Apologética
Católica com o Padre Júlio Maria de Lombaerde, + 1944
(Retirado
do Livro "Luz nas Trevas - Respostas irrefutáveis as objeções
protestantes".)
A sexta objeção de tal crente é a de provar que o papa é vigário de
Cristo e sucessor de S. Pedro. Nada mais fácil. Não somente um
texto, caro crente, mas muitos textos posso citar-lhe em abono desta
verdade. Vou provar-lhe claramente, pela história, pelo bom-senso e pela
Sagrada Escritura, que o papa é o sucessor legítimo e
verdadeiro de S. Pedro e, como tal, depositário de toda
primazia, autoridade e poder do mesmo S. Pedro. E depois de ler estas
provas, se o amigo tiver sinceridade e bom-senso, será obrigado a reconhecer a
verdade provada.
O amigo quer um texto que prove que o papa é sucessor de S. Pedro; eu lhe peço
um único texto que prove que ele não o seja. Esta verdade foi sempre aceita por
todos, de modo que, para combatê-la em brecha, precisam provar com um texto,
como pelo bom-senso, que estamos errados.
Ora, protestante só nega, nada afirma nem prova! Só quer que nós provemos. Pois
bem! Provaremos, porque a verdade tem provas, enquanto o erro só ataques e
negações.
Tome, pois, a sua Bíblia, pois é baseado sobre ela que vou mostrar-lhe a
verdade da tese católica e o erro da negação protestante.
Abramos o evangelho, para aí verificar as palavras divinas da investidura
perpétua dos apóstolos, para serem os enviados do Cristo (Mt
28, 18-20). É-me dado todo o poder no céu e na terra; ide pois e ensinai
a todos os povos e eis que estou convosco todos os dias até à consumação do
mundo.
Que quer dizer isto, caro crente?
Cristo tem todo o poder, é a primeira parte.
Cristo transmite este poder, é a segunda parte.
Aos sucessores dos apóstolos, é a terceira parte. É este
terceiro ponto que os protestantes não sabem compreender, apesar da lógica
insofismável.
Eu pergunto agora: Cristo transmitiu este poder
unicamente aos apóstolos presentes? Não pode ser, pois os apóstolos deviam
morrer um dia, como todos os homens morrem, ele diz: estarei convosco
até à consumação do mundo. Devia dizer: estarei convosco até ao fim
de vossa vida.
Ora, nada disso, promete estar com os apóstolos até
ao fim do mundo. Que quer dizer isso? É simples. Cristo não se dirige aos
apóstolos, como pessoas físicas, mas sim como um corpo
moral, que deve perpetuar-se nos seus sucessores, e hão de durar até ao fim
dos tempos. Que esplendor de evidência!
Estarei convosco, e com vossos sucessores, até ao fim do
mundo (Mt 28,20). Este texto não pode ter outro sentido sem cair na
mais flagrante contradição. Eis o que prova claramente que o bispo de Roma, que
é o papa, é o sucessor de S. Pedro.
Vamos à segunda parte, mostrando que S. Pedro e
seus sucessores são vigários de Jesus Cristo. Abra de novo a
sua bíblia, amigo crente (Mt 16,18). Cristo pergunta aos apóstolos: E
vós que dizeis que eu sou? (Mt, 16,15). Pedro, como chefe dos
apóstolos, responde em nome de todos: Tu és Cristo, o Filho de Deus
vivo (Mt 16,16).
Jesus proclama Pedro bem-aventurado por ter sido
escolhido pelo Padre eterno, a aquém ele mesmo revela esta grande verdade (Mt
16,17) e como para confirmar aquele que acabava de ser
escolhido pelo Padre Eterno, Jesus diz a Pedro: Eu te digo: tu és
Pedro (em aramaico pedra) e sobre esta pedra eu edificarei a
minha Igreja, e as portas do inferno (que são os erros e as
paixões) nunca prevalecerão contra ela (Mt 16,18).
Como isto é claro e positivo! Jesus Cristo muda o
nome deSimão, em pedra(aramaico: Kephas, significa pedra e
Pedro, numa única palavra, como em francês Pierre é o nome de uma pessoa e o
nome do minério pedra).
Deus faz diversas vezes tais mudanças, para que o
nome exprimisse o papel especial que deve representar a pessoa. Assim mudou o
nome de Abrão em Abraão (Gn 17,5), para exprimir que devia ser o pai de muitos
povos.
Mudou ainda o nome de Jacob em Israel (Gn
32,28) para significar a força contra Deus. Assim Jesus Cristo mudou o nome de
Simão em Pedro, para significar que deve ser a pedra, sobre a qual
estará fundada a Igreja, sendo o seu construtor o próprio Cristo.
E esta Igreja nunca poderá ser vencida nem
corrompida pelo erro. Como isso pulveriza o protestantismo, que pretende que a
Igreja de Pedro errou, viciou-se e foi reformada por Lutero! Neste caso, falhou
a palavra de Cristo! Cristo mentiu! ... e as portas do inferno prevaleceram
contra a Igreja fundada sobre Pedro, feito pedra. Pobre crente, reflete um
instante.
II. Tu es
Petrus
Este texto é capital e de uma significação
transcendente. Sobre a sua clareza meridiana, não levantaram a menor sombra de
dúvida quinze séculos de cristianismo.
A interpretação pessoal protestante envolveu este texto numa névoa tão densa de
sofismas, que eles julgam ter abatido este farol luminosos, que entretanto
continua e continuará sempre a iluminar este mundo.
O texto, de fato, é tão claro, que todos os sofismas tem de abater-se diante de
seu fulgor. Ele não precisa de explicação ou de comentário, basta-lhe a própria
luz e a serenidade do leitor.
Tu
es Petrus... Qual é a interpretação literal destas palavras? Qual o
seu valor demonstrativo?
Pelo seu sentido literal, imediato, S. Pedro é constituído pedra fundamental da
Igreja.
Para iludir as momentosas consequências deste sentido óbvio e espontâneo, os
pastores protestantes costumam distinguir entre Pedro e pedra. Eis
como eles raciocinam:
O Pedro do primeiro membro: tu es Petrus, é o
apóstolo.
A Pedra do segundo: super hanc petram, é
Cristo. Sobre esta pedra (não sobre S. Pedro) foi edificada a
Igreja.
Tal distinção é injustificada, ridícula, contrária às regras comezinhas da
hermenêutica.
Quem, livre de preconceitos, lê o passo de S. Mateus, fica logo persuadido que
em todo ele Cristo se dirige a Pedro.
Et
ego dico tibi, quia tu es Petrus,et super hanc petram aedificabo Ecclesiam
meam (Mt 16, 18). E eu te digo, tu es Pedro, e sobre esta
pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra
ela; e eu te darei as chaves do reino dos céus: e tudo o que desatares sobre a
terra, será desatado também nos céus.
Em toda essa passagem é claro que o Salvador se dirige exclusivamente a Pedro;
sem o mínimo desvio nas palavras, nem no sentido.
Eu
te digo... tu és Pedro... Sobre esta pedra edificarei... Eu te darei... O que
desatares...
S. Pedro é a pessoa a quem tudo é dirigido... é ele o centro de todo este
texto.
Todos os membros do texto se articulam, seguem-se num todo, cuja continuidade
não é possível interromper sem lhe quebrar as harmonias divinas.
Admitindo-se a interpretação protestante cai-se necessariamente no mais
ridículo disparate. Eles dizem que o sentido é o seguinte:
Eu te digo: Tu és Pedro, e eu edificarei a minha Igreja sobre mim... e eu te darei as chaves do reino
dos céus, e tudo o que desatares... Poderá haver mais desconjuntada incoerência
de sentido? Mais desalinho de construção?
É impossível imaginar no espírito divino Mestre tanta versatilidade de idéias e
tão incoerente falar.
Que coisa ridícula seria admitir
que o Salvador nem soubesse exprimir uma verdade tão fundamental, como é a da
supremacia do chefe da Igreja.
Tu
és Pedro, diz o Mestre, e os protestantes dizem que não, que a pedra é
Cristo.
É como se Jesus Cristo dissesse: Simão, tu és pedra, mas não edificarei
sobre ti a minha Igreja, porque não é pedra, senão sobre mim.
Uma tal linguagem não seria indigna de lábios divinos!?... Não, não... tudo
isso é grotesco... Não há necessidade de tantos rodeios, de tanta
explicação: Tu és pedra.
Tal pedra é Pedro, e é sobre Pedro que Cristo edificou sua Igreja.
III.
Vigário de Cristo
Concluamos com uma citação do Pe. Leonel Franca: a Igreja e a
Reforma, que aconselho ao crente de ler e de estudar.
O Evangelho nos diz que Pedro é o fundamento sobre o qual Jesus construiu a sua
Igreja, sociedade visível que há de durar até ao fim dos tempos e contra a qual
não hão de prevalecer as portas do inferno. De um lado afirma a perenidade da
Igreja; de outro constitui a Pedro sua pedra fundamental. Ora
a perpetuidade de um edifício é essencialmente condicionada pela estabilidade
de seus alicerces. Repudiando esta pedra fundamental, que é a sua autoridade de
governo, a Igreja apartar-se-ia das intenções de Cristo, destruiria a própria
organização constitucional que lhe impôs a vontade de seu divino Fundador.
No dia em que viesse a falta o principado hierárquico de Simão, a
pedra escolhida pelo Salvador, as portas do inferno teriam prevalecido. Sem
base, o edifício cairia em inevitável ruína.
Esse dia não despontará nunca! Há 20 séculos que todos os poderes da terra,
coligados, arremetem-se contra essa rocha firmada pela mão de Deus. há 20
séculos que a dinastia dos sucessores de Pedro continua na história, como um
milagre vivo, sem exemplo na ordem moral.
Digitus
Dei est hic! É o selo da divindade. Reflita sobre isso, caro crente, e
em vez de atacar, incline-se reverente diante deste milagre permanente, de
Pedro sobrevivendo em seus sucessores até ao fim do mundo (Mt
28,20), diante do papa, sucessor de S. Pedro e vigário de Cristo, como o foi o
próprio Pedro.
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