Não há nada, meus irmãos, de mais glorioso e de mais honrável para um
cristão do que carregar o nome sublime de filho de Deus, de irmão de Jesus
Cristo. Da mesma forma, não há nada de mais infame do que ter vergonha de manifestar
isso todas as vezes que surge a ocasião. Não, meus irmãos, não nos admiremos ao
ver os hipócritas demonstrarem o quanto podem um exterior de piedade para
atrair sobre si a estima e os louvores do homem, enquanto que seus pobres
corações são devorados pelo pecado mais infame. Estes cegos gostariam de gozar
das honras que estão inseparáveis da virtude, sem ter o trabalho de
praticá-las. Além do mais, não nos admiremos ainda menos ao ver bons cristãos
esconder o tanto quanto podem suas boas obras aos olhos do mundo, temendo que a
glória inútil se insinue em seu coração e que os vãos aplausos dos homens lhes
façam perder o mérito e a recompensa delas. Entretanto, meus irmãos, onde
encontraremos uma covardia mais criminosa e uma abominação mais detestável que,
professando crer em Jesus Cristo..., na primeira ocasião violamos as promessas
que lhe fizemos sobre as fontes sagradas do batismo? Ah! infelizmente, o que
nos tornamos? Quem é Aquele que renegamos? Aí de mim!, abandonamos nosso Deus,
nosso Salvador, para nos dispor entre os escravos do demônio, que nos engana e
que busca apenas nossa perda e nossa infelicidade eterna. Ó! maldito respeito
humano! Como tu arrastas almas para o inferno!...
[...] Com efeito, em que acabou toda a fúria dos perseguidores da
Igreja, dos Neros, dos Maximianos, dos Dioclecianos, e de tantos outros que
acreditaram que, pela força de suas armas, eles conseguiriam fazê-la
desaparecer da terra. Ocorreu totalmente o contrário, o sangue de tantos
mártires serviu, como diz Tertuliano, apenas para fazer florescer a religião
mais do que nunca, e seu sangue parecia uma semente que produzia o cêntuplo.
Infelizmente! que lhes fizestes esta bela e santa religião para eles a
perseguirem tanto, visto que somente ela pode tornar o homem feliz sobre a
terra? Infeliz deles! Quantas lágrimas e quantos gritos eles lançam agora nos
infernos, aonde eles reconheceram tão claramente que esta religião, contra a
qual eles se lançaram, tê-los-ia conduzido ao céu. Entretanto, lamentos inúteis
e supérfluos!
Vejam ainda estes outros ímpios que fizeram tudo o que podiam para
destruir nossa santa religião por seus escritos, tais como Voltaire,
Jean-Jacques Rousseau, Diderot, d'Alembert, Volney e tantos outros, que
passaram suas vidas apenas a vomitar por seus escritos tudo o que o demônio
podia lhes inspirar. Aí deles! Eles fizeram muito mal, é verdade; eles perderam
almas, arrastaram muitas delas com eles para os infernos; mas eles não puderam
destruir a religião como eles acreditavam; eles se chocaram contra esta pedra
sobra a qual Jesus Cristo edificou sua Igreja e que deverá durar até o fim do
mundo. Onde estão agora estes pobres ímpios? Infelizmente!, no inferno, aonde
eles choram sua desgraça e a de todos aqueles que eles arrastaram com eles. Não
falemos nada ainda, meus irmãos, destes últimos ímpios, que, sem se mostrar
abertamente como inimigos da religião, visto que eles praticam ainda alguns
pontos exteriores dela, mas que, apesar disso, vocês ouvem de tempos em tempos
fazerem pequenas chacotas sobre a virtude ou a piedade daqueles que eles não
têm a coragem de imitar. Digam-me, meu amigo, que lhe fez esta religião que
você recebeu de seus ancestrais, que a praticaram tão fielmente diante de seus
olhos, que lhe disseram tantas vezes que somente ela poderia gerar a felicidade
do homem sobre a terra, e que, a abandonando, poderíamos ser somente como
desgraçados? E aonde você pensa, meu amigo, que sua pequena impiedade o conduzirá?
Infelizmente!, meu amigo, para o inferno, para fazer você chorar tua cegueira.
Não falemos nada ainda destes cristãos que são cristãos apenas de nome,
que cumprem seu dever de cristãos de um modo tão miserável que eles lhes fariam
morrer de compaixão. Vejamos um deles, durante sua oração feita com
aborrecimento, dissipação, desrespeito. Vejamo-los na igreja, sem devoção; o
ofício começa sempre mais cedo, e acaba sempre tarde demais; o padre ainda não
desceu do altar, e eles já estão do lado de fora. Quanto à frequência aos
sacramentos, não temos que falar sobre isso: se eles se aproximam deles por
vezes, é com certa indiferença que anuncia que eles não conhecem de forma
alguma o que eles estão fazendo. Tudo o que tem relação com o serviço de Deus é
feito com um desgosto assustador. Meu Deus! Quantas almas perdidas para sempre!
Ó meu Deus! Como o número daqueles que entrarão no reino dos céus é pequeno,
visto que há tão poucos que fazem o que devem para merecê-lo.
Entretanto, vocês me dirão agora: Quem são, portanto, aqueles que se
tornam culpáveis de respeito humano? Meus irmãos, escutem-me um instante, e
ireis saber. Inicialmente, dir-lhes-ei com São Bernardo, que de qualquer lado
que consideramos o respeito humano, que é a vergonha de
cumprir seus deveres de religião por causa do mundo, todos nos
mostram o desprezo e a cegueira. Digo, meus irmãos, que a vergonha de
fazer o bem, o medo de ser desprezado ou de ser repreendido por alguns ímpios
infelizes, ou alguns ignorantes, é um desprezo terrível que fazemos da presença
do bom Deus, diante do qual estamos e que poderia no mesmo instante nos lançar
no inferno. Por que é, meus irmãos, que estes maus cristãos ficam bravos com
vocês e fazem de vossa devoção algo ridículo? Infelizmente! Meus irmãos, eis a
verdadeira razão: é porque não tendo a força de fazer o que vocês fazem, vocês
incitam o remorso de suas consciências; entretanto, estejam certos de que no
coração, eles não vos desprezam, ao contrário, eles vos estimam muito. Quando
eles precisam de um bom conselho, ou de pedir uma graça junto do bom Deus, não
é àqueles que agem como eles que eles irão recorrer, mas àqueles que eles
repreenderam, ao menos em palavras. Você tem vergonha, meu amigo, de servir ao
bom Deus temendo ser desprezado? Contudo, meu amigo, olhe então Aquele que
morreu sobre esta cruz, pergunte-lhe então se ele teve vergonha de ser
desprezado, e de morrer do modo mais vergonhoso sobre esta cruz infame. Ah!
Como somos ingratos com Deus... Ó, meu Deus! como o homem é cego e desprezível ao
temer um miserável o que dirão disso, e não temer ofender um Deus tão
bom. Em segundo lugar: digo que o respeito humano nos faz desprezar todas as
graças que o bom Deus nos mereceu por sua morte e sua paixão. Sim, meus irmãos,
pelo respeito humano, aniquilamos todas as graças que o bom Deus nos tinha
destinado para nos salvar. Ó! maldito respeito humano, como arrastas almas para
o inferno! Em terceiro lugar: digo que o respeito humano contém a cegueira mais
desprezível. Infelizmente! não prestamos atenção ao que perdemos. Ah! meus
irmãos, que infelicidade para nós, nós perdemos nosso Deus, que ninguém nunca
poderá substituir. Nós perdemos o céu com todos os seus bens e seus prazeres!
Mas há outra desgraça, é que tomamos o demônio como nosso pai, e o inferno com
todos os seus tormentos como nossa herança e nossa recompensa. Trocamos nossas
doçuras e nossas alegrias eternas por sofrimentos e lágrimas...
Meu Deus, ainda podemos continuar a pensar e viver como escravos do
mundo?
Sermons du vénérable serviteur de Dieus,
Jean-Baptiste-Marie Vianney, curé d'Ars. Tome Ie, Librarie Victor Lecoffre,
Paris, 1883.
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