“Tinha a boca torta e a parte direita do rosto escura; o pescoço roxo e deformado. Diante de tão horrendo espetáculo, fomos tomados de grande terror. Corremos sem demora aos príncipes, seus convidados da véspera, para anunciar-lhes aquele execrável fim de Lutero."
Pe. Júlio Maria
CAPÍTULO
XIII
OS
SANTOS E A SANTIDADE
Há
na Igreja Católica um fenômeno que não se estuda nem se penetra bastante, e que
é, entretanto, a grande, a irrefutável e palpável prova de sua DIVINDADE: SÃO
OS SANTOS.
Exclusivamente
o Catolicismo, entre todos os grupos religiosos, possui SANTOS.
Que
é um santo?
É
uma pessoa que, durante a vida, chegou a praticar heroicamente todas as
virtudes, e depois da morte manifesta esta heroicidade, fazendo milagres em
favor dos seus irmãos na terra.
Demonstrando
a sua ignorância, os protestantes acusam a Igreja Católica de FAZER santos.
A
Igreja não faz santos; declara, apenas, que tal homem, operando milagres,
mostra ser santo; e, depois de examinar e verificar tais fatos miraculosos e
extraordinários, ela CANONIZA o santo, inscrevendo-o no cânon ou lista dos seus
heróis vitoriosos.
Só
Deus pode fazer milagres e comunicar este poder a seus amigos.
Quando
um homem realiza milagres atesta ser amigo de Deus; e Deus, dando tal poder a
um homem, aprova-lhe a doutrina e a vida, de modo que o milagre provém da
divindade e torna digno de crédito quem o executa.
Não
há no protestantismo um só homem, nem mesmo Lutero, o seu fundador, que tenha
feito milagres. A Igreja Católica, pelo contrário, conta aos milhares os seus
santos. É a prova irrefutável e visível de seu caráter divino.
Ninguém
dá o que não tem.
Se
a Igreja Católica produz santos, é porque tem consigo a santidade, é porque é
santa.
Se
o protestantismo não produziu um único santo, desde Lutero até hoje, é porque
não possui santidade.
SANTIDADE
e DIVINDADE são dois termos que se confundem.
O
DIVINO manifesta-se pelo milagre e prova-se pela santidade.
O
Concílio de Trento foi a promulgação da santidade da Igreja, contra a
implacável guerra de infâmias, acusações movidas pelo “reformador”. Veremos
agora como esta santidade, tal uma fagulha divina, foi penetrando e iluminando
o mundo.
Este
fato constitui uma das páginas mais fulgurantes da invencível instituição de
Cristo.
É
este fato que vamos averiguar neste capítulo.
1.
OS PAPAS
A
primeira irradiação da santidade da Igreja é o papado, que tem sido demais
combatido e caluniado pelos inimigos da Igreja.
Lutero
o sabia por demais, e, em consequência, acumulou contra a Santa Sé e os seus
ocupantes, os Pontífices Romanos, todos os trovões e os relâmpagos de sua raiva
e de suas falsidades.
O
certo é que, no tempo da reforma, houve uma sucessão admirável de Papas
ilustres e santos.
Leão
X, da ilustre família dos Médicis, amante da paz e das ciências, logo ao
aparecer o protestantismo, descobriu-lhe o veneno e a perversidade e lançou
contra o seu fautor os primeiros anátemas.
Adriano
VI (1522-1523), piedoso e ativo ao mesmo tempo, dedicou-se de corpo e alma à
extinção da nova heresia, à derrota dos turcos e à reforma dos abusos que
penetravam na Igreja. Clemente VII sacrificou-se em prol da cristandade do novo
mundo.
Paulo
III (1534-1549) em meio de mil dificuldades teve a honra de abrir o Concílio de
Trento.
Júlio
III (1549-1555) prosseguiu com todo zelo a condenação da heresia.
Paulo
IV (1555-1559), eleito aos oitenta anos, mostrou um ardor e atividade
incansáveis, abrangendo todas as necessidades da Igreja.
Pio
IV (1559-1566) continuou e terminou o Concílio de Trento, aprovou seus decretos
e promoveu-lhe corajosamente a execução, coadjuvado poderosamente pelo seu
sobrinho São Carlos Borromeu, arcebispo de Milão.
S.
Pio V (1566-1572) mandou publicar o Catecismo do Concílio de Trento, reformou o
Missal e o Breviário; milagrosamente foi informado por Deus sobre a vitória de
Lepanto.
Gregório
XIII (1572-5385) reformou a Calendário e dirigiu os destinos da Igreja como um
santo e um sábio que era.
Sixto
V (1585-1590) FOI UM Pontífice admirado por sua ciência e santidade; ordenou a
revisão dos livros santos e deu aprovação à nova edição da VULGATA.
Clemente
VIII (1592-1605) terminou o século, emprestando ao jubileu secular de 1600 um
brilho denotador da pujança da Igreja, resplandecente de vida e santidade.
Todos estes insignes Pontífices ocuparam a cátedra de Pedro no tempo do
infausto reformador. Não podia haver sucessão mais refulgente e, por isso, foi
tão atacada.
2.
AS ORDENS RELIGIOSAS
Enquanto
à frente dos destinos da Igreja a divina Providência colocava Pontífices de
alto saber e de profunda virtude, suscitava no seio da imortal instituição um
verdadeiro exército de ordens e congregações religiosas, destinadas a combater
os hereges, restabelecendo a verdade no mundo inteiro, reformando as diversas
categorias da sociedade combalida.
No
intuito de restituir ao clero a sua primitiva pureza, a Igreja estabeleceu
diversas congregações de clérigos regulares, cujo fim particular, pelo amor ao
estudo e à regularidade, era combater as más doutrinas e instruir os povos.
Entre
estes institutos sobressaem com particular brilho: Os TEATINOS, ou clérigos de
São Caetano, fundado por São Caetano de Thiene e o bispo Pedro Caraffa, em
1524, sujeitos à mais extrema pobreza.
Os
CAPUCHINHOS, REFORMA DOS FRANCISCANOS, POR Meteus Bassi, em 1528, dedicados ao
mais exato cumprimento de sua regra. Tomaram o seu nome do capuz usado por
eles; têm barba comprida e chegaram a ser independentes em 1619.
Os
BARNABITAS, fundado em Milão, por Santo Antônio Zacarias. O seu nome lhes veio
do mosteiro de S. Barnabé, cedido aos primeiros religiosos. Paulo III
intitulou-os: clérigos de S. Paulo.
Os
ORATORIANOS, ou Congregação do Oratório. Foi fundada em Roma, por S. Felipe
Nery, e confirmada em 1574.
Os OBLATOS,
congregação de clérigos seculares, vivendo em comum, fundada por São Carlos
Borromeu, em 1578.
Os
CLÉRIGOS REGULARES MENORES, fundado por S. Francisco de Caracciolo e João
Adorno, em 1588.
Os
JESUITAS, Ordem religiosa especialmente mandada por Deus para embargar a marcha
do protestantismo e reparar os estragos ocasionados pela REFORMA.
Teve
por fundador Santo Inácio de Loyola, nascido na Espanha em 1495. Paulo III, em
1540, abençoou a aprovou as Constituições da COMPANHIA DE JESUS, solenemente
reconhecidas mais tarde, no Concílio de Trento (Sessão XXV. e. 16).
Sua
missão particular é combater o erro, por meio de vasta e profunda erudição. A
obra da instrução e educação da mocidade é um dos seus fins principais, com a
propagação da verdadeira fé nos países católicos, protestantes e infiéis.
Até
hoje a Companhia de Jesus tem sido sempre a auxiliar mais poderosa e dedicada
da Igreja Católica.
A
estes Institutos vêm juntar-se outras congregações de menos importância sem
dúvida, mas igualmente benfazejas. Citemos entre outras:
A
CONGREGAÇÃO DE SOMASCA, estabelecida em 1528, por S. Jerônimo Emiliano, para a
educação dos órfãos.
As
URSULINAS, fundadas por Santa Ana de Bréscia, em 2537, para a educação das
meninas.
Os
IRMÃOS HOSPITALARES, fundado por S. João de Deus, em 1549, tendo por fim
aliviar e curar a mais terrível das moléstias humanas: a loucura.
Os
PADRES MINISTROS DOS ENFERMOS, fundado por S. Camilo de Lelis, em 1584, cujo
empenho é ficar à cabeceira dos doentes mais desvalidos, nas épocas de
desgraças e de pestes, sacrificando-se até à morte.
Os
PADRES DA DOUTRINA CRISTÃ, fundado pelo venerável cônego César de Bus, em 1592,
consagrados à instrução religiosa da mocidade.
Este
surto de Institutos religiosos no meio das lutas do protestantismo demonstra o
vigor do espírito cristão e da fé, revalizando na pessoa de seus membros, na
tarefa de destruir o erro e tornar vitoriosa a verdade nos meios cultos e
obscuros.
3.
OS SANTOS DESSA ÉPOCA
Os
santos são o produto direto da santidade da Igreja. Todas as épocas apresentam
os seus santos, porque, mesmo nos tempos de decadência geral, quer Deus mostrar
que se a humanidade decai, enfraquece, a sua Igreja continua sempre santa e
santificadora.
Fato
curioso na história: MAIS É COMBATIDA A IGREJA, MAIOR NÚMERO DE SANTOS BROTA DE
SEU SEIO DIVINO. É assim que vemos uma legião admirável de homens apostólicos e
verdadeiros heróis nos barulhentos dias ao aparecer da famigerada Reforma,
cujos fautores, ao lado dos nossos santos, não passavam de triviais impostores
a serviço de satã.
Ao
lado de Santo Inácio e outros já mencionados, vemos surgir São Francisco
Xavier, S. Carlos Borromeu, S. Francisco de Sales, Santa Teresa, S. Francisco
de Bórgia, o Papa S. Pio V, S. Tomás de Vilanova, S. Pedro de Alcântara, S.
Estanislau Koska, S. Luís Gonzaga, S. João das Cruz, Bartolomeu dos Mártires,
S. Belarmino, etc.
S.
Inácio de Loyola, nascido na Biscaia (Espanha), em 1495, tocado pela graça,
deixou a carreira das armas, consagrou-se a Deus pelo voto de castidade
perpétua, retirou-se à pequena cidade de Manresa e ali se entregou ao exercício
da mais austera penitência.
É
ali que compôs o admirável livro dos EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS que, no dizer de
São Francisco de Sales, salvou tantas almas quantas letras encerra.
Como
peregrino, dirigiu-se depois aos lugares santos, acabando os seus estudos em
Paris, onde converteu S. Francisco Xavier, e com mais quatro companheiros deu
princípio à Companhia de Jesus.
S.
FRANCISCO, nascido no castelo de Xavier, em Navarra, em 1506 e convertido em
Paris por S. Inácio foi destinado às missões das Índias Orientais, pregou o
Evangelho, estabeleceu a fé em 52 reinos e batizou com suas próprias mãos mais
de um milhão e cem mil idólatras.
Após
uma vida repleta de milagres, mesmo de multíplices ressurreições de mortos,
faleceu no meio das suas missões e dois séculos depois o seu corpo foi
encontrado em perfeito estado de conservação.
S.
FRANCISCO DE BÓRGIA veio à luz no reino de Valença (Espanha), em 1510, de uma
família ilustre. Casado e já santo no matrimônio, deixou o mundo depois da
morte de sua mulher e entrou na Companhia de Jesus, de que foi o terceiro
superior geral. Após relevantes serviços à Igreja e à sua Ordem morreu em Roma
no ano de 1572.
S.
CARLOS BORROMEU nasceu na Lombardia, em 1538. Foi cardeal e arcebispo de Milão
desde a idade de 23 anos. Era sobrinho do Papa IV que o encarregou juntamente
com outros sacerdotes e religiosos ilustres da composição do catecismo do
Concílio de Trento, publicado depois pelo papa Pio V.
Foi
um verdadeiro apóstolo e restaurador da disciplina eclesiástica na Itália.
Morreu em 1584, deixando obras de subido valor dogmático e moral.
S.
PIO V, PAPA, era religioso dominicano. Consagrou-se inteiramente ao serviço da
Igreja, desenvolvendo em zelo admirável, revelando uma firmeza sem vacilação
contra as seitas protestantes. Foi um modelo de mortificação e heroicas
virtudes.
Por
ocasião da invasão dos muçulmanos, na ilha de Chipre, o Papa usou de seu poder
para reunir um exército formidável, mandado por D. João de Áustria,
entregando-lhe o estandarte e prometendo-lhe a vitória pela proteção da
Santíssima Virgem, o que se realizou na célebre batalha de LEPANTO, onde morreram
32.000 turcos, houve 3.500 prisioneiros e foram libertados 15.000 escravos
cristãos. O Papa morreu neste mesmo ano.
S.
TOMÁS DE VILANOVA era agostiniano. Foi nomeado bispo de Valença. Brilhou pelas
suas virtudes, seus talentos e, mormente por sua caridade para com os pobres.
Morreu em 1555.
S.
PEDRO DE ALCÂNTARA, franciscano, fez-se particularmente admirar por suas
penitências extraordinárias. Morreu em 1562. Temos dele 2 livros de valor: DA
PAZ DA ALMA e DA ORAÇÃO MENTAL.
SANTO
ESTANISLEU DE KOSTKA, filho de um senador polaco. Era estudante jesuíta,
distinguiu-se desde os mais tenros anos por uma pureza Angélica e uma ardente
devoção à Maria Santíssima. Morreu em 1568 com 18 anos de idade.
S.
LUIS DE GONZAGA, da família dos príncipes de Mântua; entrou na Companhia de
Jesus, onde se distinguiu pela prática de todas as virtudes, particularmente
por sua modéstia e pureza angélicas. Morreu em 1591, aos 23 anos de idade.
O
VENERÁVEL JOÃO D‟ÁVILA, foi um homem poderoso em obras e em palavras, um
prodígio de penitência, um gênio universal, uma glória do sacerdócio. Deixou
vários tratados de piedade e morreu em 1569.
SANTA
TERESA D‟ÁVILA foi um verdadeiro prodígio de amor. Com 21 anos de idade entrou
no Carmelo e nele viveu quase meio século. Reformou as Carmelitas e, auxiliada
por S. João da Cruz, reformou também os Carmelitas.
A
santa fundou 30 mosteiros reformados: 16 de religiosas e 14 de religiosos.
Compôs obras de alta espiritualidade. O povo chamava-a: Doutora da Igreja.
Morreu em 1581, no convento de Ubédia.
S.
JOÃO DA CRUZ foi a primeira flor do Carmelo reformado. Homem de extraordinária
penitência foi também um místico de Jesus crucificado. Temos dele obras de alto
valor de misticismo como “A Subida do Carmelo”. Morreu em 1501.
LUIS
DE GRANADA, dominicano, nesta mesma época ilustrava sua Ordem. Era homem de
oração contínua, deixando-nos diversos livros de piedade até hoje estimados.
O
VENERÁVEL BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES, igualmente dominicano. Foi arcebispo de
Braga e um luzeiro do Concílio de Trento. Demitiu-se do arcebispado e morreu em
sua cela de religioso, em 1590.
S.
FRANCISCO DE SALES é como a chave de ouro com que encerra esta galeria de
santos, uns contemporâneos de Lutero e outros posteriores de poucos anos.
Nasceu em 1567, no castelo de Sales (Genebra). Ordenado sacerdote começou o seu
ministério em Chablais, onde converteu 70.000 hereges.
Eleito
coadjutor do bispo de Genebra, sucedeu ao bispo falecido, e durante 20 anos foi
um modelo perfeito de todas as virtudes, sobretudo de mansidão, de uma bondade
sem limites.
Morreu
em 1622, deixando-nos muitas obras espirituais incomparáveis, que o fizeram
Doutor da Igreja.
4.
SÁBIOS DA ÉPOCA
Jamais
será bastante salientado um fato providencial a demonstrar admiravelmente a
providência de Deus, no governo de sua Igreja: enquanto o inferno assesta todas
as baterias de guerra para destruir a Igreja, Deus suscita uma plêiade de
homens extraordinários, pela virtude e pelo saber, para combaterem o erro e
defenderem a Igreja.
Não
se pode negar terem sido terríveis os golpes de Lutero.
Deus
deixou fazer... deixou podar a árvore da Igreja, deixou a heresia como que
capinar o jardim das doutrinas, para lançar os restos apodrecidos no “quintal”
do protestantismo; em compensação, porém, suscitou ele jardineiros habilitados
para replantar este jardim e reedificar os edifícios espirituais ruídos ao
fragor da batalha.
Ao
lado dos santos já citados, encontramos uma legião de sábios a desenvolverem,
no terreno científico, ação idêntica à dos santos, no terreno espiritual.
Em
primeiro lugar refulgem os exegetas que estudaram profundamente e revisaram a
Bíblia inteiramente, compondo as edições poliglotas e enriquecendo os textos
com notas elucidativas, ou comentários eruditos. Entre outros figuram aqui o
CARDEAL XIMEMES, a quem devemos a Bíblia chamada de Alcalá.
VATABLIS,
por longos anos professor de hebraico no Colégio de França.
CARDEAL
BELARMINO, jesuíta, autor de sábios escritos teológicos.
Há
ainda TIRINO, MENÓQUIO, MALDONADO, ÊSTICO, CORNÉLIO e LÁPIDE, cujos importantes
trabalhos científicos bastariam para imortalizar um século.
A
heresia luterana e comparsas, assim como a declaração nítida da Igreja
Católica, no Concílio de Trento levaram os teólogos a fazer estudos mais
apurados e profundos, entre os quais estão sábios tratados dos jesuítas LLÉSSIO
e MOLINA, sobre a graça e o livro arbítrio e os trabalhos ainda mais ilustres
de SUAREZ em que estão mitigadas as doutrinas de Santo Agostinho e da São
Tomás.
As
novas exigências da controvérsia católica promoveram pesquisas patrológicas e
históricas. Daqui provieram as obras preciosas de MELCHIOR CANO, BELARMINO,
PASSEVINO e as de BARÔNIO, publicadas com o título de "Anais
Eclesiásticos" para rebater as falsificações e mentiras dos censuradores
de Magdeburgo; as célebres controvérsias do Cardel DU PERRON.
Enfim
temos cultores exímios da hagiografia ou descrição de vidas ilustres, como
ROSSVEIDE, NA SUA "Vida dos Padres do Deserto", que serviu de guia ao
imenso trabalho dos BOLANDISTAS.
As
ciências humanas foram cultivadas com não menos esmero e perspicácia, sob a
proteção da Igreja Católica.
GALILEU,
no fim do século XVI ensinava livremente em pisa, Pádua e Florença, a teoria
sobre a rotação da terra.
Se
alguns teólogos romanos condenaram mais tarde o seu sistema astronômico, é
porque quis intrometer nele a teologia, baseando-o na Escritura Sagrada.
Sob
a égide dos Papas, VESALO inaugurava em Pávia a ciência da anatomia.
No
mesmo tempo Calvino mandava queimar vivo MIGUEL SERVET, que acabava de
descobrir a circulação pulmonar. Os protestantes perseguiram a TYCHO-BRAHE,
coagindo-o a deixar o sistema de Copérnico. Os teólogos protestantes tubigenses
condenaram KEPLER, por ter ensinado as novas leis do mundo planetário; os
Papas, ao contrário, procuravam atraí-lo para a universidade de Bolonha.
5.
CONCLUSÃO
Tal
é a obra civilizara, científica e salvadora do Catolicismo no século tão
agitado de Lutero e de seus primeiros continuadores.
Ao
se ler a história da reforma, qual ficou esboçada acima, parece-nos que a
Igreja nada fez para opor-se à heresia nascente, deixando ao fogoso reformador
plena liberdade de combater a Igreja e difundir o seus erros.
Isto
não é verdade.
A
Igreja quis reagir contra a avalanche de falsidades, mas, como vimos, o Papa
não encontrou em parte algum total apoio seguro, como se fazia necessário para
impedir os progressos do mal.
Deus,
porém, nunca abandona a sua Igreja. Ele mesmo, depois de ter deixado Lutero realizar
a separação do JOIO DO TRIGO, se encarregou de combater o mal, e o fez sem
ruído, sem armas, sem castigos aparentes, mas com misericórdia e justiça.
Para
grandes males, grandes remédios. O mal era extenso e profundo no tempo do
reformador; era quase geral a indiferença; pelo choque resultante da luta, os
maus caíram e o bons se elevaram, guiadores pelos santos que Deus suscitava em
toda parte.
Ainda
uma vez a Igreja saiu do combate muito mais bela, gloriosa e triunfante do que
antes, e o que não pudera fazer, no ambiente de decadência geral, fê-lo no meio
da luta: sustentou o fervor e a generosidade das almas cristãs.
Um
cristão fervoroso é preferível a mil cristãos tíbios; a tempestade protestante
sacudiu a imensa árvore da Igreja; fez cair no chão todo FRUTO APODRECIDO ou
carcomido e salvou tudo o que havia de bom, nobre, puro e idealista: diminuiu o
número, mas o valor aumentou.
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