Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Escutemos O Papa Leão XIII na sua encíclica “Providentissimus Deus”, de 18
de Novembro de 1893:
«Assim é que os autores sagrados, sem dedicar-se a
investigações profundas da natureza, descrevem algumas vezes os objectos, e
falam deles por uma espécie de metáfora, e como o exigia a linguagem vulgar
daquela época, e assim se procede também hoje, mesmo entre os homens mais
sábios. Mas como na linguagem vulgar se designam primeiro e pela palavra
própria os objectos que caem debaixo dos sentidos, de maneira semelhante o
escritor sagrado (e o doutor angélico no-lo adverte) seguiu aquelas coisas que
aparecem sensivelmente, quer dizer, aquelas que o próprio Deus, falando aos
homens, indicou, seguindo o costume dos homens, para ser entendido por eles.»
Escutemos o Papa Bento XV, na sua encíclica “Spiritus Paraclitus”, de 15 de
Setembro de 1920:
«A aparência exterior das coisas, sàbiamente declarou o
Papa Leão XIII, na sequência de Santo Agostinho e de Santo Tomás de Aquino,
deve tomar-se em consideração, mas este princípio não pode conduzir à mais leve
suspeita de erro contra as Sagradas Letras. Efectivamente a sã filosofia tem
por certo que na percepção imediata das realidades que constituem o seu próprio
objecto de conhecimento os sentidos não se equivocam.»
Escutemos agora o Papa Pio XII, na sua encíclica “Divino afflante Spiritu”, de
20 de Setembro de 1943:
«Leão XIII, com graves palavras, declarou que não há
absolutamente nenhum erro quando o hagiógrafo, falando de coisas físicas, se
cingiu (na linguagem) às aparências sensíveis, como diz o doutor angélico,
expressando-se ou com determinada forma metafórica, ou como era costume
naqueles tempos na linguagem comum, e ainda hoje se utiliza em muitas
realidades da vida quotidiana, mesmo entre pessoas de cultura. Acrescentando
que eles, os escritores Sagrados, ou para melhor dizer – são palavras de Santo
Agostinho – o Espírito de Deus que por eles falava, não quis ensinar aos homens
estas coisas, ou seja: a constituição íntima das coisas visíveis – que de nada
serviria para a sua salvação.»
A Revelação é uma intervenção positiva, essencial, de Deus na
História humana, ilustrando-a sobrenaturalmente com o Lume da Sua Verdade
Providencial.
Tal Revelação está consignada na Sagrada Escritura e na Sagrada
Tradição.
Não é indiferente que uma verdade se integre na Sagrada
Escritura ou na Sagrada Tradição; efectivamente, a Escritura consubstancia uma
transmissão através das gerações num registo substancialmente imutável,
fixista; a Tradição, consubstanciando uma transmissão formalmente oral, e
permanecendo sempre objectivamente imutável, proporciona mais fàcilmente a
explicitação intelectual de toda a infinita riqueza do conteúdo da Revelação.
Por isso se pode dizer que na Substância da Revelação a Sagrada Escritura
constitui a Matéria, e a Sagrada Tradição constitui a forma.
Nunca olvidemos que é pela Tradição que nós conhecemos quais os
Livros que compõem a Sagrada Escritura.
A Revelação foi PEDAGÒGICAMENTE progressiva, desde Adão e Eva
até à morte do último apóstolo, MAS SEMPRE SEGUNDO O MESMO E ÚNICO PRINCÍPIO,
QUE É CONSTITUTIVO DA FÉ TEOLOGAL, SOBRENATURAL, VERDADEIRA PARTICIPAÇÃO NA
INTELIGÊNCIA DIVINA.
Neste quadro conceptual discernimos que a VERDADE RELIGIOSA NÃO
NEGA A VERDADE CIENTÍFICA – SUPERA-A SIM, INFINITAMENTE.
E em que consiste a verdade científica?
A verdade científica consiste na progressiva iluminação e unificação
da opacidade diversificante da realidade fenomenológica. Ora a iluminação e a
unificação integram a compreensão. Quem compreende irradia luz intelectual,
desbravando a opacidade do real, mas do real em sentido exclusivamente
fenomenológico; por sua vez uma tal unificação é constitutiva do progresso
técnico. Porque se tal unificação compreensiva se processar em sentido
ontológico, ou metafísico já não é ciência – é filosofia.
Por isso mesmo a ciência é constitutivamente evolutiva:
Em meados do século XIX, em Inglaterra, antes das decobertas de
Lister e Pasteur, conspícuos cirurgiões, obedecendo às noções científicas da
época, não duvidavam assistir às parturientes nos intervalos das autópsias, sem
sequer lavarem as mãos!!!
NENHUMA INTELIGÊNCIA FINITA (ANJO OU HOMEM), NEM INDIVIDUAL, NEM
COLECTIVAMENTE, PODERÁ ALGUM DIA ESGOTAR O CONHECIMENTO CIENTÍFICO, QUER DIZER:
DESCOBRIR TUDO. E mesmo que o fizesse o resultado seria contingente, finito,
insubsistente, precário – teria de se recomeçar tudo outra vez. E isto porque a
Criação sem Deus – não é nada.
O objectivo da Revelação, formalmente, é a VERDADE RELIGIOSA,
não a verdade científica; todavia TUDO O QUE DEUS REVELOU É INFALÌVELMENTE E
DIVINAMENTE VERDADEIRO, NA EXACTA MEDIDA EM QUE A REVELAÇÃO ENCARNOU NUMA
HISTÓRIA VERDADEIRA, TAL COMO NOSSO SENHOR JESUS CRISTO É VERDADEIRAMENTE DEUS
E VERDADEIRAMENTE HOMEM. Tudo, inclusivamente, os chamados “obiter dicta”, ou ditos acidentais, como a capa que
São Paulo deixou em Trôade, em casa de Carpo ( 2ª Tim 4, 13).
Negar a existência histórica de Adão e Eva é herético; aliás a
Comissão Bíblica, em carta ao Cardeal Suhard, em 1948, declarava que os onze
primeiros capítulos do Génesis pertencem ao género histórico, em sentido
verdadeiro.
É igualmente, profundamente, contra a Santa Fé dizer que o mundo
foi criado há quatro ou cinco biliões de anos, e depois fazer evoluir espécies
sobre espécies (incluindo muitos dinossauros) até chegar ao homem, cujo corpo
seria proveniente da evolução qualificada dum tipo de primata. E isto PORQUE A
SAGRADA ESCRITURA NOS FACULTA UMA UNIDADE PLENA, FÍSICA E MORAL, ENTRE A
CRIAÇÃO DO MUNDO E A CRIAÇÃO DO HOMEM. Ora os dados Bíblicos colocam Adão e
Eva, aproximadamente, a sete milénios antes de nós; logo não se pode fazer
recuar dessa maneira a Criação do mundo físico, bem como dos Anjos. Portanto o
criacionismo anti-evolucionista é parte integrante da sacrossanta Fé Católica.
Também é profundamente contra a Santa Fé professar que o corpo
do homem evoluiu desde uma outra espécie; a Sagrada Escritura integrou
fundamentalmente no seu Magistério QUE O CORPO DO HOMEM FOI CRIADO, DO PÓ DA
TERRA, EXPRESSAMENTE, PARA CONSTITUIR O CORPO DO HOMEM, ANIMAL RACIONAL.
Uma prova de que a Verdade, objectivamente, permanece imutável e
idêntica a si mesma, podendo contudo ser explicitada por uma intensificação da
luz intelectual sobre ela projectada é a interpretação da passagem Bíblica em
que Deus ordena que o Sol e a Lua se detenham até que Israel triunfe sobre os
seus inimigos (Jos 10, 12).
No tempo de Galileu os teólogos julgaram bem interpretar essa
passagem Bíblica como ensinando especulativamente e sob autoridade Divina o
movimento do Sol e a imobilidade da Terra no centro do Universo, precisamente
em homenagem à ciência da época; tratou-se dum erro do Santo Ofício, O QUAL NÃO
COMPROMETEU A AUTORIDADE DA IGREJA, NEM DO PAPA REINANTE; além disso Galileu
teria de ser condenado de qualquer forma, pois desprezava a autoridade da Santa
Madre Igreja em si mesma. O erro do Santo ofício (Tribunal em si mesmo não
infalível) foi não ter compreendido em profundidade o conceito de inerrância:
ausência absoluta de erro formal no Magistério das Sagradas Escrituras. É por
demais evidente que possuindo a Escritura dois autores: Deus, como causa
principal, e o hagiógrafo como causa instrumental, a mesma Escritura depende
imediatamente toda de Deus e toda do homem; neste enquadramento, a causa
instrumental é assumida como um todo na consignação, INFALÍVEL, da Verdade
Revelada. Ainda hoje os cientistas referindo-se aos movimentos celestes, falam
do movimento do Sol e da Lua, POIS OS SENTIDOS NÃO SE ENGANAM NAQUILO QUE
CONSTITUI O SEU OBJECTO PRÓPRIO, e a causa instrumental (o hagiógrafo) é assumida
pela causa principal (Deus) com todas as suas limitações ontológicas, sociais e
culturais, E ESTAS LIMITAÇÕES SÃO CONSIGNADAS COMO VERDADE DE REVELAÇÃO.
Em Malaquias 1,11 o profeta antevê o Sacrifício futuro, perpétuo
e Universal, de valor infinito. No entanto apresenta-o como uma oblação
odorífera; evidentemente que neste caso a ilustração Divina da inteligência e
da vontade do Profeta, ordenou-lhe que consignasse como verdade de Revelação a
ideia dum Sacrifício infinitamente perfeito e único (o Santo Sacrifício da
Missa); todavia a ilustração Divina assumiu no Profeta o conhecimento que este
possuía dos sacrifícios mosaicos, bem como toda a sua cultura
vetero-testamentária, e ASSUMIU-A INFALÌVELMENTE COMO VERDADE DE REVELAÇÃO.
Deste modo se compreende que a inerrância recai não apenas sobre a verdade
objectiva duma determinada realidade Histórico-Natural, mas igualmente
sobre a verdade, TAMBÉM OBJECTIVA, dos condicionamentos ontológicos, sociais e
culturais do hagiógrafo, enquanto causa instrumental deficiente dos Livros
Sagrados.
Todas estas conceptualizações são auferidas a partir da
globalidade da Revelação, bem como da sã Filosofia.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Lisboa, 18 de Julho de 2013
Comentário de PRM sobre o Milagre do Sol em Fátima
A mesma Sagrada Escritura
submete as ciências, também relativas aos números, ao serviço da Revelação.
Assim, lemos que mil anos são para Deus como um instante, e de números que são
como semanas de anos.
Quanto aos milagres
divinos que implicam o movimento dos astros, a linguagem da Revelação é
endereçada aos seus efeitos nas mentes dos que testemunham o milagre e portanto
este já é milagre. Nem todos as pessoas presentes na Cova da Iria viram o Sol
rodopiar nos céus, mas outros, longe de Fátima o viram. Carolina a irmã mais
velha de Lúcia me disse que não viu, mas sei de quem o viu em Alburitel.
Este milagre não foi visto
só no dia 13 de outubro de 1917, pois foi visto muitos anos mais tarde, em 1950
em Roma pelo Papa Pio XII.
A ciência não pode
explicar nada que Deus suscita nas consciências, que nem pelo fato de serem
invisíveis deixam de ser milagres. Aliás, estes são os verdadeiros milagres,
pois como ensina a Igreja são ordenados ao fim da salvação das almas. O erro de
Galileu foi de pretender antepor a verdade científica à religiosa.
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