"PELA FÉ E PELOS DONS DO ESPÍRITO SANTO, QUE NÃO SOMOS PREDESTINADOS POR SERMOS BONS, MAS SOMOS BONS, SOBRENATURALMENTE, POR SERMOS PREDESTINADOS"
Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Escutemos o Papa Leão XIII, em excertos da sua Epístola
Apostólica “Militantis Ecclesiae” dirigida aos Arcebispos e Bispos de Áustria,
Alemanha e Suiça, a propósito do III centenário da morte de São Pedro
Canísio – 1 de Agosto de 1897:
«O bem da Igreja militante, assim como a sua honra, convida
a celebrar mais vezes, com rito solene, a memória daqueles que, por sua
extraordinária virtude e piedade, foram elevados à Glória da Igreja triunfante.
Com efeito, mediante esses sinais de honra, insinua-se a lembrança da antiga
santidade, coisa sempre oportuna, e muitíssimo útil, nesses tempos infaustos, à
Fé e à Piedade. (…)
Quanto tenha sido oneroso o empenho assumido por esse homem
zelosíssimo da Fé Católica, aparece fàcilmente àqueles que consideram com
atenção o rosto da Alemanha nos inícios da revolução luterana. Modificados os
costumes, de dia em dia sempre mais degradados, foi fácil a passagem ao erro, e
o próprio erro, depois, levou à ruína definitiva dos costumes. Assim, pouco a
pouco, muitos se afastaram da Fé Católica; portanto, o vírus do mal difundiu-se
amplamente em quase todas as províncias e contaminou homens de todas as
condições e fortunas. (…)
Agora não devemos aqui percorrer todos os aspectos da
santidade exemplar deste homem; com qual empenho tenha assumido o cuidado da
pátria lacerada por dissídios e sedições, para reconstituir o sentimento comum
dos ânimos e a antiga concórdia. Tomemos em consideração sòmente as armas da
cultura: Com qual constância se expôs, com qual prudência, com qual sentido de
oportunidade! Quando voltou de Messina, aonde fora como mestre da palavra, logo
se empenhou, com energia singular, a ensinar as disciplinas sagradas na
Universidade de Colónia, Ingolstadt e Viena, e seguindo o caminho para chegar
da escola cristã aos doutores de fama segura, ABRIU AS MENTES DOS ALEMÃES PARA
OS DOUTORES DE FAMA SEGURA, ABRIU AS MENTES DOS ALEMÃES PARA AS GRANDEZAS DA
TEOLOGIA ESCOLÁSTICA. Desde que naquele tempo os inimigos da Fé se mantinham
afastados dela COM DESGOSTO SUPREMO, pois sobre ela se fundava principalmente a
Fé Católica, procurou Canísio repropor pùblicamente, em auge, esse método de
estudos nos liceus e nos colégios da Companhia de Jesus, com que ele próprio
havia contribuído com tanta fadiga e trabalho. E ele próprio não se envergonhou
de rebaixá-la (a Escolástica), desde a Sabedoria mais Alta, até aos primeiros
elementos dos estudos literários, e de acolher meninos para instruir,
escrevendo para eles livros de literatura e algumas gramáticas.
Contemporaneamente, das moradas dos princípes, nas quais pronunciava as suas
orações, voltava muitas vezes à pregação do povo, de modo que ENQUANTO ESCREVIA
AS COISAS MAIS ALTAS, QUER EM ORDEM A CONTROVÉRSIAS DOUTRINAIS, QUER SOBRE
COSTUMES, PUNHA MÃO TAMBÉM À COMPOSIÇÃO DE OPÚSCULOS QUE FORTALECESSEM A FÉ DO
POVO E SUSCITASSEM E NUTRISSEM A SUA PIEDADE.»
Um dos maiores bens, na Ordem Natural, que podemos possuir
neste pobre mundo, é a unidade psicológica; porque esta unidade confere
consistência e coerência a toda a nossa vida, permitindo que, em todas as
situações, possamos ser e agir nós mesmos, na integridade de uma perfeição que
de alguma forma transcende o tempo, pois que a nossa alma, em si mesma,
intrìnsecamente, não vive, nem depende do tempo, mas como realidade espiritual,
participa já, de certo modo, da Eternidade Divina, sobretudo se possuir a Graça
Santificante; mas mesmo na Ordem Natural, a alma não depende do tempo; só que o
nosso materialismo prático, a nossa cegueira, mesmo puramente filosófica,
impede que meditemos profundamente no nosso particular modo de duração, que
constitui precisamente uma síntese natural entre o tempo físico da matéria e o
evo da alma, como forma substancial do composto. O princípio orgãnico da
unidade do nosso ser ao longo da vida, é, e só pode ser a alma, porque só esta
confere, transcendentalmente, a unidade orgânica, ao aglomerado de átomos e
moléculas, que como tais, vão sendo substituídas ao longo da vida. O mesmo deve
acontecer à nossa unidade psicológica, o seu fundamento só pode ser constituído
pela alma, mas para que o seja é necessário um acto de ser, eminentemente
moral. Sem dúvida, a nossa constituição genética-fisiológica determina-nos
dentro de certos limites, mas Deus Nosso Senhor sòmente nos pedirá contas
daquilo que poderíamos haver realizado – e não o fizemos!
Evidentemente, EXISTE UMA UNIDADE PSICOLÓGICA SOBRENATURAL,
TAL COMO EXISTE A UNIDADE PSICOLÓGICA NATURAL; AS DUAS SÃO ABSOLUTAMENTE
INCOMENSURÀVEIS, AINDA QUE A ÚLTIMA POSSA CONSTITUIR CONDIÇÃO EXTRÍNSECA
PROVIDENCIAL DA PRIMEIRA.
Exactamente por isso, a unidade psicológica Sobrenatural só
nos pode ser facultada por Deus Nosso Senhor, quando Ele quiser, e na medida em
que quiser.
Em Nosso Senhor Jesus Cristo, A UNIDADE PSICOLÓGICA FOI
INFINITA, não de uma maneira física, porque a Natureza Humana do Senhor,
enquanto Tal, é finita; mas pela Dignidade Moral Infinita da União Hipostática,
A Qual faz de Nosso Senhor, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, UMA PESSOA
INFINITA.
No Paraíso Terrestre os homens possuíam uma condição,
absolutamente privilegiada, na qual a virtude brotava, sem qualquer esforço, do
próprio fluir de uma vida Sobrenatural, Preternaturalmente protegida e elevada.
TODAVIA EXISTIA PROGRESSO NA VIRTUDE AO LONGO DA VIDA TERRENA, PORQUE SERIA
ABSURDO, QUE PELO FACTO DE NÃO HAVER PECADO, FOSSE IMPOSSÍVEL A ASCENSÃO
CONTÍNUA DA ALMA NA HIERARQUIA DOS BENS CELESTES.
Cumpre registar, que no Paraíso Terrestre não haveria morte
nem sofrimento, logo as pessoas passariam da Terra ao Céu um pouco como Nossa
Senhora, embora seja certo que Ela morreu, porque embora não contraísse pecado
original, intrìnsecamente, viveu contudo num mundo, que além de fìsicamente
corrompido, constitui um verdadeiro oceano negro de pecados e de crimes; E TUDO
ISSO INFLUÍA EXTRÌNSECAMENTE NO SER DE MARIA SANTÍSSIMA, COMO MESMO NO SER DE
NOSSO SENHOR. O progresso na virtude seria assim Lei comum no Paraíso
Terrestre; mas não só, pois cada geração recolheria com absoluta integridade o
progresso na virtude Sobrenatural que a geração anterior houvesse produzido.
Mas neste nosso desgraçado mundo, não acontece, nem uma coisa,
nem outra: Não só as almas não aproveitam a vida mortal para crescer
incessantemente na virtude Sobrenatural, como, valha-nos Deus Nosso Senhor,
parece suceder precisamente o oposto. Anàlogamente, é mais do que evidente, que
nenhuma geração aproveita qualquer progresso moral pretérito, conquanto recolha
todo o progresso científico e técnico.
Nosso Senhor garantiu-nos que se não fôssemos como crianças
não entraríamos no Reino dos Céus. Mas o comum dos homens, em lugar de
pretender salvaguardar, Sobrenaturalmente, as impressões religiosas da sua
infância, as mais puras, as mais marcantes, em lugar disso – RIDICULARIZA-AS,
DIZ QUE SÃO COISAS DO PAI NATAL; e assim despreza um património de grande
riqueza, que lhe permitiria, com o auxílio de Deus, ascender na sociedade dos
santos e na hierarquia celeste. O GRANDE MAL DOS HOMENS DITOS COMUNS É
HAVEREM-SE TORNADOS ADULTOS NA CEGUEIRA TOTAL PARA AS BELEZAS SOBRENATURAIS DA
INOCÊNCIA. Consequentemente, em geral, quanto mais velhos, mais torpes, mais
carnalões, mais ímpios; estou referindo fundamentalmente os varões, pois é por
eles que se transmite o pecado original, sendo eles, por isso mesmo, os mais
atingidos pelo dito.
Quando Nosso Senhor Jesus Cristo prometeu o Reino dos Céus
àqueles que permanecerem crianças, não procedeu assim por mero simbolismo; é
que as crianças podem ser fingidas, mas nunca podem ser hipócritas, na exacta
medida em que a hipocrisia pressupõe um pesado lastro de uma perversidade moral
que Jesus sempre combateu com a maior energia, e À QUAL PROMETEU O INFERNO – A
HIPOCRISIA FARISAICA; A QUAL CONSTITUI UM DOS MAIS REPULSIVOS SINTOMAS DO
PECADO ORIGINAL, SINTOMAS QUE SE AGRAVAM SUBSTANCIALMENTE COM A IDADE, À MEDIDA
QUE A ALMA VAI PERDENDO A FLUIDEZ INTERIOR DA JUVENTUDE.
Não sofre qualquer dúvida, que com o passar dos anos, a alma
vai perdendo em quantidade o que ganha em qualidade; há irreversibilidades
ontológicas inultrapassáveis, mas com o auxílio de Deus, sobretudo com os Dons
do Espírito Santo, podemos e devemos haurir de todas as vicissitudes da nossa
passagem pela Terra, UM SUBLIME NUTRIMENTO SOBRENATURAL, UMA REFERÊNCIA
INCESSANTEMENTE MAIS RICA AOS BENS ETERNOS, À LUZ DO QUAL TUDO CONTEMPLAMOS.
ACIMA DE TUDO, A IDADE DEVERIA INCULCAR-NOS, COMO PARTE INTEGRANTE DE NÓS
MESMOS, QUE A ÚNICA FELICIDADE LEGÍTIMA É A FELICIDADE DE AMAR
SOBRENATURALMENTE A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS, CUMPRINDO FIELMENTE A SUA
SANTÍSSIMA VONTADE. ORA ISTO É VÁLIDO PARA OS INDIVÍDUOS, PARA AS FAMÍLIAS,
PARA A SOCIEDADE, E PARA A VIDA INTERNACIONAL. SIM, A IDADE DEVE
PROPORCIONAR-NOS ESTA CERTEZA ABSOLUTA, QUE NÃO É DESTE MUNDO, E QUE SÓ PODE
SER ACOLHIDA COMO DOM MARAVILHOSO DA SANTÍSSIMA TRINDADE.
Nunca olvidar que mesmo aquele desenvolvimento legítimo da
natural experiência da vida, aquela sabedoria dos “cabelos brancos”, apenas se
efectiva formalmente numa alma moralmente íntegra, e muito especialmente numa
alma adornada com a Graça Santificante. Existe, sem dúvida, uma sabedoria de
vida estritamente natural, legítima, que numa alma bem formada cresce com a
idade. Mas essa sabedoria nada é comparada com Aquela inteligência Sobrenatural
que só Deus pode dar, e que é a única a que não podemos reprovar no exame da
Eternidade.
São Domingos Sávio, o mais jovem santo confessor, aluno do
grande São João Bosco, falecido aos 15 anos de idade, em 1857, escreveu um dia
na redacção escolar cujo tema era constituído pela formulação de um desejo:
DESEJO QUE DEUS ME FAÇA SANTO. Assinale-se que o jovem Domingos não dizia que
queria ser santo, MAS QUE DEUS O FIZESSE SANTO! Ora este jovem conhecia apenas
o catecismo, e no catecismo nem por sonhos se envereda pelo Mistério Teológico
da Predestinação; mas Domingos já conhecia, PELA FÉ E PELOS DONS DO ESPÍRITO
SANTO, QUE NÃO SOMOS PREDESTINADOS POR SERMOS BONS, MAS SOMOS BONS, SOBRENATURALMENTE,
POR SERMOS PREDESTINADOS. O jovem Domingos não necessitou de amadurecer com a
idade a sua inteligência natural e a sua sabedoria de vida, porque possuiu, já
desde os verdes anos do início da sua adolescência, aquela Sabedoria que o
mundo jamais poderá arrebatar, porque também a não pode facultar – AQUELA
SUBLIMAÇÃO INFINITAMENTE PROFUNDA DO CONHECER E DO AGIR, QUE SÓ EM DEUS UNO E
TRINO SE PODE CONTEMPLAR.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Lisboa, 6 de Julho de 2016
Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
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