Em 1146, o Doutor Melífluo – assim denominado pela unção que emanam de seus escritos, especialmente os dedicados a Nossa Senhora – escreveu uma carta aos barões da Bretanha.
Naquele tempo o ducado de Bretanha constituía um Estado independente.
“1. A terra inteira treme e está abalada porque o Rei do Céu perdeu sua pátria aqui embaixo, os locais que seus pés pisaram.
Os inimigos de sua Cruz conjuraram-se contra Ele e exibindo-se cheios de audácia e orgulho, bradaram todos juntos: “Apoderar-nos-emos de seu santuário”.
Eles querem se apoderar dos Santos Lugares onde se efetivou nossa salvação, e ameaçam emporcalhar com sua presença os locais regados com o sangue de nosso Salvador.
Mas o que eles querem no mais fundo de seu coração é destruir o tesouro insigne da religião cristã, esse Sepulcro onde o corpo do Salvador foi depositado e sua Face divina recoberta com um Sudário.
Eles apontam com mão ameaçadora a montanha de Sião, e se o próprio Senhor não fosse seu guardião, eles não demorariam em cair sobre a cidade santa de Jerusalém, a cidade onde o nome de Deus vivo foi outrora invocado.
Os cristãos são jogados nos cárceres ou cruelmente massacrados como ovelhas sem defesa.
O olho da Providência parece fechado sobre estas desgraças, mas só para melhor ver se encontrará alguém que compreenda a vontade de Deus e queira efetivá-la, que sofre a afronta com a qual Ele é ameaçado e esforce-se em devolver-lhe sua herança.
Embora Ele possa tudo quanto quer, só deseja que os cristãos tenham o mérito da vitória, reservando para Si o poder de esmagar seus inimigos.
2. Eis por que, atendendo ao premente apelo do rei nosso senhor, e obedecendo às ordens da Santa Sé, nós marchamos em multidão, no dia de Páscoa, até Vézelay, onde o rei nosso senhor e sua corte tinham se reunido.
Após ter exposto aos olhos de todos o triste estado das coisas, foi lida uma carta do Papa, da qual eu vos envio uma cópia.
O Espírito Santo tocou os corações e o rei pegou a cruz junto com uma multidão de homens e grande número de senhores, e de todas as partes se viu acudir pessoas ansiosas de colocar sobre seu peito o sinal da salvação.
Como vosso país está cheio de valentes guerreiros e de uma juventude plena de bravura, incumbe-vos alistar entre os primeiros, junto com aqueles que já deram seu nome para a expedição santa, e de espada em mão partir para defender a causa do Deus vivo.
Coragem, pois, generosos guerreiros! Revesti-vos de vossas armas e aquele que não tiver espada que se apresse a comprar uma!
Não deixeis sozinho o rei da França, vosso rei; isso seria abandonar o próprio Rei dos Céus, pelo qual nosso rei empreende uma guerra tão longe e tão penosa.
Vós não demorareis em receber a visita de um verdadeiro homem de Deus, o senhor bispo de Chartres.
Ele vos informará com mais detalhes de tudo quanto aconteceu aqui, e ao mesmo tempo vos mostrará as indulgências consideráveis que o Papa concede por meio de sua carta àqueles que tomarem a Cruz.
Em nome d’Aquele que quis morrer por vossa salvação, voai em defesa dos lugares onde Ele foi morto e consumou a nossa Redenção, se não desejais que os pagãos digam logo: “Onde, pois, está vosso Deus?”
Que Nosso Senhor Jesus Cristo, o filho de Maria, o esposo da Igreja, vos conceda a vitória na Terra e a coroa da glória nos Céus.”
(Fonte: Obras completas de São Bernardo, abadia de Saint-Benoit, Cartas aos Templários)
Fonte: As Cruzadas - http://ascruzadas.blogspot.com.br/2014/04/sao-bernardo-aos-baroes-da-bretanha.html#more
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