Tradução: Luiz Fernando Karps Pasquotto
Policarpo e os
presbíteros que estão junto dele, à Igreja de Deus que está em Filipos: Piedade
a vocês, e paz do Todo-poderoso Deus, e do Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador,
sejam multiplicadas.
I. Exortação aos
Filipenses
Tenho me alegrado
grandemente convosco em nosso Senhor Jesus Cristo, pois vocês têm seguido o
exemplo do verdadeiro amor [como mostrado por Deus], e tenho acompanhado, assim
como vocês, todos aqueles que estão acorrentados, os ornamentos dos santos, e
aqueles que são de fato os diademas dos verdadeiros eleitos de Deus e de nosso
Senhor; e porque as fortes raízes de vossa fé, falando de dias a muito tempo
transcorridos, suportaram até agora, e trouxeram frutos a nosso Senhor Jesus
Cristo, que por nossos pecados sofreu até a morte, [mas] "que Deus
ressuscitou da morte, tendo afrouxado as faixas do túmulo". "No qual,
embora não O vejam, acreditem, e acreditando, regojizem-se em inexprimível
alegria e cheios de glória"; onde todos os homens desejam entrar, sabendo
que "pela graça vocês serão salvos, não pelas obras", mas pela
vontade de Deus através de Jesus Cristo.
II. Exortação à
Virtude.
Por causa disso,
cinjam suas cinturas, "sirvam o Senhor no temor" e na verdade, como
aquele que tem renunciado ao inútil, as conversas vãs e os erros da multidão, e
"acreditado nAquele que ressuscitou nosso Senhor Jesus Cristo da morte, e
Lhe deu a glória", e um trono a sua direita. Por Ele todas as coisas no
Céu e na Terra estão subordinadas. A Ele todo espírito serve. Ele vem como o
Juiz dos viventes e dos mortos. Deus pedirá conta do sangue dEle por aqueles
que não acreditam nEle. Mas Aquele que ressuscitou dentre os mortos também nos
ressuscitará, se fizermos sua vontade e seguirmos seus mandamentos, e se
amarmos o que Ele amou, abstendo-nos de toda injustiça, arrogância, amor ao
dinheiro, murmurações, falsos testemunhos, "não pagando mal por mal,
injúria por injúria", golpe por golpe, maldição por maldição, mas sendo
misericordiosos por causa do que o Senhor disse em seus ensinamentos: "Não
julguem para não serem julgados; perdoem e serão perdoados; sejam
misericordiosos e alcançarão misericórdia; pois com o que medirem vocês serão
medidos"; e uma vez mais: "Abençoados são os pobres, e aqueles que
são perseguidos por causa da verdade, pois deles é o Reino de Deus".
III. Fé, esperança e
caridade.
Não é por mim mesmo,
irmãos, que lhes escrevo sobre a justiça, e sim porque vocês me pediram
primeiro. Pois nem eu, nem ninguém como eu, pode chegar a sabedoria do
abençoado e glorificado Paulo. Ele, estando entre vocês, comunicou com exatidão
e força a palavra da verdade na presença daqueles que estão vivos ainda. E
quando vos deixou, escreveu-lhes uma carta, que, se a estudarem com cuidado,
encontrarão o sentido de terem sido erguidos na fé que lhes foi dada, e que,
sendo seguida da esperança e precedida pelo amor para com Deus e Cristo, assim
como para nosso próximo, "é a mãe de todos nós".
Pois todo aquele que
permanecer nessas virtudes, este cumpriu os mandamentos da justiça. Pois quem
permanece na caridade está longe de todo pecado.
IV. Várias
exortações.
"Mas o amor pelo
dinheiro é a raiz de todo os males". Sabendo, por tanto, que assim como
nós não trouxemos nada ao mundo, nós não podemos levar nada dele",
revistam-se com a arma da justiça; e aprendamos nós mesmos, antes de tudo, a
caminhar nos mandamentos do Senhor. Depois, [ensinem] suas esposas [a andar] na
fé dada a elas, e na caridade e na pureza, amando ternamente seus únicos
maridos com toda a fidelidade, e amando todos [os outros] igualmente com toda a
castidade; e a educar suas crianças no conhecimento e no temor de Deus. Ensinem
as viuvas a serem discretas, como diz a fé de nosso Senhor, orando
continuamente por todos, permanecendo longe de toda calúnia, murmuração, falso
testemunho, amor ao dinheiro, e todo tipo de mal; sabendo que são o altar de
Deus, que percebe claramente todas as coisas, e que nada Lhe é escondido, nem
raciocínios, nem pensamentos, nem as coisas secretas do coração.
V. Os deveres dos
diáconos, jovens e virgens.
Sabendo, portanto,
que "Deus não é fingido", precisamos caminhar dignos de Seus
mandamentos e de sua glória. Da mesma maneira os diáconos devem ser inocentes
diante da face de Sua justiça, como sendo servos de Deus e de Cristo, e não dos
homens. Eles não devem ser caluniadores, falsos, ou amantes do dinheiro, mas
temperados em tudo, misericordiosos, trabalhadores, andando de acordo com os
mandamentos do Senhor, que foi o servo de todos. Se lhe somos agradáveis no
tempo presente, também receberemos o mundo vindouro, de acordo com o que Ele
prometeu a nós, de que Ele nos ressuscitará da morte, e que se nós vivemos
condizentes com Ele, "nós reinaremos junto com Ele" se ao menos
tivermos fé. Da mesma maneira, que os jovens também sejam irrepreensíveis em
todas as coisas, sendo especialmente cuidadosos para preservar a pureza, e
mantendo-se, como que um freio, de todo tipo de mal. Pois é bom que eles cortem
fora toda a luxúria que existe neste mundo, pois "todo desejo da carne
luta contra o espírito"; e "nenhum fornicador, nem efeminado, nem
aquele que abusa de si mesmo com os outros terá parte no reino de Deus",
nem quem faz ações inconsistentes e indevidas. Por isso, é preciso que eles se
abstenham de todas essas coisas, permanecendo obedientes aos presbíteros e
diáconos, assim como a Deus e a Cristo. As virgens devem andar com uma
consciência inocente e pura.
VI. Os deveres dos
presbíteros e dos outros.
Os presbíteros devem
ser compassivos e misericordiosos com todos, trazendo de volta aqueles que
sairam do caminho reto, visitando os doentes, sem desprezar a viúva, o órfão,
ou o pobre, mas sempre "provendo a estes o que é bom diante de Deus e dos
homens"; abstendo-se de toda cólera, respeitando as pessoas, e não fazendo
julgamentos injustos; mantendo-se longe de toda cobiça, sem pensar mal
rapidamente de ninguém, sem serem severos demais nos julgamentos, sabendo que
nós todos estamos sobre o débito do pecado. E se nós suplicamos ao Senhor para
nos perdoar, também nós devemos perdoar os outros; pois nós estamos diante dos
olhos de nosso Senhor e Deus, e "todos nós deveremos comparecer ao
tribunal de Cristo, e deveremos todos dar conta de nós mesmos". Por isso
devemos serví-lo no temor, e com toda e reverência, conforme Ele mesmo nos
manda, da mesma maneira que os apóstolos nos ensinaram no Evangelho, e da mesma
maneira que os profetas proclamaram a vinda do Senhor. Sejamos zelosos na busca
do que é bom, mantendo-nos longe das causas de ofensa, de falsos irmãos, e
daqueles que hipocritamente proclamam o nome do Senhor, fazendo os homens vãos
caírem no erro.
VII. Contra o
docetismo. Perseverar no jejum e na oração.
"Pois que não
confessar que Jesus Cristo veio na carne [encarnou], este é anticristo"; e
quem não confessar o testemunho da cruz, este é do demônio; e quem perverter as
profecias do Senhor para sua própria satisfação, e diz que não há nem
ressurreição nem julgamento, este é o primeiro nascido de Satanás. Por isso
abandonemos os discursos vãos das multidões, e suas falsas doutrinas, e
voltemos aos ensinamentos que nos foram dados desde o princípio;
"permaneçamos sóbrios na oração", e perseveremos no jejum; suplicando
em nossas orações ao Deus que vê tudo "para que não nos deixe cair em
tentação", pois o Senhor disse: "O espírito está pronto, nas a carne
é fraca".
VIII. Perseverar na esperança
e na paciência.
Continuemos
perseverando em nossa esperança, nas primícias da justiça, que é Jesus Cristo,
"que carregou nossos pecados em seu próprio corpo no madeiro da
cruz", "que não cometeu pecado, nem foi achada astúcia em Sua
boca", mas suportou todas as coisas por nós, para que pudéssemos viver
nEle. Sejamos imitadores de Sua paciência; e se nós sofremos pelo nome dEle,
seremos glorifiquemos Ele. Pois este é o exemplo que Ele mesmo nos deu, e que
nós temos acreditado.
IX. Exortação à
paciência.
Eu os exorto,
portanto, a obedecerem atenciosamente à palavra da justiça, e a exercitarem a
paciência, assim como vocês têm visto diante de seus olhos, não somente no caso
dos abençoados Inácio, Zózimo e Rufo, mas também no caso dos outros que estão entre
vocês, no próprio Paulo, e no restante dos apóstolos. [Façam isso] na certeza
de que todos estes não caminharam em vão, mas na fé a na justiça, e na certeza
de que eles estão [agora] no lugar que lhes corresponde na presença do Senhor,
com quem eles também sofreram. Eles não amaram o século presente, mas Aquele
que morreu por nós e que, por nossa causa, foi ressuscitado por Deus da morte.
X. Exortação na
prática da virtude.
Permaneçam, portanto,
nestas coisas, e sigam o exemplo do Senhor, permanecendo firmes e imutáveis na
fé, amando o próximo, e permanecendo unidos uns aos outros, gozando juntos da
verdade, mostrando a mansidão do Senhor nas suas relações com o próximo, sem desprezar
ninguém. Quando puderem fazer o bem, não o posterguem, pois "a esmola
livra da morte". Todos vocês estão submetidos uns aos outros tendo uma
conduta justa entre os gentios, para que vocês recebam em dobro a recompensa de
suas boas obras, e para que o Senhor não seja blasfemado por causa de vocês.
Mas coitado é aquele por quem o nome do Senhor é blasfemado! Ensinem, portanto,
a sobriedade a todos, e a manifestem em sua própria conduta.
XI. Expressão de pena
por causa de Valente.
Eu estou muito triste
por Valente, que foi presbítero entre vocês, pois ele não entendeu
completamente o cargo que foi lhe dado [na Igreja]. Exorto-os, portento, que se
abstenham da avareza, e que sejam castos e verdadeiros. "Abstenham-se de
todo tipo de mal". Pois se um homem não pode se governar nestes assuntos,
como pode ensina-los aos outros? Se um homem não se mantém longe da avareza,
ele se desonra pela idolatria, e deve ser julgado como um dos pagãos. Mas quem
de nós está ignorando o julgamento do Senhor? "Não sabemos nós que os
santos devem julgar o mundo?", como Paulo ensina. Mas eu nem vi nem ouvi
nada semelhante entre vocês, no meio daqueles com quem Paulo trabalhou, e que
estão louvados no início de sua epístola. Com efeito, ele se gloria de vocês
diante de todas as Igrejas que sozinhas conheciam o Senhor; mas nós [de
Esmirna] ainda não O conhecíamos. Eu estou profundamente entristecido, pois,
irmãos, por ele (Valente) e por sua esposa; a quem o Senhor talvez conceda uma
penitência verdadeira! E sejam vocês sóbrios em atenção e este assunto, e
"não os olhe como inimigos", mas chame-os de volta como membros
sofredores e perdidos, pois vocês devem salvar todo o corpo. Agindo assim vocês
edificam-se a si mesmos.
XII. Exortação a
várias virtudes.
Por isso acredito que
vocês estão bem versados nas Sagradas Escrituras, e que nada é escondido de
vocês; mas a mim este privilégio não é ainda garantido. Pois está declarado nas
Escrituras, "Enfureçam-se, e não pequem mais", e "Não deixem que
o Sol se ponha sobre sua ira". Feliz é quem se lembra disso, o que eu
acredito seja o caso de vocês. Que o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, e
Ele mesmo, que é o Filho de Deus, e nosso eterno Pontífice edifique-os na fé e
na verdade, e em toda mansidão, gentileza, paciência, magnanimidade, tolerância
e pureza; e Ele lhes dê parte de sua herança entre os santos, e a nós convosco,
e a todos os que estão debaixo do céu, que crêem em nosso Senhor Jesus Cristo,
e em Seu Pai, que "O ressuscitou dentre os mortos". Orem por todos os
santos. Orem também pelos reis, e pelas autoridades, e príncipes, e por aqueles
que vos perseguem e vos odeiam, e pelos inimigos da cruz, de modo que seu fruto
seja manifestado a todos, e que vocês sejam perfeitos nEle.
XIII. A respeito da
transmissão das cartas.
Vocês e Inácio
escreveram-me, para que se alguém for [daqui] para a Síria, que levassem a
carta de vocês; eu atenderei esta requisição se eu encontrar uma boa
oportunidade, pessoalmente, ou através de uma outra pessoa, que vos sirva de
mensageiro. Quanto às cartas de Inácio, as que ele nos enviou e as outras que
pudermos ter aqui, nós vo-las enviaremos como pedistes. Vão anexas. Podereis
retirar delas grande utilidade; pois encerram fé, paciência e toda espécie de
edificação relativas a nosso Senhor. Qualquer outra informação que vocês
conseguirem a respeito de Inácio e daqueles que estão com ele, tenham a
gentileza de nos informar.
XIV. Conclusão.
Estas coisas eu tenho
escrito a vocês através de Crescente, a quem recentemente lhes recomendei e
agora lhes recomendo novamente. Ele tem crescido irrepreensível entre nós, e eu
creio que será da mesma maneira entre vocês. Também vocês irão receber sua
irmã, quando ela chegar entre vocês. Sejam salvos em nosso Senhor Jesus Cristo
[Incolumes estote in domino Iesu Christo]. Que a graça esteja com todos vocês.
Amém.
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