Todas as noites ficava a olhar as vacas no pasto, e como vivia em paredes e tetos enxergava, ou de ponta cabeça ou na vertical, o seu mundo e a noite a sua visão é mirabolante. Com isso parava e ficava a ver os bovinos ruminando noturnamente e isso a fazia imaginar: "Como é maravilhoso ser uma vaca."
A sua mãe assustou e achou aquilo estranho, pensou: "meu filho esta se drogando com as ervas que come, a falta de uma dieta a base de insetos esta atrapalhando seu cérebro". Buscou tratamento, levou em um psicanalista que desenvolveu uma tese sobre o comportamento lagartixal e mesmo assim não tiveram sucesso.
A lagartixa brigou com sua mãe, com seus conhecidos dizendo que eles tinham que aceitar a opção que tinha tomado, que todos deveriam respeitá-la e não marginalizá-la, pois o que estavam fazendo era algo deslagartixano.
Tempo vai tempo vem e cada dia mais e mais a pequena lagartixa ia adquirindo novos hábitos, um dia parou de lamber os olhos e eles foram ficando cada vez mais opacos, passou a balançar a calda, uma vez ou outra ela acabava perdendo-a, mas logo nascia de novo, na vaca se ela perde o rabo não nasce.
Certo tempo, já quase cego e com uma calda que acabara de crescer após perde-la, resolveu descer das paredes pela última vez e assumir que o que "era". Correu para o pasto, corria gritava para seu novo bando, sua espécia verdadeira, uma opção que ela passou a ter e não aceitava mais ser chamada de lagartixa, era uma vaca, grita, pulava de alegria, "mugia", corria, corria, corria, mas via que a distância que a separava das paredes e dos insetos para o pasto e o curral era enorme.
Após muito, muitas horas, exausto, sem calda, com a visão mínima, chegou próximo ao rebanho, sentiu que ali sim era o seu lugar, aqueles animais enormes, grandes, era dos seus, o cheiro do rebanho, das ervas dos estercos a fez sentir realmente que era uma vaca, já imaginou até com um bezerrinho.
Caminhando passou próximo a uma vaca, e ficava tentando chamá-la, mas não tinha atenção e logo uma chuva de ácido úrico caiu sobre ele, a primeira coisa que afetou foi sua visão já debilitada, ela não lubrificava mais com a língua, ficou cego, bateu o desespero. Onde estou, pensou ela preciso achar uma amiga vaca, mas de repente algo pesado, pastoso, quente caiu sobre seu insignificante corpo, uma vaca, uma sua nova amiga, uma de sua espécie despejou uma esterco justamente onde ela estava.
Era muito pesado, estava quente, logo começou a sufocar, sentiu todo o peso do esterco o calor que começou a cozinhar seu sangue, o peso daquela coisa pastosa pressionou os pulmões, faltou-lhe ar, a lagartixa foi morrendo. Já não enxergava, não tinha forças, não podia pedir socorro e não havia a quem pedir.
Estava longe de casa, de seus amigos, de sua parede onde sentia uma segurança, onde podia correr, subir, andar no teto.
A morte chegou para a lagartixa pelo esterco.
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