ENTRE OS QUE SÓ A RAZÃO RECONHECEM POR GUIA, RARO OU NUNCA SE ENCONTRARÁ UNIDADE DE DOUTRINA, PORQUE O CAMINHO DA CIÊNCIA ESTÁ CHEIOS DE TROPEÇOS, A INTELIGÊNCIA HUMANA É FRACA POR NATUREZA, E SOBRE FRACA, DEIXA-SE DISTRAIR PELA VARIEDADE DE OPINIÕES, E MUITAS VEZES ENGANAR PELAS IMPRESSÕES EXTERNAS, E ALÉM DISSO ACRESCE A INFLUÊNCIA DAS PAIXÕES, QUE TÃO FREQUENTEMENTE, TIRA DE TODO, OU DIMINUI, A CAPACIDADE DE DISTINGUIR A VERDADE.
Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Escutemos o Papa Leão XIII em excertos da sua encíclica
“Sapientiae Christianae”, promulgada a 10 de Janeiro de 1890:
«Nosso Senhor Jesus Cristo anunciou em termos bem claros que
a odiosa oposição, feita pelos homens à Sua Pessoa, perpetuar-se-ia contra a
Sua obra, de modo que a um grande número de almas se impediria a salvação que
por Sua Graça trouxe ao mundo. Foi por isso que Ele quis, não sòmente formar
discípulos da Sua Doutrina, mas também reuní-los em sociedade e organizá-los
num só corpo “que é a Santa Igreja”(Col 1,24), de que Ele seria a Cabeça.
Consequentemente, a vida de Jesus Cristo derrama-se por todo o organismo deste
Corpo, nutre e sustenta cada um dos Seus membros,, conserva-os unidos entre si,
e conspirantes para o mesmo fim, apesar de não caberem a todos as mesmas
funções (Rm 12,45). Daqui se conclui que a Igreja NÃO SÒMENTE É UMA SOCIEDADE
PERFEITA, E MUITO SUPERIOR A QUALQUER OUTRA SOCIEDADE, MAS TAMBÉM QUE LHE É
CONATURAL, POR DISPOSIÇÃO DO SEU AUTOR, COMBATER PELA SALVAÇÃO DO GÉNERO
HUMANO, COMO
UM EXÉRCITO FORMADO EM BATALHA (Ct 6,9). Esta organização e
forma da sociedade cristã não pode alterar-se por nenhum caso, nem é permitido
a nenhum dos seus membros operar a seu bel-prazer, ou seguir no combate a
táctica que julgar melhor, porque QUEM NÃO COLHE COM A IGREJA E COM JESUS
CRISTO – DESPERDIÇA; E CERTAMENTE COMBATEM CONTRA DEUS OS QUE NÃO COMBATEM ÀS
ORDENS DE DEUS E DA SANTA IGREJA.
Ora, para efectuar essa união dos espíritos e uniformidade
de acção, que tão formidável é, e com razão, aos inimigos do catolicismo, a
primeira condição é a concórdia de sentimentos, à qual, com zelo ardente, e
singular gravidade das palavras, exorta São Paulo aos Coríntios: “Eu vos
conjuro irmãos pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo que tenhais todos uma
mesma linguagem, e que não haja cismas entre vós; mas que vivais numa perfeita
unidade de sentimentos e de afectos” (I Cor 1,10).
A Sabedoria deste preceito é evidente. Efectivamente, o
pensamento é o princípio da acção, e daqui resulta que não se podem concordar
as vontades, nem combinar as acções, onde os modos de pensar forem diversos.
ENTRE OS QUE SÓ A RAZÃO RECONHECEM POR GUIA, RARO OU NUNCA SE ENCONTRARÁ
UNIDADE DE DOUTRINA, PORQUE O CAMINHO DA CIÊNCIA ESTÁ CHEIOS DE TROPEÇOS, A
INTELIGÊNCIA HUMANA É FRACA POR NATUREZA, E SOBRE FRACA, DEIXA-SE DISTRAIR PELA VARIEDADE DE OPINIÕES,
E MUITAS VEZES ENGANAR PELAS IMPRESSÕES EXTERNAS, E ALÉM DISSO ACRESCE A
INFLUÊNCIA DAS PAIXÕES, QUE TÃO FREQUENTEMENTE, TIRA DE TODO, OU DIMINUI, A CAPACIDADE DE DISTINGUIR A
VERDADE. E eis a razão, porque no governo político, se recorre muitas vezes à
força, para com ela suprir a união que falta aos espíritos.
A FÉ CRISTÃ NÃO SE FUNDAMENTA NA AUTORIDADE DA RAZÃO HUMANA;
MAS NO TESTEMUNHO DA RAZÃO DIVINA. Cremos que a Revelação é verdadeira, “NÃO
PELA INTRÍNSECA VERDADE DAS COISAS PERCEBIDAS COM O LUME NATURAL DA RAZÃO; MAS
PELA AUTORIDADE DO MESMO DEUS, QUE REVELA, E NÃO PODE ENGANAR-NOS. SEGUE QUE
QUAISQUER VERDADES, QUE CONSTE SER REVELADAS POR DEUS, A TODAS E A CADA UMA
DEVEMOS IGUAL E PLENO ASSENTIMENTO.»
Confundem-se frequentemente estes dois conceitos. Todavia, e
numa primeira abordagem, podemos definir as doutrinas reaccionárias,
precisamente segundo um padrão essencialmente anti-revolucionário, entendendo
por revolução, não apenas a de 1789, mas também a revolução protestante,
responsável por uma mutação mais lenta, mas não menos profunda. Efectivamente,
a evolução político-constitucional Inglesa, se se tivesse processado num
enquadramento Católico Romano, poderia ter consubstanciado um belo exemplo de
são convívio entre legítimas aspirações civis e a necessária hegemonia da Santa
Madre Igreja. Não olvidemos, porém, que já o Papa Inocêncio III condenou a
Magna Carta, que foi imposta ao rei João Sem Terra. Não olvidemos também que a
revolução de 1789 consubstanciou um desenvolvimento político-estratégico das
ideias protestantes. Reside aqui a razão profunda pela qual não é crime invocar
a Deus no exercício de funções públicas em países de tradição protestante, como
os Estados Unidos ou a Inglaterra; ao passo que fazê-lo em países de tradição
Católica, pode acarretar graves consequências a quem assim proceder, sobretudo
em França.
As doutrinas coerentemente reaccionárias abominam qualquer
forma política que pretenda fazer ascender, da base à cúpula, não apenas o
Poder, mas a Religião, a Sabedoria, a Moral e a cultura – DEUS UNO E TRINO
CONSTITUI O FUNDAMENTO DE TUDO O QUE EXISTE, NÃO SÓ INDIVIDUAL, MAS
COLECTIVAMENTE. Neste quadro conceptual, não há verdadeiro reaccionarismo fora
da Fé Católica. Todavia, o conceito e o termo “reaccionário” só foi
perfeitamente cunhado após a revolução de 1789, sendo seus expoentes máximos:
Joseph de Maistre (1753-1821); Louis de Bonald (1754-1840); e Louis Veuillot
(1813-1883).
Na sua etimologia científica, “reaccionário,” não é um termo
ou um conceito pejorativo, e ainda hoje é utilizado em manuais de ciência
política para registar uma corrente digna de pensamento.
Tanto o reaccionarismo quanto o conservadorismo consideram a
História como mestra da vida e sedimentadora de equilíbrios sociais; MAS COM A
DIFERENÇA ABSOLUTAMENTE ESSENCIAL, DE QUE AS DOUTRINAS REACCIONÁRIAS COLOCAM A
HISTÓRIA, MEDULARMENTE, SUBMETIDA AO IMPÉRIO DA REVELAÇÃO E DA PROVIDÊNCIA, E
ALÉM DISSO IRREMEDIÀVELMENTE CORROMPIDA PELO PECADO ORIGINAL E PELOS PECADOS
ACTUAIS. Já o conservadorismo acredita na História, pela História, mais como
obliteradora de erros do que como conquistadora de verdades; na melhor das
hipóteses o conservadorismo foi outrora deista, actualmente é ateu ou
profundamente agnóstico.
A doutrina reaccionária é profundamente anti-liberal e
anti-democrática, é contra o liberalismo religioso, político, económico, social
e cultural. O conservadorismo possui um ascendente mais liberal do que
democrático, mais ruralista do que urbano e acredita no carácter moderador de
uma certa aristocracia. Alexandre Herculano (1810-1877) foi um conservador. A
Doutrina reaccionária é fundamentalmente monárquica, mas recusa liminarmente a
monarquia denominada absoluta, bem como, evidentemente, a monarquia liberal; ao
defender a monarquia orgânica, a doutrina reaccionária presta solene tributo ao
essencialismo teológico e metafísico, bem como à Santa Madre Igreja e ao Romano
Pontífice, Vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao Qual os Reis da Terra estão
submetidos. É certo que Joseph de Maistre – ao contrário de Louis de Bonald, acaso
influenciado pelo galicanismo – coloca uma magnitude muito especial na Cátedra
do Romano Pontífice, como suprema instância, para todas as questões e
pendências, inclusive temporais, que
possam surgir neste pobre mundo. E com razão, pois o Direito Público
Eclesiástico, apoiado na encíclica “Unam Sanctam” (1302) do papa Bonifácio
VIII, não configura qualquer outro vínculo que possa aplicar a Infalibilidade
Incriada e Eterna de Deus Nosso Senhor às vicissitudes da História humana.
Já dissemos que o conservadorismo é tendencialmente
historicista e nesse sentido opõe-se fortemente às revoluções, consideradas
explosões de uma impulsividade racionalista, apriorista, imoderada, e carente
de bases sólidas. E na realidade, é conhecido como na Inglaterra a última revolução
sucedeu em 1688, e mesmo assim foi uma movimento fundamentado na já citada
sedimentação histórica das liberdades inglesas, não constituindo uma revolução
verdadeira ao estilo da de 1789. Nos Estados Unidos, desde a Guerra Civil
(1861-1865) que não há registo de nenhuma convulsão político-social. Ao invés,
em França, as roturas políticas e os grandes movimentos sociais têm sido
frequentes, os últimos foram a crise argelina (1960-62) e o célebre Maio de
1968, o qual constituiu simultaneamente uma rotura civilizacional.
A doutrina reaccionária possui como ponto de honra SUPRIR O
MAIS EFICAZMENTE POSSÍVEL, COM OS BENS DA REDENÇÃO, COM A SABEDORIA
SOBRENATURAL DA REVELAÇÃO, OS HIATOS, OS CRIMES, E AS CONTRADIÇÕES HISTÓRICAS
CAUSADAS PELAS MISÉRIAS HUMANAS. A SANTA MADRE IGREJA E O PAPADO SERÃO ASSIM
ALCANDORADOS A UMA MISSÃO TEMPORAL REALMENTE DIGNA DA SUA MAJESTADE ESPIRITUAL
DE DIREITO DIVINO SOBRENATURAL.
Neste quadro conceptual, o pensamento reaccionário
encontra-se infinitamente acima do pensamento conservador, embora só tenha sido
concretizado, verdadeiramente, nos séculos XII e XIII, quando o Papado
constituía O SELO INFALÍVEL E SUPREMO DA VERDADE E DA SANTIDADE, num mundo
corrompido.
Há contudo que reconhecer que a História é mestra da vida e
permite conhecer o homem, mesmo na sua individualidade. A própria Sagrada
Escritura, que é Palavra de Deus transmitida instrumentalmente pela palavra
humana, constitui fonte inexaurível de ensinamentos Divinos sobre a nossa
decaída natureza, e sobre A CONDIÇÃO HUMANA EM CONCRETO, A QUAL NUNCA SE ALTERA
ATRAVÉS DAS IDADES, POIS QUE O PROGRESSO MORAL, QUANDO EXISTA, NÃO SE TRANSMITE
DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO.
Porque a História, considerada em si mesma e por si mesma,
sem ser ilustrada, Sobrenaturalmente, pela RAZÃO DIVINA – CONSTITUI,
GLOBALMENTE, E EM ÚLTIMA ANÁLISE, UM GRANDE VAZIO; esperar que da sua
sedimentação consuetudinária surja um mundo melhor – é uma grande e letal
ilusão.
A oposição à revolução e ao racionalismo apriorista
idealista, sòmente em sentido muito lato é que é comum a conservadores e
reaccionários; porque os primeiros acreditam numa evolução criadora para
melhor, e os últimos apenas estabilizam a sua inteligência NO ESSENCIALISMO TEOLÓGICO
E METAFÍSICO, QUE NOS GARANTE QUE O ÚNICO CAMINHO É O DA VERDADE E DA
SANTIDADE, CAMINHO CUJAS COORDENADAS JÁ FORAM PROMULGADAS, DE UMA VEZ PARA
SEMPRE, PELA CRUZ DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, À QUAL NADA SE DEVE
ACRESCENTAR, A NÃO SER A NOSSA PRÓPRIA CRUZ.
Em última análise a tese conservadora é existencialista, e a
tese reaccionária é SEVERAMENTE ESSENCIALISTA. Consequentemente, a tese
conservadora situa-se mais perto dos princípios revolucionários do que da tese
reaccionária. Porquanto conservadores e revolucionários consideram-se, de
alguma maneira proprietários da História, os primeiros de forma passiva e os
segundos de forma dinâmica; ao passo que os reaccionários sustentam,
inabalàvelmente, que a História, como teleologia e como organicidade, É
ETERNAMENTE, PROVIDENCIALMENTE, NA INTELIGÊNCIA DIVINA, NA VONTADE DIVINA. O
SER DO MUNDO NADA ACRESCENTA AO SER DE DEUS, MAS DEVE MANIFESTAR-LHE,
FORMALMENTE, A GLÓRIA EXTRÍNSECA. PORTANTO OS HOMENS, INDIVIDUAL E
COLECTIVAMENTE CONSIDERADOS, GOZAM DE LIVRE ARBÍTRIO – MAS ESSE LIVRE ARBÍTRIO
POSSUI SEU FUNDAMENTO ABSOLUTO EM DEUS NOSSO SENHOR.
MAS NEM NA ETERNIDADE PODEREMOS COMPREENDER INTEIRAMENTE
ESSES MISTÉRIOS.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Lisboa, 17 de Julho de 2016
Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Fonte: https://promariana.wordpress.com/2016/07/18/reaccionarismo-e-conservadorismo/
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