
mostrasse constante vontade de abraçar o estado eclesiástico,
em setembro de 1850 mereceu ver satisfeito o seu ardente desejo de
receber as vestes talares e em novembro seguinte, mercê do
interesse do Cardeal Tiago Mônico, Patriarca de Veneza e seu
patrício, entrou, radiante de alegria, no prestigioso
Seminário de Pádua. Quanto aí progrediu em
piedade e doutrina pode facilmente deduzir-se do seguinte testemunho
dos superiores daquele Seminário: "a nenhum inferior em
disciplina, de grandíssima inteligência, de suma
memória, de máxima esperança" ( Arquivo do
Seminário de Pádua). Os fatos confirmaram plenamente a
previsão. Ordenado sacerdote na igreja principal de
Castelfranco em 18 de setembro de 1858, alguns dias depois celebrou
solenemente a Missa-Nova na terra natal, em meio da maior alegria dos
seus, sobretudo da sua digníssima mãe, bem como de
todos os conterrâneos. No mês de novembro de 1858 foi
nomeado coadjutor do piodoso pároco de Tômbolo, cuja
saúde era bastante precária. Imediatamente aquele
venerando sacerdote e os paroquianos, quase todos agricultores,
experimentaram e admiraram os egrégios dotes do jovem
coadjutor, a sua humildade, pobreza, jovialidade, zelo assíduo
em auxiliar de todos os modos o próximo e, além disso,
a sua invulgar perícia na pregação. O Bispo de
Treviso, ao conhecer estas excelentes qualidades, em 1867 escolheu
José Sarto para reger a paróquia mais importante de
Salzano. E aí se revelou cada vez mais em quanto amor de Deus
e do próximo ele se distinguia pela suavidade de caráter,
mansidão, modéstia, amor da pobreza, especialmente
durante a terrível peste do ano de 1873.
4-
Passados nove anos em Salzano, foi nomeado Cônego da Catedral
de Treviso, Chanceler da Cúria Episcopal e ainda Diretor
espiritual do Seminário. Estes cargos tão honrosos como
cheios de responsabilidade, e só aceitos por obediência,
pois detestava honrarias e dignidades, exerceu-os com a costumada
diligência e perícia, ele que sempre foi inimigo
declarado da ociosidade. Em 1879, ficando vaga a Sé de
Treviso, foi eleito por unanimidade de sufrágios Vigário
Capitular. E também neste ofício deu tais provas de
prudência e competência que, em 1884, com aplauso
universal, embora contra sua própria vontade e vã
relutância, foi nomeado Bispo de Mântua.
5-
Sagrado nesta cidade de Roma, na igreja de Santo Apolinário, a
16 de novembro, entrou na diocese em abril do ano seguinte, para logo
começar a difundir com maior profusão os tesouros de
generosidade da sua alma a favor do novo rebanho místico
confiado aos seus cuidados,"fazendo-se tudo para todos"(1
Cor IX, 22), a fim de conquistar a todos para Cristo e prover às
muitas e graves necessidades da Igreja Mantuana. Deve recordar-se,
antes de mais, o seu ardentíssimo xelo para que os
Seminaristas, como o requeriam os tempos e as circunstâncias,
fossem convenientemente educados, para que as associações
católicas fossem verdedeiramente ativas e fosse acrescido o
decoro da Sagrada Liturgia. Desde então,
desapareceram desconfianças e inimizades, arrrancaram-se
vícios muito inveterados, suprimiram-se escândalos,
restaurou-se o cumprimento dos mandamentos de Deus, cresceu
maravilhosamente a fé, reforçou-se a honestidade dos
costumes. Que admira, pois, que entre os Mantuanos o Bispo José
Sarto gozasse fama da santidade, ele que, movido unicamente pela
ardentíssima caridade cristã,costumava não só
distribuir aos numerosíssimos pobres dinheiro, alimentos e
vestuário, mas até beijar-lhes de joelhos os pés?
6-
Leão XIII, de gloriosa memória, que tinha grande estima
e singular afeto ao Bispo de Mântua, no Consistório de
12 de junho de 1893 alistou-o entre os Cardeais e, três dias
depois, nomeiou-o Patriarca de importante Igreja de São Marcos
de Veneza, a fim de que se visse claramente que a honra da Púrpura
Cardinalícia, mais do que a Sé, embora digníssima,
se conferia ao homem de méritos excepcionais.
7-
A maravilhosa cidade, Rainha do Adriático, que há tanto
esperava um novo Patriarca, recebeu-o com enorme júbilo e
universal aplauso em 24 de novembro de 1894, e logo os venezianos de
todas as condições foram conquistados pela sua
afabilidade e virtude. Realmente, excetuadas as vestes e os
distintivos próprios da dignidade cardinalícia, nada
mudou na vida íntima e nos usos do Servo de Deus. A
mesma humildade e desprezo de si próprio, o mesmo amor à
pobreza e ao trabalho, o mesmo ardentíssimo e constante zelo
pela glória de Deus e salvação das almas.
8-
Como em Mântua, assim em Veneza se preocupou antes de mais com
restaurar a disciplina e promover a santidade do Clero, renovar e
fomentar a piedade do povo e a prática das virtudes cristãs,
restaurar a dignidade das sagradas cerimônias e do canto
eclesiástico, reformar os costumes, abolir abusos, reivindicar
com suavidade e fortaleza os direitos da Igreja.
9-
Falecido Leão XIII em 1903, o cardeal José Sarto, a 4
de agosto do mesmo ano, foi elevado ao fastígio do Sumo
Pontificado que aceitou, com relutância e com lágrimas,
"como uma cruz", tomando o nome de Pio X. Estabelecido na
Cadeira de São Pedro, vendo o que exigia o bem da Religião
e o que reclamavam os tempos, tomou como lema do seu pontificado esta
sublime e insigne divisa: instaurare
omnia in Christo. O
Servo de Deus, tendo experimentado que nada poderia contribuir mais
eficazmente para a renovação dos homens em Cristo do
que a vida do Clero, esforçou-se com particular empenho por
que todos os chamados para o serviço do Senhor se
distinguissem pela piedade, ciência e obediência.
10-
Por isso é que na primeira Carta Encíclica "E
supremi" quis
abrir a sua alma ao Clero, exortando-o vivamente a só se
compenetrar das coisas celestes e só a estas procurar.
Volvendo particulares cuidados para os Seminários da Itália,
deu-lhes nova organização e favoreceu neles muitíssimo
o estudo das ciências sagradas e profanas; excitou os cultores
da filosofia cristã a pugnarem pela verdade tomando por guia
Santo Tomás de Aquino; erigiu em Roma o Instituto Bíblico
e, por ocasião de seu cinqüentenário sacerdotal,
numa suavíssima exortação, estimulou todo o
Clero a observar diligentemente os deveres do próprio
ministério. Mandou reunir as leis da Igreja, até então
dispersas por muitos volumes, em um corpo adaptado às
condições do tempo e reorganizou a Cúria Romana
para que se tornasse mais rápido o expediente dos
serviços.
11-
Preocupado ao máximo com a eterna salvação das
almas, providenciou para que fosse devidamente ensinado o catecismo
às crianças e adultos; estabeleceu sábias normas
para a pregação; ordenou que a música sacra se
conformasse com a majestade das sagradas funções.
Fautor da santidade e da inocência, inspiriado pelo amor
divino, introduziu o uso da Comunhão freqüente e até
cotidiana e estabeleceu que as crianças se aproximassem da
Primeira Comunhão desde os mais tenros anos; além
disso, alimentou a acendeu em todos os filhos da Igreja maior amor ao
Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Mestre infalível
da fé, na memorável Encíclica
"Pascendi" denunciou
e reprimiu com o necessário rigor doutrinas que formavam uma
triste síntese de todos os erros.
12-
Acérrimo defensor da Religião e fortíssimo
guarda da liberdade da Igreja de Cristo, cônscio do seu ofício
pastoral, aboliu o chamado Veto
civil na
eleição do Pontífice Romano; repudiou
impavidamente as leis da separação do Estado da Igreja;
à França afligida pela perseguição, deu
novos Bispos, e resistiu à audaciosa erupção da
malícia dos homens. Para defesa da Religião, restaurou
a disciplina da Ação Católica e tornou-a mais
sólida; deu novo desenvolvimento à ação
social dos católicos: conduziu com sapientíssimas leis
as associações operárias para o caminho
religioso; reforçou as Ordens Religiosas com mais oportunas
normas jurídicas.
13-
A fim de promover e preservar a fé cristã, erigiu em
Roma novas paróquias e fomentou por todas as formas a vida
paroquial; proveu às múltiplas necessidades das
Dioceses; difundiu no mundo a palavra de Deus com a missão de
arautos do Evangelho; empregou todos os esforços para
reconduzir à unidade da Igreja os Orientais dissidentes e,
como verdadeiro Pai amantíssimo dos pobres e dos órfãos,
nunca deixou de atender a quaisquer desgraças do seu povo.
14-
Não vencido pelo trabalho, mas esmagado de acerbíssima
dor por causa da infeliz e cruel guerra européia declarada
nesses dias, começou a sentir-se mal em 15 de agosto de 1914
e, tendo-se agravado rapidamente a doença, no dia 19 chegou ao
extremo. Confortado com todos os Sacramentos da Igreja, a 20 do mesmo
mês trocou placidamente a vida mortal pela eterna, chorado por
todo o mundo católico e logo proclamado Santo, como a primeira
e a mais nobre vítima da guerra que já alastrava com
furor. Celebradas solenes exéquias na Basílica de São
Pedro a 23 de agosto, foi sepultado nas Grutas Vaticanas, no lugar
que em vida tinha escolhido para o seu túmulo. O povo católico
considerava-o imediatamente, à conta das exímias
virtudes que lhe tinham adornado a vida, como intercessor junto da
Majestade Divina.
Sua
festa, no calendário liturgico tradicional, é celebrada
no dia 3 de setembro.
SÃO
PIO X ! ROGAI POR NÓS! ROGAI PELA SANTA IGREJA! ROGAI PELA
VOSSA FRATERNIDADE SACERDOTAL!
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