"A Religião Católica foi banida, os conventos fechados, as igrejas passaram para o culto luterano, e houve mártires, como o bispo D. Peter Jakobsson, e o reitor da catedral de Estocolmo, Knut de Vasteras que, acusados de traição, como ocorreu na Inglaterra, foram executados sem nenhum processo legal."
Plinio Maria
Solimeo
A Suécia é, em nossos dias, um dos países com maior
número de ateus. Numa pesquisa feita em 2010 pela Eurobarometer, somente 18% de
sua população acreditavam na existência de algum ser superior. Embora 67% dos
seus habitantes diziam pertencer à Igreja Luterana da Suécia, apenas 15% deles
acreditavam em Jesus Cristo, 15% se diziam ateus, e outro tanto agnósticos.
Essa igreja presume ser a maior denominação luterana do mundo, mas atualmente
somente 2% dos seus membros participam regularmente de seu culto[i]. E veremos
porque.
Evangelizada na Idade Média, apesar de ter alguns
santos de primeira grandeza como Santa Brígida e sua filha, Santa Margarida, a
Religião Católica não penetrou muito profundamente no seu povo. De maneira que,
quando começaram a pulular as revoltas dos vários heresiarcas protestantes no
século XVI, Gustavo Eriksson Vasa, eleito rei em 1523, facilmente pôde romper
com Roma, e seguir as novas idéias. Em 1593 a “Confissão de Augsburg
inalterada”, ou seja, o luteranismo, tornou-se a religião oficial do Estado – o
que vigorou até o ano 2000 — com severas punições a quem dela se afastasse. Ao
mesmo tempo, o exercício de qualquer outra forma de culto foi estritamente
proibido.
A Religião Católica foi banida, os conventos fechados,
as igrejas passaram para o culto luterano, e houve mártires, como o bispo D.
Peter Jakobsson, e o reitor da catedral de Estocolmo, Knut de Vasteras que,
acusados de traição, como ocorreu na Inglaterra, foram executados sem nenhum
processo legal. De modo que essa ruptura permanece até hoje[ii].
Por isso a maioria dos católicos no país — onde há um
só bispo, 43 paróquias, e cerca de 140 mil fiéis — é de descendentes de
imigrantes alemães, holandeses, poloneses e italianos.
Sacerdotisas,
“bispas” e casamento homossexual
No site Religión en Libertad, do qual emprestamos
quase todos os dados para este artigo, há informações espantosas a respeito do
culto luterano naquele país.
Embora tenham mantido na Escandinávia as vestes
litúrgicas dos católicos, como mitras, cruz peitoral, báculos, etc., no entanto
os luteranos mudaram toda a moral e a doutrina herdada do catolicismo.
Uma delas foi, por imposição do Parlamento em 1960, a
ordenação de mulheres como sacerdotisas; essa igreja faz cerimônias para as
uniões de casais do mesmo sexo desde 2007 e, desde 2009, celebra seus
“casamentos” religiosos. Por sua vez, a “bispa” luterana de Estocolmo, capital
do país, é uma lésbica militante e ativista, “casada” com outra pastora. A
diocese de Upsala, uma das mais importantes do país, também é regida por uma
“arcebispa”. Não sabemos sua orientação.
A Igreja Luterana da Suécia também não condena nem
combate o aborto. Além disso, com a educação sexual obrigatória e sistemática
nas escolas desde 1975, temos que as adolescentes suecas são as que mais
abortam na Europa (22,5% de cada mil jovens entre 15 e 19 anos, segundo
estimativa de 2009). O que fez com que ele, que era cerca de 30 mil em 2000,
passasse para entre 30 a 38 mil em 2010[iii].
Entretanto, alguma coisa se move naquelas águas até há
pouco estagnadas. Alegra nosso coração de católico saber que o Divino Espírito
Santo tem suscitado nesse país tão ateu e tão refratário à verdadeira Religião,
algumas conversões notáveis, como a de ministros luteranos e de comunidades
inteiras de monges e freiras protestantes. É o que veremos.
Primeiro
bispo católico após a pseudo-Reforma protestante
Para começar, há o exemplo do atual bispo de
Estocolmo, D. Anders Arborelius [foto], luterano convertido que se tornou o
primeiro cidadão sueco e o segundo escandinavo a se tornar bispo católico desde
a época da pseudo-Reforma protestante no século XVI.
Nascido na Suíça, foi muito pequeno para a Suécia, e
educado na religião luterana, como a maioria no país. Quando contava
aproximadamente de 15 anos, conheceu as freiras Brigidinas (fundadas por Santa
Brígida), que retornaram ao país no início do século XX. Estas religiosas, por
sua profunda fé e espírito sobrenatural, lhe causaram profunda impressão. Desde
então ele começou, como disse, “a sonhar com a Religião Católica”. Aos 18 anos
chegou à conclusão de que, se existia a Verdade, esta estava na Igreja
Católica.
Como conseqüência, aos 20 anos foi nela recebido, e
decidiu tornar-se sacerdote. Lendo então a “História de uma Alma”, de Santa
Teresinha, quis também ser carmelita. Entrou no único mosteiro de Carmelitas
Descalços na Suécia, sendo enviado fazer seus estudos eclesiásticos em Bruges e
em Roma. Ordenado sacerdote em 1979, dedicou-se ao múnus pastoral em seu país.
Para sua alegria, sua mãe também converteu-se à fé católica.
Em novembro de 1998 foi sagrado bispo de Estocolmo. E
continua até hoje dirigindo essa diocese[iv].
Dissemos que as águas começavam a se mover na Suécia.
Nesse sentido, afirma D. Arborelius: “Graças a Deus, cada ano há uma centena de
pessoas, entre elas alguns pastores luteranos, que se tornam partícipes da
Igreja Católica. Existe um grande número de suecos que sentem-se próximos do
catolicismo: lêem livros de espiritualidade católica, rezam, vão à igreja… mas
não se atrevem a dar o salto” decisivo da conversão. Ele acrescenta que são
sobretudo intelectuais e homens de negócios que se sentem atraídos pelo
catolicismo[v].
Pastores
luteranos que buscaram a verdade
Entre os pastores luteranos que ingressaram no seio da
Igreja, está o Pe. Morgan Elworth, de 63 anos. Ele afirma: “Eu me tornei
católico em 1999. Entendi que Jesus havia fundado só uma Igreja, queria que
fôssemos um, e eu queria estar nessa Igreja que Jesus fundou. Somos cinco os
ministros luteranos que passamos para o catolicismo e agora somos sacerdotes. E
creio que não haverá mais. Pois a Suécia e a Dinamarca são os países mais secularizados
do mundo. Os que ainda vão à Igreja luterana oficial já não crêem na moral e na
doutrina básica do cristianismo. São muitos liberais”[vi],
Não é dessa opinião Lars Ekblad, recentemente
convertido ao Catolicismo depois de ter sido por quase 40 anos pastor luterano:
“Eu conheço muitos ministros da Igreja da Suécia que se tornaram católicos, e
virão ainda muitos mais. Cada um tem seu próprio caminho”. Pois, segundo ele,
“penso que qualquer um que escute a voz do Senhor e está disposto a segui-Lo,
se fará católico”.
E não há compulsão para isso: “Ao largo de minha vida
falei com muitos sacerdotes católicos, tanto na Suécia, como no estrangeiro.
Nenhum me disse ‘deves vir conosco’; o que me diziam era: ‘escute tua
consciência, e a siga’. Não houve nenhum intento de converter-me. [Pelo
contrário] alguém me disse: ‘não posso prometer-te nada senão a Cruz de Cristo
e o último lugar na fila’”.
À pergunta sobre a ordenação de mulheres sacerdotisas,
e a presença de “bispas” na igreja luterana, ele afirma: “Assim é como se faz
na Igreja da Suécia, e é um sinal de que esta igreja e outras igrejas não
católicas estão dispostas a afastar-se da ordem apostólica”.
O que Lars fará no futuro? “Dei meu passo em
obediência à vontade de Cristo como cheguei a entendê-la. Não tenho planos para
o futuro. Espero e rezo para que use minha experiência e conhecimento à sua
vontade na Igreja Católica”[vii].
Monges
luteranos se convertem à fé católica
O escritor espanhol José Miguel Cejas escreveu um
livro “Cálido vento do norte”, no qual traz relatos de conversões à fé católica
na Escandinávia, Finlândia e Islândia. Entre elas narra duas ocorridas na
Suécia, que transcrevemos aqui[viii].
Estêvão (não temos seu sobrenome) era um jovem
esportista cheio de vida. Educado na religião luterana, não a levava muito a
sério como quase todo mundo no país. Consequentemente, pouco pensava em Deus.
Afirma ele: “Durante 18 anos não pensei demasiadamente n’Ele, pois
preocupava-me sobretudo com minhas coisas. À partir da adolescência sonhava,
com meus amigos e amigas, no que me apetecia: primeiro uma moto, logo um carro
esporte e, mais tarde, voar…”.
Assim, um dia de 1976, aos dezoito anos, decidiu
entregar-se a uma aventura diferente: voar numa asa delta enganchada em um
carro, para que este, ao arrancar e correr pela pista, a elevasse ao ar. E isso
seria sobre Gotemburgo, sua cidade natal, a segunda da Suécia em importância,
apesar de tal iniciativa ser proibida.
Tudo ia bem, e ele se deliciava vendo Gotemburgo do
alto, a 50 metros de altura. Porém, em determinado momento, percebeu que, por
um defeito qualquer, a asa delta começava gradualmente a perder altura.
Desesperadamente conseguiu segurar um dos cabos da asa, para fazê-la descer
naturalmente. “Se tivesse demorado alguns segundos mais em reagir, confessa
ele, possivelmente estaria morto”.
Com isso ele atenuou a queda, mas não a evitou de
todo. O aparelho caiu pesadamente ao solo. Como conseqüência ele teve uma perna
quebrada, seqüelas na coluna vertebral que duram o resto de sua vida, e vários
meses de hospital.
Os parentes e amigos que o visitavam comentavam sua
“boa sorte”, pois podia ter sido pior. Sua irmã Gabriela, luterana como ele,
entretanto aconselhou-o a agradecer a Deus por continuar vivo.
Isso o impressionou, e o levou, durante as longas e
lentas noites que permaneceu no hospital, a pensar em Deus e no sentido da
vida. “Pensei então na morte que passou roçando em mim a poucos milímetros… Sem
dar-me conta, comecei a falar com o Senhor, algo que não havia feito desde
menino, quando então cria n’Ele, mas logo fui afastando-me d’Ele”.
Isso foi calando tão profundamente na alma de Estêvão,
que numa noite, ele gritou com todas as forças: “Se existis, ó Deus, não quero
voltar a viver afastado de Vós”.
“Nesse momento, conta ele, notei que Ele estava ao meu
lado, comigo. Renuncio a explicar o que se passou. Não foi uma imaginação, nem
uma sensação, nem certeza intelectual. Ouvi algo? Não. Vi algo? Não. Disse-me
algo? Não. Simplesmente Ele estava ali. Sua presença não me inquietou: pelo
contrário, proporcionou-me uma paz interior que tem guiado minha vida até
então”.
Saindo do hospital, Estêvão decidiu “viver junto, e
para Jesus”. Pensou então em fazer-se pastor luterano. Mas depois decidiu
entrar, em 1981, numa comunidade protestante, em Jonsered. Por incrível que
pareça, esta se inspirava em São Francisco de Assis. “À medida que fui
conhecendo os ensinamentos de São Francisco e falando com o Pe. Rafael
Sarachaga, pároco católico de Gotemburgo, me sentia cada vez mais atraído pelo
catolicismo”. E de tal modo que resolveu entrar para o seio da Igreja. Seu exemplo
foi contagiando os outros membros de sua comunidade que, em 1983, entraram em
peso para a Igreja Católica.
Solicitaram então à Santa Sé transformar sua
comunidade, agora católica, numa Ordem Terceira Regular de São Francisco. Foi o
que sucedeu.
À partir de então começaram a chegar novas vocações
para o convento do Irmão Estêvão. Ele lá vive até os dias de hoje[ix].
Comunidade
de freiras luteranas segue o exemplo
Mas a história não pára aí. O citado autor conta em
seu livro outra conversão, exatamente a da irmã de Estêvão, Gabriela, a que lhe
dera o conselho de agradecer a Deus por não ter morrido no desastre.
Ela era uma moça comum, vivia com a família bastante
acomodada, e só pensava nos passatempos das jovens de sua idade e condição.
Isso até o acidente do irmão e sua subseqüente conversão à fé católica. Esse
fato provocou em Gabriela um profundo impacto, de modo que também ela começou a
perguntar-se sobre o sentido da vida.
Suas amigas não entendiam como seu irmão pudera
fazer-se católico, pois na escola apresentavam essa religião como algo triste e
sombrio.
Isso despertou o interesse de Gabriela em conhecer
mais essa Religião que atraíra seu irmão. Começou então a ir à missa na igreja
do já citado Pe. Rafael, para ver o que nela diziam. E viu que era bem
diferente do que supunha. “Isso não quer dizer que o catolicismo me atraísse,
diz ela, se bem que lia as obras de alguns místicos católicos que me ajudavam a
estar perto de Deus”.
Depois resolveu frequentar as aulas que o já citado
pároco ministrava, e começou a sentir grande admiração pelo seu esforço para
ser coerente com o que dizia. Assim, isso foi “até que um dia, dei-me conta de
que era católica”.
Conta ela que isso sucedeu rápida, mas não precipitada,
nem aloucadamente: “Eu não decidi fazer-me católica; simplesmente me dei conta
de que meu modo de pensar e de viver já era o de uma católica”. Foi então
recebida na Igreja.
Como sucedeu com irmão, Gabriela sentiu que não era
suficiente ser meramente católica. Precisava dar um passo a mais. O Pe. Rafael
sugeriu-lhe então que fosse visitar um convento recente de monjas, em Vadstena.
Ela ficou encantada. E nele entrou. E nele persevera até hoje.
A história desse convento é bastante curiosa. Ele
havia sido fundado por uma jovem protestante, que desejava estimular a
participação das luteranas na Igreja da Suécia. Viviam em comunidade. Por volta
dos anos 50, entraram em contacto com os beneditinos de Tréveris, e perceberam
que buscavam a mesma coisa. Por isso, nos anos 60 a fundadora pensou em
transformar a comunidade em interconfessional. E não acharam nada melhor para
isso do que estudar a regra de São Bento.
Pela mão da Providência, conheceram então o frade
carmelita Anders Arborelius, de quem falamos acima, que as animou e ajudou a
incorporar-se à Igreja Católica. Desse modo, em 1988, as antigas freiras
luteranas se transformaram numa comunidade beneditina católica, com o convento
do Sagrado Coração, em Borghamn[x].
Assim, o Divino Espírito Santo atrai para a Santa
Igreja Católica as almas retas e de boa vontade em todos os quadrantes da
Terra.
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Vivía sin Dios, pero una caída de 50 metros desde un
ala delta le hizo pensar… hoy es franciscano
É, simplesmente, maravilhoso ler esse tipo de notícia. Obrigado.
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