Capítulo I - Introdução
Boca eloqüente e
dicção agradável fornecem prazer e glória fútil de louvor para os pobres homens
que têm o entendimento corrompido; o amante da verdade, porém, não se prende a
palavras afetadas, mas examina a eficácia da palavra, o que ela é e de que tipo
é. Pois bem, meu amigo: tu me causaste estupor com palavras vãs,
vangloriando-te dos teus deuses de pedra e madeira cinzelados e fundidos,
esculpidos e pintados, deuses que não vêem nem ouvem (de fato, são imagens e
obras de mãos humanas); além disso, tu também me chamas zombeteiramente de
cristão, como se eu portasse
um nome infame. Quanto a mim, confesso que sou
cristão e trago esse nome grato a Deus, e espero ser útil ao mesmo Deus. Não há
fundamento, para supores que seja difícil ter o nome de Deus; talvez porque,
sendo inútil para Deus, tu pensas dessa maneira sobre Deus.
Capítulo II - Condições morais para o
conhecimento de Deus
Mas se tu me
dizes: "Mostra-me teu Deus", eu te poderia responder: "Mostra-me
teu homem, e eu te mostrarei o meu Deus". Mostra-me, portanto, os olhos de
tua alma que vejam e os ouvidos do teu coração que ouçam. Com efeito, aqueles que
vêem com os olhos do corpo observam aquilo que se passa na vida e sobre a
terra, discernindo juntamente as diferenças entre a luz e a escuridão, entre o
branco e o negro, entre o disforme e a bela forma, entre o que é harmonioso,
bem proporcionado e o que é desarmonioso e desproporcional, desmesurado e
truncado; a mesma coisa para aquilo que cai sob o sentido dos ouvidos: sons
agudos, graves e suaves. Acontece do mesmo modo com os ouvidos do coração e os
olhos da alma aos quais é possível perceber Deus. De fato, Deus é experimentado
por aqueles que podem vê-lo, desde que os olhos de sua alma estejam abertos.
Todos têm olhos, mas alguns os têm obscurecidos e não percebem a luz do sol; e
não é porque os cegos não vêem que a luz do sol deixa de brilhar, mas os cegos
devem buscar a causa em si mesmos e em seus olhos.
Do mesmo modo, Ó
homem, tu tens os olhos de tua alma obscurecidos por tuas faltas e tuas más
ações. O homem deve ter alma pura como espelho brilhante. Quando o espelho fica
enferrujado, não se pode mais ver a face do homem no espelho; assim também,
quando há falta no homem, esse homem já não pode contemplar a Deus. Mostra-te a
ti mesmo, se não és adúltero, se não és devasso se não és pederasta, se não és
ladrão, se não és explorador, se não és colérico, se não és invejoso, se não és
impostor, se não és soberbo, se não és brutal, se não és amante do dinheiro, se
não desobedeces a teus pais, se não vendes teus filhos. Com efeito, Deus não se
manifesta àqueles que cometem essas faltas, a não ser que antes se purifiquem
de toda mancha. Por isso, tudo é obscuro para ti, como a bandagem que se coloca
no olho por não poder contemplar a luz do sol. Assim também, ó homem, tuas
impiedades projetam sobre ti trevas e tu não podes ver a Deus.
Capítulo III - Transcedência de Deus
Então me dirás:
"Tu que vês, descreve-me o aspecto de Deus". Escuta, homem: o aspecto
de Deus é inefável, inexprimível, e não pode ser visto com os olhos carnais.
Por sua glória, ele é sem limite, inigualável por sua grandeza, acima de
qualquer idéia por sua altura, incomensurável por sua força, sem igual por sua
sabedoria, inimitável por sua bondade, indizível por sua benevolência. Se eu o
chamo Luz, é uma de suas criaturas que nomeio; se eu o chamo Verbo, nomeio o
seu princípio; seu eu o chamo Razão, nomeio a sua inteligência; se eu o chamo
Espírito, nomeio a sua respiração; se eu o chamo Sabedoria, nomeio o que ele
gera; se eu o chamo Força, nomeio o seu poder; se eu o chamo Potência, nomeio a
sua atividade; se eu o chamo Providência, nomeio a sua bondade; se eu o chamo
Soberania, nomeio a sua glória; seu eu o chamo Senhor, digo que é juiz; se eu o
chamo Juiz, digo que é justo; se eu o chamo Pai, digo que é tudo; se o chamo
Fogo, nomeio a sua ira. Tu me dirás: "Deus fica irado?" Eu respondo:
Sim, ele se ira contra aqueles cujas ações são más; no entanto, ele é bom,
propício e misericordioso para com aqueles que o amam e o temem; ele é o
educador dos fiéis, o pai dos justos, o juiz e castigador dos ímpios.
Capítulo IV - A soberania de Deus
Ele não tem princípio,
porque não foi gerado; ele é imutável, porque é imortal. É chamado Deus porque
fundou tudo sobre sua própria estabilidade, e ainda através de théein. Théein
significa correr, ser ativo, trabalhar, alimentar, prover, governar, dar vida a
tudo. Ele é Senhor, porque exerce o senhorio sobre tudo; Pai, porque existe
antes de tudo; Fundador e Criador, porque ele criou e fez tudo; Altíssimo,
porque ele é superior a todas as coisas; Onipotente, porque ele domina e
envolve tudo. As alturas dos céus, as profundezas dos abismos, e os confins da
terra estão em sua mão; não há lugar onde esteja suspensa a sua ação. Os céus
são obra sua; a terra é realização sua; o mar é criação sua; o homem é figura e
imagem sua; o sol, a lua e as estrelas são elementos seus, feitos para medir
sinais, medida de tempo, dias e anos, para utilidade e serviço dos homens. E
Deus fez tudo do não-ser para o ser, a fim de que por suas obras seja conhecida
e compreendida a sua grandeza.
Capítulo V - Condições intelectuais para
o conhecimento de Deus
Do mesmo modo como
a alma não pode ser vista no homem, pois ela é invisível para os homens, mas
pode ser imaginada por causa dos movimentos do corpo, assim também acontece com
Deus: ele não pode ser visto pelos olhos humanos, mas pode ser visto e
imaginado pela sua providência e pelas suas obras. Quando alguém vê no mar um
navio com todo o seu apetrecho, que singra e se aproxima do porto, é evidente
que pensa que há um piloto que o dirige; do mesmo modo, deve-se pensar que
existe um Deus, que governa tudo, embora os olhos carnais não o vejam, porque
ele não é circunscrito. Se o sol, que é o menor elemento existente, não pode
ser fixado pelo olhar humano, pois é muito quente e muito forte, como não será
muito mais impossível ao homem mortal ver face a face a glória inefável de
Deus? A romã possui uma casca que a envolve; dentro tem muitas repartições ou
casinhas separadas por membranas e, finalmente, muitos grãos aí alojados. Do
mesmo modo, toda a criação está envolvida pelo sopro de Deus, e esse sopro que
a envolve está com a criação pela mão de Deus.
Assim como o grão
da romã, do interior de seu habitáculo, não pode ver o que está fora da casca,
pois está lá dentro, também o homem, que é envolvido com toda a criação pela
mão de Deus, não pode contemplar a Deus. Além disso, crê-se que um soberano
terrestre existe, embora ninguém o veja: suas leis, seus editos, seus
funcionários, suas autoridades, suas estátuas o tornam conhecido. E tu não
queres reconhecer Deus pelas suas obras e manifestações de seu poder?
Capítulo VI - Condições intelectuais
para o conhecimento de Deus (cont.)
Ó homem,
considera, portanto, as obras de Deus: a variedade das estações segundo os
tempos, a mudança dos ares, o curso bem regrado dos elementos, a marcha também
ordenada dos dias e das noites, dos meses e dos anos; a variada formosura das
sementes, das plantas e dos frutos; a grande diversidade de criações:
quadrúpedes e aves, répteis e peixes, seja de água doce, seja do mar; o
instinto dado aos mesmos animais para gerar e criar, não para sua própria
utilidade, mas para que o homem aproveite; a providência com que Deus prepara o
alimento para toda carne, a submissão à humanidade que ele impôs a todas as
coisas; as torrentes das fontes doces e dos rios perenes, o aparecimento
oportuno do orvalho, das chuvas e das tempestades que acontecem segundo os
tempos; o movimento tão variado dos elementos celestes, o luzeiro da manhã que
surge para anunciar a vinda do grande astro, a conjunção da Plêiade e do Órion,
o Arturo e o coro dos outros astros que circulam na abóbada celeste, aos quais
a infinita sabedoria de Deus pôs nomes próprios.
É unicamente esse
Deus que tirou a luz das trevas, que tira a luz de seus depósitos, que conserva
os depósitos do vento, os reservatórios do abismo, os limites dos mares, os
depósitos das neves e granizos, que junta as águas nos reservatórios do abismo
ejunta as trevas em seus depósitos, tira a luz doce, desejada e grata, de seus
depósitos, faz subir as nuvens da extremidade da terra, multiplica os
relâmpagos para chover, envia o trovão para infundir medo, anuncia de antemão o
seu estrondo por meio do relâmpago, para que a alma não sofra emoção súbita que
a deixaria inanimada, e ainda modera a força do relâmpago que vem dos céus,
para que não abrase a terra. De fato, se o relâmpago desenvolvesse todo o seu
poder, abrasaria a terra e igualmente o trovão transtornaria tudo o que há
nela.
Capítulo VII - Condições intelectuais
para o conhecimento de Deus (cont.)
Esse é o meu Deus,
Senhor do universo, o Único que estendeu os céus e estabeleceu a largura da
terra sob o céu, que perturba a profundeza do mar e faz ressoar suas ondas, que
domina a sua força e acalma a agitação de suas ondas, que alicerçou a terra sobre
as águas e deu seu espírito que a alimenta, cujo sopro tudo vivifica e, se ele
o retivesse, tudo desfaleceria. Esse sopro, ó homem, faz a tua voz; tu respiras
o espírito dele, e tu não o conheces. Isso acontece por causa da cegueira de
tua alma e endurecimento do teu coração. Mas, se quiseres, podes curar-te.
Coloca-te nas mãos do médico e ele operará os olhos de tua alma e do teu
coração. Quem é esse médico? É Deus que cura e vivifica através do Verbo e da
Sabedoria. Deus fez tudo a través do seu Verbo e da sua Sabedoria. Por seu
Verbo foram estabelecidos os céus e por seu Espírito toda a força deles. Sua
Sabedoria é poderosíssima. Por sua Sabedoria, Deus colocou os alicerces da
terra, por sua inteligência dispôs os céus, em sua prudência os abismos se
abriram e as nuvens derramaram o orvalho. Fé e visão Ó homem, se compreenderes
isso, e viveres de maneira pura, piedosa e justa, poderás ver a Deus. Antes de
tudo, porém, entrem em teu coração a fé e o temor de Deus, e então
compreenderás isso. Quando depuseres a mortalidade e te revestires da
incorruptibilidade, verás a Deus de maneira digna. Com efeito, Deus
ressuscitará a tua carne, imortal, juntamente com tua alma. Então, tornado
imortal, verás o imortal, contanto que agora tenhas fé nele. Então reconhecerás
que falaste injustamente contra ele.
Capítulo VIII - Crer na ressurreição é
razoável
Tu, porém, não
crês que os mortos ressuscitam. Quando isso acontecer, então crerás, queiras ou
não. E essa crença será considerada incredulidade, se não creres desde agora.
Mas, por que não crês? Não sabes que a fé vai à frente de todas as coisas? De
fato, qual lavrador pode colher, se antes não confia a semente à terra? Ou quem
pode atravessar ornar, se antes não se confia à embarcação e ao piloto? Qual
doente pode curar-se, se antes não se confia ao médico? Qual arte ou ciência
pode alguém aprender, se antes não se entrega e se confia ao mestre? Portanto,
se o lavrador crê na terra, o viajante no navio, o doente no médico, por que tu
não queres confiar-te a Deus, do qual recebeste tantos dons? O primeiro dom é
te haver tirado do nada para o ser. Se houve momento em que nem teu pai, nem
tua mãe existiam, muito menos existias tu. Ele te plasmou de uma substância
úmida e pequena e de uma pequenina gota, que também não existia antes, e
finalmente te introduziu neste mundo. Além disso, crês que as imagens
fabricadas por homens são deuses e que operam prodígios, e não crês que Deus,
que te fez, possa novamente tornar a fazer-te?
Capítulo XIX - Vós credes em outros
deuses
Os nomes dos
deuses, aos quais dizes cultuar, são nomes de homens mortos. Quem eram esses e
que valiam? Não se diz que Cronos era comedor de crianças e que devorava seus
próprios filhos? Se falas de Zeus, filho dele, conheças bem sua vida e
prodígios. Primeiramente, foi alimentado no Ida por uma cabra; depois,
matando-a e esfolando-a, da pele fez para si, conforme as fábulas, uma
vestimenta. Seus outros feitos, como, por exemplo, seu casamento com sua irmã,
seus adultérios e corrupções de rapazes, Homero e os outros poetas os cantam
melhor do que eu. Além disso, para que fazer a lista de seus filhos, um
Héracles que se queima vivo; um Dioniso embriagado e louco; um ApoIo que tem
medo de Aquiles e dele foge, e depois se enamora de Dafne e não fica sabendo da
morte de Jacinto; uma Afrodite ferida; um Ares que é perdição dos mortais e,
finalmente, o sangue que escorre de todos esses pretensos deuses? E isso tudo
ainda é moderado, quando vemos um deus esquartejado que chamam de Osíris, do
qual a cada ano se celebram mistérios, como se se perdesse e se encontrasse e
fosse procurado membro por membro. Não se sabe se foi perdido, nem se mostra se
foi achado! Por que devo falar de Átis mutilado, ou de Adônis, que anda errante
pela selva, que caça e é ferido por um javali, ou de Asclépio fulminado, ou de
Serápis, que vai fugitivo de Sínope para Alexandria, ou da frígia Artemis,
tonta, fugitiva, assassina, caçadora e enamorada de Eudimião? Não somos nós que
dizemos tudo isso, mas os vossos escritores e poetas que os apregoam.
Capítulo X - Vós credes em outros deuses
(cont.)
Para que também
fazer o catálogo da multidão de animais que os egípcios cultuam? Répteis e
bestas, feras e aves, peixes das águas, e até os banhos dos pés e os ruídos
vergonhosos. Se me falas dos gregos e das outras nações, elas cultuam pedras,
madeiras e outras matérias, como dissemos antes, que são representações de
homens mortos. Com efeito, sabemos que Fídias fez em Pisa o Zeus Olímpico para
os éleos e a Atena da Acrópole para os atenienses. E agora, eu pergunto também
a ti, homem: Quantos Zeus existem? Em primeiro lugar, chama-se Zeus o olímpico;
depois, há um Zeus latino, um Zeus cássio, um Zeus fulminador, um Zeus
Propator, um Zeus noturno, um Zeus defensor da cidade, um Zeus capitolino. E
ainda o Zeus, filho de Cronos, que foi rei dos cretenses e tem sua sepultura em
Creta. Quanto aos outros, não foram sequer considerados dignos de sepultura.
Falar-me-ás da mãe dos pretensos deuses? Deus me livre nomear com minha boca
suas ações, pois não nos é lícito sequer nomear tais coisas, ou as ações com
que seus servidores lhe prestam culto e as contribuições e tributos que eles e
seus filhos pagam ao imperador. Não são deuses, mas ídolos, como anteriormente
dissemos, obras das mãos dos homens e demônios impuros. Que aqueles que os
fabricam se tornem como eles e aqueles que neles põem a sua confiança.
Capítulo XI - Atitude para com o
imperador
Por isso, eu
honraria melhor ao imperador, embora não o adorasse, mas rogasse por ele.
Adorar, eu adoro apenas ao Deus real e verdadeiramente Deus, pois sei que o
imperador foi criado por ele. Então me perguntarás: "Por que não adoras o
imperador?" Porque não foi constituído para ser adorado, mas para que se
lhe tribute a legítima honra. Com efeito, ele não é Deus, mas homem
estabelecido por Deus, não para ser adorado, mas para julgar com justiça. De
certo modo, Deus lhe confiou uma administração e assim como ele próprio não
quer que se chame de imperadores os que ele estabeleceu sob o seu poder, pois o
nome "imperador" é particular seu, e a ninguém é permitido chamar-se
dessa forma, da mesma forma a ninguém é lícito adorar senão a Deus. Portanto, ó
homem, estás completamente equivocado em tudo. Honra ao imperador por tua
adesão a ele, submetendo-te a ele, orando por ele. Fazendo isso, realizarás a
vontade de Deus. A lei divina diz: "Meu filho, honra a Deus e ao rei, e
não sejas desobediente a nenhum dos dois, pois eles se vingarão repentinamente
de seus inimigos".
Capítulo XII - O nome de cristão
Quanto ao fato de
zombares de mim, chamando-me cristão, não sabes o que dizes. Primeiramente, o
ungido é agradável e útil, e não tem nada de ridículo. Com efeito, qual navio
pode ser útil e salvo se antes não for ungido? Que torre ou casa possui bela
forma ou é útil se antes não for ungida? Qual homem, entrando no mundo ou indo
ao combate, não se unge com azeite? Qual obra ou ornato pode ter bela
aparência, se não é ungida e não se torna brilhante? Por fim, todo o ar e toda
a terra sob o céu são de certo modo ungidos pela luz e pelo vento. E tu não
queres ser ungido com o óleo de Deus? Nós nos chamamos cristãos porque nos
ungimos com o óleo de Deus.
Capítulo XIII - Imagens da ressurreição
na natureza
Retornemos à tua
negação da ressurreição dos mortos. Tu dizes: "Mostra-me apenas um morto
que tenha ressuscitado e eu acreditarei." Em primeiro lugar, o que há de
maravilhoso em creres naquilo que viste acontecer? Por outro lado, crês que
Héracles, depois de queimar-se vivo, ainda vive, e que Asclépio, que foi
fulminado, ressuscitou. E não crês no que Deus te diz? Talvez, se te mostrasse
um morto ressuscitado e vivo, não acreditarias. Ora, Deus te mostra muitos
indícios, para que creias nele. Se queres, considera a morte das estações, dos
dias e das noites, como morrem e ressuscitam. Vê. Não há também uma
ressurreição para as sementes e frutos, e isso para a utilidade dos homens?
Assim, por exemplo, um grão de trigo ou de qualquer outra planta, uma vez
jogado na terra, primeiro morre e se desfaz, depois ressuscita e se transforma
em espiga. Do mesmo modo, segundo a ordenação de Deus, a natureza das árvores e
plantas não produz, conforme os tempos, os seus frutos a partir do oculto e
invisível? Ainda mais: às vezes um pardal ou outro pássaro qualquer engole a
semente de uma pereira, de uma figueira ou de outra árvore, depois voa para um
monte pedregoso ou sobre um túmulo, aí defeca e a semente que fora antes
tragada e que passara por tão grande calor, retorna e se transforma em uma
árvore.
A sabedoria de
Deus realiza tudo isso para demonstrar, mesmo por esses exemplos, que ele é
Deus poderoso para realizar a universal ressurreição de todos os homens. Se
queres contemplar um espetáculo mais maravilhoso, que acontece para demonstrar
não a ressurreição de coisas terrenas, mas das celestes, considera a
ressurreição da lua, que acontece a cada mês, como ela se consome, morre e
ressuscita novamente. Escuta ainda: a obra da ressurreição se realiza em ti
mesmo, embora tu, ó homem, a desconheças. Provavelmente alguma vez, ficando
doente, perdeste tuas carnes, tuas forças e aparência; ao recobrar a saúde, por
misericórdia de Deus, recuperaste novamente teu corpo, tua força e tua
aparência. E como não sabes para onde foram tuas carnes ao desvanecer-se,
também não sabes como se formaram e de onde vieram. Tu dirás: "Dos
alimentos e dos líquidos transformados em sangue". Muito bem! Isso, porém,
também é obra de Deus, que assim dispôs, obra dele e de nenhum outro.
Capítulo XIV - Exemplo pessoal de
Teófilo
Portanto, não
sejas incrédulo, mas acredita. Eu também não acreditava que isso existisse, mas
agora, depois de refletir muito, eu creio; ao mesmo tempo, li as Sagradas
Escrituras dos santos profetas, os quais, inspirados pelo Espírtio de Deus,
predisseram o passado como aconteceu, o presente tal como acontece e o futuro
tal como se cumprirá. Por isso, tendo a prova das coisas acontecidas depois de
terem sido preditas não sou incrédulo, mas creio e obedeço a Deus. Eu te peço:
submete-te também a ele, para que, não crendo agora, forçosamente tenhas que
crer mais tarde em tormentos eternos. Exortação final Esses tormentos foram
preditos pelos profetas, e os poetas e filósofos, posteriores a eles, os
imitaram a partir das Sagradas Escrituras, para dar autoridade aos seus
ensinamentos. Desse modo, eles também falaram antecipadamente dos castigos que
recairão sobre os ímpios e incrédulos, para que ficassem testemunhados para
todos e ninguém pudesse dizer: "Não ouvimos falar disso, nem
sabemos". Se queres, lê tu também com interesse as Escrituras dos profetas
e elas te guiarão com mais clareza para escapares dos catigos eternos e
alcançares os bens eternos de Deus. De fato, ele, que nos deu a boca para
falar, que formou o ouvido para ouvir e fez os olhos para ver, examinará tudo e
julgará com justiça, dando a cada um segundo os próprios méritos. Para aqueles
que, segundo suas forças, buscam a incorruptibilidade através das boas obras,
ele dará a vida eterna, a alegria, a paz, o descanso e uma multidão de bens,
que nenhum olho viu, nenhum ouvido e nenhum coração humano sentiu; mas aos
incrédulos, aos zombadores e aos que desobedecem à verdade e seguem a
injustiça, depois de manchar-se com adultérios, fornicações, pederastias,
avarezas e sacrílegas idolatrias, para esses, existirá a ira e a indignação, a
tribulação e a angústia, e, por fim o fogo eterno se apoderará deles.
Amigo, tu
replicaste: "Mostra-me teu Deus". Pois bem: esse é o meu Deus, e te
aconselho que o temas e creias nele.
* * *
Fonte: Veritatis Splendor (http://www.veritatis.com.br)
Tradução: Ivo Storniolo e Euclides M. Balancin
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Antes de postar seu comentário sobre a postagem, leia: Todo comentário é moderado e deverá ter o nome do comentador. Comentário que não tenha a identificação do autor (anônimo), ou sua origem via link e ainda que não tenha o nome do emitente no corpo do texto, bem como qualquer tipo de identificação, poderá ser publicado se julgar pertinente o assunto. Como também poderá não ser publicado, mesmo com as identificações acima tratadas, caso o assunto for julga impertinente ou irrelevante ao assunto. Todo e qualquer comentário só será publicado se não ferir nenhuma das diretrizes do blog, o qual reserva o direito de publicar ou não qualquer comentário, bem como de excluí-los futuramente. Comentários ofensivos contra a Santa Madre Igreja não serão aceitos. Comentários de hereges, de pessoas que se dizem ateus, infiéis, de comunistas só serão aceitos se estiverem buscando a conversão e a fuga do erro. De indivíduos que defendem doutrinas contra a Verdade revelada, contra a moral católica, de apoio a grupos ou ideias que contrários aos ensinamentos da Igreja, ao catecismo do Concílio de Trento, ferem, denigrem, agridem, cometem sacrilégios a Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, a Mãe de Deus, seus Anjos, Santos, ao Papa, ao clero, as instituições católicas, a Tradição da Igreja, também não serão aceitos. Apoio a indivíduos contrários a tudo isso, incluindo ao clero modernista, só será publicado se tiver uma coerência e não for qualificado como ofensivo, propagador do modernismo, do sedevacantismo, do protestantismo, das ideologias socialistas, comunistas e modernistas, da maçonaria e do maçonismo, bem como qualquer outro tópico julgado impróprio, inoportuno, imoral, etc. Alguns comentários podem ser respondidos via e-mail, postagem de resposta no blog, resposta do próprio comentário ou simplesmente não respondido. Reservo o direito de publicar, não publicar e excluir os comentários que julgar pertinente. Para mensagens particulares, dúvidas, sugestões, inclusive de publicações, elogios e reclamações, pode ser usado o quadro CONTATO no corpo superior do blog versão web. Obrigado! Adm do blog.