"O abuso de smartphones é produto de uma sociedade frenética e desequilibrada. Não se trata somente do telefone, mas daquilo que poderia ser chamado de intemperança frenética, onde todos tem que ter tudo, instantaneamente e sem esforço."
John
Horvat II
Tradução
de José Aloisio Aranha Schelini
(Transcrito de
Crusade Magazine)
Onde quer que vá, todo mundo está colado em seu
“smartphone”. Em aeroportos, restaurantes ou na rua, as pessoas estão quase
permanentemente coladas nestes dispositivos, obcecadas com a ideia de que não
podem existir sem estarem conectadas ao mundo cibernético. Assim, enviam textos
e tuítes, e-mail e Google, ‘seguem’ e ‘curtem’ no esforço de estar
constantemente online. Isso se tornou parte da existência “normal” no mundo
pós-moderno atual.
No entanto, nem todos estão conectados. Um número
crescente de dissidentes dos smartphones está vendendo seu passe para o mundo
digital. Estão comprando telefones burros que só fazem aquilo que os telefones
costumavam: receber e fazer chamadas. Estes rebeldes não são ex-jogadores
eletrônicos pós-modernos ou pessoas tecnologicamente inaptas. São pessoas
inteligentes que usam telefones ‘burros’. E vêem sua decisão de desligar como
uma experiência libertadora que lhes permite viver suas vidas livres da mediação
de dispositivos eletrônicos.
Os telefones burros constituem um segmento pequeno mas
robusto do mercado de telefonia. Ao comprarem um telefone barato de 30 dólares,
seus proprietários poderão juntar-se ao um por cento que constitui este grupo
de elite. Na realidade, muitos ‘refuseniks’, que rejeiam os smartphones são
profissionais, alguns até moram no Vale do Silício, onde ajudam a projetar os
dispositivos e aplicativos dos famigerados smartphones. Assim, muitos
executivos podem mais facilmente responder e encomendar um simples Jitterbug
flip-telefone, respondendo a um anúncio no The Wall Street Journal.
Os membros deste um porcento dão muitas razões para a
sua decisão. Estes telefones duráveis nunca precisarão ser atualizados com um
modelo mais novo e melhor. Sua pilha dura (sem falar) algumas semanas (até 38
dias) e não exigem um plano de dados caro. Podem ser dados a crianças ou idosos
para chamarem em caso de emergência ou necessidade, sem grande investimento.
Não há necessidade constante de verificar e-mails,
atualizações de status ou notificações. É um simples telefone. O fato de ter
este modelo básico produz nas pessoas um sentimento de grande alívio por não
terem de responder e se distrair a todo momento.
Há outras razões mais cogentes para desligar o
smartphone que vão além da mera conveniência pessoal. Sociólogos e outros
estudiosos estão preocupados com as consequências que o uso crônico de
smartphones temal Newport causado nas mentes e relacionamentos. Em seu
excelente livro,Deep Work (trabalho profundo), afirma que smartphones e outros
dispositivos acostumam o cérebro a estar constantemente distraído. O usuário
vive em um estado de atenção dividida e não consegue se concentrar para fazer
seu verdadeiro trabalho. O autor constata que tais dispositivos deterioram a
capacidade da pessoa de pensar e trabalhar em profundidade.
Alega-se que os smartphones são possantes conectores
do usuário com mundo, mas na verdade, são dispositivos que inibem uma profunda
conexão com os outros. O recurso constante a mensagens de texto, por exemplo,
elimina as expressões faciais, tom e inflexão de voz que ajudam a firmar
relações e a transmitir nuances. A mera presença de um smartphone em uma
conversa é um convite a prestar menos atenção, uma vez que o smartphone pode
causar frequentes interrupções.
Alguém poderia dizer que tais razões não fazem ninguém
perder o sono. Na verdade, os smartphones são também causa de insônia. Muitas
pessoas (44 por cento entre 18 e 24 anos
de idade) dormem segurando seus smartphones. Quando veem notificações sonoras,
as pessoas respondem, interrompendo o seu sono (e seus padrões de sono). A luz
emitida pela tela também interrompe os ritmos circadianos que ajudam as pessoas
a dormir bem. Além disso, a primeira coisa que muitos fazem ao acordar é
verificar seus telefones.
Finalmente, há a enorme quantidade de tempo que as
pessoas passam coladas às suas máquinas. Muitas gastam uma média de oito horas
por dia em todos os seus dispositivos. Estão constantemente verificando seus
e-mails, tweets e mensagens centenas de vezes por dia. Perdem a noção do que se
passa ao seu redor, se esquecem dos afetos familiares e passam facilmente a
viver fora da realidade.
Com tantas razões para cortar, seria de admirar que
muitos têm aderido ao um por cento que declarou sua independência digital?
Muitos deles chegam a comprar telefones burros. Outros “emburrecem” seus
telefones inteligentes. Ainda outros usam aplicativos para controlar sua
utilização do smartphone. É tudo parte de uma reação contra um problema muito
real e bem mais profundo.
O abuso de smartphones é produto de uma sociedade
frenética e desequilibrada. Não se trata somente do telefone, mas daquilo que
poderia ser chamado de intemperança frenética, onde todos tem que ter tudo,
instantaneamente e sem esforço. Chegou a hora de uma volta à família, à
comunidade, à fé — coisas permanentes que realmente importam e não devem ser
interrompidas.
Realmente, chegou a hora de um retorno à ordem. Talvez
o primeiro passo seja evitar que os smartphones emburreçam as pessoas.
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