“TUDO O QUE NÃO É DEUS, POR DEUS FOI CRIADO,
E ESTÁ, QUER QUEIRA, QUER NÃO, ABSOLUTAMENTE ORDENADO, POSITIVA OU
NEGATIVAMENTE, AO SEU CRIADOR”
Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Escutemos o Papa Leão XIII, num
trecho da sua encíclica “Aeterni Patris”, promulgada em 4 de
Agosto de 1879:
«Também a sociedade doméstica e a
civil que são levadas a graves perigos, como todos podem ver, por aquelas
doutrinas perversas e venenosas, poderiam certamente estar mais tranquilas e
seguras, se nas Academias e nas escolas se ensinasse uma Doutrina mais saudável
e mais conforme ao Magistério da Igreja, assim como está nos volumes de São
Tomás de Aquino. Com efeito, o que Tomás ensina sobre a verdadeira natureza da
liberdade, que hoje se está mudando em licença, sobre a origem Divina de toda a
autoridade, sobre as leis e sua força, sobre o domínio justo e paterno dos
Príncipes, sobre a obediência devida aos mais altos poderes, sobre a Caridade
recíproca entre os homens, estas e outras doutrinas semelhantes têm força
grandíssima e invencível para subverter aqueles princípios do novo direito, que
são perniciosos à ordem social e ao bem estar público.
Finalmente, todas as disciplinas
humanas devem esperar progredir e aguardar muitíssimas ajudas desta renovação
da Filosofia que nos propusemos. De facto, as ciências e as artes liberais sempre
tiraram da Filosofia, como da ciência moderadora de todas, a norma sábia e a
maneira recta do proceder, e dela, como de fonte universal da vida, conseguiram
o espírito que as alimenta. Pela experiência dos factos, está provado, que as
artes liberais floresceram grandemente quando se manteve incólume a honra e foi
sábio o juízo da Filosofia, e que decaíram e foram quase esquecidas quando a
Filosofia foi descuidada ou embrenhada em erros e futilidades.
Pelo mesmo motivo, também as ciências
físicas, que actualmente estão muito em voga, e pelas suas descobertas
maravilhosas e numerosas, despertam admiração em todo o lugar, não sòmente não
sofrerão nenhum dano da Filosofia restaurada dos antigos, mas até receberão
grandes vantagens. Com efeito, para estudá-las com fruto e aprofundá-las não é
suficiente só a observação dos factos e a consideração da natureza, mas, uma
vez que os factos sejam seguros, é necessário subir mais alto e esforçar-se com
solicitude para conhecer a natureza das coisas, para estudar as leis a que
obedecem e os princípios donde deriva a sua ordem, a unidade na variedade, e a
recíproca afinidade na diversidade. É maravilhoso ver quanta força e quanta luz
possa trazer a Filosofia Escolástica a este tipo de investigação, DESDE QUE
ENSINADA SÀBIAMENTE.
A este propósito, é bom lembrar que,
com grande injustiça, se acusa a mesma Filosofia de ser contrária ao
conhecimento ao progresso das ciências naturais. Com efeito, os Escolásticos,
em conformidade com o sentir dos Santos Padres, tendo muito frequentemente
ensinado na antropologia que a inteligência humana chega ao conhecimento das
realidades incorpóreas e espirituais através das materiais, entenderam por si
mesmos de que não há nada de mais útil para o filósofo do que investigar com
diligência os segredos da natureza, e continuar por muito tempo no estudo dela.
E isso o confirmaram também com seu exemplo. De facto, São Tomás de Aquino e o
Beato Alberto Magno, bem como os outros que foram os mestres dos Escolásticos,
não se dedicaram totalmente à especulação da Filosofia, nas se ocuparam também
profundamente no estudo das realidades naturais. E acerca disso, não são poucas
as suas afirmações e suas teses que os mestres modernos aprovam e julgam
conformes à Verdade. Por outro lado, neste mesmo tempo, muitos e insignes
professores de ciências físicas atestam, aberta e pùblicamente, que entre as
conclusões certas e aceites pela física moderna e os princípios filosóficos da
Escola não existe nenhuma contradição verdadeira e real.»
Foi São Tomás de Aquino quem produziu
esta riquíssima asserção, que serve de epígrafe ao presente escrito.
Sòmente no seio da Santíssima Fé
Católica e da sua sã Filosofia se pode constituir um tão altíssimo Juízo, que
note-se, tanto pode brotar, Sobrenaturalmente, da Fé Teologal iluminada pelos
Dons do Espírito Santo, como da mesma reflexão filosófica. Assinale-se que a sã
Filosofia, que é a Tomista, CONSTITUI OBJECTO SECUNDÁRIO DA INFALIBILIDADE DA
SANTA MADRE IGREJA. Jamais, na História profana da filosofia, foi concebida tão
excelsa afirmação, nem mesmo numa pequena aproximação. Ou não fosse a
denominada História profana da filosofia dos últimos cinco séculos, a HISTÓRIA
DA PATOLOGIA DA RAZÃO HUMANA, na feliz qualificação de determinado articulista
da “Civiltá Cattolica”, em meados do século XIX.
Este maravilhoso aforismo filosófico
constitui uma verdadeira síntese da Fé Católica. São Tomás possuía bem gravada,
na sua alma de eleição, a inefável profundidade deste pensamento.
A própria Suma Teológica confere
expressão a este admirável ciclo, que iniciando-se na Criação do mundo, dos
Anjos e dos homens, com consequente elevação ao estado Sobrenatural – tudo para
maior Glória de Deus, Glória formal só possível de anunciar pela criatura
espiritual – percorre toda a miséria da queda original, interrupção misteriosa
do plano salvífico de Deus, mas sem a qual, não possuiríamos a adorável Pessoa
do nosso Redentor Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos reabriu as Portas do Céu.
É conhecido como a Moral ocupa um lugar absolutamente essencial na Suma
Teológica, precisamente porque ela constitui A FACE OPERATIVA DO DOGMA, que nos
permite, com a Graça merecida por Nosso Senhor, participarmos da Natureza
Divina, da Santidade Divina, CONSUMANDO-A NO CÉU, QUE CONSTITUI A NOSSA
FINALIDADE ETERNA, PERFEITAMENTE HOMOGÉNEA COM A OPERAÇÃO MORAL SOBRENATURAL
QUE NA TERRA A MERECEU.
Porque todas as realidades da Fé são
estritamente homogéneas, por virtude da elevação ao estado Sobrenatural, e da
perfeita identificação entre o Princípio, os meios e fins secundários, e o Fim
supremo.
Que diferente é este resplendor
Sobrenatural da Economia Religiosa Católica, daquelas aberrações
neo-platónicas, de tendência panteísta, em que se processa um descenso
desnaturalizante, profanador e materializante, da realidade “divina”, para
ulteriormente se efectivar uma repurificação ascensional e “sacralizante” dessa
mesma “Divindade”. Por oposição ao panteísmo estático de Espinosa, estes ciclos
de emanação, que remontam a Plotino (séc III) denominam-se “panenteísmo”. A seita
conciliar abunda em reinterpretações deste tipo.
A Criação é realmente distinta de
Deus; pelo contrário, no panteísmo, tudo integra o mesmo princípio original.
Tal não contradiz a tese de que o ser do mundo É virtualmente em Deus.
Deus não usou a Sua própria
substância para criar o mundo. A sua Omnipotência, o princípio metafísico ESSE,
conferiu a existência às essências imutáveis que eram em Deus;
consequentemente, os entes criados possuem a composição metafísica
ESSE-ESSÊNCIA.
A participação na Natureza Divina,
sendo real, é acidental; se afirmássemos que era substancial, JÁ ESTARÍAMOS EM
PLENO PANTEÍSMO. As Naturezas espirituais criadas são elevadas por Deus Nosso
Senhor à Ordem Sobrenatural por virtude da Potência Obediencial de todo o
criado, e cuja expressão mais absolutamente sublime se consubstancia na
Natureza Humana de Nosso Senhor assumida hipostàticamente pelo Verbo de Deus.
Na Eternidade, Anjos e homens,
continuarão realmente distintos de Deus, ainda que gozando, inefàvelmente, da
intimidade da Família da Santíssima Trindade, mas também da Sagrada Família.
Toda a criatura, real ou possível,
mesmo na Ordem Natural, só pode vir de Deus e ir para Deus, porque mesmo sem
elevação ao estado Sobrenatural, as criaturas espirituais moralmente boas, gozariam
de um estado idêntico ao limbo das crianças, conhecendo e amando, naturalmente,
a Deus, sobre todas as coisas, com a felicidade correspondente, mas sem
participar da Sua intimidade. Registe-se que essa Ordem puramente Natural,
JAMAIS EXISTIU.
E os condenados? Estes estão também
nas mãos de Deus, mas em negativo infernal, porque o seu castigo anuncia a
Glória de Deus, que os condenados, operativamente, Lhe roubaram. É a própria
dignidade ontológica dos condenados que exige o seu castigo.
Sabemos que todo o Universo físico
foi criado para o anúncio formal, espiritual, da Glória extrínseca de Deus. Mas
então para que existem estrelas, e ao que parece, segundo os mais recentes
estudos, também planetas, aos quais o homem jamais chegará? Qual a finalidade da
sua existência? O Universo foi criado, não apenas para os homens, mas também
para os Anjos; estes possuem as espécies inteligíveis representativas de todo o
Universo físico, incluindo das suas maravilhas fora do alcance do homem, e por
elas anunciam, formalmente, a Glória de Deus. Portanto, nada foi criado
inùtilmente. Além disso, são os Anjos das hierarquias intermédias, que, como
ministros de Deus, governam a imensidade cósmica.
O Vaticano 2 pretendeu estruturar
zonas sombra onde a Caridade, a Santidade Divina, já não penetrasse. Inventou
então uma pretensa ordem civil onde as leis Divinas já se não aplicassem. E de
tal forma essa ignóbil teoria teve êxito, que ainda hoje se encontram pessoas,
pretensamente muito bem pensantes e muito conservadoras, que esgrimem esse
falsíssimo argumento da autonomia da lei civil. Como se a esfera civil, como
tudo o mais, não se encontrasse integralmente submetida ao Império da Lei de
Deus.
TUDO O QUE NÃO É DEUS, POR DEUS FOI
CRIADO, E ESTÁ, QUER QUEIRA, QUER NÃO, ABSOLUTAMENTE ORDENADO, POSITIVA OU
NEGATIVAMENTE, AO SEU CRIADOR.
Deus, na Sua Infinita Sabedoria e
Bondade, quis que a proclamação formal da Sua Glória extrínseca fosse
constitutiva da Bem-Aventurança da criatura espiritual. Quando se afirma que a
felicidade da criatura espiritual constitui objecto secundário da Criação,
olvida-se frequentemente que o anúncio da Glória de Deus, no reconhecimento da
excelência das Suas Obras, por necessidade transcendental, não pode senão
constituir Fonte imarcescível e irradiante da mais profunda e sólida beatitude;
só explicável, pelo êxtase, inefável, sublime, do encontro íntimo com o nosso
Criador, Aquele que literalmente nos outorgou todo o ser natural, e
redimindo-o, o recriou Sobrenaturalmente.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS
CRISTO
Lisboa, 7 de Setembro de 2017
Alberto Carlos Rosa Ferreira das
Neves Cabral
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