“Então, católico, levante as armas capazes de vencer o sedutor das
almas, capaz de dobrar tua cerviz dura e revoltada. Falta-te o Espírito de Fé!”
O que vem a ser
Rezar?
Mas
se é para medir e regular nossa oração, caberia a cada um de nós perguntarmos:
e eu rezo? O tempo da Quaresma serviu para melhorar minha oração?
Para
responder a esta pergunta é necessário saber o que seja rezar. Ora, tanto o
Catecismo como os santos doutores nos falam sobre a boa oração. Diz lá, então,
a doutrina perene:
–
Rezar é elevar a alma a Deus.
Santo
Agostinho nos dará uma compreensão melhor ao afirmar:
–
Rezar é ter uma intenção afetiva do espírito para Deus.
Outros
santos dirão:
–
Rezar é ter uma conversa íntima com Deus.
Ora,
estas definições ou explicações se completam maravilhosamente e nos ajudarão a
medir o nosso grau de oração, a sabermos se, de fato, rezamos de verdade ou
não.
Ainda se encontra
quem reze?
Mas
a experiência de qualquer sacerdote, nos dias de hoje, deixa-nos assustados, a
ponto de podermos interrogar: – O que está acontecendo conosco? Onde estão as
almas que rezam de verdade? E se muitos adultos ainda guardam o costume salutar
de recolher-se, todos os dias, diante de Deus, já os adolescentes, os jovens,
deixando a idade da infância, porque abandonam tão facilmente a prática da
oração que nos dá o céu? Onde encontraremos oração que seja elevação da alma,
intenção afetiva, ou conversa íntima com Deus?
Não!
Não! O que vemos hoje nestas almas é uma oração pesada, um coração irritado,
uma oração rápida e mecânica.
Mas
se é pesada por causa da contrariedade que se sente em rezar, então não se
eleva.
Se
vem carregada com irritação, nunca será uma intenção afetiva. Se é
mecânica, não se pode pensar em conversa íntima com Deus.
Que
quadro desolador o que encontramos nas almas. Passaram-se quatro semanas da
Quaresma e nada! O mundo segue seu curso e as almas não se converteram!
Pergunto
então, assustado e solene: O que falta à oração da grande maioria dos homens?
O
que falta é o AMOR! Falta o Amor do espírito que busca o Espírito do Amor, o
Deus que é Caritas, que é Caridade!
Todo
amor é um apetite. Se nosso amor vai em busca das coisas sensíveis, será um
amor baixo, sensível, humano, animal. Estaremos de corpo e alma entregues às
coisas deste mundo, e este amor toma conta do nosso coração, elimina a Presença
de Deus, e causa o pecado.
Mas
se inclinarmos nosso corpo e nossa alma para o bem, para agradar a Deus em
tudo, mesmo quando estamos fazendo algo de humano, estaremos intencionalizando
nossos atos na direção de Deus, dando uma intenção nova, elevada, vivificante.
Nestes atos de amor espiritual encontraremos a união com Deus, a Presença de
Deus em tudo que fazemos, mesmo se não estivermos, naquela hora, pensando Nele.
Por que não se
consegue mais rezar?
Devemos
então nos perguntar, levando adiante esta pesquisa dos nossos corações:
Porque
não se consegue mais rezar direito, segundo a elevação da alma, as intenções
santas e a intimidade de Deus?
Porque
somos constantemente SEDUZIDOS.
Os
nossos três inimigos, o demônio, o mundo e a carne armaram uma guerra sutil e
subterrânea que invade nosso coração, nosso corpo, nossas intenções, com todo
tipo de sedução. Atraem nossa atenção para afastar-nos do gosto pelas coisas
santas, pela vida de Deus.
Como somos
seduzidos?
Pelos
VÍCIOS. Somos seduzidos todos os dias por vícios antigos e por vícios modernos.
Os
vícios antigos são aqueles conhecidos de todos: excesso de bebida, gula,
sensualidade, preguiça e todo tipo de vícios capitais.
Os vícios modernos são: a televisão, os video-games, o uso de
Messengers, orkut e Internet, telefone celular e todo tipo de modernidade que
provoca atitudes compulsivas. Todas estas coisas desviam as almas de seus
compromissos, tornando-as agressivas, estressadas, desobedientes, preguiçosas e
“burrificadas”.
Formaram
uma vida em torno de nós que nos prende, ligados 24 horas por dia: trabalho,
dinheiro, saúde, esportes, e os novos vícios, tirando todo o tempo que
poderíamos ter para rezar, ler bons livros, pensarmos na nossa salvação eterna.
Como rezar bem numa vida assim?
Então
passamos quatro semanas da Quaresma onde se constata que, se alguns fizeram
algum esforço de penitência e oração, a grande maioria nem se lembra de que os
católicos são chamados com toda urgência a se converterem. Continuam no
churrasquinho da sexta-feira, nas festas, em muitos pecados. Até quando vamos
viver como se a vida da Igreja fosse uma OPÇÃO? Quando muito um dever
secundário que realizamos com aquele espírito de revolta de que falamos acima.
Como rezar se não combatemos a sedução?
É preciso rezar
sempre
Eis
o que ensina Nosso Senhor: “Oportet semper orare – É preciso rezar sempre”. E
os santos doutores concluirão: “Quem reza se salva, quem não reza fecha as
portas do Paraíso”.
Então,
católico, levante as armas capazes de vencer o sedutor das almas, capaz de
dobrar tua cerviz dura e revoltada. Falta-te o Espírito de Fé!
Não se trata exatamente da fé. A Fé pode ser considerada como o
conjunto de verdades reveladas por Deus; é o que os teólogos chamam o Objeto da
Fé. Dentro de nós, se produz pela graça divina os Atos de Fé, que são as marcas
da nossa adesão ao Objeto da fé, a tudo que Deus nos revelou e a Igreja ensina.
Mas
a arma poderosa para combater a sedução dos vícios anti-oração é o Espírito de
Fé, que consiste em tomar a fé que está, como um dom divino, colocada em nossas
almas, e aplicá-la a todos os momentos, situações, encontros, diversões que
fazemos ao longo do dia e da vida. Pelo Espírito de fé fica estabelecida em
nossas vidas a Presença de Deus. Esta presença de Deus é que nos aproxima Dele,
tornando nosso coração mais próximo, mais íntimo, preparando-o para as
conversas sublimes, para a afeição amorosa e para a elevação de nossas almas na
verdadeira e pura oração.
É
preciso, portanto, intencionalizar todos os nossos atos, transformá-los em
armas de combate contra os vícios que nos devoram. É preciso forçar o desejo do
nosso coração e todos os sentimentos dele para que não impeçam o momento da
oração, da meditação, da leitura espiritual que abre nossas mentes para as
coisas divinas.
É
preciso acreditar que, perdendo tempo com Deus, o trabalho renderá muito
mais e compensará ao cêntuplo o tempo perdido. Ao contrário, quando não
rezamos, acabamos presas fáceis para os vícios modernos e perdemos mais tempo
do que seria o da oração.
Meditação sobre a
morte
Se
ainda agora, depois de pensar nestas coisas, neste diagnóstico terrível que
mostra o céu fechado, ainda assim não conseguir se desvencilhar da malha
viciosa, então, vamos pensar na morte. Por que não? Afinal de contas, estamos
no tempo da Paixão, de luto pela morte de Nosso Salvador. Imaginemos, então,
que estamos perto da morte, ou que um ente querido, um filho, um esposo, a
mulher, tenha acabado de falecer. Parece duro, pensar nestas coisas? Pior é
continuar vivendo sem rezar! O terrível peso que a alma sente pela perda joga
por terra todos aqueles vícios horríveis que prendiam a alma. Então, de
repente, ela percebe o quanto era fraca, envenenada, ridícula, por não conseguir
se dominar e produzir algo de sólido e elevado. A morte nos atrai para o
essencial, e é exatamente isso que a Igreja deseja quando vela as imagens no
Tempo da Paixão. O Essencial é Cristo, sua Paixão, sua morte na Cruz para nos
salvar. O essencial é vivermos unidos todo tempo a Jesus, e dizer com o
Apóstolo: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”.
Cabe
a cada um de nós mostrarmos aos nossos adolescentes, aos nossos filhos, que é
bom rezar. É bom querer rezar. E, mais do que tudo, é muito bom amarmos a
oração porque por ela aprendemos a amar a Deus em sua própria intimidade.
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