“A Revolução é inspirada pelo próprio Satã; seu objetivo é destruir
da base ao topo o edifício do cristianismo, e reconstruir sobre suas ruínas a
ordem social do paganismo”
Monsenhor HENRI
DELASSUS
A CONJURAÇÃO
ANTICRISTÃ
CAPÍTULO IV
A REVOLUÇÃO UMA DAS
ÉPOCAS DO MUNDO
No início do século XIX podia-se acreditar
que a Revolução Francesa fora principalmente uma revolução política e que,
terminada essa revolução, a sociedade iria readquirir sua estabilidade. Hoje
não se pode mais ter essa ilusão, mesmo que se considere a Revolução apenas no
seu primeiro período. Como disse Brunetière: “A grandeza dos acontecimentos [da
Revolução Francesa] transborda e ultrapassa em todos os sentidos a mediocridade
daqueles que crêem ser ou que cremos serem seus autores. É prodigiosa a
desproporção entre a obra e os operários. Uma corrente mais forte do que eles
os arrasta, os carrega, fá-los rolar, quebra-os... e continua a correr”.
Assim que o duque de
Rochefoucault-Liancourt acordou Luís XVI para anunciarlhe a queda da Bastilha,
o rei perguntou: “Então isso é uma revolta?” O duque respondeu: “Não, sire, é
uma revolução”. Ele não disse o bastante; não era uma revolução, mas A
REVOLUÇÃO que surgia.
O que aparece à primeira vista na
Revolução, o que de Maistre viu nela e assinalou desde o dia em que se pôs a
considerá-la, e o que nós vemos no presente momento com mais evidência ainda, é
o ANTICRISTIANISMO. A Revolução consiste essencialmente na revolta contra
Cristo, e mesmo na revolta contra Deus, mais ainda, na negação de Deus. Seu
objetivo supremo é subtrair o homem e a sociedade ao sobrenatural. A palavra
LIBERDADE, na boca da Revolução, não tem outro significado: liberdade para a
natureza humana ser dela, como Satã quis se pertencer, e isto, como explicaremos
mais adiante, por instigação de Lúcifer, que quer recobrar a supremacia que a
superioridade de sua natureza lhe dava sobre a natureza humana, e da qual foi
despojado pela elevação do cristão à ordem sobrenatural. E é por isso que J. de
Maistre justissimamente caracterizou a Revolução com essa palavra: “satânica”.
“Sem dúvida, a Revolução Francesa
percorreu um período cujos momentos, todos, não são semelhantes entre si; no
entanto, seu caráter geral não variou, e mesmo no seu berço ela provou o que ela
devia ser”. “Há na Revolução um caráter satânico que a distingue de tudo o que
já se viu e talvez de tudo o que se verá. Ela é satânica na sua essência”.1
Em 1849, Pio IX disse — nós já lembramos
essas palavras — com mais autoridade ainda: “A Revolução é inspirada pelo
próprio Satã; seu objetivo é destruir da base ao topo o edifício do
cristianismo, e reconstruir sobre suas ruínas a ordem social do paganismo”.
Após nossos desastres de 1870-1871,
Saint-Bonnet dizia: “A França trabalha há um século para afastar de todas as
suas instituições Aquele a quem ela deve Tolbiac, Poitiers, Bouvines e Denanin,
quer dizer, Aquele ao Qual ela deve seu território, sua existência! Para
mostrar todo seu ódio contra Ele, para fazer-Lhe a injúria de expulsá- Lo para
fora das muralhas de nossas cidades, a seita estimula, desde 1830, uma imprensa
odiosa a aguardar impacientemente a época da festa desse “Cristo que ama os
Francos”, dAquele que se fez “Homem para salvar o homem, que se fez Pão para
alimentá-lo!” E conclui: “E a França indaga qual a causa de suas
infelicidades”.
Ao ódio contra Cristo, que não se teria
crido possível no seio do cristianismo, junta-se a revolta contra Deus.2
Há razões para crer que uma tal revolta
contra Deus não pôde ter ocorrido nem mesmo no ardor do grande combate entre
Lúcifer e o arcanjo São Miguel.
É preciso ter o espírito limitado do homem
para se levantar contra o Infinito. É preciso também corrupção e extrema
baixeza do coração.
O que não se via, vê-se hoje. “A Revolução
é a luta entre o homem e Deus; quer ser o triunfo do homem sobre Deus”. Eis o
que declaram os que dizem que no momento atual trata-se de saber quem vencerá:
a Revolução ou a Contra-Revolução.
Assim, Saint-Bonnet não diz nada de mais,
não diz talvez bastante, quando afirma que “o tempo presente não pode ser
comparado senão àquele da revolta dos anjos”. E conseqüentemente, de Maistre,
Bonald, Donoso-Cortés, Blanc de Saint-Bonnet e outros concordam em afirmar: “O
mundo não pode permanecer como está”.
Ou ele chega ao fim, no ódio que o
Anticristo tornará mais generalizado e mais violento contra Deus e Seu Cristo;
ou ele se encontra na véspera da maior misericórdia que Deus possa ter exercido
nesse mundo, afora o Ato Redentor.
Eis aí o estado em que nos encontramos,
aquele que a Revolução criou, aquele que não deixou de existir desde os
primeiros dias da Revolução, sob o império da qual nós sempre estamos.
Em 1796, dois anos após a queda de
Robespierre, J. de Maistre escrevia: “A revolução não terminou, nada lhe
pressagia o fim. Ela já produziu grandes infelicidades, ela anuncia ainda
maiores”.3
Na véspera do dia em que parecia aos
espíritos superficiais que a sagração de Napoleão ia tornar estável a nova
ordem de coisas, ele escrevia a de Rossi (3 de novembro de 1804): “Estaríamos
tentados a crer que tudo está perdido, mas acontecerão coisas pelas quais
ninguém espera... Tudo anuncia uma convulsão geral do mundo político”.4
No apogeu da epopéia napoleônica: “Jamais o
universo viu nada igual! O que devemos ver ainda? Ah! como estamos longe do
último ato ou da última cena dessa pavorosa tragédia!” “Nada anuncia o fim das
catástrofes, e tudo, ao contrário, anuncia que elas devem perdurar”.5
Foi em 1806 que ele formulou esse prognóstico. No ano seguinte, ele convidava
de Rossi a fazer com ele esta observação: “Quantas vezes, desde a origem desta
terrível Revolução, tivemos todas as razões do mundo para dizer: Acta est
fabula? E no entanto a peça sempre continua... Tanto isso é verdadeiro que a
sabedoria consiste em saber encarar com olhar firme esta época como o que ela
é, quer dizer, UMA DAS MAIORES ÉPOCAS DO UNIVERSO; desde a invasão dos bárbaros
e da renovação da sociedade na Europa, nada de igual se passou no mundo; é preciso
tempo para semelhantes operações, e repugna-me acreditar que o mal não possa
ter fim, ou que ele possa terminar amanhã... Estando o mundo político
absolutamente transtornado, até nos seus fundamentos, nem a geração atual, nem
provavelmente aquela que a sucederá, poderá ver o cumprimento de tudo o que se
prepara... Nós teremos essa situação talvez por dois séculos...Quando penso em
tudo o que ainda deve acontecer na Europa e no mundo, parece me que a Revolução
começa”.6
Vem a restauração dos Bourbons. Ele jamais
deixara de anunciar, com uma imperturbável segurança, apesar da chegada do
Império, da sagração de Bonaparte e da marcha constantemente triunfante de
Napoleão através da Europa, que o rei retornaria. Sua profecia se realiza; ele
revê os Bourbons sobre o trono de seus pais e diz: “Um certo não-sei-o-quê,
anuncia que NADA acabou”. “O cúmulo da infelicidade para os franceses seria
acreditar que a Revolução terminou e que a coluna foi recolocada porque foi
reerguida. Deveis acreditar, ao contrário, que o espírito revolucionário é sem
comparação mais forte e mais perigoso do que era há alguns anos. Que pode o rei
quando a inteligência de seu povo está apagada?”7 “Nada é estável
ainda, e vêem-se de todos os lados sementes de infelicidade”.8 “O
estado atual da Europa (1819) causa horror; o da França, particularmente, é inconcebível.
A Revolução está de pé sem dúvida, e não somente está de pé, mas ela caminha,
corre, se precipita. A única diferença que percebo entre esta época e aquela do
grande Robespierre, é que então as cabeças caíam e que hoje elas viram. É
infinitamente provável que os franceses nos propiciarão ainda uma tragédia”.9
Essa nova tragédia não se anuncia próxima?
O que dava a J. de Maistre essa segurança
de visão é que ele tinha sabido dirigir seu olhar por cima dos fatos
revolucionários dos quais era testemunha, até suas causas primeiras. “Desde a
época da Reforma, dizia, e mesmo depois daquela de Wiclef, existiu na Europa um
certo espírito terrível e invariável que tem trabalhado sem descanso para
derrubar as monarquias européias e o cristianismo... Nesse espírito destruidor
têm vindo se enxertar todos os sistemas antisociais e anticristãos que
apareceram em nossos dias: calvinismo, jansenismo, filosofismo, iluminismo etc.
(acrescentemos: liberalismo, internacionalismo, modernismo); tudo isso não
forma senão um todo e não deve ser considerado senão como uma única seita que
jurou a destruição do cristianismo e de todos os tronos cristãos, mas sobretudo
e antes de tudo a destruição da casa de Bourbon e da Sé de Roma”.10
Não somente de Maistre via a Revolução ter,
no tempo, uma estabilidade que se estende por quatro séculos, mas ele a via, no
espaço, atingir todos os povos. No cabeçalho de um memorial endereçado em 1809
a seu soberano, VictorEmanuel I, ele dizia: “Se há alguma coisa evidente, é a
imensa base da Revolução atual, que não tem outras fronteiras que não o mundo”.11
“As coisas se conjugam para uma confusão
geral do globo”.
“É uma época, uma das maiores épocas do
universo”, dizia sem cessar, vendo na Revolução tão grandes preliminares e uma
tão grande superfície. E acrescentava: “Infelizes as gerações que assistem às
épocas do mundo!”12
“A Revolução Francesa é uma grande época,
e suas conseqüências de todos os gêneros serão sentidas muito além do tempo de
sua explosão e dos limites de seu centro.13 “Quanto mais eu examino
o que sucede, mais me persuado de que assistimos à uma das maiores épocas do
gênero humano”.14
“O mundo está num estado de parto”. Estado
de parto, é exatamente isto que faz com que um tempo seja uma época. Houve a
época do dilúvio, que deu à luz a nova geração dos homens; a época de Moisés,
que concebeu o povo precursor; a época de Cristo, que deu à luz o povo cristão.
A época da Revolução, é a época do mais
agudo antagonismo entre a civilização cristã e a civilização pagã, entre o
naturalismo e o sobrenatural, entre Cristo e Satã.
Qual será o resultado dessa luta? Lúcifer
e os seus pensam em triunfar. Os judeus dizem que a vinda de seu Messias, que o
reino do Anticristo está próximo, e que esse reino abrirá, em proveito deles, a
maior época do mundo.
Nós esperamos que nossos leitores, após
terem lido este livro, compartilhem conosco a convicção exatamente oposta. A
derrota da Revolução inaugurará o reino social de Nosso Senhor Jesus Cristo
sobre o gênero humano, formando um só rebanho sob um só Pastor.
___________
1 Oeuvres
complètes de J. de Maistre, t. I, pp. 51, 52, 55, 303. N
2 Em uma de suas cartas a d'Alembert, Voltaire
assinala como caráter especial de Damilaville ―odiar a Deus‖ e trabalhar para
fazê-Lo odiado. É sem dúvida por isso que ele lhe escrevia mais freqüentemente
e com mais intimidade do que a todos os seus outros adeptos. Após a morte desse
infeliz, falido e separado de sua mulher, Voltaire escrevia isto: ―Chorarei
Damilaville toda a minha vida. Eu amava a intrepidez de seu coração. Ele tinha
o entusiasmo de São Paulo (quer dizer, tanto zelo para destruir a religião
quanto São Paulo tinha para estabelecê-la): ERA UM HOMEM NECESSÁRIO.
3 Ibid., t. I, p. 406.
4 Oeuvres complètes de J. de Maistre, t. IX,
pp. 250-252.
5 Ibid., t. X, pp. 107-150.
6 Ibid., t. XI, p. 284.
7 Oeuvres
complètes de J. de Maistre, t. II, Du Pape. Int.
8 Ibid., t. XIII, pp. 133-188.
9 Ibid., t. XIV, p. 156.
10 Oeuvres complètes de J. de Maistre, t. VIII,
p. 312.
11 Ibid., t. XI, p. 232.
12 Ibid., t. VIII, p. 273.
13 Ibid., t. I, n. 26.
14 Ibid., t. IX, p. 358.
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