Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
«Falamos de factos que ninguém ignora. No início do século anterior, quando a horrível tempestade revolucionária que havia massacrado a França, após ter derrubado o antigo regime, afligiu também a Religião, tantas vezes secular. Nosso Predecessor de ilustre memória, Pio VII, com o único pensamento na Glória de Deus e na salvação das almas, e os chefes da República, com a preocupação de solicitar à Religião a estabilidade do seu governo, estabeleceram negociações e fizeram um Pacto, tendo em vista a raparação dos danos da Igreja de França, colocando tal reparação sob a salvaguarda das leis. Ao Pacto constituído, veio acrescentar-se, pela única iniciativa da potência civil, aquilo que se denomina “Artigos Orgânicos”. Não sómente Pio VII se opôs a esta adição, desde que ela viu a luz do dia, mas os Soberanos Pontífices, seus sucessores, aproveitaram todas as ocasiões favoráveis para protestar, muito enèrgicamente, contra estes artigos, então sobretudo onde se insistia sobre o seu valor.(…)
Estes artigos estatuem sobre a Doutrina e a própria disciplina da Igreja; eles sancionam muitas coisas em contradição com a convenção concordatária, revogam uma grande parte das vantagens consentidas em favor dos interesses católicos, e reivindicam para o poder civil os direitos do poder eclesiástico. NÃO E MAIS UMA PROTECÇÃO QUE A IGREJA PODE ESPERAR DO PODER CIVIL – MAS UMA SERVIDÃO! (…)
Nós não podemos esperar que o curso dos ataques contra a Igreja tenha um fim em breve. Certos acontecimentos muito recentes facultam-nos provas certíssimas que aqueles que detêm o leme da República estão de tal forma determinados contra o catolicismo, que os derradeiros excessos são de temer para breve. Enquanto que os documentos emanados da Sé Apostólica, afirmam sem ambiguidade que a profissão do cristianismo se pode perfeitamente harnonizar com a forma republicana de governo, estes homens (os republicanos franceses) parecem querer afirmar que a República, tal como existe em França, nada pode possuir de comum com a Religião Cristã. DUPLA CALÚNIA, QUE FERE OS FRANCESES, SIMULTÂNEAMENTE COMO CATÓLICOS E COMO CIDADÃOS. E aí vêm os acontecimentos mais duros; eles encontrar-nos-ão preparados e sem medo. Nós somos fortificados pelas Palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo:”SE A MIM ME PERSEGUIRAM TAMBÉM VOS PERSEGUIRÃO A VÓS (Jo 15,20); NO MUNDO SOFREREIS PERSEGUIÇÕES, MAS TENDE CONFIANÇA – EU VENCI O MUNDO (Jo 16,33). Entretanto, veneráveis irmãos, unidos a nós nas instâncias de uma humilde oração, solicitai a Deus, O Qual Sòzinho, pode auferir de onde quiser, e impulsionar, segundo a Sua Vontade, a vontade dos homens, que Ele Se digne, sob os auspícios da Virgem Maria, apressar, na Sua Bondade, os dias de Paz e de Tranquilidade para s Sua Igreja.»
Mas a Santa Madre Igreja igualmente sempre ensinou que a forma político-coactiva das sociedades se destina a moderar o comportamento individual em ordem ao cumprimento de finalidades político-sociais de ordem superior, que embora sejam prosseguidas pelo Estado como decorrentes da sua legítima autonomia, são em última análise, tais finalidades, recebidas formalmente da Santa Madre Igreja, sociedade perfeita, em sentido eminente; ORA TAIS FINALIDADES SÃO A GLÓRIA DE DEUS E A SALVAÇÃO DAS ALMAS.
Neste quadro conceptual, se os membros de uma sociedade, qualquer que ela seja, são de uma forma ou de outra, quase sem excepção, necessàriamente moderados por esta; então quando todos os Estados são ateus, e a própria Santa Madre Igreja, desapareceu totalmente, COMO REALIDADE SOCIAL E CULTURAL, como podem as pouquíssimas almas ainda católicas sobreviver, como podem deixar de ser eivadas pelo corpo social ateu? Trata-se aqui da dignidade social e da sobrevivência material, e não só da sobrevivência espiritual. Porque um verdadeiro católico nunca pode calar-se, nem proceder segundo a norma padrão da sociedade em que vive, sem se tornar, ele mesmo, ateu. A pressão social é quase o equivalente da lei da gravidade física, no que concerne à esfera humana. A maçonaria, quando planeou a destruição da Santa Madre Igreja, inspirada por satanás, há perto de dois séculos, teve plena noção da função da pressão social no processo de apostasia universal.
A resposta para este paradoxo que acabei de formular nunca pode ser uniforme, a não ser no plano do Princípio fundamental: A Teologia da Providência e da Predestinação. Jamais Anjo ou Homem algum foi criado por acaso. Cada ente espiritual foi, enquanto tal, efectivamente querido por Deus, inclusive, evidentemente, os condenados. Existe uma analogia providencial, EXTRÍNSECA, entre as vicissitudes da Ordem Natural e a Ordem da Graça Sobrenatural. Consequentemente, se uma alma é sobrenaturalmente predestinada, é absolutamente certo que Deus Nosso Senhor providenciará um caminho na Ordem Natural, EXTRÌNSECAMENTE, homogéneo e comensurável, com a referida predestinação. São Bento José Labre (1748-1783) foi, NA TERRA, um vagabundo coberto de piolhos, rejeitado por Cartuxos e Cistercienses, mas que afirmava – que a sua consolação não residia na Terra; é o santo padroeiro dos mendigos e dos inadaptados à sociedade POR MOTIVOS ESTRITAMENTE SOBRENATURAIS. Existem santos nas mais variadas condições terrenas, desde monarcas e papas a vagabundos, porque assim se demonstra que DESTE MUNDO SÓ LEVAREMOS, E SÓ PODEMOS LEVAR, BENS SOBRENATURAIS. O que nunca podemos permitir é que a seita anti-Cristo, e a civilização que ela tão bem representa, nos contamine com o seu ateísmo apodrecido. Porque ao contrário dos tempos do paganismo anterior a Constantino, a Humanidade actual já exauriu històricamente o desígnio Providencial, Sobrenatural, no qual, Eternamente, fora Divinamente pensada.
Certamente que os Estados ateus, na medida em que asseguram uma segurança pública puramente material, participam também materialmente da Lei Eterna; e os cidadãos verdadeiramente católicos não podem ferir, directa ou indirectamente, esse padrão de segurança; mas podem e devem combater, por outros meios socialmente agressivos, conquanto não violentos, a escala de anti-valores que rege a civilização em que também, como cidadãos, materialmente se inserem.
Quando uma pessoa, neste caso um verdadeiro católico, possui um padrão de reacção diametralmente oposto ao da sociedade em que se insere, é quase impossível participar funcionalmente nessa mesma sociedade; e isto é tanto mais verdade quando já nem sequer possui o maternal refúgio da Santa Igreja. Portanto, se quer ser coerente, o verdadeiro católico terá de enfrentar corajosamente a marginalização social com todas as consequências económicas inerentes. Pode mesmo ter de enfrentar uma intervenção psiquiátrica, à boa maneira soviética, que o anule como homem e cidadão. Há casos desses.
São Bento Labre, curiosamente, não é apenas o padroeiro dos mendigos e inadaptados, mas igualmente o padroeiro dos loucos; e o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo nos anunciou o quanto haveriam de padecer aqueles que O amassem sobrenaturalmente sobre todas as coisas; São Paulo disse claramente que quem é LOUCO SEGUNDO O MUNDO, FOI AQUELE MESMO QUE DEUS ESCOLHEU PARA CONFUNDIR OS SÁBIOS DESTE MESMO MUNDO.
A resposta portanto à questão que serve de título a este artigo é um rotundo – NÃO. Salvaguardado o já mencionado respeito pela segurança pública materialmente sustentada pelo Estado ateu.
Porque o vínculo de sociabilidade, formalmente concebido, só pode promanar da Lei Eterna, princípio de Ordem, Incriado, de toda a natureza, criada ou possível. A cidade do demónio não possui assim verdadeira e formal cidadania, nem verdadeiras leis, porque a sua finalidade é o Inferno e não o Céu, sofrendo assim de uma privação qualificada de Ser. Assim como os santos quanto mais se aproximam sobrenaturalmente de Deus, mais necessidade têm de buscar, ainda com mais intensidade, a Divina Caridade; assim também, a cidade do demónio, quanto mais sólida e bem organizada se apresenta – MAIS PERTO ESTÁ DA RUÍNA TEMPORAL; nìtidamente o verificámos com as duas guerras mundiais, justo castigo de Deus à orgulhosa e prepotente apostasia dos homens.
Quanto mais uma alma ascende nos Bens Sobrenaturais, mais compreende que sòmente neles reside toda a verdadeira felicidade e todo o Bem, mesmo cá neste pobre mundo.
São Bento Labre, ainda que escorraçado por todos, coberto de piolhos, foi mais sobrenaturalmente feliz que todos, ou quase todos, os seus contemporâneos, porque bebia de uma fonte Incriada, da qual, neste mundo, quanto mais se bebe, mais sede se tem; e no além túmulo, no Céu, a saciedade será Eterna e absolutamente perfeita – mas nunca, nunca, farta.
FONTE: PRO ROMA MARIANA - https://promariana.wordpress.com/2015/05/31/podera-o-verdadeiro-catolico-deixar-se-moderar-pela-sociedade-ateia/
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