"Quantas pessoas defendem o assassinato de crianças inocentes no seio de suas mães por pura ideologia?"
Paulo Roberto de
Oliveira Santos*
A crise intelectual, moral, estética e religiosa da
contemporaneidade seguirá, enquanto durar, fazendo do amor às ideologias e
opiniões o paradigma supremo de cientificidade, e do apego às paixões as
grandes razões de louvores. Nesta linha é que está a saga em fazer apologética
à morte, ao assassinato de inocentes, causa pela qual se faz necessário
ludibriar tantos desavisados.
Muitos se utilizam de títulos e posições para se
apresentarem como autoridade e defender o aborto. Contudo, o argumento de
autoridade é o mais inferior e não suplanta a autoridade da verdade. Outros
podem se utilizar do argumento de que a maioria da população é a favor do
aborto. Mas a maioria faz a verdade? Suponhamos que fosse colocado veneno em
copo, e que esse veneno fosse muito parecido com leite; em seguida, seriam
colocadas 50 pessoas para votar sobre qual é o conteúdo do copo, sem estas
pessoas terem visto o que foi depositado no mesmo. Estes eleitores teriam 2
opções: 1 – o conteúdo do copo é leite; 2 - o conteúdo do copo é veneno. Se 40
pessoas votarem na opção 1, o conteúdo do copo passaria a ser leite? É óbvio
que nem todas as decisões estão sujeitas ao consenso.
Haverá aqueles que defenderão o relativismo da
verdade, quando só é admissível uma relatividade na verdade, uma vez que esta
possui certos graus, e é defendida sob determinados pontos de vista. Entretanto,
é inegável que este texto está escrito em língua portuguesa e que o ser humano
que o ler o fará porque possui vida. Relativismo algum é capaz de afirmar que
estas verdades não são absolutas, a não ser que o relativista que o afirmar
esteja com sua sanidade mental ou seus sentidos comprometidos ou seja um grande
desonesto intelectual. Pode algum morto ler qualquer coisa que seja? Acaso este
texto não está em língua portuguesa? E se ele for traduzido para outro idioma, será
uma versão deste texto traduzida, mas este está em português. Portanto, existem
coisas absoluta e objetivamente verdadeiras.
Ora, se é necessário uma boa dose de comprometimento
dos sentidos, da sanidade mental ou de desonestidade intelectual para a negação
de uma verdade objetiva, só se pode concluir que alguma destas três situações
ocorre com aqueles que usam de malabarismos dialéticos, de tecnicismo
hermenêutico e de retórica sofista para defender, em qualquer situação, o
assassinato de crianças inocentes, ou para defender a extinção da punição
daqueles que cometem tal ato.
Primeiramente, se a mulher não quer ter filhos, então
utilize-se da única forma totalmente eficaz de não engravidar: abstinência
sexual. Sem dúvida é algo que soa como absurdo em uma época em que a
fornicação, a promiscuidade e até mesmo o adultério, dentre outras paixões, são
incentivados como se fossem gloriosas virtudes. Ainda assim, permanece
insofismável a premissa de que a forma mais eficaz, sem agressões à saúde ou à
moral, para não engravidar, é a abstinência sexual.
Se o problema for estupro, não se deve praticar a
covardia contra a mulher de pressioná-la a praticar um assassinato de uma
criança inocente, dada a fragilidade e grau de traumatização em que ela se
encontra. Antes, deve-se prender o estuprador, castrá-lo, força-lo a trabalhar
por toda vida para pagar o sustento daquela criança, e quando esta for maior de
idade e puder se sustentar, o estuprador deve ser condenado à pena de morte e
ser executado logo em seguida. Isso é absurdo? Pode ser. Isso vai acontecer?
Com certeza não. Mas porque deveria a lei executar sumariamente, sem direito à
defesa e a um julgamento, o mais inocente de todos os seres humanos envolvidos
no estupro, que é o bebê?
Talvez algumas mulheres possam estar pensando que só
digo isso porque sou homem. Sem dúvida alguma é como homem (não como ser humano
do sexo masculino), mas como ser portador da dignidade humana, que faço
apologia às virtudes, entre as quais a justiça. E é como ser humano do sexo
masculino, filho de uma mulher, irmão de uma mulher, cunhado de três mulheres, genro
de uma mulher, pai de uma mulher e marido de uma mulher que aponto a virtude para
todos e a justa punição para os verdadeiros criminosos, mas jamais para os mais
inocentes.
Outras mulheres podem estar pensando: meu corpo,
minhas regras. Possivelmente algumas mulheres pensaram isso ao colocar silicone
nas nádegas, mas o corpo reagiu de uma forma diferente da que esperaram e
várias tiveram complicações de saúde. Ora, a que reflexão isso nos remete? Ao
fato de que o corpo, assim como toda a natureza, possui determinadas leis que,
uma vez violadas, desrespeitadas, oferecerão consequências severas, em alguns
casos desastrosas e em outros, trágicas, fatais. Mulher alguma pode comer sem
sobriedade e dizer ao corpo que estabeleceu novas regras e assim esperar que
não terá mais que ir ao banheiro evacuar. Mulher alguma pode beber cerveja
durante duas horas e dizer ao seu corpo que agora possui novas regras e assim
esperar que não precisará urinar. Estas situações demonstram que ser humano
algum é senhor absoluto de seu corpo, dadas as regras impostas à natureza ao
mesmo. O que dizer então de um corpo que não é seu, de uma vida que não é sua,
mas da qual a mulher torna-se nobre guardiã? O que dizer quando esta guardiã
(em ato ou em potência) defende o assassinato deste inocente que está ou estará
sob sua proteção?
O argumento quanto ao início da vida para se praticar
um assassinato de uma criança inocente também não é cabível. No ser humano, o
que dá forma à matéria? O que causa a atividade, o movimento do ser? Enfim, o
que anima o corpo? A alma. O homem, portanto, é unidade substancial de corpo e
alma. Portanto, se há movimento, desenvolvimento, ânimo, há alma, se há alma,
há vida. Logo, assim que ocorre a fecundação, inicia-se a vida. Porém, a crise
intelectual da atualidade, que gera o relativismo e faz muitos ignorarem os
princípios do correto pensar, poderá fazer surgir o argumento de que a ciência
atual não considera estes aspectos metafísicos. Não percebem que o
cientificismo atual, com seu empirismo, materialismo e relativismo também são
filhos da atual crise da humanidade? Ou não conseguem perceber que as ciências
particulares só dão conta dos objetos particulares de suas análises, mas não
conseguem avançar para o campo da metafísica, sendo, portanto, incompetentes
para argumentar nesse nível? Ou não percebem que ao se esgotarem em suas
explicações, baseadas em observações empíricas, precisam ser complementadas por
explicações que fazem observações metódicas e baseadas em princípios certos,
mas em campos além da experiência sensível? Porque muitos relutam em aceitar a
existência da alma ou os argumentos espiritualistas quanto ao início da vida
por os considerarem dogmas religiosos, mas aceitam com tanta facilidade os
dogmas cientificistas? Seria isso um pretexto para defender deliberadamente o
assassinato de crianças inocentes? Ou seria um pretexto para trabalhar contra
as religiões, especificamente contra o Cristianismo?
Quanto ao Direito, há algumas observações. O Direito,
a lei, a Ciência Jurídica tem como essência a justiça, e esta outra coisa não é
senão a principal das virtudes cardeais. Embora seja produto do tempo, local e
espaço em que certa cultura se desenvolve, em alguns de seus aspectos, o que
lhe confere certa relatividade e dinamicidade, as leis tem, em sua essência,
algo de imutável por terem algo de natural. Ademais, sendo uma ciência
normativa, assim como a Moral, a Ciência Jurídica não pode tornar-se refém ou
ser condicionada absolutamente por certo paradigma de certa época, mas fazer um
juízo normativo da mesma, realizar uma reflexão em busca da justiça, algo pela
qual a natureza humana anseia sempre. Se, ao contrário, a lei estivesse
absolutamente sujeita aos impulsos locais e temporais, seria sempre utilizada
de forma instrumental e casuística pelos juristas, o que não lhe daria
normatividade e nem cientificidade. Neste sentido, se por um lado o sistema
judiciário não pode deixar sem resposta certas questões urgentes, que aflijam a
sociedade, isso não significa em hipótese alguma que tal sistema deva se
submeter aos ditames perniciosos de determinada época. No caso em questão, é
necessário questionar: deve o poder judiciário brasileiro permitir-se ficar à
mercê da agenda revolucionária e midiática em prol do assassinato de crianças inocentes?
Não deveria antes buscar o pronto restabelecimento da justiça?
O questionamento acerca do restabelecimento da justiça
remete à falência do sistema judiciário brasileiro quando se trata de punir, de
promover a reparação de injustiças cometidas. Um dos efeitos da lei é punir,
pois nem todos cooperam com o bem comum de bom grado ou por obra da educação,
mas apenas por medo da punição, e outros, nem assim. Obviamente, existem graus
de crime, consequentemente, graus de punição. Penas severas aplicadas
justamente para crimes graves servem para inibir e coibir a prática de novos
delitos, seja por parte de quem já os cometeu, seja por parte de quem intenta
cometê-los. Apesar de crimes hediondos, gravíssimos no Brasil, este país aboliu
a pena de morte no âmbito civil há muitas décadas. Paralelamente, e
especialmente nas duas últimas décadas, a criminalidade só aumenta; homicídios,
latrocínios, feminicídios, roubos, furtos, desvio de verba pública e outros. É
explícito que vários destes criminosos são recorrentes, tem diversas passagens
pela polícia, e mesmo assim, seguem soltos ou comandam o crime de dentro dos
presídios. Algo da solução desses problemas passa pela maior agilidade do
sistema judiciário e por uma ampla reforma no sistema prisional em todo o país.
Contudo, se os crimes estão em um patamar cada vez mais elevados, por que não
voltar a adotar o mais elevado grau de pena, que se executado justamente, tem
maior eficácia na inibição e coibição de novos crimes? E se a pena capital
fosse adotada, os criminosos não seriam julgados e teriam a chance de não serem
condenados à morte, chance essa que não deram às suas vítimas? Esta chance de
viver também não é dada a muitas crianças assassinadas friamente no seio de
suas mães, sem a menor possibilidade de defesa, sem nenhum tipo de julgamento,
até porque não cometeram crime algum. Diante disso, não deveria o sistema
judiciário ocupar-se em criar mecanismo para agilizar os processos e combater a
criminalidade no país invés de ocupar-se em fazer apologia à morte dos
inocentes que poderiam ser o futuro do país? Não é no mínimo contraditório que o
mesmo sistema que se exime de punir os criminosos se empenhe em matar os inocentes?
Retomando a questão da ciência, alguns dados deveriam
ser levantados: quantas mulheres morrem ou padecem algum problema de saúde
(física ou psicológica) em função de aborto? Estas consequências se dão porque
ocorrem em clínicas clandestinas ou por causa do ato do aborto em si? Quantos
estupros resultam em gravidez? Quantas mulheres grávidas em função de estupro
desejam realmente matar seus filhos? Quantas mulheres desejam abortar por ter
engravidado na adolescência? Quantas por falta de condição financeira? Quantas
devido a uma gravidez fruto de adultério? Provavelmente, pesquisas acadêmicas
com este teor seriam prontamente reprovadas pelos Comitês de Ética em Pesquisa.
Contudo, outras perguntas devem ser feitas sem o menor constrangimento: quantas
pessoas defendem o assassinato de crianças inocentes no seio de suas mães por
acreditar que estejam promovendo o bem comum? Quantas pessoas defendem o
assassinato de crianças inocentes no seio de suas mães por suas opiniões serem
movidas por paixões ou por receio de parecerem retrógradas? Quantas pessoas
defendem o assassinato de crianças inocentes no seio de suas mães por pura
ideologia? Que nome deve ser dado àqueles que defendem e aos que assassinam
crianças inocentes no seio de suas mães?
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* Paulo
Roberto de Oliveira dos Santos, Católico casado, pai de 3 filhos,
professor e jornalista; licenciatura plena em Filosofia pela Faculdade Católica
de Anápolis, especialista em Filosofia do Direito pela Faculdade Phênix de
Ciências Humanas e Sociais; mestrando em Educação Profissional e Tecnológica
pelo Instituto Federal de Goiás, campus Anápolis; produtor e apresentador do
programa Ponto de Vista pela Rádio Voz do Coração Imaculado entre abril de 2012
e dezembro de 2014
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