"E para isto a Sabedoria divina havia previsto a «outra Imaculada criação»; o Cálice de um Coração sagrado que provêm de «outra criação» – «não deste mundo», para remir a criação humana decaída e mergulhada neste mundo"
Arai Daniele
Maria Imaculata, Vas spirituale,Vas honorabile,
Vas insigne devotionis
No dia da Imaculada Conceição há que
meditar sobre o verdadeiro respiro espiritual de nossa alma na Palavra revelada
que, no pensamento do Amor Divino, liga à vida através de Maria.
À Palavra vamos recorrer no livro da
Gênese, que pode clarear a hora tenebrosa em que predominam, como hoje, os
desatinos do ser humano decaído, com a atrocidade das guerras, mas pior, com as
perversas manipulações da vida para clonar e abortar criaturas humanas, na
sempre renovada e crescente rebelião ao Criador.
Haveria na Gênese uma palavra sobre esta
transgressão estrema que segue à de Adão e Eva do único preceito dado então por
Deus: “Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; mas não
comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que dele
comeres, morrerás indubitavelmente” (Gn 2,17)?
Adão
conheceu a ameaça de morrer, mas com Eva preferiu a ilusão do sussurro
diabólico: (Gn 3, 4) “Oh, não! não morrereis! Deus bem sabe que, no dia
em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses,
conhecedores do bem e do mal.” Foi como o gênero humano caiu nos
primeiros pais e mereceu a fatal sentença divina (Gn 3, 17-19: 21). Todavia,
para proteger suas vidas… «O Senhor Deus fez para Adão e sua mulher
umas vestes de peles, e os vestiu. E Deus disse: “Eis que o homem se
tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal. Agora, pois, cuidemos que
ele não estenda a sua mão e tome também do fruto da árvore da vida, e o coma, e
viva eternamente.”
É a frase misteriosa da Revelação depois
que Deus vestiu a criatura humana para sobreviver enfrentando o frio e as
agruras da vida fora do Jardim do Paraíso. Nesta frase da Trindade divina,
sobre o risco do poder humano de colher do fruto da árvore da vida e viver
eternamente, é indicada a pretensão de poder no mal.
Para muitos exegetas se trata de ironia
divina diante da soberba do homem ao contrariar a sentença divina. Mas
muito mais soubemos desde então sobre os desígnios de Deus Uno e Trino para a
recuperação da alma imortal do ser humano, vivente à Sua Imagem e Semelhança,
livre, até para o mal! Soubemos que o divino desígnio da Santíssima Trindade,
das Três pessoas iguais e distintas, do Pai, do Filho e do Espírito Santo, era
de compartilhar da humanidade dessa criatura, criada livre e boa, mas que decaíra.
E o desígnio de Nosso Senhor Jesus Cristo para poder remi-la para a vida
eterna, era partilhar de seus sofrimentos com os tormentos da cruz; com a
própria paixão e morte.
Então,
aquela frase já velava o desígnio desse imperscrutável mistério teândrico,
segundo a sublime Misericórdia: a Encarnação do Filho do homem, segunda pessoa
da Divina Trindade no seio da Virgem Maria por obra do Espírito Santo, para com
o Seu Sangue cumprir a Vontade de salvação do Pai.
Eis
que o bem para todo ser humano consiste em aceitar este sublime desígnio do
Criador. Aquela frase de tom irônico resumia nada menos que a expressão sublime
da compaixão através do próprio Sacrifício de amor do Pai através do Filho, ao
sorver do cálice de suas dores lacerantes, para a vida eterna de muitas almas.
E
para isto a Sabedoria divina havia previsto a «outra Imaculada criação»; o
Cálice de um Coração sagrado que provêm de «outra criação» – «não deste mundo»,
para remir a criação humana decaída e mergulhada neste mundo. O poder do Sangue
divino derramado para salvar as almas, para que vivam eternamente – apesar da
rapina original do fruto da Árvore da vida, vem neste Cálice sagrado.
Só a visão do Cálice santo desse Coração de
Mãe podia confortar Jesus que no Horto das Oliveiras via o cálice de todas as
abominações de nossos pecados humanos; uma visão de inferno que já transparece
da vida e dos corpos de quem obtêm toda glória e fortuna nessa vida no desprezo
da eternidade.
Toda
a história humana ficou marcada por essas duas «cidades», representando duas
visões. Santo Agostinho explica os dois amores que fundaram duas cidades: o
amor de si mesmo, levado até o desprezo de Deus, formou a cidade terrena; o
amor a Deus, levado até o desprezo de si mesmo, gerou a cidade celeste. A
primeira glorifica a si mesmo, a segunda a Deus. Porque uma procura a glória
dos homens, a outra considera sua máxima glória Deus, testemunha da
consciência. Uma ergue a cabeça no orgulho. A outra diz a seu Deus: Sois a
minha glória, elevais a minha cabeça (Sal. 3,4). A Venerável espanhola Maria
de Ágreda escreveu um livro edificante sobre a Mística Cidade
de Deus, que é a vida de Maria Santíssima. Na visão do
Coração Imaculado de Maria, da Mulher e Mãe puríssima que, Medianeira de todas
as graças para a nossa salvação, já mostra a luz do Paraíso, que pode desfazer
toda sombra de perversão degradante da vida humana neste mundo.
Nós
católicos devemos saber, como foi repetido em Fátima, que foi Deus mesmo no Seu
poder a criar esse Cálice do Sangue de Vida através da morte lacerante de Jesus
Cristo, esse Graal de «outra criação», como está na Carta de São Paulo aos
Hebreus (9, 11); Cálice vivo que tem o Santo Nome da Mãe criada pelo Amor
divino para mediar a Redenção do Filho de Deus.
Eis
o Nome do poder que volta como única solução para o nosso tempo. É o Nome do
Coração Imaculado de Maria Santíssima, a Medianeira de todas as graças, a quem
foi confiado o poder de converter homens e nações para instaurar por fim a
Ordem da Verdade que Jesus, seu divino Filho, trouxe ao mundo.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito
Santo, na memória da Imaculada Conceição do Imaculado Coração de Maria!
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