A Igreja é humana e no seu nível humano está actualmente a sofrer uma
dolorosa paixão, participando na Paixão de Cristo.
Transcrevemos parte de entrevista concedida
por Dom Athanasius Schneider, blog Rorate Caeli em 2016, original aqui,
entre os temas abordados, a Santa Missa.
D. Athanasius Schneider: As lições mais profundas que aprendi ao
celebrar o Rito Tradicional foram estas: Sou apenas um simples instrumento de
uma acção sobrenatural muitíssimo sagrada, cujo principal celebrante é Cristo,
o Eterno Sumo Sacerdote. Sinto que durante a celebração da Missa perdi de certa
forma a minha liberdade individual, uma vez que as palavras e gestos são
prescritos até nos mais ínfimos pormenores e não posso descartá-los. Sinto
profundamente no meu coração que sou apenas um servo e um ministro, que embora
tenha livre arbítrio, com fé e amor, cumpro não a minha vontade, mas a vontade
de Outro.
O Rito Tradicional e mais que milenar da Santa Missa, que nem o Concílio de
Trento modificou porque o Ordo Missae antes e depois do Concílio eram quase
idênticos, proclama e poderosamente evangeliza a Incarnação e a Epifania da
indescritível santidade imensa de Deus, que na liturgia como "Deus conosco"
e "Emanuel" se torna tão pequeno e perto de nós. O Rito Tradicional
da Missa é uma obra de arte e, ao mesmo tempo, uma proclamação do Evangelho,
que realiza o trabalho da nossa salvação.
De acordo com a intenção do Papa Bento
XVI, e as normas claras da Instrução Universae Ecclesiae, todos os seminaristas
Católicos devem saber a forma tradicional da Missa e ser capazes de a celebrar.
O mesmo documento diz que esta forma é um tesouro para toda a Igreja - e
portanto para todos os fiéis.
O Papa João Paulo II fez um apelo urgente
a todos os bispos para acomodar generosamente o desejo dos fiéis em relação à
celebração do Rito Tradicional da Missa. Quando os clérigos e bispos põem
entraves ou restringem a celebração da Missa Tradicional, não estão a obedecer
ao que o Espírito Santo diz à Igreja, e estão a agir de um modo muito anti
pastoral. Não se comportam como os detentores do tesouro da liturgia, que não
lhes pertence, uma vez que são só os administradores.
Ao negar a celebração da Missa Tradicional
ou ao obstruir e a discriminar, comportam-se como um administrador infiel e
caprichoso que, contrariamente às instruções do pai da casa - tem a despensa
trancada ou como uma madrasta má que dá às crianças uma dose deficiente. É
possível que esses clérigos tenham medo do grande poder da verdade que irradia
da celebração da Missa Tradicional. Pode comparar-se a Missa Tradicional a um
leão: soltem-no e ele defender-se-á sozinho.
Temos de acreditar firmemente: A Igreja
não é nossa, nem do Papa. A Igreja é de Cristo e só Ele a detém e lidera
infalivelmente mesmo nos períodos mais negros de crise, como de facto está a
nossa situação.
É uma mostra do Divino carácter da Igreja. A Igreja é essencialmente um
mistério, um mistério sobrenatural, e não podemos aproximarmo-nos dela como
fazemos a um partido político ou uma sociedade puramente humana. Ao mesmo
tempo, a Igreja é humana e no seu nível humano está actualmente a sofrer uma
dolorosa paixão, participando na Paixão de Cristo.
Podemos pensar que a Igreja nos nossos
dias está a ser flagelada como foi Nosso Senhor, está a ser despida como foi
Nosso Senhor na décima estação da Via Sacra. A Igreja, nossa Mãe, está atada
por cordas não só pelos inimigos da Igreja, mas também por alguns dos
colaboradores das classes do clero, e até mesmo do alto clero.
Todos os bons filhos da Mãe Igreja, como
corajosos soldados, devem tentar soltar esta Mãe - com as armas espirituais de
defesa e proclamação da verdade, promovendo a liturgia tradicional, adoração
Eucarística, a cruzada do Santo Terço, a batalha contra o pecado na sua vida
particular e aspirar à santidade.
Temos de rezar para que o Papa consagre explicitamente a Rússia ao
Imaculado Coração de Maria com brevidade, para que então Ela possa vencer, como
a Igreja rezou desde a antiguidade: "Alegrai-vos, ó Virgem Maria, porque
sozinha derrotastes todas as heresias do mundo inteiro" (Gaude, Maria
Virgo, cunctas haereses sola interemisti in universo mundo).
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