CAPÍTULO XI
POR QUE O PADRE NÃO SE CASA
Passemos à quarta objeção que nos atiram os maninhos de Lutero, julgando
eles ser uma pedra formidável, capaz de esmagar um romano. Infelizmente a pedra
não passa de uma formidável pena, que mostra apenas a ignorância e a falta de
bom senso do seu autor.
O tal crente pede-me um texto que prove que os ministros da religião não
devem se casar.
O negócio é sério. Parece que o crente quer servir de padrinho ou de escrivão
de casamento... querendo casar até quem nem noiva conhece.
Homem, é um perigo! O crente pede apenas “um texto”. Vou servir-lhes uns
vinte pelo menos: textos da Sagrada Escritura, do bom-senso, da conveniência.
Se não ficar convencido depois, não será falta de textos, mas falta de
“cabeça”.
I. Prova de bom senso
Comecemos pelo bom senso, que é a grande bússola da humanidade, dos
protestantes e dos católicos.
Pois bem, o bom senso nos diz que o homem é livre de se casar ou ficar
celibatário. É ou não é verdade, amigo crente?
Isso depende da vontade de cada um (1 Cor 7,37).
De sorte, continua São Paulo, que quem dá a sua filha em
casamento, fez bem; mas quem não a da faz melhor (1 Cor 7,38).
Casa, pois, quem quer e quem pode, pois é preciso serem dois. Se pois
existe tal liberdade, por que os padres não gozariam dela? Quem disse ao amigo
crente que os padres tinham tanta vontade de se casar?
Eu, por mim, sei que nem tenho, nem nunca tive!
O sacerdócio católico não é obrigação para ninguém...
A Igreja não obriga ninguém a ser padre. O estado eclesiástico deve ser
livremente escolhido. Aqueles o escolhem, é , pois, de espontânea vontade que o
fazem, sujeitando-se aos sacrifícios que ele exige.
É somente depois de uns 12 anos de estudo que a Igreja exige o voto de
castidade, podendo o candidato recusar ou continuar à vontade.
Tudo isso é simples como o dia. Há muitos homens e moças que não casam
por interesse ou por medo ou falta de inclinação... e esta liberdade seria
recusada ao sacerdote?
Está, pois, claro, amigo crente; o padre não casa porque prefere
consagrar a Deus sua vida seu coração e seu corpo.
Ninguém pode contestar-lhe esta liberdade, nem dizer que faz mal, pois
segue o conselho de S. Paulo, que os protestantes não têm coragem de seguir: Digo,
porém, aos solteiros e às viúvas que lhes é bom ficarem como eu (1 Cor
7,8). Cada um fique na vocação a que foi chamado (1 Cor 7,
24). O solteiro cuida das coisas do Senhor, mas o que é casado, das
coisas do mundo (1 Cor 7, 32-33). Porém será mais feliz se
ficar assim como eu; e também eu penso ter o espírito de Deus (1 Cor
7,40).
Eis o que diz o bom senso, apoiado sobre a Sagrada Escritura. Casar é
bom... não casar é melhor.
O padre católico escolhe o que há de melhor...e o pastor protestante o
que há de pior, como diz S. Paulo. Qual dos dois age melhor e mais
acertadamente?
Consulte o bom senso e São Paulo no capítulo 7 da primeira epístola aos
Coríntios. Ele não era protestante, mas uma das colunas da Igreja Católica,
romana, e como tal era celibatário, como o são ainda hoje todos os sacerdotes
católicos.
II. O exemplo de Cristo
Vamos, amigo protestante, temos de percorrer ainda muitos textos. Citei
apenas os textos do bom-senso, apoiado sobre textos de S. Paulo. Vamos agora
ver um pouco de perto o próprio Evangelho e no Evangelho o exemplo do grande
modelo que é Cristo.
Dize lá, se é bom ou ruim seguir o exemplo e as pisadas de Cristo? Se é
ruim, então o amigo lance a sua bíblia ao fogo!... Se é bom, o amigo verificará
que teve a língua comprida demais e a inteligência por demais curta.
Apenas uma pergunta: Jesus era casado ou não? Não o era. É, pois,
permitido ficar celibatário e guardar a castidade. Deve até ser muito melhor
que o contrário, pois sendo Deus, Jesus deve ter escolhido o que havia de mais
perfeito.
Jesus era celibatário, era virgem, era a pureza perfeita. O sacerdote
católico, que é o seu ministro, procura, o melhor possível, imitar o seu modelo
divino, - procura ser puro, casto, virgem, e por isso fica celibatário – ama a
todos em Deus, e não quer ser amado por ninguém, fora de Deus.
Os pastores protestantes, que se gabam de seguir em tudo a bíblia,
afastam-se aqui, aliás como no resto, dos exemplos do Cristo. Em vez de andarem
separados de tudo, só andam acompanhados de (uma ou mais) “pastoras” e de uma
fila de “pastorinhos”e “pastorinhas”.
Eu acho isso pouco evangélico, e pouco digno de um “ministro” do culto,
de um “eleito”, de um crente que já está salvo!... isto está tão longe dos
exemplos daquele que disse: Eu vos darei o exemplo para que façais como
eu fiz (Jo 13,15). Está bem longe do conselho de S. Paulo: Sede
os imitadores de Deus como filhos queridos (Ef 5,1).
Nota bem, querido crente: Jesus não tinha mulher, nem filhos carnais.
Era virgem, enquanto certos ministros bíblicos andam cercados de prole legítima
e não legítima... mas... cala-te, minha pena, isso não se diz. Quem tem razão,
Jesus ou o pastor protestante?
III. O exemplo dos Apóstolos
Não somente Jesus era celibatário, mas todos os apóstolos o eram. Os
apóstolos são os primeiros sacerdotes, os primeiros bispos, ou ministros do
culto.
Havia entre eles viúvos, até talvez casados, que, de mútuo consenso,
deixaram a mulher para seguir o divino Mestre, conforme o conselho deste
último: Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua
cruz e me siga (Mt 16,24) e ainda: Se quiseres ser
perfeito, vai, vende o que tens, e dá o valor aos pobres (Mt 19,21).
Cristo fala só em renúncia, cruzes e desprendimento; e nunca em mulher e
filhos!... Quem sabe se o suave crente não interpreta este texto, dizendo que a
cruz que eles devem carregar é a mulher ou os filhos!... Sendo assim, ele tem
razão, e segue o Mestre carregando a mulher e os filhos nas costas. Que cruz,
de fato, para um pastor protestante!
S. Pedro não o entendia assim e isso apesar de ter sogra... nem sequer
perguntou a Jesus: Que hei de fazer com minha sogra, mulher e filhos? Nada
disso! Exclama bem alto: Eis que nós deixamos tudo e te seguimos, qual
será o nosso galardão? (Mt 19,27).
E Cristo respondeu: Todo aquele que tiver deixado casa, irmãos
ou irmãs, pai ou mãe, mulher ou filhos, ou terras, por amor de meu nome,
receberá o cêntuplo e a vida eterna (Mt 19,29).
Que bomba, meu caro protestante! O divino Mestre aconselha a deixar
tudo, até mulheres, filhos, por amor dele; e S. Pedro o faz, enquanto os
ministros protestantes procuram antes de tudo a mulher. O sacerdote católico
imita S. Pedro, enquanto o pastor bíblico imita Lutero.
Onde estará a verdade? E qual dos dois segue melhor os ensinamentos de Cristo?
Pobre homem, por que foste meter-te em um tal cipoal?... Em parte nenhuma do
Evangelho se encontra que o ministro do culto deve casar-se; ao contrário, só
se encontram conselhos de não o fazer.
Verdade é que o ministro protestante nada tem de sacerdócio, e nenhuma
missão, nenhuma autoridade tem. Ontem negociante ou roceiro, vira de repente
pastor; ontem tolo e sem letras, torna-se hoje ilustrado e iluminado. Em tais
casos pode casar-se... é o seu direito... é bom até que case para não
queimar, como diz S. Paulo (I Cor 7,9), porém é bom que se cale então e não
lance a pedra ao sacerdócio católico, que faz o que ele não sabe fazer. É
bom que o homem não toque mulher, diz o apóstolo (I Cor 7,1), com maior
razão aquele que deve ser o modelo, o conselheiro e o guia dos homens: o
sacerdote.
Tudo isso é tão claro e tão simples que se fica admirado de um homem que
só jura pela Bíblia não ter lido e meditado isso cem vezes.
Abra os olhos, caro protestante, seja bastante franco para confessar que
está fora da verdade, longe da verdade, e completamente afastado da sua Bíblia,
ou melhor, da nossa Bíblia, pois a Bíblia é da Igreja católica e não dos
protestantes, que só deveriam inspirar-se nos escritos do seu pai Lutero.
IV. O conselho de Cristo
O amigo protestante quer mais textos ainda? Pode ler em inteiro o
capítulo 7 da I epístola de S. Paulo aos Coríntios.
Também S. Mateus tem trechos admiráveis e em nada protestantes (Mt 19,
10-20).
É o próprio Cristo que fala e responde aos discípulos e diz que “não
convém casar”.
Não são todos que compreendem esta palavra, mas somente aqueles a quem é
dado (Mt, 19,11).
Pois bem, isso é dado ao sacerdote católico e não é dado ao pastor
protestante; prova de que Jesus Cristo dá graças ao sacerdote que ele não dá ao
tal pastor.
O padre católico ama a Deus, sem dividir o seu coração com a mulher; - o
pastor ama a sua pastora e as suas pastorinhas, de coração dividido, onde Deus
nada tem. O padre católico procura agradar a Deus e o pastor protestante
procura agradar à sua pastora. Repito-o: como homem particular o amigo
protestante tem este direito; porém como “pastor” afasta-se do conselho do
Mestre.
Mas continuemos o nosso estudo. Até agora provei que o sacerdote pode
ficar celibatário; que faz bem ficando assim, que segue os conselhos de Jesus
Cristo e anda nas pisadas do Mestre divino.
Será o bastante, entretanto quero dizer mais, para convencer plenamente
meu bom crente, caso ele busque sinceramente a luz e a verdade.
O celibato é de conselho, não de preceito, senão o matrimônio seria um
pecado, o que é falso; sendo um sacramento instituído por Jesus Cristo e por ele
santificado na ocasião das núpcias de Caná. É o que fazia dizer a S. Paulo:
Este sacramento é grande em Jesus Cristo e na Igreja (Ef 10, 32).
Texto que de novo é a condenação dos protestantes que se contentam com o
contrato civil, vivendo deste modo amasiados.
Para o sacerdote, o celibato ou castidade, não é simples “conselho”, mas
um preceito eclesiástico.
A Igreja é uma sociedade de fiéis; em toda sociedade deve haver um
chefe, um governo que tenha autoridade e poder para formular leis diretivas
para essa sociedade.
Aqui, de novo, o protestantismo está fora de toda lei: quer formar uma
sociedade sem chefe, um corpo sem cabeça.
Pois bem, o papa, chefe da Igreja católica, apoiado sobre os exemplos e
conselhos de Jesus Cristo e dos apóstolos, formulou a lei que os sacerdotes não
podem mais casar-se e se foram casados antes de receber as ordens sacras, não podem
mais fazer uso do matrimônio.
Eis a lei que vigora na Igreja católica. Esta lei existe desde Jesus
Cristo e os apóstolos e desde os primeiros séculos se faz menção dessa
obrigação.
Tertuliano, que faleceu pelo ano de 222, diz que os clérigos são celibatários
voluntários.
Eis a lei do celibato, caro protestante. Se o amigo for sincero, deve
confessar que é uma grande e bela instituição, derivada do exemplo do próprio
Cristo e seguida por todos os sacerdotes, desde os apóstolos até nossos dias...
V. Outra objeção protestante
Para provar que o padre devia casar-se, os amigos protestantes
encontraram em S. Paulo um texto que lhe serve de cavalo de batalha.
Com a liberdade de interpretação individual, é claro que um texto pode
ser interpretado diversamente, e até às vezes receber explicações
diametralmente opostas.
O tal cavalo-de-batalha é o seguinte conselho de S. Paulo a Timóteo: Se
alguém deseja o episcopado, deseja uma boa obra. Importa que o bispo seja
irrepreensível, esposo de uma só mulher, sóbrio, prudente, conciliador,
modesto, hospitaleiro, capaz de ensinar (I Tim 3, 1-2).
Eis a prova protestante de que o padre queira ou não queira, deve
casar-se. Mas, diga-me, caro crente, como é que Cristo, que deixou a cada um a
liberdade de casar-se ou de ficar celibatário, recusa este direito ao padre?
E que prova tal texto? Prova que o celibato não é de obrigação divina,
mas sim de conselho. O Apóstolo não diz: É prescrito que o bispo seja casado;
mas diz: Sendo ele casado, deve sê-lo com uma mulher só, excluindo deste modo a
tal bigamia pública ou oculta... E esta última é infelizmente demais conhecida.
Ora, nunca a Igreja ensinou que o celibato era de ordem divina, mas sim
de ordem eclesiástica.
O padre deve ser o pai espiritual de todos; de para isso, não deve ser o
pai carnal de ninguém.
O padre deve ocupar-se das crianças dos outros para instruí-las, e para
isso não deve ter filhos próprios.
O padre deve ser o conselheiro e o confidente de todos, e para isso deve
viver independente de todos e de tudo.
Para tudo isso, o padre deve poder dispor do seu tempo, o que não
poderia fazer, se tivesse mulher ou filhos.
O padre deve viver para a Igreja e para a religião, e não para a mulher
e filhos.
O famoso texto de S. Paulo, longe de contradizer, confirma a doutrina
exposta e mostra o que sempre temos repetido: que o celibato não foi exigido
por Cristo; porém foi aconselhado, pela palavra e pelo exemplo, deixando Jesus
Cristo à sua Igreja o cuidado de regular estes pormenores, conforme os tempos e
os lugares.
É o bastante, pois a Igreja, assistida pelo Espírito Santo, faz o que
Deus lhe inspira, pois é infalível em suas decisões dogmáticas e morais: Quem
vos escuta, escuta a mim e quem voz despreza, despreza a mim, disse Cristo (Lc
10,16).
VI. Católicos e protestantes
Com tudo isso está infinitamente acima dos exemplos dos lúbricos
fundadores do protestantismo!
Lutero com suas três raparigas; Zwínglio com sua libertinagem; Calvino
condenado por crime torpe, marcado nas costas com ferro em brasa, sinal de
extrema infâmia; Henrique VIII degolando as suas seis mulheres, mostram
bastante o que é o protestantismo: uma escola de devassidão e de revolta.
Pode haver protestantes bons; mas neste caso valem mais do que a
religião que professam; enquanto o católico que praticasse completamente a
religião seria um santo.
Eis confrontados os dois mistérios: o catolicismo e o protestantismo.
O sacerdote católico, seguindo os conselhos e os exemplos de Cristo e
dos apóstolos, renunciando à família e ao conforto do lar, para consagrar-se ao
serviço de Deus, e o pastor protestante, casado, cercado de filhos e procurando
deixar uma pequena fortuna para eles, não praticando nenhuma das grandes
virtudes, tão aconselhadas por Cristo a seus apóstolos, que são os primeiros
sacerdotes e cujos exemplos devem servir de norma a todos os sacerdotes.
E os protestantes tem a ousadia de lançar pedras ao sacerdócio católico,
pedindo-lhe textos que provem que não devem casar. Pobre gente! ... Tanta
ignorância supina e tanto fanatismo cego! ... Seria melhor buscar textos que
provem que Lutero, Zwínglio, Calvino e Henrique VIII, os pais do
protestantismo, não são sujeitos libertinos, sem compostura, sem moral.
Tais textos serviriam, pelo menos, para lavar a mancha negra que macula
o berço da reforma e a aponta a todas as gerações como uma obra imunda e revoltante.
Se um protestante conhecesse a sua seita, a sua origem, a sua história,
gritaria como os réprobos do juízo final: Montanhas, caí sobre nós, e
outeiros, encobri-nos (Lc 19,40).
Livro: Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às
objeções protestantes. VI Edição. Editora Vozes; págs: 99-108.
Disponível no seguinte site: Capela Nossa Senhora das Alegrias
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Antes de postar seu comentário sobre a postagem, leia: Todo comentário é moderado e deverá ter o nome do comentador. Comentário que não tenha a identificação do autor (anônimo), ou sua origem via link e ainda que não tenha o nome do emitente no corpo do texto, bem como qualquer tipo de identificação, poderá ser publicado se julgar pertinente o assunto. Como também poderá não ser publicado, mesmo com as identificações acima tratadas, caso o assunto for julga impertinente ou irrelevante ao assunto. Todo e qualquer comentário só será publicado se não ferir nenhuma das diretrizes do blog, o qual reserva o direito de publicar ou não qualquer comentário, bem como de excluí-los futuramente. Comentários ofensivos contra a Santa Madre Igreja não serão aceitos. Comentários de hereges, de pessoas que se dizem ateus, infiéis, de comunistas só serão aceitos se estiverem buscando a conversão e a fuga do erro. De indivíduos que defendem doutrinas contra a Verdade revelada, contra a moral católica, de apoio a grupos ou ideias que contrários aos ensinamentos da Igreja, ao catecismo do Concílio de Trento, ferem, denigrem, agridem, cometem sacrilégios a Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, a Mãe de Deus, seus Anjos, Santos, ao Papa, ao clero, as instituições católicas, a Tradição da Igreja, também não serão aceitos. Apoio a indivíduos contrários a tudo isso, incluindo ao clero modernista, só será publicado se tiver uma coerência e não for qualificado como ofensivo, propagador do modernismo, do sedevacantismo, do protestantismo, das ideologias socialistas, comunistas e modernistas, da maçonaria e do maçonismo, bem como qualquer outro tópico julgado impróprio, inoportuno, imoral, etc. Alguns comentários podem ser respondidos via e-mail, postagem de resposta no blog, resposta do próprio comentário ou simplesmente não respondido. Reservo o direito de publicar, não publicar e excluir os comentários que julgar pertinente. Para mensagens particulares, dúvidas, sugestões, inclusive de publicações, elogios e reclamações, pode ser usado o quadro CONTATO no corpo superior do blog versão web. Obrigado! Adm do blog.