Gregorio Vivanco Lopes
Faz parte da natureza humana ser
profundamente religiosa. Criada por Deus, a alma do homem tem como aspiração
fundamental voltar-se para seu Criador, o único capaz de completar suas
lacunas, redimir suas faltas e torná-la plenamente feliz.
Esse anseio de felicidade nunca satisfeita
que existe no ser humano indica bem que ele foi feito para alcançar sua
plenitude em algo ou Alguém que está fora dele. Daí a busca desenfreada de
felicidade a que alguns se
entregam de modo errático, seja na sensualidade, na carreira, na saúde, nas
drogas, nos divertimentos, e em quanta coisa
mais. Mas só obtêm fogachos de
prazer, necessariamente passageiros e incompletos, seguidos de frustração.
Não pretendo desenvolver aqui as provas
teóricas da existência de Deus, mas apenas apontar para o fato de que, se a
pessoa tira a Deus de seu panorama, nele se instala o vazio, mesmo se
inconfessado. E esse vazio é um tormento maior do que todos os sofrimentos a
que está sujeito o ser humano.
Por isso o laicismo tem de tomar ares de
uma religião do homem, diferente e oposta à religião de Deus, para tentar
preencher esse vazio.
* * *
É fato histórico que todas as civilizações que nos precederam, desde a
mais remota Antiguidade, creram em alguma divindade. Foi nossa civilização,
dita moderna, que a partir da Revolução Francesa de 1789 inaugurou uma triste
exceção com a ferrenha implantação do laicismo dos Estados. Desde esses
infaustos dias, começou também a proliferar, em nível individual, o ateísmo,
até que, no século XX, tivemos a espantosa e inaudita experiência de Estados
que se proclamavam oficialmente ateus, como é o caso dos regimes comunistas.
O laicismo, como o entendem diversos
doutrinadores, não deveria opor-se à existência das religiões. Apenas o Estado
não professaria nenhuma delas, permanecendo indiferente a sua existência, ao
mesmo tempo em que lhes daria liberdade de existirem. Os Estados Unidos seriam
o modelo ideal.
Acontece que essa definição fixista não
corresponde bem à natureza do laicismo. Nascido de uma ojeriza profunda à
Religião Católica da parte dos revolucionários de 1789, o movimento laicista
inicialmente a colocou no mesmo patamar das demais religiões, mas vai aos
poucos e por etapas mostrando sua verdadeira natureza persecutória
Em outros termos, do laicismo se poderia
dizer o que de uma corrente política argentina se disse certa vez:“uma
incógnita em constante evolução”. A
aversão do laicismo à Religião Católica — e às outras religiões que, num ponto
ou noutro, professem princípios afins — é algo de muito profundo e que só aos
poucos veio se explicitando ao longo da História recente, mostrando suas garras
à luz do dia.
Nesse sentido, o laicismo é uma
verdadeira religião anti-religiosa que nos dias presentes vai expondo cada vez
mais claramente seus objetivos, através de uma cristianofobia das mais
raivosas, mesmo quando se serve para isso de sentenças e de leis.
* * *
Não se trata aqui da perseguição que
animistas ou hinduístas ou muçulmanos ou outros ainda fazem aos cristãos, pois
isso, por mais rejeitável que seja, não é um problema novo, ele repete o
passado. A nova perseguição do laicismo é feita com luvas de pelica e
instrumentos cirúrgicos, em nome de “direitos humanos” entendidos de modo
anticristão.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o
presidente Obama forçou a aprovação de uma lei sobre os planos de saúde que
obriga, sob penas severas, os estabelecimentos católicos e outros a promover o aborto, a contracepção e ainda outros pecados.
Ou seja, obriga-os a agir contra seus princípios morais. Perseguição evidente.
Porém, o passo mais avançado está para ser
dado na França.
“O governo socialista francês anunciou a criação de um Observatório Nacional de
Laicidade, com a deportação de cristãos e membros de outras religiões que sejam
considerados portadores de uma ‘patologia religiosa’.
“O presidente François Hollande, que em
sua campanha eleitoral prometeu equiparar as uniões homossexuais ao matrimônio,
disse em 10 de dezembro que no ano 2013 se estabelecerá o citado Observatório”.
O Ministro do Interior, Manuel Valls,
explicou a missão do Observatório: “O objetivo não é combater as
opiniões com a força, mas detectar e compreender quando uma opinião se faz
potencialmente violenta e chega ao excesso criminal. O objetivo é identificar
quando é bom intervir para lidar com o que se converte numa patologia religiosa.
“Valls — cujo
governo permite a pornografia para moças de 18 anos — ressaltou que o
Observatório colocará o foco em extremistas de todos os credos” e exemplificou com
grupos tradicionalistas cujas ações considerou “nos limites da
legalidade”, quando protestaram em mais de una ocasião contra o aborto, a
lei de uniões homossexuais etc.
A agência “Reuters” assinala que “a
França deportará imãs estrangeiros e radicais, oriundos de grupos religiosos,
incluindo os tradicionalistas católicos de linha dura, se uma nova política de
segurança revelar que eles sofrem de uma ‘patologia
religiosa’ e podem
tornar-se violentos”.
Valls acrescentou que “os
criacionistas nos Estados Unidos e no mundo islâmico, os extremistas
muçulmanos, os católicos ultra-tradicionalistas e os judeus ultra-ortodoxos
querem viver separadamente do mundo moderno”. Perseguição às minorias? É essa a democracia
laicista?
“Com
este Observatório, será o governo francês que decidirá quem são os católicos‘que se portam bem’”(ACI, 20-12-12).
* * *
O laicismo tinha que chegar até a
perseguição aos católicos. E ela vai se desenhando com nitidez cada vez maior.
É bem o momento de permanecermos firmes na nossa fé e repetirmos confiantes com
o Salmista:
“Por que razão se amotinaram as nações
e os povos maquinam planos vãos? Os reis da terra sublevam-se e os príncipes
coligam-se contra o Senhor e contra o seu Cristo. Quebremos as suas cadeias,
disseram eles, e sacudamos de nós os seus laços!
“Aquele que habita nos céus ri-se, o
Senhor zomba deles.
“Ele lhes fala então na sua ira, e os
aterroriza no seu furor” (PS
2, 1-5).
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