A posse da alma atribui-se à virtude da paciência, porque a paciência é a raiz e guardiã de todas as virtudes. Efectivamente pela paciência possuimos nossas almas, porque quando já aprendemos a vencer-nos a nós mesmos, começamos a ser donos do que somos. Ora bem, a paciência consiste em suportar, equânimes, o mal que nos causam os outros, e não murmurar queixa alguma contra quem nos faz mal. Porque quem carrega com os trabalhos alheios, mas de forma que interiormente se queixa, aguardando o ajuste de contas, esse não tem paciência, apenas a aparenta; pois está escrito: A Caridade é paciente, é benigna (I Cor 13,4). Porque é paciente para tolerar os males alheios; e é benigna para amar aqueles mesmos a quem suporta. POR ISSO DIZ A MESMA VERDADE: AMAI A VOSSOS INIMIGOS, FAZEI BEM AOS QUE VOS ABORRECEM, E ORAI POR TODOS OS QUE VOS PERSEGUEM E CALUNIAM. (…)
Não se chama Pastor, mas mercenário, a quem apascenta as ovelhas do Senhor, não por amor íntimo, mas por ganhos temporais. Efectivamente é mercenário, quem ocupa, sim, o posto de de pastor, mas se não ocupa dos ganhos espirituais das almas; quem cobiça as comodidades da Terra, goza com a honra da prelatura, apascenta-se com os ganhos temporais, e alegra-se com a reverência que lhe tributam os homens; porque estas são as recompensas do mercenário, que encontra aqui o que busca e por aquilo que trabalha no seu governo, ficando depois desterrado da Herdade do Rei.»
Porque a Fé Católica é necessàriamente simples, como Deus Nosso Senhor é Infinitamente simples. Existe certa crítica que assevera que os apologetas católicos dizem sempre a mesma coisa, insistindo contìnuamente nas mesmas realidades; ainda bem que assim é, porque os Mistérios Sobrenaturais, bem como a Sua relação com a nossa salvação, são sempre os mesmos, embora possam e devam ser analisados segundo ângulos diferentes. Quanto menos, E MAIS RICOS, Princípios Fundamentais forem necessários para a nossa operação Sobrenatural, MAIS PERTO ESTAMOS DE DEUS, O QUAL É, CONHECE E AMA, SEGUNDO O ÚNICO PRINCÍPIO, INCRIADO, DA SUA DIVINA ESSÊNCIA. Anàlogamente, quanto mais nos afastamos de Deus, mais a nossa cognição e a nossa operação serão múltiplas, dispersivas e ineficazes; uma tal atomização desintegradora, explica perfeitamente o VAZIO TREMENDO DA VIDA MUNDANA, VAZIO ESSE QUE ANIQUILA E CARCOME A SEITA ANTI-CRISTO, ORIUNDA DO VATICANO 2.
A própria vida moderna, sobretudo nas grandes cidades, afasta terrìvelmente de Deus, o que aliás já acontecia no século XIX. Toda a civilização actual, requintadamente ateia, blasfema, deicida, constitui uma formidável provocação à Santa Ira de Deus Nosso Senhor.
Todavia, as criaturas, enquanto tais, quer na Ordem Natural, quer na Ordem Sobrenatural, devem necessàriamente, pela objectividade nativa da sua própria existência, conduzir a Deus; e a razão profunda consubstancia-se no facto das criaturas, e muito especialmente as espirituais, reflectirem, contingentemente, as Infinitas perfeições Divinas; contudo, só as almas religiosamente bem formadas percepcionam, enlevadas e orantes, a transcendência de tal realidade. As pessoas do mundo, cegas pela dissolução pseudo-religiosa, intelectual, e moral, arrastam-se, imersas numa esterilidade muito bem definida por Santo Afonso Maria de Ligório, quando afirmou: “Ai, como seriam grandes santos, os mundanos, se sofressem para dar Glória a Deus, o que sofrem para se condenar”.
Quando a Teologia Moral, e sobretudo a Teologia Ascética e Mística, nos ensina que o mundo nos afasta dos caminhos de Deus, TRATA FUNDAMENTALMENTE DO MUNDO EM SENTIDO MORAL – ESSE, SIM, PÉSSIMO; PORQUE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO JÁ O CONDENOU!
Mas a criatura, precisamente porque saída das mãos de Deus, possui uma santidade ontológica própria, QUE LHE NÃO PERTENCE, PORQUE VEM TODA DE DEUS, E ESTÁ SEMPRE REFERIDA A DEUS. É essa santidade ontológica que exige o castigo Eterno da criatura que operativamente perdeu a sua dignidade, repelindo a Deus.
Repudiar a criatura, enquanto tal, considerando-a, em si mesma, um perigo para a salvação da alma, não demonstra santidade, mas precisamente – falta de santidade, fraqueza moral. A vida religiosa proclama a fuga do mundo, sem dúvida, mas como já vimos, em sentido estritamente moral.
Os Anjos e os homens foram, em princípio, chamados a glorificar a Deus em todos os aspectos da sua condição ontológica, porque tudo o que Deus criou é Bom. Não há, nem metafìsicamente pode haver, naturezas más, nem mesmo acidentes maus. O mal moral, enquanto privação qualificada do ser, resulta do desenvolvimento operativo dos entes espirituais sem introduzirem, na sua vida, a hierarquia objectiva dos meios e dos fins. Os próprios Dons Preternaturais concedidos a Adão possuíram como objectivo fazer corresponder o Bem físico ao Bem Moral Sobrenatural.
Enquanto os homens não compreenderem que a cegueira para as coisas de Deus, é simultâneamente pecado e castigo do pecado – pois configura um círculo vicioso em que o mal se nutre dele próprio, numa vertigem existencial, aniquilante da simplicidade que conduz a Deus – jamais poderão combater as nefastas consequências do pecado original.
Porque o mal, enquanto tal, não possui, nem pode possuir, causa eficiente própria, nem causa exemplar, nem causa final, é um simples resultado da aplicação transtornada e subvertida dos primeiros princípios ao concreto quotidiano.
Sòmente a Divina Revelação, sòmente o organismo Sobrenatural das Virtudes Teologais e Morais, dos Dons do Espírito Santo, da Graça Santificante, podem proporcionar à alma o sentido exacto, natural e Sobrenatural, do valor do mundo e das vicissitudes das criaturas – PORQUE FOI AQUELE QUE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, VERBO ENCARNADO, LHE CONFERIU.
Como Sol Sobrenatural deste pobre mundo, Nosso Senhor constitui a medida absoluta, E ENCARNADA, das realidades criadas, quer como verdadeiro Deus, quer como verdadeiro Homem. Porque em Jesus Cristo, o próprio Criador se uniu a uma Natureza Humana, A Qual só com o Verbo, no Verbo, e pelo Verbo, pode subsistir. Realidades infinitamente distantes de um ponto de vista metafísico e natural, encontram-se assim em estreita proximidade ontológica Sobrenatural; porque a medida metafísica, fria e distante, deu lugar À MEDIDA SOBRENATURAL, ÍNTIMA, INFINITAMENTE RICA E PROFUNDA, NA QUAL O MUNDO E O HOMEM SÃO MEDIDOS POR AQUELE MESMO QUE TAMBÉM SE TORNOU HOMEM VIADOR NESTE VALE DE LÁGRIMAS.
A Santidade dos filhos adoptivos de Deus imerge assim, radicalmente, numa Verdade consagrada e encarnada pelo Sacerdócio Substancial de Nosso Senhor Jesus Cristo, feito Homem para satisfazer condignamente, na Cruz, à Santíssima Trindade, pelos pecados de todos os homens, e Cujo Sacrifício, renovado incruentamente nos Altares, constitui, com os Sacramentos, e o Magistério da Santa Madre Igreja, o único e necessário lenitivo Sobrenatural para os peregrinos desta Terra.
Se o lar doméstico dos homens deste mundo, tomasse como causa exemplar, causa eficiente e causa final, o PRESÉPIO DE BELÉM E A HUMILDE CASA DA NAZARÉ, de quantas Graças beneficiaria, porque então poderia haurir a vida Sobrenatural da ubérrima fecundidade das fontes da Sagrada Família; e das realidades criadas, mais Santas, recolheria frutos de Eternidade; pois a beatitude celeste não oblitera a criatura, mas abisma-a infinitamente nos Mistérios de Deus.
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