"Os gnósticos retomam
a mesma concepção dinâmica da reencarnação. Esta não é tão-somente punição
pelas faltas de vidas passadas, mas uma etapa da ascensão da alma à divindade
pelo impulso de seu próprio dinamismo interior."
Em 1982, uma sondagem do instituto
Gallup revelava um fenômeno impressionante da mentalidade ocidental. Um em cada
quatro europeus declarava ser adepto da teoria da reencarnação. O fenômeno
tinha todas as oportunidades para se expandir, uma vez que, no mesmo ano, 28%
dos britânicos apoiavam esta doutrina enquanto, dez anos antes, não eram mais
de 18%.
As cifras crescem sem parar nos últimos
12 anos. Mostram de modo evidente que essa crença não se limita às margens do
Ganges, mas que exerce uma real força de sedução nas mentalidades ocidentais. A
multiplicação dos livros, artigos, programas televisivos, filmes, que se
prestam a gravá-la na inteligência, convida-nos a examiná-la atentamente.
Apresentação geral
A reencarnação, ou metempsicose, é uma
doutrina filosófica que prega a transmigração da alma, ao considerá-la
suficientemente independente do corpo para que não esteja ligada a ele de modo
exclusivo. Depois da morte, ela une-se a outro corpo para começar nova vida. A
alma é semelhante a um homem que tem de mudar-se regularmente. Em uma
determinada data, deixa necessariamente uma morada para ir habitar em outra. A
metempsicose distingue-se da reencarnação no que admite a migração das almas
nos animais e nas plantas, enquanto esta última a restringe ao gênero humano.
Uma breve exposição nos ajudará a
conhecer melhor tais doutrinas1. As
tribos animistas da África conservaram a religião das hordas ancestrais. Na
morte, a alma lamenta pelo seu corpo, desejando assim unir-se seja aos objetos
a que era apegada, seja aos animais ou mesmo aos seres humanos. As coisas ou
animais tornavam-se protetores da família dos descendentes. A metempsicose
encontra-se aqui mais próxima da superstição que da religião. Ainda que de modo
secundário, essa crença ressurge em uma forma mais elaborada no Egito das
pirâmides. Para os egípcios, a alma, depois da morte, vai juntar-se às estrelas
incontáveis (versão mais antiga), ou fundir-se na alma universal que habita o
sol (versão panteísta mais tardia). Por vezes, todavia, a alma do pecador pode
ser constrangida a entrar no corpo de um porco para que ali leve uma vida
miserável sobre a terra.
Tal doutrina aparece na Grécia por
volta do século VI a.C.. Desconhecida até então, logo adota um novo formato,
elaborado através do mito de Orfeu. Composto de um elemento mal e outro divino,
o homem deve se libertar do princípio maligno que quer governá-lo, para
permitir o triunfo da força divina. Logra-o por purificações sucessivas,
reiteradas ao longo de uma série de existências terrestres, até o ponto em que
se escuta dizer esta sentença liberadora: Bem-aventurado e feliz, serás deus
e não mais mortal2.
Pitágoras faz sua a
teoria. Mais ainda, afirma lembrar-se de todas as vidas anteriores, que faz
começar em Aitalides, filho de Hermes. Platão é mais prudente em seus escritos:
Em tal matéria, é impossível, ou pelo menos dificílimo, chegar a uma evidência.
(Fédon, 85) Contudo, sua concepção da metempsicose não é menos precisa. Na
morte, a alma passa uma estadia no inferno para um tempo de provações, depois
do que une-se por iniciativa própria aos seres que se lhe assemelham. Se a alma
encontra-se pura no momento da morte, i. é, isenta de todas as máculas do
corpo, é-lhe imposta não obstante uma provação de três mil anos, em meio de que
precisará sofrer três outras vidas terrestres, conservando a inocência. Só
então será fundida para sempre em um espírito divino, imortal e cheio de
sabedoria. Por outro lado, a alma dos tiranos e dos incorrigíveis viverá em uma
eterna infelicidade, unida aos seres corrompidos que se lhe assemelham. Quanto
àqueles cuja malícia não é invencível, podem reencarnar para se purificar e
avançar até à sabedoria. A despeito disso, mil anos de provação separam duas
encarnações sucessivas. Aristóteles considera com desdém o que chama de
“fábulas pitagóricas”3
Recusa-as baseado em graves razões filosóficas, que iremos examinar. A alma não
é estranha ao corpo. Constitui, com o corpo, um todo substancial, uma só
realidade concreta. Uma alma determinada dá o ser e aperfeiçoa um determinado
corpo: “Uma alma não pode entrar num corpo qualquer”4
No final do século II
antes de nossa era, a metempsicose passou da Grécia para Roma por intermédio do
poeta Ênio (239-169 a.C.). Aí parece ter sido admirada, já que descobrimos
menções a seu respeito em Horácio, Ovídio e Virgílio.
Mas é na Índia e no
Oriente Distante que a teoria da reencarnação encontrou sua terra de
predileção, conhecendo sucesso prodigioso. Notemos, antes de tudo, que os
livros védicos, levados pelos Arianos ao norte do país (2000 anos a.C.), não
davam qualquer sinal da metempsicose. Essa só aparece com os Upanishads (700
anos a.C.). Tal moral está subtendida por um princípio primordial: a felicidade
das almas consiste na fusão com a alma universal do tudo. A boa ação é a que
favorece o aniquilamento da personalidade, dos apetites, da atividade própria.
E, já que a fonte de todo mal é a sede de existência, o ato mal é o que a
alimenta. Enquanto a soma dos atos maus não for compensada pela dos atos bons,
a alma deverá renascer à vida terrestre. Ela será liberada dessa fatalidade
quando tiver apagado todo desejo de existir, quando tiver atingido a inação
absoluta, o vazio completo. É a absorção na alma universal (o brahma) ou
nirvana.
O budismo na China
retoma o mesmo pensamento, radicalizando-o. Como seu predecessor, segue a
destruição da personalidade, mas parece ignorar a alma suprema, a ponto de só
se interessar pelo nirvana em si mesmo. Acentua, destarte, o niilismo hindu.
Métodos ascéticos mui austeros são estabelecidos, a fim de se realizar o nada,
desobstando a reminiscência das vidas passadas.
No Oriente assim como
no Ocidente, a metempsicose nos parece como um fenômeno em contínua expansão.
Nada parece deter sua progressão. Nada, salvo o cristianismo. Com efeito, só o
formidável esforço da Igreja nos dois primeiros séculos de nossa era pôde
estancar tal doutrina. Em todo lugar onde o Evangelho foi pregado, ela caiu no
esquecimento ou teve de se esconder. No Ocidente, vemo-la refugiar-se na cabala
do século II. Qualquer alma, ensina ela, possui em si o princípio de seu
próprio aperfeiçoamento, devendo conduzi-la até à substância divina, onde
entrará depois de uma ou várias vidas terrestres.
Os gnósticos retomam
a mesma concepção dinâmica da reencarnação. Esta não é tão-somente punição
pelas faltas de vidas passadas, mas uma etapa da ascensão da alma à divindade
pelo impulso de seu próprio dinamismo interior.
Veiculada pela cabala
e pela gnose, tal pensamento é retomado, no século XVI, pelo matemático Jerome
Cardan (1501-1576) e pelo filósofo Giordano Bruno (1548-1600). O século XIX
fornece vários adeptos notórios desse pensamento, mas é contudo com a teosofia
e a antroposofia, no século XX, que o movimento toma um formidável alcance.
Tal é, por exemplo, o
vaticínio de Rudolf Steiner5,
fundador da antroposofia: “Quando superamos a ilusão do EU terrestre habitual,
escreve ele, quando logramos a visão espiritual, podemos reconhecer o EU tal
como atravessou o mundo espiritual entre a morte e um novo nascimento, e como
no seio desse mundo dotado de impulsos morais, ele se comporta em função de sua
vida terrestre precedente, e como introduz na vida terrestre atual tudo o que
vimos exprimir-se nas inclinações do ser humano (...). “Quando observo uma
planta, me é possível perceber que ela tem em si um impulso vital durável, que
reaparecerá em uma outra planta quando a primeira já estiver, muito tempo
depois, reduzida a cinzas.”6
Nos anos 60, com a
fascinação pela Índia, a expansão toma aspecto de um grande contágio.
Assistimos a uma verdadeira campanha orquestrada por todos os meios de
comunicação. Os livros se multiplicam, os testemunhos mais perturbadores são
transmitidos pelas ondas e telas7.
Logo, a “Nova Era” faz disso um de seus temas favoritos, dando a ele a eficaz
sustentação de sua organização e finanças. A propaganda alcançou um formidável
sucesso, o que constatamos até à hora presente.
Concluamos este
sobrevôo de séculos e civilizações por um comentário geral. O cônego Vernette
observa, com justeza, que a teoria da reencarnação não aparece nas diferentes
religiões nem no seu nascimento nem à sua idade de ouro, mas mormente em seu
declínio. Denuncia um certo desgaste, marca o fim de uma era. “A crença na
reencarnação parece surgir no momento das grandes crises de sentido: quando
buscamos uma nova resposta .religiosa. às questões metafísicas a respeito da
origem e do fim do homem, sobre o mal e o sofrimento”. A religião é sufocada e
torna-se impotente para responder as inquietudes do homem. Este, pois, se
refugia na metempsicose. Graças a ela, em primeiro lugar, nosso mortos não nos
deixam mais, mas continuam a viver entre nós. Ela também nos vêm consolar de
nossos fracassos e de nossa impotência em fazer o bem, fazendo-nos crer que uma
outra vida nos tornará melhores. Nada está definitivamente decidido. O
sofrimento toma um novo sentido. Não é mais um escândalo revoltante para os
não-cristãos, mas a justa expiação de uma vida anterior. Enfim, essa doutrina
nos dá serenidade para enfrentar os males do tempo presente. Os cataclismos e a
morte são apenas passagens obrigatórias para uma nova existência mais feliz. O
“paraíso terrestre” permanece sempre possível. Compreendemos melhor a força de
sedução que essa doutrina exerce sobre os espíritos deste fim de século XX. Mas
a metempsicose cumpre suas promessas? Tem alguma possibilidade de conduzir o
homem à felicidade? É crível? É verdadeira?
Para responder,
devemos examinar tal doutrina de um duplo ponto de vista: o da fé e o da razão
natural.
O OLHAR DA FÉ
O sistema de
pensamento que analisamos pretende reger o destino do homem, sua felicidade
eterna e os meios de alcançá-la. Ora, essa questão interessa ao principal chefe
da doutrina da Igreja católica que, como guardiã da revelação, ensina-nos as
verdades necessárias à salvação. O primeiro dever do cristão é questionar a
Igreja sobre a nova teoria. A confrontação é tanto mais oportuna quanto
numerosos são os que afirmam poder fazer coexistir metempsicose e fé católica.
Um novo sistema
Sabemos que o ensino
da verdade na Igreja é essencialmente Tradição. Não se trata de inventar novas
doutrinas nem de ser original, trata-se de transmitir fielmente a revelação de
Nosso Senhor Jesus Cristo. A força dessa doutrina reside precisamente em que ela
pode se apoiar na autoridade mesma de Deus. O exemplo vem do alto, pois Nosso
Senhor mesmo dizia tirar de um outro o que entregava ao seus discípulos: “As
palavras que vos digo não as digo de mim mesmo; mas o Pai, que permanece em
mim, é que realiza as suas próprias obras.” (Jo 14,10)8 Os
apóstolos seguiram o exemplo do divino Mestre. .Eu transmito o que recebi., diz
São Paulo, que também alerta os habitantes da Galácia: “Mas, ainda que alguém ―
nós ou um anjo baixado do céu ― vos anunciasse um evangelho diferente do que
vos temos anunciado, que ele seja anátema. Repito aqui o que acabamos de dizer:
se alguém pregar doutrina diferente da que recebestes, seja ele excomungado!”
(Gl 1, 8-9) É ainda o ensinamento de São Vicente de Lérins (morto em 450), que
traduziu o pensamento de toda a Igreja: “Guarda o depósito da fé (Tm 6, 20).
Mas que é esse depósito? É o que te foi confiado, e não o que foi achado por
ti; é o que recebeste, não o que inventaste. Não é questão de invenção pessoal,
mas de doutrina; não de uso privado, mas de Tradição pública (...). Tu não
deves ser autor, mas guardião (...), conserva intacto e sem mancha o talento da
fé católica. O que te foi confiado é o que deves guardar, depois passá-lo a seu
tempo. Tu recebeste ouro, dê ouro, não substitua imprudentemente o ouro pelo
chumbo.”9 Ora,
há um traço comum a todas versões da metempsicose que encontramos, a saber: são
elaboradas fora da autêntica revelação, não encontramos traço algum delas nas
Sagradas Escrituras ou na Tradição. Tal característica de novidade é
suficiente, por si mesmo, para desqualificá-las, ao primeiro olhar católico.
Em toda a história da
Igreja, só um doutor renomado adota a tese da reencarnação, Orígenes (185-254).
Ele cria ter encontrado nela um meio de aliar à fé católica a doutrina
platônica da pré-existência das almas. Mais, fá-lo com circunspeção e a modo de
pesquisa. Todavia, ainda que tivesse alguns discípulos, não constitui em nada
uma tradição da Igreja. Orígenes foi energicamente criticado por numerosos
doutores (São Pedro de Alexandria, São Metódio de Olímpia, São Gregório de
Nissa) e sua doutrina condenada em um concílio em 402. Santo Agostinho resume o
pensamento de todos “Estou deveras surpreso, pois não se diria que um homem tão
hábil, tão experimentado nos santas letras, não tenha percebido quão tudo isso
está distante da Santa Escritura.”10
O magistério
Se o senso católico
não pode sustentar a tese da reencarnação devido à sua novidade, rejeita-o
radicalmente pela leitura dos documentos do magistério. Essa tese não é
tão-somente estranha à Tradição, mas é explicitamente condenada pela Igreja.
La Documentation
Catholique de fevereiro de 1962 (nº 1370, col. 248) publica os resultados dos
trabalhos da Comissão Teológica preparatória do II Concílio Vaticano. O
capítulo sobre os erros modernos contém um parágrafo a respeito da
reencarnação: “É a teoria da reencarnação estreitamente ligada ao espiritismo,
em que revivem certas crenças antigas vindas do paganismo relativas à
metempsicose. Ela foi explicitamente condenada pelo II Concílio de
Constantinopla, em 533. O II Concílio de Lyon, em 1274, e o Concílio de
Florença, em 1439, condenaram indiretamente a teoria da passagem da alma de um
corpo humano a outro, ao afirmar que o julgamento definitivo se dá
imediatamente, após a morte. Mas o erro, qual erva daninha, rebrota sem parar
com variantes sutis destinadas a torná-la nova e novamente aceitável;
simplesmente muda de nome. A vigilância da Igreja não se deixa enganar e a
reencarnação, apresentada sob as falsas aparências científicas da teosofia, foi
condenada, também ela, pelo Santo Ofício em 1919” 11.
O Concílio de
Constantinopla exprime-se assim: “Se alguém diz ou pensa que as almas dos homem
pré-existem, no sentido em que elas eram antes espíritos e santas potestades
que, afastadas da contemplação de Deus, dirigir-se-iam a um estado inferior; e
que, por tal motivo, a caridade de Deus se arrefeceria nelas ― o que as faz
chamar em grego de “almas” ―12, e
que teriam sido conduzidas a corpos para sua expiação, que seja anátema” 13.Esses autorizados
julgamentos da Igreja incita-nos a prosseguir nossa pesquisa, tratando de pôr à
nu os diversos pontos de conflito entre a metempsicose e o dogma católico.
Veremos que, por si só, a teoria contradiz um grande número de artigos de fé.
O julgamento particular
Robert Laffont,
diretor da editora que leva seu nome, afirmava sua crença na metempsicose nos
seguintes termos: “A reencarnação é a possibilidade de ter outras oportunidades.
Esta longa busca para alcançar algo de melhor me parece filosoficamente a
solução mais justa. Essa solução coaduna melhor a minha noção de além” 14.
“A possibilidade de ter outras oportunidades”: trata-se da expressão de um
desejo. Manifesta um dos elementos fundamentais dessa doutrina: a recusa de um
julgamento imediato e definitivo logo após a morte, o secreto desejo de adiar,
indefinidamente, o instante em que aparecerão, à luz meridiana, a
responsabilidade de nossos atos e a malícia de nosso pecados; em que Deus nos
pronunciará, com toda justiça, uma sentença irreversível. Ora, essa fuga do
julgamento contradiz a revelação. São Paulo afirma claramente na epístola aos
Hebreus: “É destino do homem morrer uma só vez, e depois segue-se o julgamento”
15. O
comentário que a edição de Pirot e Clamer dá sobre isso é eloqüente: “O que
confirma o caráter definitivo da morte é que ela é seguida do julgamento que
fixa, para sempre, a fortuna do homem. O pensamento é que, à morte, tudo acaba,
só restando esperar o julgamento, a sanção suprema da vida”16.Numerosos
documentos do magistério confirmam tal doutrina. O II Concílio de Lyon (1274)
ensina que as almas que não fizeram penitência bastante por suas faltas são
purificadas após a morte, “post mortem purgari”. Os santos, enquanto tais, são
logo acolhidos no céu, “mox in coelum recipi”, e os que morrem em estado de
pecado mortal são logo lançados ao inferno, “mox in infernum descendere” (DS
858). O papa Bento XII retoma as mesmas expressões em sua constituição
Benedictus Deus de 29 de janeiro de 1336 (DS 1002), tal como o Concílio de
Florença de 1439 (DS 1304). O Catecismo do Concílio de Trento põe ao alcance de
todos o ensinamento da Igreja de sempre: “O primeiro julgamento acontece no
momento em que acabamos de deixar a vida. Nesse mesmo instante, cada um parece
diante do tribunal de Deus, sofrendo aí um rigoroso exame de tudo o que fez,de
tudo o que disse, de tudo o que pensou durante a vida. É o que chamamos
julgamento particular” 17
A teoria da
reencarnação aparece pois já como uma vã tentativa de o homem evitar o
inevitável, um refúgio para se esconder desse julgamento inexorável, termo de
toda vida humana.
O purgatório
“Admito o dogma do
julgamento particular, responderá um adepto da metempsicose, mas, por isso
mesmo, essa sanção é o ciclo de renascimentos que professo. A sucessão de vidas
terrestres nada mais é que a expiação das faltas passadas.” Em outros termos,
se admite a existência do julgamento após a morte, nosso homem nega a ela a
sentença, a saber, o purgatório. A doutrina católica ensina, com efeito, que à
morte, a alma está definitivamente fixada, seja no bem, seja no ódio ao bem.
Não há mais tempo para uma conversão, ou para possíveis variações da vida aqui
em baixo. Demais, os sofrimentos do purgatório são a expiação das faltas
passadas, mas eles não são meritórios. Não obtêm graças adicionais para alma.
Ora, a existência do
purgatório é firmemente atestada pela Santa Escritura e pela Tradição. Desde o
século II a.C, Judas Macabeu ordenava uma coleta para poder oferecer como
sacrifício no templo de Jerusalém, pelo pecados daqueles eram mortos em
combate. O II Macabeus assim comenta essa iniciativa: “Belo e santo modo de
agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que
os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se
ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era
esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício
expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas” (2 Mc 12, 43-46) A
Escritura, divinamente inspirada, afirma pois que existe um estado doloroso de
que se faz mister libertar-se, que será provisório, pois será seguido de uma
“bela recompensa” e de que se é libertado pelas orações e sacrifícios dos
vivos. São Roberto Belarmino conta nove textos do Novo Testamento que provam,
pelo menos indiretamente, a existência do purgatório. Não entraremos em
discussões complicadas suscitadas por tais citações, já que a existência da
expiação após a morte está suficientemente fundada pela Tradição constante da
Igreja18.
Clemente de
Alexandria distingue, entre os homens, os corrigíveis e os incorrigíveis. A
primeira categoria se compõe das almas dos pecadores reconciliados com Deus no
momento de sua morte, mas que não tiveram tempo de fazer penitência. A
propósito dessas almas, “a justiça de Deus se dará com bondade e sua bondade se
dará conforme sua justiça”. Essas expiações são necessárias, diz-nos, são
“necessárias para alcançar a morada reservada”19. A beatitude obtém-se depois de um
tempo de purificação. Tal ensinamento será desenvolvido com largueza à partir
do século IV por São Cirilo de Jerusalém, São Basílio e São Gregório
Nazianzeno. Outra fonte da fé no purgatório é a prática da oração aos defuntos.
Alguns textos apócrifos do Novo Testamento, ainda que privados da autoridade da
Igreja e possuírem por vezes doutrina errada, não contém disso menos
testemunhos interessantes. Os Acta Pauli et Theclae (160) contam que a rainha
Trifene presenciou, em sonho, sua filha morta pedir-lhe que recorresse às
orações de Tecla: “Ora por minha criança, para que viva para a eternidade”20.
O autor dos Acta
Joannis conta que o apóstolo João teria ido ao túmulo de uma cristã, três dias
após a morte dessa, para aí celebrar o sacrifício da missa21.
A antiga versão
latina da Didascália (escrito do seéculo III) é explícita: “Nas comemorações,
reuni-vos, lede as Santas Escrituras e oferecei orações a Deus; e oferecei
doravante a eucaristia real, que é imagem do corpo real do Cristo, tanto em
vossas coletas como no cemitério; o pão puro que o fogo purificou e que a
invocação santifica, oferecei-o orando aos mortos”22. Tais considerações não nos afastam de nosso
assunto. Mostram-nos que, longe de ser invenção tardia dos teólogos, a doutrina
do purgatório faz parte do tesouro da fé de sempre. É pois revestida da
autoridade de Deus, relegando assim à categoria de fábulas as teorias da
metempsicose ao além.
O inferno
Junto à doutrina do
purgatório, a do inferno é vista a partir da metempsicose. A maioria dessas
versões procede, com efeito, de um otimismo inato. A vida humana não se poderia
rematar por um fracasso. A série das vidas terrestres só pode terminar em
alegria absoluta e eterna. A existência do inferno é ensinada mui
insistentemente no Evangelho para que se necessite nos determos aqui. A
história do mau rico e do pobre Lázaro resume tal ensinamento: “Ora, aconteceu
morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o
rico e foi sepultado. E estando ele nos tormentos do inferno, levantou os olhos
e viu, ao longe, Abraão e Lázaro no seu seio. Gritou, então: - Pai Abraão,
compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe em água a ponta de seu dedo, a fim
de me refrescar a língua, pois sou cruelmente atormentado nestas chamas.
Abraão, porém, replicou: - Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em vida,
mas Lázaro, males; por isso ele agora aqui é consolado, mas tu estás em
tormento. Além de tudo, há entre nós e vós um grande abismo, de maneira que, os
que querem passar daqui para vós, não o podem, nem os de lá passar para cá”.
(Lc 16, 19-31)
A ressurreição dos corpos
Os cristãos entoam,
com confiança, no Credo: et exspecto resurrectionem mortuorum, espero a
ressurreição dos mortos. Após as vicissitudes desta vida, além do desfazimento
da morte, esperam não somente a beatitude d’alma, mas a do corpo. No final dos
tempos, os corpos serão chamados à vida, a uma eternidade de alegria ou
infelicidade.
Deus quis ensinar-nos
essa verdade com particular solenidade, na Santa Escritura23.
São Paulo mostra o laço entre a ressurreição dos homens e a do Cristo: “Ora, se
se prega que Jesus ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns de vós que
não há ressurreição de mortos? Se não há ressurreição dos mortos, nem Cristo
ressuscitou. Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a
vossa fé. Com efeito, se por um homem veio a morte, por um homem vem a
ressurreição dos mortos”. (1 Cor 15, 12-21)
A Tradição e o
magistério da Igreja retomam o mesmo ensinamento. “Assim, o exemplo de nosso
Chefe faz-nos confessar que há uma verdadeira ressurreição da carne para todos
os mortos. Não cremos que ressuscitaremos em um corpo pneumático ou em outra
espécie de corpo, de acordo com as divagações de alguns, mas neste corpo com
que vivemos, existimos e movemos. Nosso Senhor e Salvador, tendo dado o modelo
dessa santa ressurreição, retomou por sua ascensão o trono paternal que sua
divindade jamais abandonara” 24.
Esse dogma lança uma
clara luz sobre o composto humano. Assim como o corpo é o instrumento da alma
nesta vida terrestre, é o seu companheiro pela eternidade. A glória que inundará
a alma dos eleitos refletirá no corpo. Esse, tendo combatido e sofrido pela
alma, participará de sua recompensa. Mas aquele que, ao contrário, foi seu
cúmplice no pecado, seguirá a ele na pena. “Porque teremos de comparecer diante
do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o
mal que tiver feito enquanto estava no corpo”. (2 Co 5, 10).
Isso contradiz a
metempsicose? Uma observação somente permitirá responder. Se, desde sua criação
até sua entrada na beatitude, a alma deve atravessar por diversas vidas
terrestres, se se une sucessivamente a vários corpos, qual deles reconhecerá à
ressurreição? Com qual estará associada a eternidade da alma e quais serão
rejeitados? Uma minoria de corpos humanos existentes ressuscitará. Tal
concepção opõe-se radicalmente à magnífica revelação da ressurreição de todos
os corpos; não vai ela ainda de encontro ao desejo de imortalidade presente no
coração do homem? Não temos uma sede de duração, não apenas para nossa alma,
mas também para nosso corpo? A morte não é uma violência feita à natureza? O
corpo concreto com que vivo, penso, comunico-me com outros, não é um amigo?
Melhor ainda, não é parte necessária de mim? Como vemos, a doutrina da
reencarnação constitui uma divisão no próprio cerne do ser humano. O corpo é
separado d’alma, o qual se rebaixa à posição de uma velha veste que arrojamos
após usar, ficando para sempre privado da felicidade da alma.
O sofrimento do justo
Outrora, Albert Camus
propugnava esse grito de revolta: “Recusar-me-ei até à morte amar uma criação
em que crianças são torturadas”25. A
frase traduz o escândalo que representa para o espírito humano o sofrimento do
justo. Aceitamos de boa vontade que um culpado seja punido, mas nos é
insuportável que um inocente sofra. O homem se escandaliza diante do mistério
do mal; ele recorre a deuses tiranos ou arroja-se em cega revolta, mas não acha
saída. E é nessa perspectiva que a metempsicose se situa. Antes de rejeitar um
fato universal, interpretamo-lo: o malvado expia pelo sofrimento suas faltas
presentes; o justo paga a dívida acumulada em sua vidas anteriores.
Orígenes concluiu
destarte sua tentativa de justificação da reencarnação: “Desta feita, nem Deus
é injusto, dando a cada coisa seu lugar segundo seus méritos, nem os bens ou os
males da vida são distribuídos ao acaso”26.
As conseqüências desastrosas dessa mentalidade, especialmente na Índia,
levantam suspeitas. Se tal homem está doente, por que curá-lo? Isso é apenas
justiça, já que paga a dívida pelas faltas passadas. Deve-se aceitar o curso
dos acontecimentos sem nada mudar. Sabemos quais os frutos desse fatalismo.
Ademais, encontramos uma refutação pertinente dessa justificação da
metempsicose à modo de justiça, em um autor do século X, Enéias de Gaza
(450-520). Os males dessa vida são as penas pelas faltas de nossas vidas
anteriores? Não obstante, uma punição só pode cumprir seu papel se faz
referência a uma falta de que lembramo-nos.
“Quando puno meu
filho ou meu servo, antes de lhes infligir um castigo, repito-lhes várias vezes
a razão por que os puno, recomendando-lhes que se lembrem dela, a fim de não
recair na falta; e Deus, que estatuiu contra as faltas as piores expiações, não
informaria aos que Ele punisse do motivo por que os punia, mas lhes apagaria a
lembrança de suas faltas ao mesmo tempo em que lhes daria um intenso sentimento
da pena! De que serviria pois a pena se ela deixasse ignorar a falta? Só
exasperaria o culpado, levando-o à demência. Ele não teria o direito de acusar
seu juiz acaso fosse punido sem ter consciência de ter cometido qualquer
falta?”27.
Como podemos ver, a metempsicose, à guisa de pretender resolver o problema do
sofrimento, torna-o mais tenebroso e inaceitável. Todavia, essa falsa solução
possui um efeito mais funesto: ela se intromete diretamente no mistério da
redenção.
De fato, o sofrimento
é fruto do pecado original que cada homem herdou através da geração. Mas Deus
quis, por uma superabundância de amor, encarnar-se, conhecer o sofrimento e a
morte, e vencê-las, santificá-las, fazendo-lhes instrumento da salvação. Por
obra da redenção, o sofrimento mudou de rosto, tornando-se redenção e ponto de
encontro com Deus. Recusar o sofrimento do inocente é rejeitar o justo que
sofre por excelência, Nosso Senhor Jesus Cristo, o Altíssimo, o Santo, o Verbo
Eterno que nos vem visitar em nossa miséria, tirando o pecado do mundo. Para
preparar nossos corações para esse evento tão desconcertante, Deus nos deu uma
prefiguração no santo varão Jó. Esse homem era .íntegro, direito, temente a
Deus, apartado do mal. (Jb 1, 1). Deus permitiu que ele fosse afligido de todos
os males pelo demônio. Perdeu seus filhos, todos os seus bens, foi cumulado das
doenças mais repugnantes. Não lhe faltou amigos que lhe pintavam com gravidade
que tal flagelo só poderia ser o preço de faltas encobertas. Contudo, Jó
permaneceu sereno sob as novas humilhações, pondo sua confiança em Deus, Que
conhece a profundeza dos corações. Deus abençoou Jó por sua constância, e o “restabeleceu
de novo em seu primeiro estado e lhe tornou em dobro tudo quanto tinha
possuído”. (Jó 42, 10).
Para o que tem fé, o
sofrimento não é mais ocasião de queda, mas um auxílio à obra da salvação. Pode
ser procurada voluntariamente a fim de reparar, por amor, as ofensas feitas a
Deus, estando unido ao Cristo sofredor. Não está necessariamente ligada ao
demérito das almas, mas, pelo contrário, pode ser sinal de predileção de Deus.
Constatação de impotência
Permitam-nos pôr uma
questão aos adeptos da metempsicose. Quais os meios concretos e eficazes
propõem ao homem para que se salve? Quais remédios pode tomar para corrigir sua
natureza ferida pelo pecado, aperfeiçoando-se?
De fato, as
diferentes versões da doutrina elaboram variados sistemas de vidas terrestres,
de tempos de provações, de espera, de exercícios de reminiscência, de
esquecimento ou destruição do corpo. Mas um ponto os une: nesse logo caminho em
direção à felicidade, o homem está entregue a si mesmo, não havendo outra
energia, a fim de progredir, senão os princípios internos de sua natureza
decaída. É pela força do punho que se deve içar à perfeição desejada. Desta
forma, a metempsicose não somente alonga indefinidamente o caminho em direção à
beatitude, mas também não fornece suficiente energia para o percorrer. Em suma,
longe de ser a misericórdia que eleva o homem acima de si, abandona-o em sua
fraqueza. Ela possui essa cruel impotência, que faz cintilar aos olhos do homem
os maravilhosos porvires, mas interdita-lhes o acesso, encerrando-o em sua
fragilidade28.
As páginas do Evangelho têm outro sabor. Como é doce escutar Nosso Senhor
dizer-nos: "Misericordiam volo, eu quero a misericórdia”. (Ma 9, 13), “não
são os homens de boa saúde que necessitam de médico, mas sim os enfermos” (Lc
5, 31), “se alguém tiver sede, venha a mim e beba” (Jo 7, 37), “vinde a mim,
vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28),
“quem crê em mim tem a vida eterna” (Jo 6, 47), “basta-te minha graça” (2 Cor
12, 9), “a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o
poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1, 12).
Bem longe de nos
abandonar à nossa sorte, Deus vem a nós, através da graça, para nos levar ao
céu. “Porque é Deus quem, segundo o seu beneplácito, realiza em vós o querer e
o executar” (Fl 2, 13), diz-nos São Paulo. Ainda, o apóstolo resume
magnificamente a obra de salvação realizada por Deus em nós: “Eu vivo, mas já
não sou eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20). O móvel da vida cristã é a
presença da Santíssima Trindade na alma e seu cortejo de graças sobrenaturais,
de virtudes e de dons do Espírito Santo. “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,
5).
Porventura,
poderíamos encontrar um contraditor irredutível que se obstinasse a querer
esposar essas belas verdades com a reencarnação. Uma simples observação bastará
para respondê-lo. Para santificar o homem de modo que corresponda à sua
natureza (corporal e espiritual), para que tenha certeza de ter recebido a graça,
Deus instituiu determinados ritos, compostos de realidade material (o rito
propriamente dito) e de realidade espiritual (a graça conferida): são os sete
sacramentos. Ora, entre esses, três não se limitam apenas em transmitir a
graça, mas imprimem na alma uma marca, um “caráter” indelével. Ela é
transformada em seu âmago pela eternidade, o que faz que tais sacramentos não
possam ser reiterados. Se se faz mister adotar a teoria da reencarnação,
encontramo-nos diante de uma dificuldade insolúvel! Que pensar do bebê que
apresentamos ao batismo? Nesse caso, seria sacrilégio batizá-lo. E que dizer do
sacerdote? A criancinha que brinca de boneca não fora padre em uma vida
passada? Antevemos as situações indestrinçáveis e as contradições a que
infalivelmente conduz a reencarnação.
As principais queixas
que levantamos contra a metempsicose bastam para esclarecer sua oposição
radical com a fé católica, e até contra qualquer tentativa de resgate do homem29.
Apesar disso, os
argumentos de autoridade que adiantamos não poderiam convencer a grande maioria
dos defensores dessa teoria, uma vez que não são católicos. Eis o porquê
devemos prolongar nosso estudo por uma reflexão filosófica. A transmigração das
almas é verdadeira, ou mesmo possível em face à razão humana? Os fatos que
aditamos para censurá-la não possuem outras explicações? Esse é o objeto de
nossa segunda parte.
Tradução: Permanência.
Originalmente publicado em Le Sel de la Terre no. 11.
1.
Pedimos emprestadas as considerações históricas a R. Medde, La métempsychose,
DTC, col. 1574 et sq.
2. Christus,
Manuel d’histoire des religions, c. 8, La religion des Grecs, Joseph Huby,
Beauchesne, Paris, 1923, p. 468.
3. De
Anima, l. I, c. 3, 407 b, Marietti, Turin, 1959, p. 30.
4.
Idem.
5. Rudolf
Steiner, conferência em Bâle, 9 de abril de 1923, Éditions Anthroposophiques
Romandes, Genève, 1986, p. 36.
6. Rudolf
Steiner, Les degrés de la connaissance supérieure, mesma editora, 1985, p. 38.
7. Assinalemos
bem próximo a nós: sobre o filme "Manika, une vie plus tard" de
François Villiers (lançado em Paris a 14 junho de 1989), um artigo de Annick
Lacroix: "La réincarnation est-elle possible?", Madame-Figaro, julho
de 1989, dá a palavra a numerosas personagens célebres e adeptas dessa
doutrina, sem lhes opor a menor crítica. Jean Vernette, Le Nouvel Age, Édition
Téqui, Paris, 1990, p. 120.
8. Ver
também Jo 5, 19 ; 7, 16 ; 8, 28.38.42.50 ; 12, 49.
9.
São Vicente de Lérins, Commonitorium, c. 22, p. 50, t. 50, col. 667, traduction
française : Michel Meslin, Édition du Soleil Levant, Namur, Belgique, 1959, p.
100.
10. Santo
Agostinho, De civitate Dei, l. 11, c. 25.
11. A
Comissão Teológica preparatória do Concílio foi constituída em 1960, a pedido
do papa João XXIII e posta sob a autoridade do cardeal Ottaviani. Durante dois
anos, ela dedicou um intenso trabalho que lhe permitiu apresentar ao concílio
projetos de esquemas de mui boa qualidade. A precisão dos termos, as numerosas
referências ao magistério e o zêlo contra os erros contrastam com as novidades
e a ambigüidade dos decretos conciliares. Desde a primeira reunião do concílio,
o conjunto dos trabalhos da Comissão Teológica preparatória foi rejeitado em
bloco pelas manobras ilegais do cardeal Liénart e dos cardeais progressistas. O
texto que citamos não faz parte do magistério oficial, mas exprime o pensamento
da Igreja de sempre, bastando para mostrar o que poderia ter sido um concílio
católico deste fim de século XX.
12. Orígenes
cria que a alma vinha do frio, denotando pois uma certo arrefecimento de um
estado melhor, a perda do calor divino. (De Principio. II, VIII, 3 ; PG IX,
col. 222)
13. G.
Dumeige, La foi catholique (F.C.), p. 159.
14.
Annick Lacroix, "La réincarnation est-elle possible ?" Madame Figaro
p. 88. A seqüência da intervenção não deixa de ser interessante; deixemo-lo ao
julgamento de nosso leitor: “Vários de meus autores [preferidos] curvaram-se
sobre esse problema e alguns encontraram diversas origens extraordinárias. Uma
vez, fiz uma sessão de ondas alfa. Só conseguia ver folhas, quando [de repente]
acreditei ser um esquilo. Repentinamente, tive um deslumbramento, sendo
transportado para uma paisagem colorida, cercada de gente vestida como na Idade
Média. Eu participava daquela vida sem saber que estava entre eles. A sessão
foi interrompida, mas não recomecei”.
15.
"Statutum est hominibus semel mori, post hoc autem iudicium." (He 9,
27)
16. A
Santa Bíblia, Pirot et Clamer, Letouzey, Paris, 1938, t. 12, p. 340.
17.
Catecismo do Concílio de Trento, publicação da revista Itinéraires, Paris,
1969, p. 80.
18. As
duas passagens mais utilizadas do Novo Testamento em favor do purgatório são as
de Ma 12, 31-32 e 1 Cer 3, 11-15. “Todo pecado e toda blasfêmia serão perdoados
aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não lhes será perdoada. Todo o
que tiver falado contra o Filho do Homem será perdoado. Se, porém, falar contra
o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste século nem no século
vindouro.”; “Quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso daquele que
já foi posto: Jesus Cristo. Agora, se alguém edifica sobre este fundamento, com
ouro, ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com
palha, a obra de cada um aparecerá. O dia (do julgamento) demonstrá-lo-á. Será
descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a
construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará
com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do
fogo.” Destaquemos também essa oração de São Paulo, que parece indicar que
Onesíforo está morto à data em que o apóstolo escreve. Essa passagem seria pois
um registro relevante: “O Senhor conceda sua misericórdia à casa de Onesíforo,
que muitas vezes me reconfortou e não se envergonhou das minhas cadeias! Pelo
contrário, quando veio a Roma, procurou-me com solicitude e me encontrou. O
Senhor lhe conceda a graça de obter misericórdia junto do Senhor naquele dia.”
19.
DTC, “Purgatoire”, col. 1193.
20.
DTC, “Purgatoire”, col. 1197.
21.
Idem.
22.
Idem, col. 1198.
23. O
Catecismo do Concílio de Trento destaca daus passagens do Antigo Testamento
para apoiar tal doutrina: “Por detrás de minha pele, que envolverá isso, na
minha própria carne, verei Deus” (Jó 19, 26) " Muitos daqueles que dormem
no pó da terra despertarão, uns para uma vida eterna, outros para a ignomínia,
a infâmia eterna." (Dn 12, 2)
24.
XI Concílio de Toledo, 7 de novembro de 675, F.C., nº 27.
25.
Albert Camus, La Peste, Gallimard, 1947, p. 199.
26.
Orígenes, De Principio, II, 9, 4; PG, t. 11, col. 231.
27.
Enéias de Gaza, Teofrasto, PG, t. 85, col. .871-1004.
28.
”Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: Quem pode então
salvar-se? Olhando Jesus para eles, disse: Aos homens isto é impossível, mas
não a Deus; pois a Deus tudo é possível.” (Mc 10, 26)
29.
Nosso estudo não tem a pretensão de ser exaustivo. Por exemplo, pegaremos
apenas um dos argumentos contra a reencarnação na instituição e no rito da
extrema unção.
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