A
perda da fé pela Hierarquia católica
Até
bem pouco tempo as pessoas mais ou menos cultivadas, em geral,
estimavam que o acontecimento capital do século XX fora a
Revolução Russa, com a conseqüência da
expansão mundial do comunismo. Mas depois da queda do Muro de
Berlim (1989) e a dissolução auto-imposta da União
Soviética, de um dia para outro o esquecimento desceu sobre o
marxismo e sobre sua realização pratica. Então,
que outro acontecimento? Poderia haver um mais importante do que as
revoluções, as duas Guerras Mundiais, os genocídios,
a chegada do homem à lua e outros acontecimentos e fenômenos
terríveis e extraordinários do século que
terminou? Para nós há um acontecimento
de extrema gravidade, capaz de suscitar a justa cólera de Deus
em relação ao mundo: a perda da Fé por grande
parte da hierarquia católica, que emergiu a partir do Concilio
Ecumênico Vaticano II (1962–1965). Naturalmente nos referimos
à fé tal como resulta dos documentos oficiais do
Magistério atual.
O
indício dessa perda da Fé é o louvor do mundo,
inimigo do Cristo.
Como
o mundo, por definição “reino do príncipe
desse mundo”, se entusiasmou tanto por um Concilio Ecumênico
que deveria ex officio condenar seus erros e repetir
a doutrina e a moral professada pela Igreja durante dezenove séculos?
Os cantos de vitória pelo “espírito de abertura”
dirigidos aos valores professados pelo homem contemporâneo não
cessam, espírito de abertura manifestado pelo Vaticano II, que
substituiu as condenações pela misericórdia, os
anátemas pela compreensão, as conversões das
almas ao Cristo pela procura do “dialogo”: pôs assim o
dialogo com o erro no lugar do dialogo tradicional com o errante para
a salvação de sua alma. Esse mundo não se cansa
de repetir, aliás em uníssono com a atual
Hierarquia, que o Concilio representou (finalmente) o
“aggiornamento” da Santa Igreja aos valores seculares que ela
tinha rejeitado sempre, no passado: da ciência ao progresso, da
liberdade de consciência à dignidade do homem, à
fraternidade universal, à procura coletiva da felicidade
terrestre. Mas se os filhos do Século louvam o Concilio
daqueles que Nosso Senhor chamou para os converter pela pregação
e o exemplo e se os filhos do Século o louvam precisamente
porque aqueles decidiram ir ao encontro da “religião do
homem” (Paulo VI), em suma, se eles o louvam pela inversão
antropocêntrica que se produziu de modo aparentemente
improvisado no catolicismo oficial, isso significa que esse Concilio
não foi uma coisa boa e que nele penetraram as trevas do
Século.
Prova:
A mudança doutrinal
A
atualização da doutrina da Igreja à realidade de
nosso tempo, - dizem – não foi capaz de atacar o “deposito
da fé”, quer dizer os dogmas ensinados desde sempre. Esta é
a tese oficial: “aggiornamento”, sim; “mudança
doutrinal”, não. Trata-se, em todo caso, de uma tese
necessária. A Santa Igreja – é de fé –
sempre gozou da assistência do Espírito Santo no que diz
respeito ao dogma da fé e a regra dos costumes. Mudar, mesmo
parcialmente, a doutrina até aqui ensinada (sobre a fé
e sobre os costumes) permitiria a evidente e inaceitável
conclusão segundo a qual o Espírito Santo, no passado,
teria se enganado (e com o Espírito Santo os Mártires,
os Santos, os Papas) ou não teria assistido a Santa Igreja! É
por isso que não pode haver novidade nesse ponto e
se, por infelicidade, houvesse alguma, seria um erro para
se retificar o mais rápido possível para a Gloria de
Deus e a salvação das almas.
Existe
toda uma literatura sobre as mudanças doutrinais introduzidas
ou promovidas pelo Vaticano II, pouco conhecida do grande publico,
mas que não é menos válida; uma antecipação,
se assim podemos dizer, das tomadas de posição de
muitos entre os Padres do Concilio, da minoria fiel ao dogma. Basta
pensar no intelectual católico Romano Amerio, morto há
alguns anos, ilustre especialista de Campanella e do pensamento ético
de Manzoni, autor de uma magistral análise – traduzida em
francês, inglês e espanhol – sobre os múltiplos
desvios do pós-concilio, provocados na raiz (é a tese
muito documentada de Amerio) pelas “novidades” ambíguas
introduzidas pelo Concilio, algumas das quais com odor de heresia
(1). Amerio e outros pesquisadores acentuaram as ambigüidades e
duplo sentidos presentes nos documentos conciliares, que misturam as
proposições fiéis ao dogma com outras que o
alteram e algumas vezes o contradizem. E
essa ambigüidade, já presente no ensinamento de
João XXIII, ficou agarrada como uma película venenosa
ao magistério pós-conciliar até hoje.
Pequeno
florilégio dos erros e ambigüidades conciliares
1)
Na constituição Lumen Gentium,que trata da
noção própria de Igreja, aparece
claramente uma definição errada da
Igreja, porque afirma, no artigo 8, que a “Igreja
do Cristo” subsiste na Igreja católica e que à
“Igreja do Cristo” pertencem também “ elementos de
santificação” e “verdades exteriores à
Igreja Católica”. Durante dezenove séculos foi
ensinado que a Igreja Católica é a única e
verdadeira Igreja do Cristo, porque foi fundada por Ele e constitui
Seu Corpo Místico, único depositário da Verdade
Revelada, na continuidade do ensinamento dele recebido e transmitido
por são Pedro e pelos apóstolos a seus sucessores e aos
Padres da Igreja, mantido “de mão em mão” (Concilio
de Trento ) até hoje. Quem disso se separou foi considerado –
a justo titulo – como cismático (seitas e não
Igrejas) e, mais, herético, se professou doutrinas contrárias
ao depósito da fé (como os luteranos, anglicanos,
etc...). As comunidades cristãs que se afastaram da Igreja não
podem, enquanto tais, conceder a salvação a seus
membros: tendo se separado da única e verdadeira Igreja, estão
privadas da ajuda do Espírito Santo, sem a qual a salvação
da alma não é possível. E todas as
outras religiões o podem ainda menos. Não
tendo sido fundadas pelo Filho de Deus (que além disso não
querem reconhecer) não podem ensinar a Verdade que nos foi
revelada sobre os divinos Mistérios e sobre os
costumes.
Foi
assim que a Santa Igreja sempre ensinou. Diz ela, por acaso, que
aquele que não é católico está a
priori condenado à pena eterna? Não, porque sempre
ensinou que podemos nos salvar com o batismo de
desejo: explícito, quando aquele que pede o batismo,
ainda estando fora da Igreja, já vive se esforçando
para fazer a vontade de Deus, mas morre antes de receber o batismo;
implícito, quando, estando, sem falta própria, fora
da verdadeira fé, o não católico vive no entanto
procurando fazer em tudo a vontade de Deus, afim de não morrer
em estado de pecado mortal: ele se salva em sua religião mas
não por intermédio de sua religião (2). O
Vaticano II contradiz essa doutrina quando insere na Igreja do
Cristo, ao lado da Igreja católica, “elementos de
santificação e de verdade” ou ainda de salvação,
representados pelas outras denominações
cristãs enquanto tais, com suas falsas doutrinas, já
formalmente condenadas pelo Magistério. As seitas são
assim impropriamente elevadas ao nível de “Igrejas”: isso
está expressamente no artigo 3 do decreto conciliar Unitatis
Redintegratio sobre o ecumenismo. Trata-se de erro teológico
manifesto ao qual se acrescenta também um erro de lógica
no artigo 4 seguinte, onde se diz que só a Igreja Católica
mantém “toda a plenitude dos meios de salvação”
(não mais portanto a unicidade) enquanto que as “Igrejas”
dos protestantes e dos cismáticos , enquanto tais constituindo
“meios de salvação” utilizados pelo Espírito
Santo (!), mostram “carências”. Já que a salvação
é evidentemente sempre a mesma (o céu), não
se compreende segundo qual lógica os “meios de salvação”
dos protestantes e dos cismáticos, afligidos por “carências”
e pois deficientes, podem por si mesmos conceder a mesma salvação
que aquela que é oferecida pelos meios de salvação
da Igreja Católica, meios que não sofrem essas
“carências”.
Os
heréticos e os cismáticos fariam então parte da
“Igreja do Cristo”: é por isso que não se lhes pede
para retornarem à única e verdadeira Igreja ,
depois de terem abjurado seus erros. De fato, o decreto Unitatis
Redintegratio não fala de “volta” mas de
“conversão” com um sentido completamente anormal: "a
unidade não deve se fazer pela volta dos separados à
Igreja Católica, porém antes pela conversão de
todas as Igrejas no Cristo total, o qual não subsiste em
nenhuma delas mas é reintegrado mediante a convergência
de todas em Um” (3). Uma falsa noção de
“Igreja do Cristo” é pois a base do “dialogo ecumênico”
com os ditos “irmãos separados”. A unidade à qual
esse “dialogo” aspira é pois falsa, necessariamente
aberrante, inclusive no plano lógico, já que devem
fazer viver juntos a verdade e o erro: a imutável Verdade
revelada confiada à Igreja com os delírios do livre
exame individual, do “simul iustus et peccator” e
outras coisas semelhantes; a necessidade das obras meritórias
para a salvação com sua negação; o
casamento “divinitus” indissolúvel com aquele muito
solúvel dos protestantes e ortodoxos e etc...
2)
A Lumen Gentium foi em seguida marcada por uma
concepção errônea da colegialidade episcopal. Com
efeito, a suprema potestas iuridictionis sobre a
Igreja, que é outorgada pelo direito divino ao
papa, foi atribuída (pelo artigo 22) também ao colégio
dos bispos em união com o Papa, coisa nunca antes admitida.
Temos, pois, dois titulares do poder supremo (um autentico absurdo
jurídico) com a única diferença de que os bispos
não a exercem sem a autorização do Papa. Em
substância, essa fórmula de compromisso deixa as
conferências episcopais praticamente livres para exercer as
amplas autonomias e competências que lhes são
reconhecidas ex novo pelo Concilio (decreto Christus
Dominus, artigo 37), sobretudo em matéria litúrgica,
para experimentar e adaptar os ritos às culturas locais
(constituição Sacrosanctum Concilium, artigos
22,39, 40). O controle da Santa Sé sobre o comportamento dos
bispos se reduziu, em substância, a constatar as iniciativas
das Conferencias Episcopais, agora que a “potestas” da qual estão
investidos colegialmente os bispos é “suprema”
como a do Papa. As Conferências Episcopais assim pulverizaram a
autoridade de cada bispo (a titulo individual). A autoridade do Papa
e a autoridade do bispo sofreram uma diminuição
impressionante dando vantagem à autoridade do coletivo dos
bispos, que goza mesmo de poderes legislativos. A constituição
hierárquica da Igreja foi subvertida pela instauração
de uma oligarquia episcopal.
Alem
disso, a Lumen Gentium trouxe uma outra modificação
(artigo 9 e seg.) à noção de Igreja, concebida
não como “corpo místico do Cristo” (São
Paulo) mas como “povo de Deus”. Agora é a comunidade dos
fiéis, presidida pelos padres, que vem a ser a
Igreja, como se esta última devesse se constituir
essencialmente a partir de baixo, nas assembléias que
constituem a Igreja local, a soma das quais constitui a
Igreja Universal. Assim a parte é tomada pelo todo – o “povo
de Deus” pela totalidade da Igreja – com o fim de introduzir aí
uma visão democrática, próxima ao modo de
sentir dos protestantes heréticos, totalmente estranhos à
Tradição, a qual, evidentemente, sempre se manteve
firme sobre a origem e a natureza sobrenatural da Santa Igreja,
manifestada e garantida por sua organização
hierárquica.
3)
Em contra partida, a constituição Gaudium et
Spes que trata da relação da Igreja (a “Igreja
do Cristo” ex. artigo 8 da Lumen Gentium) e o mundo
contemporâneo, sofre manifestamente de um antropocentrismo
difuso, totalmente incompatível com a sã doutrina. No
artigo 3 está dito que o “objetivo da Igreja...é
salvar o homem, edificar a humanidade... por conseqüência...
o Concílio, proclamando a grandeza eminente da vocação
do homem... oferece à humanidade a cooperação
sincera da Igreja, em vista de instaurar essa fraternidade universal
que corresponde a essa vocação”. Note-se bem: não
se pensa em “salvar o homem” pecador por meio da conversão
ao Cristo, único que lhe torna possível a vida eterna
(Mc. 16, 15-16; Mt.28, 18-20). Não. , Essa
Hierarquia pensa conseguir a “salvação”
pelo engajamento na instauração da terrestre e mundana
“fraternidade universal”, que não tem nada a ver com o fim
sobrenatural próprio da Igreja. É a fraternidade das
ideologias leigas apodrecidas pelo tempo, das quais a Gaudium
et Spes não hesita em extrair outras sementes: “as
vitórias da humanidade [e quais seriam elas?] são um
sinal da grandeza de Deus e o fruto de seu inefável desígnio”
(artigo 34); “o progresso terrestre... é de grande
importância para o Reino de Deus” (artigo 39), etc. Essa
exaltação do homem encontra acentos impressionantes no
artigo 22: “O Cristo...desvela também plenamente o homem a
si mesmo e lhe manifesta sua altíssima vocação”.
Parece que Nosso Senhor não veio para salvar os pecadores que
cressem Nele e se convertessem ("não vim chamar os
justos, mas os pecadores” Mc. 2, 17) mas para fazer os homens
tomarem consciência dessa grande coisa que ele, homem, é,
para exaltar o homem! A altíssima vocação do
homem resultaria de afirmações como as seguintes: “que
o homem é a única criatura que Deus quis por ele mesmo”
(art. 24 cit.) enquanto que “com a Encarnação o
Filho de Deus se uniu de certa maneira a todo homem” (art.22
cit.) Por isso os homens “todos, resgatados por Cristo, gozam da
mesma vocação e do destino divino” (art. 29).
Difunde-se aqui os germes de uma doutrina que nunca fora antes
ensinada pela Igreja (porque Deus fez todas as coisa para “Ele
mesmo”, para sua glória e nada “para ela mesma”, nem
mesmo o homem) (4), e que essa doutrina terá, como é
conhecido, seu desenvolvimento no pós-Concílio: que
Nosso Senhor, com a Encarnação seria, em certo sentido,
unido a todo homem, de modo a poder considerar – por esse único
fato – que todos os homens já estariam resgatados, sem
necessidade de sua conversão ou de seu retorno ao Catolicismo.
E é com essa falsíssima premissa (uma verdadeira
armadilha para seus partidários) que se instaurou o “dialogo”
com as outras religiões, para poder constituir com elas também
uma unidade planetária, sincretismo não
menos monstruoso do que o que é procurado com os
heréticos e os cismáticos.
4)
O Concilio deveria, em seguida, ter repetido a doutrina de sempre
sobre as duas fontes da Revelação (a Sagrada Escritura
e a Tradição), sobre a inerrância absoluta
da Escritura, sobre a plena e total historicidade dos Evangelhos. Mas
na constituição Dei Verbum sobre a
revelação divina, esses princípios fundamentais
são antes expostos de modo ambíguo (nos artigos muito
contestados 9, 11, 19), com expressões que, em um
caso, (no artigo 11) se prestam a
interpretações inteiramente opostas, da
qual uma reduz a inerrância apenas à “verdade
consignada na Escritura para nossa salvação”. O que
equivale na pratica a uma heresia porque isso põe em dúvida
o caráter absoluto da inerrância das
Escrituras Santas.
5)
O Concílio, em seguida, pôs em obra a reforma litúrgica,
cujos tristes efeitos estão, há anos, sob as vistas de
todos. A antiqüíssima e venerável liturgia
católica da Santa Missa, coração do
Catolicismo, desapareceu, substituída por um novo
rito, em língua vulgar, que os Protestantes puderam declarar
teologicamente aceitável! De fato, seu Institutio (1969
e 1970) não nomeia nem o dogma da Transubstanciação
nem o caráter propiciatório do Sacrifício
(graças ao qual nossos pecados nos são perdoados) que
também constitui um dogma de fé (Denz. Schönm
938/1739-1741;950/1753). Ao contrario o acento é posto, à
maneira protestante, não no Sacrifício do Senhor mas no
banquete que é o seu memorial ou antes o memorial
da Ressurreição (mistério pascal) mais do que da
Cruz, oferecido para a assembléia dos fiéis
sob a presidência do padre, assembléia que
agora concelebra no mesmo plano que este último. Nessa missa,
o Sobrenatural da verdadeira Missa católica,
a repetição incruenta do Sacrifício da
Santa Cruz por meio da transubstanciação do pão
e do vinho em corpo e sangue do Senhor, desapareceu, sabendo-se
que o Institutio se limita a mencionar
uma “presença real” indiferenciada, não qualificada
e não qualificadora, porque considera da mesma maneira a
assembléia dos fiéis, a pessoa do ministro, a palavra
do Cristo e as espécies eucarísticas. (5).
Os
últimos estudos puseram em relevo de modo categórico
porque o novo rito não pode de maneira nenhuma se
definir como católico. Com efeito, “foi afastado do Rito
da Missa tudo o que poderia ter uma relação com a pena
devida pelo pecado, como também a finalidade
propiciatória da Missa”. Além disso, segundo
a heterodoxa teologia “dita do mistério
pascal”, considerando o rito memorial capaz, por si só,
de tornar presente, fora do tempo humano, os mistérios
da morte e da ressurreição do Cristo, a
reforma litúrgica modificou profundamente a estrutura ritual
da Missa até o ponto de eliminar sua dimensão
precisamente sacrifical (6). Isso tornou-se possível também
pela utilização de uma noção de símbolo
muito particular, de aparência esotérica - a
nosso ver – que lembra as tenebrosas tanto quanto falaciosas
doutrinas de um René Guénon e Cia.
Já
que a teologia do mistério pascal considera a Eucaristia não
mais como um sacrifício visível mas como um símbolo
que torna misteriosamente presentes a morte e a
ressurreição do Senhor e que permite, através
destes fatos, o contacto com o Cristo glorioso, a presença
do Cristo Sacerdote e Vítima cedeu o passo, na ação
litúrgica, àquela do Kyrios que se
comunica à assembléia (7). E uma tal, imprópria,
quase mágica noção de símbolo, contribuiu
para a elaboração de uma nova noção de
Sacramento, naturalmente diferente daquela que pertence ao deposito
da fé (8). Pois bem, essa incrível missa do Novus
Ordo já estava antecipada nos artigos 7, 10, 47, 48,
106 da constituição conciliar Sacrosanctum
Concilium sobre a reforma litúrgica, a qual, além
disso, nos artigos 21, 24,37, 38, 40, 90, 119, considera também
a simplificação do rito, para o tornar mais
fácil, mais adaptado (!) à cultura
profana,nacional e local; atualização a ser conseguida
através da criatividade e experiências litúrgicas.Todas
essas novidades vão expressamente contra todos os ensinamentos
da Igreja. Isso provocou os diversos e múltiplos ritos hoje
dominantes, do afro-católico (que se exibe com danças e
tambores dentro da própria Basílica de São Pedro
em Roma), ao índio-católico, às variantes
nacionais e locais e aos ritos pessoais dos diferentes oficiantes de
serviço. À ortodoxia e à majestade do Rito
Romano Antigo cujo cânon remonta aos Apóstolos, sucedeu
a Babilônia do novo rito submisso à aculturação,
fruto de uma doutrina perversa.
6)
O Vaticano II mostrou que aceitava o conceito leigo da liberdade como
“libertas a coactione – liberdade de não ser coagido”,
ontologicamente fundada na dignidade do homem enquanto homem, para
justificar o caráter lícito de não importa qual
culto religioso (declaração conciliar Dignitatis
humanæ, artigos 2, 3, 4,). O Concilio justifica assim
a liberdade entendida como autodeterminação
absoluta do indivíduo, de um individuo que se considera
realizado e auto-suficiente, enquanto que a Igreja sempre ensinou que
a liberdade não pode se separar da Verdade (revelada) e
que a dignidade da pessoa fica obscurecida se nela falta a retidão
da vontade que procura o Bem, porque essa dignidade está
fundada sobre valores sobrenaturais e não sobre o homem
enquanto homem (9). E o Concílio, por conseqüência,
introduziu a idéia da livre procura da verdade por
parte da consciência individual, com suas próprias
forças naturais, apenas e em união com os homens de boa
vontade de todas as crenças e de toda fé (Gaudium et
Spes, 16), o que é menos católico do que se possa
imaginar. Essa colocação conduziu, por fim, à
afirmação de uma substancial independência da
“comunidade política” em relação à
Igreja: uma e outra teriam em comum somente o fato de estar “a
serviço” de uma geral “vocação pessoal
e social entre os homens”, de modo a poder realizar uma “sã
colaboração segundo as modalidades
adaptadas às circunstancias de lugar e de tempo”
(Gaudium et Spes, 76) ou ainda segundo os critérios
de simples oportunidade. Mas isso se opõe ao ensinamento
constante da Igreja, segundo o qual a Igreja tem um primado sobre a
“comunidade política” e essa última, mesmo em sua
independência relativa, deve contribuir para a salvação
das almas por meio da realização e a defesa de um bem
comum inspirado nos valores católicos. Deveríamos
continuar e pararmos por exemplo nas análises irreais do mundo
contemporâneo contidas em Gaudium et Spes, maquiadas
com os piores lugares comuns, tirados das ideologias leigas correntes
de então e de hoje ou na imagem adocicada e não
verídica das religiões não cristãs,
apresentadas no artigo 16 de Lumen Gentium e pela
declaração conciliar Nostra Ætate. Mas
o que dissemos até aqui nos parece suficiente.
A
despeito do castigo, a esperança.
A
partir dessas rápidas visões, rigorosamente fundadas
sobre textos, compreende-se que aconteceu alguma coisa semelhante ao
que espantava Giuseppe Prezzolini, para justificar (apesar de ser um
leigo) a condenação infligida por santo Pio X em 1908
à heresia modernista [que queria, justamente, adaptar a
fé ao mundo moderno, quer dizer à ciência, à
filosofia, à democracia, ao progresso, à fraternidade
universal, ao sentimento e à liberdade individual, às
culturas nacionais, etc, retirando dela, de fato, todo
elemento sobrenatural] :
“Os desejos dos
modernistas teriam logicamente levado à destruição
do catolicismo e a sua transformação em uma
religiosidade vaga e geral e, no fundo, em uma cópia ruim do
socialismo”.
Não
obstante a condenação, a heresia modernista se manteve
escondida na espera de “tempos melhores”, que já começaram
a aparecer nos anos vinte e trinta do século passado, com
a Nova Teologia, sobretudo na Alemanha e na França.
Essa Nova Teologia retomou e desenvolveu os erros do modernismo,
conseguindo em seguida penetrar amplamente nos textos do
Concílio, não obstante as censuras e as condenações
(aliás moderadas) de Pio XII, evidentemente partilhadas por
alguns setores, tanto do alto quanto do baixo clero (porém
mais do alto clero). Isso pôde acontecer porque o
Vaticano II quis se declarar como um simples concilio pastoral, que
não pretendia pois definir nem dogmas, nem
erros. (Notalida “in aula” dia 16 de novembro de 1964),
renunciando assim de modo inusitado ao carisma da infalibilidade,
intrínseca ao magistério extraordinário de um
autêntico concílio ecumênico. (A natureza jurídica
do Vaticano II ficou então indeterminada). Essa
singular “capitis deminutio – redução da
autoridade” de sua parte tem por conseqüência
que a crítica das novidades introduzidas por esse Concilio não
contradiz o dogma da infalibilidade que o Concilio não
requereu nem proclamou.
O
castigo não se fez esperar. As igrejas, os conventos, os
seminários se esvaziaram. Os padres e as freiras parecem uma
espécie em via de extinção e aqueles que ainda
há parecem, em grande número, possuídos por uma
mentalidade de protesto, inclinados à rebelião e às
reivindicações sociais, mais à política
do que ao cuidado das almas. A unidade católica foi – de
fato - dissolvida em “igrejas” nacionais e continentais,
governadas por suas Conferências episcopais respectivas. O
mundo católico vegeta em um clima de anarquia substancial,
contra o qual a Santa Sé se mostra sempre impotente. (E não
poderá começar a remediá-lo, segundo nós,
enquanto não forem retirados os obstáculos que a
própria Santa Sé colocou ilegitimamente contra a livre
celebração da verdadeira Missa de Rito Romano antigo,
da verdadeira Missa católica, declarada perpetuamente válida
por são Pio V e nunca ab-rogada por quem quer que seja, e que
portanto não cessou jamais de ser legitimamente celebrada,
mesmo que seja por uma pequena minoria, a partir de 1969, ano da
introdução do Novus Ordo).
O
Catolicismo não atrai mais ninguém, seu prestígio
nunca esteve tão baixo enquanto que os católicos
apostasiam em número cada vez maior. As nações
católicas estão tomadas pelo indiferentismo religioso o
mais avançado e por uma espantosa dissolução
moral e civil, cujos germes preexistiam em virtude do materialismo e
do ateísmo difundidos de maneiras diferentes, mas
complementares, pelos dois modelos dominantes, o americanismo e o
comunismo. Em seguida, nas duas últimas décadas, uma
migração assassina de povos, principalmente muçulmanos,
começou a se abater sobre as nações católicas,
assim como sobre todo o resto do “Ocidente”.
A
terra parece toda corrompida (Gen. 6,11). Nosso Senhor,
Filho de Deus, consubstancial ao Pai, instituiu sua Igreja para a
salvação do mundo: “Ide ...fazei de todos os
povos meus discípulos...”(Mat. 28,19).Se a fé da
maior parte dos pastores, infelizmente, se corrompe, quem converterá
o mundo, quem o salvará? Devemos nós então
desesperar com o futuro? Não, porque Nosso Senhor disse que
“as portas do inferno não prevalecerão” sobre a
Santa Igreja (Mat. 16,18). Esperamos, pois, se Deus quiser, que desde
o princípio do século XXI, a hierarquia comece a rasgar
o véu das falsas doutrinas que desde muito tempo lhe cobre o
rosto, que escute finalmente o grito das almas imersas nas trevas,
que volte a pregar o dogma da fé e se apresente outra vez a
seu rebanho com toda a audácia da fé.
Desejamos
que todos os povos comecem a sacudir, pela graça de Deus, o
hedonismo, o materialismo, o vazio mental e a nulidade espiritual que
os destroem atualmente, para que reencontrem a convicção
de sua missão. Não é a política mas
a religião que é tudo! É preciso se levar em
conta que o reino da política acabou e que os povos, assim
como os indivíduos, devem fazer a vontade de Deus, do
verdadeiro Deus Uno e Trino. O resto não conta. Ousemos
esperar que as nações católicas voltem
reconhecer como suas a obrigação de “tudo
instaurar em Cristo”: a restauração do
catolicismo como doutrina e forma de vida, para a nossa salvação
e para a salvação do mundo, de modo a poder um dia
reconhecer-se inteiramente num Papa que ouse, finalmente, elevar bem
alto o estandarte da Fé.
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