"Triunfarão com a Santíssima Virgem aqueles que agora, in extremis, se levantarem e lutarem por Ela. Surrexerunt fili ejus, et beatissimam praedicaverunt (Prov 31,28) — Seus filhos se levantaram e A proclamaram bem-aventurada."
Cid Alencastro
Existem dois tipos de loucos. Um é o pobre coitado
que, por uma deformidade cerebral, congênita ou adquirida, ou mesmo pela idade
avançada, perde a capacidade de se autogovernar. Merece ele nossa compaixão e
ajuda em toda medida do possível.
Mas há outro tipo de louco, este culposo. É aquele
que, sem padecer de nenhuma anomalia cerebral, viciou-se em agir de modo
contrário à razão e ao bom senso. Peca contra a sabedoria, em geral porque se
entregou a alguma paixão desvairada que o tiraniza e lhe impede o reto agir e
pensar.
As subespécies deste tipo de loucura são infindas.
Exemplifiquemos.
Logo se poderá pensar na paixão da sensualidade, com
sua variante romântica, que cega o indivíduo e o faz transgredir todas as
normas da prudência e do bom senso, e por vezes também da justiça, podendo
facilmente chegar até o crime. Tudo para satisfazer um impulso irracional que o
escraviza e arrasta. É um louco.
Mas a sensualidade é apenas uma das paixões que
enlouquecem o homem. Poderíamos falar da ambição, do orgulho, da inveja etc.
Pode parecer surpreendente, mas talvez a preguiça,
sobretudo a mental, seja a paixão mais frequente em produzir mentecaptos.
Habituando-se a não fazer esforço, a não querer enfrentar o ambiente hostil que
o rodeia, a nunca lutar — “dá trabalho”… “dá preocupação”… “exige empenho”…
“não é comigo”… — a pessoa acaba ficando meio abobada e se deixa levar pela
televisão, pela moda, pela opinião dos outros, como uma folha seca que o vento
carrega para qualquer lado e acaba por ser pisada como inútil e desprezível. É
um néscio, um idiota, um imbecil com o qual não se pode contar para nada de
sério ou racional.
A preguiça mental costuma exercer forte tirania em
relação aos seus escravos, a ponto de estes preferirem qualquer coisa a terem
que lutar ou fazer algum esforço. Disseram-me que o colesterol é produzido por
gorduras que aderem às faces internas das veias e impedem o sangue de circular
normalmente. A imagem me é muito cômoda para exprimir esse “engorduramento” das
veias do pensamento, que impede a irrigação do cérebro pelo sangue vivo e
borbulhante da reflexão bem feita, da observação precisa, da análise objetiva
da realidade. E, tudo isso, porque pensar pode levar a conclusões
desagradáveis, pode ser um convite à luta, ao esforço, em suma, obriga a sair
de entre os lençóis mentalmente “engordurados” da preguiça para o campo de
batalha. Se as evidências furam os olhos, o melhor é fechá-los para não ver e
não ter que sair das prazerosas comodidades interiores da moleza.
Esse gosto mórbido da inação mental explica que tenha
sido possível aos arautos da esquerda ir introduzindo no convívio social das
nações, sem oposição proporcionada, as maiores aberrações intelectuais, como a
Ideologia de Gênero, a generalização da matança de inocentes no ventre materno,
os horrores da arte moderna; e, na Igreja, a contestação de doutrinas
evidentes, a demolição de cerimônias ancestrais belíssimas, de costumes tocantes.
São máquinas de opinião pública que vêm despejando sobre as pessoas esses e
outros horrores, como certos tubos enormes despejam asfalto numa via de terra
para se constituir ali uma estrada, enquanto o “louco” olha para isso com olhar
desagradado, mas aparvalhado.
Alguém dirá: mas muitas pessoas não estiveram de
acordo com essas novidades malsãs!
O problema é exatamente esse! A grande maioria dos que
não estavam de acordo não quis lutar, limitou-se a um choramingo, a exprimir um
desagrado. Preferia que não houvesse essas mudanças, mas deixar suas
comodidades interiores para entrar no campo de batalha ideológico, muitas vezes
psicológico, isso não! Ante tal omissão, as muralhas da civilização cristã
foram sendo derrubadas uma a uma, sem que os habitantes da cidade de Deus se
levantassem em denodadamente para impedir a entrada dos inimigos. Hoje estes
dominam.
Tudo isso é verdade, pode-se ponderar, mas agora já é
tarde, o mundo está entregue e muitos pastores se transformaram em lobos. O que
fazer?
Nossa Senhora prometeu em Fátima que ao final de todo
esse processo de horror e de pecado o seu Coração Imaculado triunfaria.
Comecemos nós a rezar e a lutar para que, quando esse triunfo se der, ele
encontre almas prontas a recebê-lo e a entusiasmar-se com ele. E não almas
modorrentas que só servem como palha para o fogo.
Triunfarão com a Santíssima Virgem aqueles que agora,
in extremis, se levantarem e lutarem por Ela. Surrexerunt fili ejus, et
beatissimam praedicaverunt (Prov 31,28) — Seus filhos se levantaram e A proclamaram bem-aventurada.
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