Postado
por Marcel Barboza on set 23rd, 2009
GARCIA MORENO: MODELO DE GOVERNANTE CATÓLICO
Vinte e um de novembro de 1852. Debaixo de uma enorme tempestade, uma
cena trágica está se passando na cidade de Quito, capital do Equador. O ditador
Urbina havia assinado um decreto iníquo, expulsando todos os jesuítas do país.
Uma grande multidão, indiferente à chuva, se reuniu em frente do convento para
assistir a saída dos religiosos que partem para o exílio. Bem junto à porta, um
jovem com uma perna ferida e necessitando usar muletas, também espera. Ele é
amigo do padre superior, e quando este sai, o jovem lhe diz:
|
Gabriel
Garcia Moreno
|
– “Dentro de dez anos os senhores estarão de volta, e então nós
cantaremos juntos o “Te Deum” na Catedral”.
Os padres, um a um, vão saindo. O último é um noviço de apenas dezessete
anos. Esse não tem obrigação de ir embora, porque o decreto expulsa apenas os
padres. Dá-se então uma cena impressionante: a mãe do rapazinho, querendo de
todas as formas segurar o seu filho, vem chorando e se deita à sua frente,
barrando a saída, e impedindo-o de passar. O rapaz hesita, e pensa em desistir.
Nesse instante, a voz autoritária e decidida do moço de muletas se faz ouvir:
– “Firme, Manoelito! Firme!”
Estimulado por este brado, Manoelito cria ânimo, pula por sobre o corpo
de sua mãe, e segue com os outros para o exílio e para a glória.
A multidão se dispersa aos poucos, debaixo da chuva. O último é o moço
de muletas, que se deteve para uma breve oração, e depois se afasta lento e
pensativo. O jovem Gabriel Garcia Moreno fazia planos para o porvir.
Um mês depois da expulsão dos jesuítas, Garcia Moreno fundou um jornal
(“La Nación”) com a finalidade de combater os crimes do governo. O ditador lhe
mandou dizer que se ele publicasse o segundo número seria expulso do país. Ele
respondeu:
– “Eu tinha numerosos motivos para publicar o meu jornal. Agora tenho
mais um: o não desonrar-me cedendo às suas ameaças”.
Ele publicou o segundo número e foi expulso do Equador, seguindo depois
de algum tempo para Paris. Na capital da França, influenciado pelo ambiente
mundano, ele foi pouco a pouco perdendo o ânimo e a vontade de lutar. Foi então
que se deu um fato providencial, que lhe abriu os olhos para o perigo que
estava correndo, e lhe ajudou a melhorar.
“A QUANTO TEMPO VOCÊ NÃO SE CONFESSA?”
Certo dia em que um grupo de estudantes atacava a religião católica,
Garcia Moreno pôs-se a defendê-la com ardor. Um dos rapazes lhe objetou:
– “Você falou bem, mas eu acho que não pratica o que fala. Há quanto
tempo você não se confessa?”
Desconcertado por um instante, Garcia Moreno respondeu:
– “Esse argumento vos parece bom hoje, mas eu lhe dou a minha palavra
que amanhã não valerá mais.”
Deixando o local, fez uma longa meditação e depois foi diretamente se
confessar. No dia seguinte recebia a comunhão. Retornou então a seus atos de
piedade para nunca mais deixá-los. Comungava quase todos os dias, e rezava
diariamente o terço, devoção que sua mãe lhe havia ensinado.
DE VOLTA AO EQUADOR
Em 1856 o ditador Urbina deixou o poder e Garcia Moreno pôde voltar ao
Equador. Imediatamente fundou um novo jornal (“La Unión Nacional”), para
combater o novo governo, que também não apoiava a Igreja. Em 1857 é eleito
senador, e apresenta projeto de lei proibindo a maçonaria no país, alegando que
esta era uma seita condenada pela Igreja, e que portanto não poderia ser
admitida num país católico como o Equador. Por causa dessas atitudes recebeu
várias ameaças de assassinato, que só não se cumpriram porque o povo o rodeava
e protegia em qualquer lugar que estivesse.
Em 1859 uma revolução depõe o governo, e Garcia Moreno assumia a chefia
do governo provisório. Em 1861 é eleito regularmente presidente da República, e
seu primeiro ato é chamar de novo os padres jesuítas. O exílio havia durado
exatamente dez anos.
OS FRUTOS DO GOVERNO CATÓLICO
“Ditoso é o povo cujo senhor é Deus”, diz a Sagrada Escritura. E ditoso
foi o Equador enquanto foi governado por esse presidente que em tudo era fiel e
submisso a Deus.
O primeiro período da presidência de Garcia Moreno foi de 1861 a 1865.
Deixando o poder então, pois a lei não permitia a reeleição, foi novamente
eleito em 1870, pela maioria absoluta e triunfal. Os historiadores são unânimes
em afirmar que nunca o Equador teve tanto desenvolvimento e progresso.
Abriram-se estradas de ferro e de rodagem por todo o país; fundaram-se escolas
em todas as aldeias; as populações indígenas foram protegidas e receberam
educação; construíram-se hospitais; abriram-se colégios e universidades. Os
roubos e os abusos administrativos foram combatidos de forma radical e
inexorável.
A CONSAGRAÇÃO
Mas Garcia Moreno sabia que só existe verdadeiro progresso onde há
verdadeira moral, e só há verdadeira moral onde se pratica a verdadeira
religião. Por isso, mandou pedir aos redentoristas espanhóis que viessem – com
todas as despesas pagas pelo governo – pregar uma grande missão em todo o
Equador. E ao mesmo tempo, por sugestão do padre Manoel Proaño (o “Manoelito”,
que anos antes ele havia estimulado para Deus e para a fé), mandou pedir aos
bispos do Equador que consagrassem o país inteiro ao Sacratíssimo Coração de
Jesus. Os bispos, aproveitando a ocasião de um concílio provincial, fizeram a
consagração. Imediatamente o Congresso, por unanimidade a transformou em lei,
que Garcia Moreno solenemente assinou. A 18 de outubro de 1873, o Diário Oficial
publicou a lei em sua primeira página, impressa não com tinta comum, mas com
letras de ouro. E no dia 25 de março de 1874, em todas as igrejas do Equador, o
clero, os governantes e todo o povo recitaram em conjunto a consagração solene,
acompanhada pelos toques de sino, e pelas salvas de canhão.
“Este é, Senhor, o vosso povo (…). Nossos inimigos insultam nossa fé, e
se riem de nossas esperanças, porque elas estão em Vós (…).
“Que o Vosso coração seja o farol luminoso de nossa fé, a âncora segura
de nossa esperança, o emblema de nossas bandeiras, o escudo impenetrável de
nossa fraqueza, a aurora formosa de uma paz imperturbável, o vínculo estreito
de uma concórdia santa, a chuva que fecunda nossos campos, o sol que ilumina
nossos horizontes, e enfim, a prosperidade e a abundância que necessitamos para
levantar templos e altares onde brilhe, com eternos resplendores, Vossa Santa
Glória (…)”
E o imponente rugido dos canhões, e o bimbalhar solene dos sinos, e a
música festiva das bandas militares anunciavam ao mundo inteiro que aquele
pequeno povo não tinha medo de se dizer católico, e diante de um mundo ímpio e
ateu, não se envergonhava de levantar bem alto o estandarte da verdadeira fé.
CARREGANDO A CRUZ
Pouco tempo depois os padres redentoristas chegaram ao Equador, e deram
início a pregação das missões. Apesar das chuvas torrenciais, as igrejas
estavam repletas, com milhares e milhares de fiéis. O próprio presidente, o
delegado apostólico, e o arcebispo de Quito não perdiam uma só pregação. A 24
de abril teve lugar a comunhão geral das mulheres. No dia seguinte, milhares de
homens invadiram as igrejas para se confessar. Garcia Moreno foi à catedral, e
envolto em sua capa, se ajoelhou na fila, atrás do último penitente. O
confessor o viu e lhe foi falar: “Excelência, vós deveis ter muitas ocupações.
Eu o atenderei antes em confissão.” E Garcia Moreno: “Padre, eu tenho que dar o
exemplo a meu povo, eu aguardo a minha vez.”
No dia seguinte, depois da triunfal comunhão dos homens pela manhã,
haveria o encerramento da missão à tarde, com a procissão da Santa Cruz. Para
tal havia sido preparada uma cruz enorme, que dezenas de homens juntos deveriam
carregar.
No sermão de encerramento, o pregador comentou que antigamente reis e
governantes “eram crentes e fervorosos, e não se envergonhavam de seu Deus,
ainda que fosse um Deus crucificado. Mas (continuava ele) agora não existe mais
nem sombra daqueles homens. Em seu lugar, temos reis do baralho, e presidentes
da república de papel…”
O padre não pôde continuar falando. O presidente se pôs de pé, e
extendendo o seu braço para o pregador, disse em alta voz:
“Padre Lopez, o senhor mente! Eu, presidente dessa república, não me
envergonho de Cristo Crucificado. Eu também irei carregar a Cruz!”
O padre, que não queria outra coisa, encerrou logo o sermão, e a
procissão se iniciou.
Garcia Moreno, todos os ministros de Estado, e todos os altos
funcionários do governo percorreram as ruas de Quito carregando a enorme cruz.
E o presidente não deixou que o substituíssem: “Não quero que isto seja apenas
uma cerimônia”. E prosseguiu até o fim, tendo-se aberto uma chaga em seu ombro,
como resultado de seu ardor.
Pouco tempo depois, uma revista maçônica comentou: “Quando soubemos que
esse homem havia levado processionalmente uma cruz pelas ruas de Quito, vimos
que a medida estava cheia, e decretamos a sua morte.” Na Europa, vários jornais
maçônicos comentaram abertamente que logo Garcia Moreno iria morrer.
DEUS NÃO MORRE!
Seis de agosto de 1874. Pela manhã, o senhor presidente e sua Exma.
esposa estiveram na Igreja de São Domingos, onde S. Excia. assistiu à Santa
Missa, e recebeu a Sagrada Comunhão. Agora, uma e quinze da tarde, Garcia
Moreno caminha para o Palácio do Governo. No caminho entra na Catedral e adora
o Santíssimo Sacramento, exposto solenemente, por ser esta a primeira
sexta-feira do mês.
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Corpo de Garcia Moreno, logo após o brutal
assassinato
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Dez minutos depois, S. Excia. prossegue o seu caminho, e sobe as escadas
que conduzem ao balcão do palácio. Então, um grupo de pessoas o cerca, e um
deles, por trás, lhe desfere na cabeça um violento golpe de machado. Dois
outros se adiantam e lhe dão vários tiros à queima-roupa. De novo outra
machadada ainda mais forte o atira no chão, e de novo os revólveres disparam
sobre ele.
Seu corpo é atirado do balcão para o chão da praça, ainda com vida. Ao
perceber isso, o assassino furioso desce do balcão e prossegue desferindo
machadadas sobre o corpo indefeso do presidente. E grita: “Morre, hipócrita!
Morre infame! Jesuíta com casaca! Morre, tirano!” E então, Garcia Moreno, num
supremo esforço, levanta a cabeça e diz: “Deus não morre!”
O assassino tenta fugir, mas logo se forma um tumulto, e ele é preso e
linchado pelo povo enfurecido. O presidente, ainda vivo, é transportado para o
interior da catedral, e diante do Santíssimo Sacramento exposto, recebe a
extrema unção. E alguns instantes depois, a alma desse verdadeiro católico voou
para o céu.
Bibliografia:
Ricardo Pattes, “Gabriel Garcia Moreno y El Ecuador de su tiempo” –
México, 1962.
Severo Gomes Jurado, SJ., “La Consagración” – Quito, 1973.
FONTE:
http://www.santotomas.com.br
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