Arai Daniele
“Duro
oráculo do Senhor contra Israel, por intermédio de Malaquias, profeta.”
Assim
começa o livro do último profeta que fala do Messias e do Sacrifício no Antigo
Testamento, dirigindo-se a um povo que apresentava sinais de impiedade
semelhante à dos cristãos de hoje. Por isto, é útil reler suas páginas breves mas
de grande intensidade. Aqui faremos, pois, uma comparação do período descrito
com o nosso, para procurar colher ensinamentos de valor perene.
“Lembrai-vos
da lei de Moisés, meu servo, a qual lhe dei em Horeb para todo o Israel,
contendo os meus preceitos e mandamentos. Eis que vos enviarei o profeta Elias,
antes que venha o dia grande e horrível do Senhor. Ele converterá o coração dos
pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais, para não suceder que eu
venha e fira a terra com anátema.” (Mal,
4-4)
Assim termina o livro. Fala do enviado, precursor do dia grande
e horrível do Senhor, antes citado como anjo e mensageiro e agora caracterizado
como o profeta Elias, que, enérgico de espírito, enfrentou sozinho os 450
sacerdotes de Baal para destruir o seu culto idolátrico.
No Novo Testamento (Mt 11, 9-15) vamos reconhecê-lo em João
Batista que preparou a vinda de Jesus, convertendo os corações dos filhos à
piedade dos pais observantes dos mandamentos.
Os Profetas foram mandados para advertir e converter uma
humanidade que se fez órfã pela soberba e pela impiedade. São homens isolados,
não para dialogar diante de maiorias, mas para acusar e pedir penitência. Para
a mentalidade atual, parece sem sentido recordar tais emissários da
Providência, aludir a povos órfãos.
Pois bem, diante da triste realidade de hoje, o absurdo é
justamente a incapacidade de ver e compreender a deletéria demissão dos pais,
juízes e chefes, promovida sob a tirania ideológica que visa a morte do Pai e
que, em nome da democracia, sufoca as vozes capazes de proclamar princípios
familiares, sociais, morais e religiosos que estão acima dos prazeres e
conveniências dos homens, porque são ligados à transcendente Origem e Fim da
própria vida humana.
Por instinto, multidões ainda acorrem para ouvir a voz que deveria
lembrar o supremo Pai, o Papa que deveria representar a Paternidade na terra,
voz que deveria proclamar Princípios e Verdades necessárias e eternas, contra
incertezas e compromissos humanos e falazes.
Que desolação quando esses crentes voltam com palavras obscuras
de liberdade e ecumenismo ou com ambíguos chavões sobre igualdade e
fraternidade.
O dia grande e horrível do Senhor, qual pode ter sido senão o da
Paixão do Pastor, do Messias, para o qual João Batista preparara Israel!
Mas há também a considerar a Parusia e o Juízo Universal, grande
dia da volta do Senhor, horrível para os que serão por Ele condenados e
amaldiçoados.
Se na época do Seu Advento foi preciso mandar um vigoroso
Profeta a preparar o mundo, não menos carentes estamos nós hoje, neste mundo em
mortal convulsão.
Quem perscruta os acontecimentos terrenos com os olhos do
espírito iluminados pelos ensinamentos do divino Mestre, compreenderá que,
assim como toda a vida vem do Espírito, o que ocorre hoje na vida mental, moral
e social é conseqüência do que aconteceu antes na vida espiritual desse mesmo
povo.
Assim é que à violência e o caos crescentes em nossos dias,
seguem invisíveis, mas perigosos desastres na esfera espiritual, cujos vigias
consagrados se agitam festivos e cegos nos vapores mundanos e neblinas
políticas com que se deixam desviar. E, afetada a Sede onde deveria estar o
cerne da vida espiritual, que é da Igreja, multidões rebelam-se e renunciam à
sua condição de pais e mães, estabelecida pelo Supremo Pai, com conseqüências
sociais degradantes.
Os sinais dos tempos segundo Malaquias
Continuando a leitura de Malaquias e retrocedendo do dia grande
e horrível do Senhor, isto é, do fim do livro onde culmina a Profecia, teremos
a visão da sociedade humana que o precedeu, para compará-la com a nossa.
O livro desenvolve-se em forma de diálogo e registra, através do
mensageiro Malaquias, a Palavra de Deus diretamente.
Os interlocutores humanos, que representam mormente a sociedade
religiosa, limitam-se a perguntar, depois de cada acusação: em que nós Te temos ultrajado? Ou depois de uma afirmação: Em que nos amaste Tu? Expressões que revelam incredulidade
relapsa ou ignorância insolente e aborrecida pela arguição divina, como quem,
tendo estabelecido um próprio código de conduta aproximativo e mínimo da lei,
pretende cumprir seu dever e merecer paz de consciência.
Na verdade, o mal já foi feito, ao considerar insuportável a Lei
divina no próprio íntimo, introduzindo onde havia definição e preceito, a
indiferença, que é produto da mesquinhez humana diante da sabedoria divina. Não
é esta a característica do comportamento hodierno dos homens aliciados pela
mega «dignidade humana»?
Se assim não fora, qual mentalidade leva multidões a uma vida
espiritualmente decadente, onde esvanece todo fervor religioso?
Malaquias falava aos filhos de uma geração de pais que sofreram
guerras e exílios, e apesar disso se empenharam no restabelecimento do Templo e
de um relativo melhoramento material e político. Nossa geração também não é
filha de outra que careceu das facilidades de que hoje desfrutamos?
Há acusações contra feiticeiros (os vigaristas que seduzem com
ciências e artes), adúlteros, perjuros, exploradores dos assalariados, das
viúvas e dos órfãos, dos que oprimem estrangeiros e não temem a Deus e dizem: “É em vão que se serve a Deus. Que
ganhamos nós guardando Seus preceitos e andando tristes e penitentes diante do
Senhor dos exércitos? Por isso chamamos ditosos aos homens que arrogantes, prosperam
vivendo na impiedade.Eles
provocam a Deus e (apesar disso) ficam a salvo.” (Mal 3, 14-15).
Poder-se-á argumentar que estes males e estas dúvidas são de
todas as épocas e portanto não podem individuar aquela ou a presente em modo
especial.
Para demonstrar o contrário, pode-se ver que este comportamento
ou mentalidade está ligado a fatos anteriores que são, enumerados na ordem
inversa da gravidade espiritual: os divórcios, os casamentos com mulheres
idólatras e, antes de tudo, o desvio dos sacerdotes pela oferta um de
sacrifício impuro.
A partir deste desvio vamos rever o que foi profetizado a
Malaquias em relação ao culto divino com o sacrifícios de animais; figura bem
reduzida do que viria a ser o Santo Sacrifício da Missa para celebrar a paixão
do Amor de Deus.
«A Santa Missa encerra toda a infinita grandeza do Sacrifício da
Cruz que se aplica pessoal e individualmente a cada um de nós: o mesmo
Sacrifício, a mesma Vítima, o mesmo Sacerdote: Jesus Cristo.
«Oh, se pudesses penetrar o mistério da
Consagração! Veríeis Jesus Cristo pregado na Cruz que oferece de novo ao Pai as
suas chagas, o seu sangue, a sua morte para a salvação da nossa própria alma e
para aquela do mundo inteiro. Veríeis os Anjos prostrados ao redor do altar
atônitos, quase espantados por tanto amor para com seres tão indiferentes e
mesmo ingratos. Ouviríeis o Pai celeste repetir-nos como sobre o Tabor: “Este é o meu Filho dileto, no qual
pus a minha complacência,: ouvi-O!” (
Mt 17, 7-9)» (São Pedro Juliano Eymard)
O Sacrifício desprezado segundo a profecia de Malaquias
Nesta Profecia é Deus Pai que se manifesta aos homens de Israel
dizendo: “O filho honra seu
pai e o servo, seu senhor. Se eu sou vosso Pai, onde está minha honra? E se eu
sou o vosso Senhor, onde está o temor que se me deve? – diz o Senhor dos
exércitos. Convosco falo, ó sacerdotes, que desprezais o meu nome e dizeis: que
desprezo temos tido por teu nome? Ofereceis sobre o meu altar um pão impuro e
ousais dizer: Em que desprezamos o teu nome? Nisso que dizeis: a mesa do Senhor
está desprezada. Se ofereceis em sacrifício um animal cego, não há mal nisto? E
se trazeis um animal coxo e doente, não vedes mal nisto? Vai oferecê-lo ao teu
governador; crês que lhe agradarias, que ele receberia bem? – diz o Senhor dos
exércitos. Ide agora rogar a Deus para que se compadeça de vós! Tendo feito
isto com vossas próprias mãos, ouvir-vos-á ele favoravelmente? – diz o Senhor
dos exércitos. Quem há entre
vós e feche as portas e acenda o lume no meu altar gratuitamente?Não tenho
nenhuma complacência convosco – diz o Senhor dos exércitos – e nenhuma oferta
de vossas mãos me é agradável. Porque, do nascente ao poente, meu nome é grande
entre as nações e em todo lugar se oferecem ao meu nome o incenso, sacrifícios
e oblações puras. Sim, porque grande é o meu nome entre as nações – diz o
Senhor dos exércitos. Vós, porém, o profanais quando dizeis: A mesa do Senhor
está manchada; o que nela se oferece é desprezível como o fogo que o devora. E dizeis ainda: eis o fruto do
nosso trabalho! Ai, que cansaço! Com isto tornastes desprezível o que
oferecestes. Trazeis o animal roubado, o coxo, o doente. Julgais que vou
aceitá-lo de vossas mãos? – diz o Senhor. Maldito seja o homem enganador que
consagra e sacrifica ao Senhor um animal defeituoso, tendo no rebanho animais
sadios! Sou um grande Rei – diz o Senhor – e o meu nome é temível entre as
nações. (Mal 1, 6-14)
Na Vulgata: “Et dixistis: Ecce de labore, et
exsufflastis illud, dicit Dominus exercituum; er intulistis de rapinis claudum
et langudum, et intulistis munus: unquid suscipiam illud de nabu vestra? dicit
Dominus. Maledictus dolosus qui habet in grege suo masculum, et votum faciens,
immolat debite Domino: quia rex magnus ego, dixit Dominus exercituum, et nomen
meum horribile in gentibus.
Aqui basta relevar na «nova Missa de
Paulo 6º», na preparação dos dons para a consagração do Corpo e Sangue de Jesus
Cristo, no ato que deveria ser da oferta, o impudente uso da palavra
«trabalho»: – vos oferecemos o pão e o vinho, fruto da terra e do trabalho do
homem. Ora, até na vida civil, nenhuma oferta educada é feita mencionando o
trabalho ou o custo do que é oferecido. Tanto menos poderia tal palavra estar
na oferta da sagrada Hóstia, que é o próprio Jesus, Filho de Deus que se
ofereceu imolado para a nossa redenção. Qual trabalho humano pode ser invocado
diante de tal Sacrifício de salvação? Se fazê-lo já era sinal implícito de
desprezo pelo Sacrifício Divino da Missa, não tardaram a seguir sinais
explícitos da contaminação litúrgica que degradou a espiritualidade na Igreja e
no mundo.
E dizer que tudo havia sido predito ao Profeta Malaquias, muito
antes da Paixão!
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