Ato de Aceitação da Morte.
“Meu Senhor e meu Deus, aceito desde já, com toda
vontade e todo gosto, de Vossa mão sacrossanta, o gênero de morte que vos
aprouver, suas angústias, suas aflições e dores”.
Indulgência Plenária na hora da morte
(Papa S.Pio X, 09 de março de 1904).
Indulgência Parcial de 07 anos e 07 quarentenas ao rezar este ato após a
comunhão.
Papa Bento XV.
Alberto
Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Procedamos à leitura do
seguinte excerto da Primeira Epístola de São Paulo aos Tessalonicenses:
«Não queremos, irmãos, que
ignoreis coisa alguma a respeito dos mortos, para não vos entristecerdes, como
os outros que não têm esperança.
Se cremos que Jesus morreu
e ressuscitou, assim também devemos crer que Deus levará, por Jesus, e com
Jesus, os que morrerem.
Eis o que vos declaramos,
conforme a Palavra do Senhor: Por ocasião da vinda do Senhor, nós, os que
estivermos vivos, não precederemos os mortos. Quando for dado o sinal, à voz do
Arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do Céu, e os que
morreram em Cristo ressurgirão primeiro. Depois, nós os vivos, os que ficarmos,
ARREBATADOS JUNTAMENTE COM ELES SOBRE AS NUVENS, IREMOS AO ENCONTRO DO SENHOR
NOS ARES, E ASSIM ESTAREMOS PARA SEMPRE COM O SENHOR. CONSOLAI-VOS PORTANTO UNS
AOS OUTROS COM ESTAS PALAVRAS.» (ITess 4, 13-18)
Escutemos o Papa Pio XI, num
trecho da sua encíclica “Caritate Christi”, promulgada em 3 de Maio
de 1932:
«E que objecto há mais
digno das nossas súplicas e que melhor corresponda À PESSOA ADORÁVEL DAQUELE
QUE É O ÚNICO MEDIADOR ENTRE DEUS E OS HOMENS, O HOMEM CRISTO JESUS, DO QUE
IMPLORAR A CONSERVAÇÃO, NA TERRA, DA FÉ NO ÚNICO DEUS VIVO E VERDADEIRO? Tal
súplica leva já em si parte do seu deferimento, porque se alguém ora, une-se a
Deus, e por assim dizer, mantém já na Terra a ideia de Deus. A pessoa que ora,
com a sua própria posição humilde, professa ante o mundo a sua Fé no Criador e
Senhor de todas as coisas; e quando se une com outros em oração comum, só com
isso já reconhece que não só o indivíduo, mas também a sociedade humana tem um
absoluto e supremo Senhor acima de si.
Que espectáculo não é,
para o Céu e para a Terra, a Igreja que ora? De há séculos, ininterruptamente,
repete-se na Terra, de dia e de noite, a Divina Salmodia dos cantos inspirados;
não há hora do dia que não seja santificada pela sua Liturgia especial. Não há
período algum, longo ou curto, da vida, que não tenha um lugar na acção de
Graças, no louvor, na impetração, e na reparação da prece comum do Corpo
Místico de Cristo, que é a Igreja. Desta forma, a oração assegura a presença de
Deus entre os homens, como prometeu o Divino Redentor: “Onde dois ou três
estiveram reunidos em Meu Nome, EU ESTAREI ENTRE ELES” (Mt 18,20).
Implore-se a Paz para
todos os homens, mas especialmente para aqueles que na sociedade humana têm a
grave responsabilidade do governo. Como poderiam eles dar a Paz aos seus povos
se eles mesmos a não possuírem?
E é precisamente a oração
que, segundo o Apóstolo, deve trazer o Dom da Paz; a oração que se dirige ao
Pai Celeste, que é Pai de todos os homens: A oração, que é a expressão comum
dos sentimentos de família, dessa grande família, que se estende além dos
confins de todos os países, de todos os continentes.»
No Paraíso Terrestre, a
árvore da vida, mediante seus frutos, assegurava a imortalidade daqueles que,
permanecendo na inocência, o habitassem. Não tendo havido pecado original, se
um dos descendentes de Adão e Eva pecasse, morreria, mas o seu pecado não se
teria transmitido aos seus descendentes, pois sòmente o casal original fora
constituído Cabeça orgânica do Género Humano.
A morte e o sofrimento são
privação se ser, consequentemente, estavam ausentes do Paraíso Terrestre, não
por si mesmos, mas estritamente em função dos Bens Sobrenaturais. Num mundo
todo ele na Graça de Deus, com o grau de santidade a desenvolver-se de geração
em geração, é óbvio que esse meio social deveria ser impassível e imortal.
São Tomás de Aquino, nos seus
comentários ao Evangelho de São João, explica claramente que este Apóstolo foi
o único que não sofreu martírio cruento. Efectivamente, condenado à grelha, por
volta do ano 96, dela saiu ileso; foi exilado para a ilha de Patmos, onde
morreu, naturalmente, pelo ano 104, portanto centenário ou quase. São Tomás
atribui a morte incruenta deste Apóstolo à sua inocência, à sua virgindade.
Ninguém imagina Nossa Senhora
disciplinando-se com correntes, ou usando cilício, precisamente, devido à sua
eminentíssima santidade, não tinha necessidade deste género de penitências para
se purificar, ou para crescer ainda mais na Graça e na Verdade. Todavia todos
imaginamos Nossa Senhora jejuando, pois tal já lhe é perfeitamente compatível,
constituindo mesmo uma exigência da vida Sobrenatural da mais santa de todas as
criaturas.
É conhecido como São Pio X
nunca usou disciplinas e cilícios, tal não apresenta desprimor para a sua
santidade; muito pelo contrário – É PROVA DA SUA MAIOR SANTIDADE.
Uma vez contraído o pecado
original, mesmo com a promessa do Redentor, de Cuja Graça já beneficiaram Adão
e Eva para a sua penitência, a condição do Género Humano passou a ser,
essencialmente, mortal, passível, e belicista.
Já se tem utilizado a passagem
da Carta aos Tessalonicenses, acima transcrita, para provar a não absoluta
universalidade da condição mortal da Humanidade. Neste caso, os que estivessem
vivos no tempo da Parúsia final, não morreriam, os seus corpos seriam
instantaneamente glorificados e logo arrebatados com Nosso Senhor Jesus Cristo
para o Céu.
São Tomás de Aquino, nos seus
comentários às Epístolas de São Paulo, sustenta claramente a universalidade
absoluta da condição mortal humana. Assinala São Tomás, que o próprio São
Paulo, noutro passo, afirma que: “Todos morreremos!” (ICor 15,51). Aqui é
necessário observar que Santo Tomás invoca a autoridade de São Jerónimo, que
nalgumas das suas cartas assinala discrepâncias nos Sagrados Códices: Uns
registariam - “Todos ressuscitaremos”, ou “Todos dormiremos”; outros Códices
consignariam – “Nem todos ressuscitaremos”. São Tomás, por razões teológicas,
afirma que o tributo da morte é absolutamente universal, e que os viventes do
tempo da Parúsia, para se conformarem plenamente ao seu Redentor, morrerão e de
imediato serão transformados, isto é, glorificados, porque São Paulo nestas
passagens só considera os eleitos. Dormir, neste particular, significa falecer
com a certa esperança na ressurreição.
Alguns poderiam ainda colocar
a hipótese, na qual sinceramente não creio, de que os viventes na época da
Parúsia, mártires de uma forma ou outra e vítimas do anti-Cristo, e derradeiros
representantes da Sacrossanta Fé Católica sobre a Terra, seriam, por especial
privilégio, preservados da morte – assim como o teriam sido Adão e Eva –
entrando directamente na vida Eterna. Todavia, mesmo Nossa Senhora, é mais
provável que tenha morrido, ainda que, teòricamente, por si mesma, criatura sem
o pecado original, fosse imortal. Mas num mundo pavorosamente ferido, moral e
fìsicamente, pelo pecado original, Nossa Senhora teria falecido de causas
extrínsecas inerentes a esse mesmo mundo. Mas uma morte absolutamente digna e
impassível, como convém à mais santa e pura das criaturas.
A morte, em si mesma, é algo
naturalmente decorrente da condição material dos seres vivos. Numa ordem
ontológica puramente natural, que aliás jamais existiu, todos os homens seriam
mortais. O Dom Preternatural da imortalidade, neste mundo, só pode constituir
privilégio excepcional, e como já se referiu, sempre em ordem aos Bens
Sobrenaturais.
A inferioridade essencial dos
homens em relação aos Anjos radica-se nesta mortalidade corporal, que como se
disse é uma privação de ser. Porque quanto menos elevada é a hierarquia dos
entes mais vazios de ser neles encontramos, mais mutáveis são, mais compostos,
sobretudo porque são materiais.
Mas a Sabedoria, Omnipotência
e Bondade Divina pode de alguma forma suprir esta carência de ser, não só pelo
já referido Dom Preternatural da imortalidade, como sobretudo pela glorificação
Eterna de corpos e almas. O mundo glorioso supera totalmente a condição
temporal, dispersiva e sucessiva, porque é absolutamente incorruptível,
imutável e simples, com total domínio do que poderíamos denominar espaço. Nesse
mundo glorificado não existem leis contingentes da natureza, nomeadamente a Lei
da entropia, pela qual as transformações energéticas sofrem progressiva
degradação na sua eficácia. Tal sucederá, porque tal mundo, EMBORA FORMAL E
REALMENTE DISTINTO DE DEUS, d’Ele receberá, ontològicamente, com abundância
tal, que não é conceituável com as nossas categorias humanas e terrenas. Porque
o mundo glorificado estará, inefàvelmente, mais perto de Deus do que o nosso, e
de tal forma, que a Presença de Nosso Senhor Jesus Cristo nos eleitos excederá
inconcebìvelmente a riqueza da Presença Eucarística, a Qual já é, em Si mesma,
infinitamente sublime.
Nosso Senhor Jesus Cristo,
verdadeiro Deus e verdadeiro e perfeitíssimo homem, estremeceu diante da morte,
tanto que até apareceu um Anjo para confortá-l’O. Isso prova que é verdadeiro
homem, pois é próprio da humana natureza temer a morte, embora, com o auxílio
de Deus, deva superar essa natural repugnância e aflição, quando a morte é
necessária por motivos de ordem superior. Mais ainda: A Natureza Humana de
Nosso Senhor, mais perfeita do que qualquer outra natureza, possuía também uma
sensibilidade proporcionada com essa perfeição. Neste quadro conceptual se pode
e deve declarar que Nosso Senhor sofreu física e moralmente mais que qualquer
outro homem, mas com esse sofrimento – além de merecer para nós os Bens
Celestes, com satisfação Vicária de Condigno – mereceu para Si próprio uma
Glória e uma exaltação corporal e externa infinitamente maior do que a de
qualquer homem. Porque Nosso Senhor, intrìnsecamente, não auferiu mérito moral
acidental mediante a Sua agonia e morte; muito pelo contrário, foi o Seu
Infinito mérito essencial, substancial e hipostático que qualificou,
absolutamente, Infinitamente, essa agonia e essa morte, bem como toda a Sua
vida, oculta e pública.
Abracemos a nossa morte
rezando o acto de aceitação Sobrenatural da morte, com todos os seus
sofrimentos físicos e morais, de São Pio X. Não olvidemos que a nossa morte
deve constituir, sobrenaturalmente, a nossa suprema configuração com Aquele que
nos criou e redimiu.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR
JESUS CRISTO
Lisboa, 28 de Agosto de 2017
Alberto Carlos Rosa Ferreira
das Neves Cabral
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