“Maldito
pecado que
detestável és, pela injúria que fazes a meu soberano Bem!”
O carnaval por Santa Margarida Alacoque
“Era dos últimos dias
de carnaval; toda a galharda juventude da aldeia entregava-se a alegres
folguedos. Enquanto reboavam na praça publica o canto e a música, propôs-lhe o
irmão que se permutassem as roupas e se mascarassem. Margarida, que ainda não
tinha completado cinco anos, opôs-se terminantemente e afastou-se do irmão,
dizendo que aquilo podia ofender a Deus.
A esta delicadeza de
consciência unia um amor ardente pela oração e pela solidão, e precoces
instintos de penitencia, tais que enchiam de maravilha a quantos a rodeavam.
Rezar e sofrer eram as supremas aspirações da sua alma virgem.” (A
Esposa do Sagrado Coração de Jesus - História da sua Vida - P.
Beltrami - 2ª ed. brasileira)
Numa noite de
carnaval vestiu-se luxuosamente para tomar parte num festim, ao qual muitas das
suas companheiras a haviam convidado. De volta, quando estava para se deitar,
apareceu-lhe Jesus no mistério doloroso da sua flagelação, todo desfigurado
pelos açoites, com o corpo ensanguentado, o semblante pálido e macilento, os lábios
crestados pela sede e os divinos olhos cheios de lágrimas; e, depois de a haver
fitado com olhar severo: «Filha cruel, disse-lhe, vê a que
estado me reduziram as tuas vaidades! Tu estás perdendo um tempo infinitamente
precioso de que deve-verás prestar rigorosas contas; atraiçoas-me e me
persegues, depois de eu te haver dado tantas provas do meu amor». (A
Esposa do Sagrado Coração de Jesus - História da sua Vida - P.
Beltrami - 2ª ed. brasileira)
“Certa vez, em tempo
de Carnaval... Ele (Jesus) se me apresentou na figura de um ECCE HOMO (“Eis
aqui o homem” Jo 19,5), carregando sua Cruz, todo coberto de chagas e contusões
e brotando, de todo o seu corpo, seu Sangue adorável. Com uma voz dolorosamente
triste, dizia: “Não haverá ninguém que tenha piedade de Mim e queira
compadecer-se e tomar parte em minha dor vendo o lastimoso estado em que Me
põem os pecadores, sobretudo neste tempo de Carnaval?” Prostrando-me
aos seus sagrados pés, ofereci-me a Ele, com lágrimas e suspiros. Colocou sobre
os meus ombros aquela pesada Cruz, toda eriçada de pontas de pregos, e
sentindo-me sucumbida sob o seu peso, comecei a compreender melhor a gravidade
e malícia do pecado, a qual sentia tão vivamente no meu coração, que teria
preferido mil vezes precipitar-me no Inferno a cometer voluntariamente um único
pecado. “Maldito pecado – disse – que
detestável és, pela injúria que fazes a meu soberano Bem!” (Santa
Margarida Maria, Autobiografia, capítulo 9)
“Parecia-me que me
cravavam em uma cruz dolorosíssima, na qual sofri tanto que dificilmente
poderia explicar e nem conhecia a mim mesma, sobretudo nos três últimos dias de
Carnaval, nos quais acreditei que estava próximo o meu fim.” (Carta de
Santa Margarida Maria à Madre Saumaise – n° 62 – em Março de 1687)
“Meus sofrimentos são
tais que acreditava que ia morrer em cada momento, embora já tivessem sido
anunciados por este caritativo Coração. Creio que me fez o seguinte pedido: ‘Se
queria acompanhá-Lo na Cruz durante este tempo (de Carnaval) em que está tão
abandonado pelo empenho que todos tem de divertir-se, e pelas amarguras que me
faria sentir, poderia eu, em algum modo, suavizar as que os pecadores derramam
sem cessar em seu Sagrado Coração; que devia, sem cessar, gemer com Ele para
alcançar misericórdia, a fim de que os pecados não chegassem ao cúmulo, e Deus
perdoasse os pecadores pelo amor que tem a este amável Coração, que não cessa
de consumir-Se pelo amor que tem aos homens.” (Carta 97 de Santa
Margarida Maria à Madre Saumaise)
“Durante os três dias
de Carnaval, queria fazer-me em pedaços para reparar os ultrajes que fazem
sofrer os pecadores à Sua Divina Majestade; e enquanto me era possível, os
passava jejuando a pão e água, dando aos pobres o que recebia para meu
alimento.” (Santa Margarida Maria, Escritos Autobiográficos – Tejada SJ
– 2ª Edição, p.99).
“Meu Reverendo Padre:
Nosso soberano Dono Se dignou infundir-me muito consolo com a leitura de vossa
carta, depois de ter-me proibido de lê-la por muito tempo, por causa de certo
impulso demasiado impetuoso que me tinha vindo de buscar nela consolo no
sensível e doloroso estado de sofrimento em que Ele me havia colocado durante o
Carnaval. Ofendem-No e O abandonam tantos pecadores! Parece-me que de tal modo
é este o meu tempo de dor e amargura que não posso ver nem gostar de outra
coisa do que ao meu Jesus sofredor e abandonado. Compadeço-me de Suas dores e
penetra-me tão vivamente com elas o Seu Coração adorável que não conheço mais a
mim mesma.” (Carta 135. de 17/1/1690, o.cit. pg. 471).
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