E quando em setembro os cardeais Ottaviani e Bacci apresentaram ao
Papa um estudo crítico da Missa Nova preparado por destacados teólogos
europeus, demonstrando que ela “representa em seu conjunto e em seus detalhes
um impressionante afastamento da teologia da Missa”, a Latin Mass Society
imediatamente publicou uma tradução em inglês, e enviou-a pessoalmente a cada
bispo, sacerdote, monsenhor e superior de ordem religiosa da Inglaterra.
A Hierarquia proibiu os sacerdotes de comentar a análise dos
estudiosos e podemos presumir que a maioria dos 7.000 exemplares foram parar
diretamente nos cestos de lixo clerical.
Neste importante trabalho os teólogos demonstraram, com abundância
de ciência teológica, que:
1. a
Missa Nova havia sido substancialmente rejeitada pelo Sínodo dos Bispos;
2. que
nunca fora submetida ao julgamento das Conferências Episcopais;
3. nunca
fora pedida pelo povo;
4. que
continha todas as possibilidades para satisfazer os protestantes mais
modernistas;
5. que,
por uma série de equívocos, obsessivamente coloca a ênfase na “ceia” em vez de
no Sacrifício;
6. que
não faz nenhuma distinção entre o sacrifício divino e o sacrifício humano;
7. que
o pão e o vinho são somente de caráter espiritual, não substancialmente mudados
em Corpo e Sangue de Nosso Senhor;
8. que
a Presença Real de Cristo nunca é aludida e a crença nela é implicitamente
repudiada;
9. que
a posição do sacerdote e do povo estão de tal modo falsificada que o celebrante
rebaixa quase ao mesmo nível de um ministro protestante e a verdadeira natureza
da Igreja é intoleravelmente adulterada;
10. que
o abandono no latim significa um ataque à unidade da Igreja, não somente em seu
culto, mas em suas próprias crenças;
11. Que
em qualquer caso, o Novus Ordo Missae não tem intenção de
defender a Fé como ensinado pelo Concílio de Trento a qual a consciência
católica está vinculada. Com efeito, está repleta de insinuações ou erros
manifestos contra a pureza da religião Católica e desmantela todas as defesas
do depósito da Fé.
O Vaticano, bem como os Bispos ingleses e galeses, parecem ter
presumido uma combinação de ignorância teológica e obediência cega para aceitar
a nova missa sem argumentos. Eles fizeram o seu melhor para evitar suspeitas
introduzindo as mudanças gradualmente. Como o cardeal Heenan escreveu em sua
Carta Pastoral de 12 de outubro de 1969:
“Por que a Missa continua mudando? Aqui está a resposta. Teria
sido imprudente introduzir todas as mudanças de uma vez. Obviamente foi mais
sábio mudar gradualmente e delicadamente. Se todas as mudanças tivessem sido
introduzidas juntas, você ficaria chocado.”
No mês seguinte, o cardeal Heenan escreveu como prefácio à
tradução inglesa da Missa Nova:
“O sábio Papa Paulo VI decidiu que chegou o momento de terminar as
experiências. Ele está convencido de que a forma da Missa não precisa ser
alterada novamente em futuro previsível. É importante perceber que a revisão
foi realizada sob a supervisão pessoal do Santo Padre. Não pode haver dúvida de
que possa conter falsas doutrinas.”
Isto, é claro, implica que tudo o que um Papa escolhe fazer ou
dizer é, ipso facto, certo. Essa atitude para com o Santo
Padre sugere um oráculo pagão, ao invés do ensino católico de que um Papa é
infalível apenas quando fala ao mundo inteiro sobre uma questão de fé e moral,
mas que, ao falar para qualquer público menor do que o mundo inteiro e em
qualquer assunto que não seja de fé e moral, ele é tão falível como todos os
demais.
A falibilidade, com efeito, é a salvaguarda da infalibilidade; e
supor que um Papa não pode errar e não erra é expor a Fé ao tipo de crítica
desdenhosa que levou, por exemplo, LyttonStrachey, entender equivocadamente a
doutrina da infalibilidade, quando escreveu:
“João XXII afirmou em sua Bula Cum internonnullos que
a doutrina da pobreza de Cristo era herética. Seu predecessor, Nicolau III,
havia afirmado em sua Bula Exiitquiseminat que a doutrina da
pobreza de Cristo era a verdadeira doutrina, cuja negação era heresia. Assim,
se João XXII estava certo, Nicolau III era um herege. Por outro lado, se João
estava errado — bem, ele era um herege. E em ambos os casos, o que acontece com
a infalibilidade papal?”
Mas, é claro, a infalibilidade Papal não está em questão aqui. Há
somente o conflito entre dois homens, cuja verdade deve ser estabelecida pelo
processo usual do argumento teológico. Da mesma forma, o abandono de Paulo VI
em relação à decisão de São Pio V é uma questão que confere aos fiéis uma escolha
entre as opiniões de dois homens; e considerando que São Pio V estava
defendendo o Catolicismo do próprio Protestantismo que, não pode ser seriamente
contestado,é inerente à Missa Nova, a escolha não deve ser muito difícil. Pois,
como o professor Gordon Rupp, um dos principais estudiosos luteranos, disse em
Cambridge em 12 de março de 1970, falando sobre a suposta intenção do Vaticano
de anular a excomunhão de Lutero:
“Parece ser um passo lógico para ter em vista a partir do fato
deque o Concílio Vaticano II tanto concordou com a teologia de Lutero pela qual
ele foi condenado.”
O próprio Paulo VI parece ter se surpreendido com a extensão da
resistência à Missa Nova, e nos dias 19 e 26 de novembro fez duas alocações,que
foram publicadas nas edições inglesas de L’Osservatore Romanoem 27
de novembro e 4 de dezembro de 1969.Nessas suas alocuções, ele defendeu a Missa
Nova. Ele afirmou que “a Missa do Novo Rito continua a ser a mesma Missa que
sempre tivemos”. Ele alegou que a nova forma era “Vontade de Cristo”, sugerindo
assim a infalibilidade sem reivindicá-la. Ele explicou que as mudanças foram
destinadas a tirar os fiéis “de seu usual torpor” e “ajudar a tornar a Missa
uma escola pacífica, mas exigente, de sociologia cristã”.
Ele descreveu o latim como “a língua dos anjos” e ofereceu um
ligeiro consolo para aquelas pessoas comuns, que já não estavam mais
autorizadas a ouvi-lo como a língua de dezenove séculos de Missa, que ainda
seria usada para “os atos oficiais da Santa Sé”. E ordenou: “Não nos deixe falar
sobre a Missa Nova. Deixe-nos, antes, falarmos da Nova Época na vida da Igreja”.
Neste ponto, é necessário fazer a pergunta que está e, por muito
tempo, deve permanecer na mente de todos: por que? Todos nós assistimos o
desmantelamento da Fé do Vaticano com uma crescente sensação de incredulidade.
Isso não pode realmente estar a acontecer. Deve ser um pesadelo do qual em
breve deveremos acordar para encontrar intactas todas as coisas sagradas. Em
todo caso, por que o Papa e os Bispos agem assim?
Para a resposta, devemos fazer um pequeno desvio para o tema do
“ecumenismo”.
Quando em 25 de janeiro de 1959, o papa João XXIII anunciou “um
Concílio ecumênico”, não-católico, de acordo com o cardeal Bea (em um artigo
publicado em 1961).
“. . . pensei que se tratava da questão de um Conselho que
reuniria os representantes de todas as comunidades cristãs para discutir a
questão da unidade. Esta interpretação foi fundada sobre o significado da
palavra ‘Ecumênico’, usado hoje para significar a aproximação de todos os
grupos religiosos que se denominam cristãos. Este significado do termo, para
designar os representantes de todas as denominações cristãs, cresceu junto com
o ‘movimento ecumênico’ e apenas no século passado. O mal-entendido foi
rapidamente esclarecido.”
O cardeal estava muito otimista. O mal-entendido não foi
esclarecido. Ainda não está esclarecido. Assim como foram todos os Concílios
Gerais da Igreja, muitos ainda imaginam que o Vaticano II foi ecumênico no
sentido canônico (ou seja, composto pelos bispos católicos do oikoumene,
o mundo em comunhão com a Sé Apostólica), mas ele foi também “Ecumênico” no
sentido protestante do termo.
Mas o ecumenismo protestante é uma heresia mortal. Não só é
indiferentismo — qualquer religião é tão boa quanto qualquer outra — mas nega a
realidade da Igreja. Ensina que a Verdadeira Igreja ainda não existe, mas que
existirá algum tempo no futuro, agregando os vários “insights” das várias
comunidades cristãs. O Conselho Mundial de Igrejas, que coordena 239 seitas, é
seu corpo representativo.
A Igreja Católica, até agora, resistiu à pressão para cometer a
apostasia final em aderir ao Conselho Mundial de Igrejas e, ao fazê-lo,
proclamando que é apenas uma entre outras igrejas, mas, sob Paulo VI, consentiu
em enviar observadores e os protestantes foram oficiosamente (no sentido de
clandestinamente) consultados na criação da Missa Nova.
As atividades do Conselho Mundial de Igrejas, beneficiadas pela
contínua confusão entre o uso clássico católico de movimento ecumênico e
protestante, forçaram o Vaticano II, por razões de esclarecimento, a emitir um
decreto sobre o ecumenismo. Apesar de uma caridade que facilmente pode ser
confundida com o compromisso, este documento, se cuidadosamente examinado, será
reconhecido para proteger a Fé. Estabelece que:
1. todas
as comunidades cristãs fora da Igreja Católica são “imperfeitas”;
2. que
“somente através da Igreja Católica de Cristo podem alcançar os meios de
salvação em toda a sua plenitude”;
3. que
“a unidade concedida por Cristo em Sua Igreja no início ainda existe na Igreja
Católica”;
4. e
que a Igreja Católica sozinha possui “a riqueza de toda a verdade revelada de
Deus e todos os meios da graça”.
Apoia a grande encíclica de Pio XII sobre a natureza da
Igreja, Mystici Corporis, que determinou que “como membros da
Igreja contam-se realmente só aqueles que receberam o lavacro da regeneração e
professam a verdadeira fé, nem se separaram voluntariamente do organismo do
corpo, ou não foram dele cortados pela legítima autoridade em razão de culpas
gravíssimas” isto é, por serem confirmados em uma seita não-católica e
insistindo que “em si mesmo o batismo é apenas um começo, uma introdução. . .
orientada para a completa profissão da fé, a incorporação completa no instituto
da salvação, como Cristo queria, a completa integração na comunhão da
Eucaristia”.
De O Ecumenismo é, portanto, um decreto contra o Movimento Ecumênico
Protestante, tornado necessário pelo duplo significado da palavra “ecumênico”,
mas a Constituição Dogmática tornou-se mais e mais desconsiderada à medida que
os bispos convidam hereges e cismáticos para pregar em púlpitos católicos, e
incentivar outras atividades que obscurecem a distinção da Fé Católica.
Em particular, eles tendem a enfatizar que o batismo une todos os
cristãos na fé, mas omitem a verdade igualmente importante, estabelecida
por Mystici Corporis, de que a adesão adulta a uma seita
não-católica rompe essa relação estabelecida pelo batismo, já que “cisma,
heresia ou apostasia são tão de sua própria natureza que separam um homem do
corpo da Igreja”.
À medida que o Vaticano parecia se aproximar do Conselho Mundial
de Igrejas, tornou-se necessário aproximar a Missa Nova em consonância com o
ecumenismo protestante; e para este propósito, as próprias palavras da
consagração, ditas pelo próprio Cristo, foram alteradas. Em vez de dizer que o
sangue d’Ele deveria ser derramado “para muitos”, as palavras foram alteradas
“para todos”. “Esta doutrina má e perigosa de” a salvação final de toda a
humanidade”, tão absolutamente em desacordo com o ensino da Igreja e tão oposta
ao ensino claro do próprio Cristo, é a real pedra angular de todo o edifício da
heresia promovida hoje sob o pretexto de “Ecumenismo”.[1]
Tentativas heréticas foram feitas em séculos anteriores para
substituir “todos” por “muitos” e foram condenadas pelo próprio Santo Tomás de
Aquino. A alteração contradiz as palavras de Cristo na Última Ceia: “Por eles é
que eu rogo. Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são
teus. . . Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra
hão de crer em mim” — a oração que define a natureza exclusiva da Igreja.
O mundo é salvo ao entrar na Igreja e todos os homens, é claro,
têm essa chance de salvação. Mas não são todos os homens que o aceitam. Por sua
própria vontade, eles se excluem. A substituição de “todos” por “muitos”
promove a ideia ecumênica de que todos os pecados dos homens serão perdoados,
independentemente do credo ou do caráter.
A história da alteração é instrutiva. O Papa, em sua alocução de
19 de novembro de 1969, a qual me referi anteriormente, anunciou que as
mudanças “foram pensadas por autorizados especialistas da liturgia sagrada”.
Ele omitiu mencionar que entre os consultados havia dois anglicanos, um
luterano, um calvinista e um representante do Conselho Mundial de Igrejas, ou
que o especialista responsável pelo “todos” foi o Dr. Joachim Jeremias,
professor não-católico da Universidade de Göttingen, que atacou a Divindade de
Cristo.
Em seu livro The Eucharistic Words
of Jesus, publicado em 1966, Dr. Jeremias inventou a engenhosa teoria de
que, quando Cristo disse “para muitos”, Ele quis dizer “para todos”, porque o
aramaico não possui nenhuma palavra que signifique “todos”. Assim, o argumento
era transferido da teologia que, uma vez que o Concílio de Trento expressamente
rejeitara e repudiara “para todos os homens”, foi terreno perigoso, mesmo para
qualificados equivoquistas, para a filologia.
No
entanto, o argumento era bastante insano. Não só a passagem: “todos os habitantes da terra são reputados como
nada diante dele” (Daniel IV, 32) existem no aramaico original, mas a obra A Grammarof Biblical Aramaic (publicada em 1961)
dedica toda uma seção à palavra aramaica para “todos”, “muitos” e “cada um”.
A
explicação “oficial” deste ponto particular na Missa Nova, como de muitos
outros, é o que o homem simples, alheio aos métodos de pensamento episcopais,
chamaria uma mentira. Sua importância, aqui, está no fato de que, ao alterar as
palavras de Cristo, certamente essa alteração tornam
inválidas todas as Missas vernáculas, além de qualquer possibilidade
de argumento.
Como
as versões latinas dos novos Cânones da Missa ainda retêm o “pro multis” e ainda não alteraram para o
“pro omnibus”, facilmente este motivo
de invalidade não se aplica a eles. Contudo, eles não parecem menos inválidos,
mas antes de examinar a razão, seria bom dizer uma palavra sobre o Cânon da
Missa, porque as nossas autoridades eclesiásticas estão enganando os leigos, falseando
mais de 400 anos.
A
forma como a mudança foi apresentada ao inglês pode ser resumida pela sentença
do cardeal Heenan, no prefácio do livro de Missa de Westminster:
“Palavras
e ações que, há quatrocentos anos atrás, serviram de apelo aos isabelinos,
dificilmente podem satisfazer o estado de espírito dos homens no século XX.”
Mas,
pelo contrário, o Cânon da Missa remonta sem qualquer alteração ao início dos
primeiros séculos cristãos. Já estava estabelecido antes de Santo Agostinho ter
trazido o Cristianismo para a Grã-Bretanha, e o Cânon que ele usou na primeira
Missa dita por ele em Kent consistiu precisamente nas mesmas palavras, na mesma
língua, utilizada em cada Missa nos 1.373 anos desde então até a sua abolição
em fevereiro de 1970.
O
que a reforma tridentina de São Pio V revisou e unificou foram orações e
rituais ocasionais que cresceram em certas localidades. A reforma tridentina
não tocou — como não havia sido tocado — no Cânon, que trazia em si a
imutabilidade de Cristo.
O
próprio Trento salientou a continuidade, declarando:
“Sendo
conveniente que as coisas santas se administrem santamente, e sendo este sacrifício
entre todos o mais santo, instituiu a Igreja Católica já há muitos séculos o
Cânon sagrado, tão purificado de todo o erro, que nele não há nada que não
rescenda a suma santidade e piedade, nada que não eleve a Deus as almas dos que
o oferecem. Pois ele se compõe das palavras do mesmo Senhor, como das tradições
dos Apóstolos e das piedosas instituições dos Sumos Pontífices.”
Lutero,
por outro lado, referiu-se a isso como
“.
. . esse Cânon abominável é uma confluência de esgotos de águas lodosas, que
tem feito da Missa um sacrifício. A Missa não é um sacrifício. Não é o ato de
um sacerdote que sacrifica. Junto com o Cânon, nós descartamos tudo o que
implica uma oblação”.
Um
dos principais arquitetos da Nova Missa, Rev. Annibale Bugnini, parece endossar
este julgamento quando fala da famosa Fórmula
Missae de Lutero em 1523 como Missa Normativa. Certamente, o projeto
da Missa Nova, com sua destruição do antigo Cânon, incorpora os princípios
luteranos.
Enquanto
o Cânon Tridentino permaneceu, era impossível subverter a intenção da Missa.
Consequentemente, os ecumenistas tiveram que impor cânones alternativos. Um
deles, o Cânon II, foi formulado de tal maneira que qualquer ministro
protestante ou padre caducado que negasse a transubstanciação poderiam dizê-lo.
Em
primeiro lugar, livrou-se de toda menção a oblação, como Lutero recomendava. A
razão para isso é explicada simplesmente por um teólogo no Courrier de Roma (nº 49, p.6):
“Como
Cristo ressuscitou dos mortos para não morrer mais, Ele não pode ser colocado
na Missa em qualquer estado que seja de uma vítima. Ele só pode ser a vítima
mística sob as espécies de pão e vinho. O pão e o vinho entram,
consequentemente, como partes integrantes do Sacrifício.”
Tendo
se livrado do ofertório, e as Oblações separadas, os compiladores do Cânon II
retomaram o truque de Cranmer ao formular uma oração não para
que o pão e o vinho possam ser feitos o Corpo e o Sangue, mas “que se tornem para nós[2]
o corpo e o sangue” — uma fórmula que ele descreveu como especificamente
destinada a negar a transubstanciação.
Então,
no Cânon II, a fórmula: “derramando sobre elas [as oferendas] o vosso Espírito,
a fim de que se tornem para nós o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, vosso Filho
e Senhor nosso”, torna possível para qualquer uma das seitas membros do
Conselho Mundial de Igrejas utilizá-lo como seu serviço de comunhão. Essa intenção “ecumênica” certamente destrói a sua validade.
Além
disso, a validade dos outros cânones, portanto, pareceria ser igualmente
destruída.
Eu
ouvi pessoas dizerem que o Padre Fulano, sem dúvida, acredita na
transubstanciação, e sua celebração, por causa de sua intenção, será válida.
Mas isso é interpretar mal a “intenção”. A crença pessoal do sacerdote não tem
parte nisso. Se tivesse, o fato de que Talleyrand tenha sido um ateu professo
teria invalidado todas as suas ordenações e hoje não haveria certas ordens em
qualquer parte na França. O que é solicitado ao sacerdote é simplesmente que
ele deve ter a intenção do que a Igreja pretende. Este princípio explica, por
exemplo, por que uma mulher muçulmana pode realizar um batismo cristão válido,
desde que ela diga as palavras designadas, execute as ações designadas e,
embora ela mesma não acredite, tenha a intenção de fazer o que a Igreja
pretende.
Como
a Igreja pretendeu, ao formular o Cânon II para que ele possa ser interpretado
de maneira a negar à transubstanciação,
tornou a sua intenção “ecumênica” inequivocamente clara, parecendo que todos os
novos Cânones são inválidos e que nenhum sacerdote, no entanto, faça soar sua
teologia e, no entanto, ainda que apaixonado por sua devoção, possa dizer uma Missa válida.
Então,
uma conclusão gritante e aterradora apresentou o grande corpo dos fiéis com uma
quase intolerável tensão. Chegou-se até a conclusão de que uma Missa inválida é
válida se apenas for dita em latim. Eles formaram uma Associação para a
Liturgia Latina, diante da qual os fiéis devem ser avisados, não porque tenham
algum status, mas porque a hierarquia, para
a confusão do simples, pode parecer paternalista, ao parecer conceder uma Missa
latina.
Não
se pode enfatizar demais que não há, seguramente, uma Missa latina válida
disponível no Ocidente no momento, senão o Rito Tridentino de São Pio V, que
ele tentou salvaguardar par a perpetuidade.
Nossos
bispos, proibindo este rito, chamam-nos à “obediência”. Mas eles certamente
devem saber que a obediência à consciência tem precedência a tudo, e essa
obediência não pode ser ordenada por algo errado. Mesmo na vida militar, um
soldado não pode pleitear obediência a um superior como uma desculpa para
cometer um crime. O que os bispos entendem por “obediência” é uma regimentação
sem sentido — o tipo de obediência que os padres apóstatas da primeira Reforma
deram a seus bispos apóstatas, entre os quais havia apenas um que defendia a Fé
— São João Fisher. No momento, não há nenhum São João Fisher.
A
defesa da Igreja, em face da grande traição dos eclesiásticos, recai sobre os
leigos que devem ser ativos na prossecução da política que já está entrando em
vigor em vários lugares — fornecendo um sacerdote para dizer a Missa Tridentina
e dedicando-se à sua manutenção todo o dinheiro que normalmente dariam à sua
igreja local. Como estamos de volta às Catacumbas, a celebração pode ser
realizada em casas particulares.
Não
pode haver censuras possíveis para isso. Foi para esta eventualidade que São
Pio decretou: “não sejam obrigados a celebrar a Missa de outro modo que o por
Nós ordenado; nem sejam coagidos e forçados, por quem quer que seja, a
modificar o presente Missal, e a presente Bula não poderá jamais, em tempo algum,
ser revogada nem modificada, mas permanecerá sempre firme e válida, em toda a
sua força”. Seria, no final, impossível acusar de cisma aqueles que continuaram
a usar a forma de Missa santificada pelos séculos. Na verdade, cismáticos
seriam os ecumenistas.
Alguns
podem achar que este curso, possivelmente reduzindo o número da Igreja, está,
por essa razão, aberto às mais graves objeções. Eles tendem a pensar eventos
nos termos do verso do hino, “Como um poderoso exército move a Igreja de Deus”,
e vê-la crescer o tempo todo numericamente mais forte.
Mas,
porque o Evangelho deve ser pregado ao mundo inteiro, de maneira alguma
segue-se que o mundo inteiro o receberá. Se há uma coisa sobre a qual o próprio
Cristo, os Apóstolos e os Padres insistiram, foi que a Igreja na Terra será
reduzida a um remanescente muito pequeno.[3]Nós
fomos advertidos pela autoridade máxima sobre uma “queda”, que “chegará o
momento em que não suportarão a sã doutrina”, e que “se isto fosse possível,
até mesmo os escolhidos” serão enganados.
Um
padre americano, o Padre Lawrence Brey, descrevendo a nossa condição atual,
pergunta se a introdução da Missa Nova é
“.
. . o início de uma era de nova escuridão na Terra e o prenúncio de uma crise
sem precedentes dentro da Igreja? A indicação da Santíssima Virgem de que o
Rosário e seu Coração Imaculado seriam nossas “últimas e definitivas armas” é
uma sugestão de que, de alguma forma, a Santa Missa, em algum momento, não se
tornaria mais disponível para a maioria dos católicos?”
Agora
que isso aconteceu, algumas pessoas, pendentes da organização das Missas
Tridentinas, dizem o Rosário seguido da leitura da Missa em seus antigos
missais, acompanhadas por uma intenção inabalável e até apaixonada de fazer uma
comunhão de desejo, pois não podem mais fazê-la de fato. Só podemos rezar para
que os dias dessa necessidade improvisada sejam, pela graça de Deus, abreviados.
Em
conclusão, devo insistir que esta necessidade na Inglaterra é inteiramente
causada por nossos bispos. A Missa Tridentina, segundo a ordem do Papa, não
deve ser abolida em geral até novembro de 1971, a menos que a Hierarquia local
opte por proibi-la. Se o nosso episcopado fosse restabelecer, ou permitir o uso
alternativo da Missa Tridentina até o Advento de 1971, para que o assunto
pudesse ser cuidadosamente examinado e debatido, é possível que ela não fosse
abolida. Dezoito meses de honestidade podem fazer maravilhas.
Como
última palavra, posso louvara Hierarquia da Inglaterra e do País de Gales nas
palavras com as quais o Padre Messenger concluiu sua revisão de um livro sobre
ordens anglicanas quase repleto de suppressio
verie suggestio falsi, semelhantes a
muitos dos pronunciamentos episcopais sobre a Missa Nova:
“Gostaria
de apelar ao autor para levar a questão mais a sério, não só para o seu próprio
bem, mas pelo bem dos outros igualmente. É uma coisa grave enganar e iludir as
almas pelas quais Cristo morreu.”
[1] Esta citação é do ensaio
de P. H. Omlor, The Ventriloquists (Interdum, 24
de fevereiro de 1970) ao qual agradeço os fatos sobre o Dr. Jeremias que seguem.
[2] É verdade que o Cânon Tridentino também contém nobis, mas, por causa das grandes orações
oblacionárias que precedem, o significado é bastante diferente. Veja The Modern Mass, p. 19.
[3] Nota de Dominus est: “Não temais, pequeno
rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o Reino”. (Lc 12,32)
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