"O mais ridículo, em suma, é que esperamos não sermos reconhecidos como cristãos, quando os de nossa relação, nossos colegas de trabalho sabem muito bem que nós o somos."
Pe. Christian Bouchacourt
Existe uma atitude freqüente entre nós e,
no entanto, profundamente absurda: o sentirmos vergonha de sermos católicos. A
isso se chama respeito humano.
Ora, quem tem
vergonha de estar com boa saúde? Quem tem vergonha de possuir um emprego
interessante e bem remunerado? Ou uma família amorosa? Ninguém, evidentemente.
Ao contrário, sentimos orgulho de nossas riquezas naturais (a saúde, a vida
profissional, a família), e temos mesmo a tendência de ostentá-las.
Por que bizarrice
do espírito humano, então, acontece de sentirmos vergonha das riquezas
sobrenaturais que são nossas, da nossa fé católica, da graça divina? Podemos
nos acanhar delas? É incompreensível, e contudo é um mal demasiadamente
difundido entre os católicos.
A falta, o vício
que deveria nos ameaçar, em boa lógica, não deveria ser a vergonha, mas antes a
jactância, o orgulho. Se sou amigo de um rei, de um homem político, de uma
estrela do cinema ou da música, de uma atleta famoso, quero proclamá-lo por
cima dos telhados. Por que, então, se sou amigo de Jesus Cristo, Filho de Deus,
Rei dos reis e Senhor dos senhores, tenho antes a tendência de escondê-lo? O
respeito humano é, em si mesmo, a coisa mais imbecil e inconveniente: e
contudo, ele nos paralisa a cada dia.
O que tememos? Um
sorriso de canto de boca, um gracejo mordaz, uma palavra amarga? Isso não mata
ninguém. Nos nossos países ocidentais, o fato de se mostrar cristão não expõe,
senão raramente, a conseqüências mais graves. Os cristãos do Oriente, eles, que
vivem sob o jugo do islã, expõem-se a humilhações, prisões e até mesmo a
assassinatos. Porém, vejam como reagem: exibem-se publicamente como cristãos,
com suas roupas, cruzes e medalhas aparentes.
O mais ridículo,
em suma, é que esperamos não sermos reconhecidos como cristãos, quando os de
nossa relação, nossos colegas de trabalho sabem muito bem que nós o somos. Eles
perceberam, por certas atitudes ou palavras que nos escaparam, que algo de
especial nos habita, e não demoraram a fazer a ligação com nossa crença
religiosa. E mesmo esses colegas de trabalho, que julgamos que se rirão de nós
(acontece por vezes, mas não é nenhum martírio), esperam de nós, ao menos
alguns deles, esclarecimentos, respostas a suas questões, explícitas ou
implícitas. Eles se decepcionam, e com razão, se nos calamos molemente numa
conversa em que um católico deveria intervir.
Há apenas uma
solução para a honra de Nosso Senhor, para a nossa própria Salvação, para o bem
das almas com as quais convivemos: mudar o rumo do comboio e reencontrar, com a
graça de Deus, o orgulho tranqüilo e humilde de sermos católicos. Exprimamos
nossa fé em cada circustância em que seja útil, sem temores infundados, sem
falsos pudores, sem titubeios. O mundo precisa da luz de Jesus Cristo, e não
temos o direito de escondê-la debaixo do alqueire.
Nossos pais não a
esconderam, e foi assim que edificaram a Cristandade, as cidades e aldeias em
cujo centro reinava uma igreja, com seu campanário erguido acima de todas as
casas para chamar os homens à oração; onde as catedrais suntuosas causavam
admiração nos passantes, cantando-lhes a glória do Altíssimo; onde calvários
cobriam os caminhos e encruzilhadas em honra da Paixão de Cristo; onde tantos
padres usavam a batina como um estandarte; tantos religiosos e religiosas com
seus hábitos enchiam as ruas, fazendo com que cada transeunte recordasse seu
destino eterno.
Não escondamos
vergonhosamente nossa fé, não temamos manifestá-la, para não merecer a
condenação de Cristo: “quem se
envergonhar de mim e das minhas palavras, (também) o Filho do homem se
envergonhará dele, quando vier na sua majestade” (Lc 9, 26).
Reencontremos este transbordamento de alegria de sermos salvos pela graça de
Cristo, e de oportunamente exprimi-lo com desembaraço. Como diz Santo Inácio,
se o soldado fala espontaneamente da guerra, se o mercador fala de seu
comércio, e o apaixonado daquela que ama, será normal ao católico falar
facilmente de seu amigo, de seu benfeitor, de seu redentor, de seu Deus, de
Nosso Senhor Jesus Cristo.
Quanto mais
intensa é a luz, mais as trevas recuam; quanto mais a vida católica brilhar
publicamente, mais as sombras da apostasia dissiparão. Façamos, pois, reviver
em nós este brio simples de sermos católicos: “Sou católico, eis a minha
glória, minha esperança e minha salvação; meu canto de amor e de vitória, eu
sou católico, eu sou católico”.
(Fideliter 231 –
Tradução: Permanência)
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