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Nossa Senhora do Líbano
Ó Maria, Rainha dos montes e dos mares,
Senhora de nosso querido Líbano, cuja
glória te foi dada,
e tu quiseste que ela fosse o teu símbolo.
O teu candor supera o da neve do Líbano,
e o perfume de tua pureza espalha
como o perfume das flores do Líbano.
Tu te elevaste majestosa como o cedro no
Líbano.
A ti pedimos, ó Virgem, volve o teu
materno olhar
a todos os teus filhos e, estendendo as
tuas imaculadas mãos abençoa a todos eles.
Amém!
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Garrigou-Lagrange, Réginald , O.P.
A gravidade dos acontecimentos atuais, em particular
os que acabam de ocorrer na Espanha, mostram que as almas fiéis devem, cada vez
mais, recorrer a Deus pelos grandes mediadores que Ele nos deu por causa de
nossa fraqueza.
Estes acontecimentos e sua atrocidade mostram de modo
singularmente marcante o que acontece com os homens quando querem absolutamente
viver sem Deus, quando querem organizar suas vidas sem Ele, longe Dele, contra
Ele. Quando, ao invés de crer em Deus, de esperar em Deus, de amá-lo acima de
tudo e de amar ao próximo Nele, queremos crer na humanidade, esperar nela,
amá-la de modo exclusivamente terrestre, a humanidade não tarda a se apresentar
a nós com suas falhas profundas, com suas feridas abertas: o orgulho da vida, a
concupiscência da carne e dos olhos, e todas as brutalidades que a elas se
seguem. Quando, ao invés de colocar seu fim último em Deus, que pode ser
simultaneamente possuído por todos, como nós todos podemos possuir, sem nos
prejudicar, a mesma verdade e a mesma virtude, coloca-se o fim último nos bens
terrestres, não se tarda a perceber que estes bens nos dividem profundamente,
pois a mesma casa e a mesma terra não podem pertencer simultaneamente e
integralmente a vários. Quanto mais a vida se torna material, mais os apetites
inferiores se inflamam sem qualquer subordinação a um amor superior, mais os
conflitos entre os indivíduos, classes e povos se exasperam; finalmente, a
terra se tornará um verdadeiro inferno.
O Senhor mostra assim aos homens o que eles podem sem
Ele. Tudo isso constitui um singular comentário das palavras do Salvador: “Sem
mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 5); “Quem não é comigo, é contra mim; e quem
não junta comigo, desperdiça” (Mt 12, 30); “Buscai pois, em primeiro lugar, o
reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por
acréscimo” (Mt 6, 33); “Se o Senhor não edificar a casa, é em vão que trabalham
os que a edificam. Se o Senhor não guardar a cidade, inutilmente vigia a
sentinela.” (Mt 126, 1)
*
O perigo mais grave da hora atual é o comunismo
internacional, de origem materialista, que nega a existência de Deus e a vida
futura, que destrói a dignidade da pessoa humana, da família e da pátria. Os
últimos acontecimentos de Espanha mostram como ele procura conquistar a Europa,
e como ele quer preparar uma revolução mundial que será, como julgam, o fim do
cristianismo e de toda religião, conforme o programa da liga dos “sem Deus”.
A fim de remediar tão grande mal, os melhores, os mais
zelosos entre os católicos, nos povos divididos por tantos conflitos, sentem a
necessidade de uma oração comum que reúna perante Deus as almas profundamente
cristãs das diversas nações, para obter que o reino de Deus e de Cristo se
estabeleça progressivamente no lugar do reino do orgulho e da concupiscência.
Nesta intenção, todos os dias se oferecem missas¹ e a
adoração do Santo Sacramento se difundiu em diversos países de modo tão largo e
veloz que devemos ver nisso o fruto de uma grande graça de Deus²
Não se obterá a pacificação exterior do mundo senão
pela pacificação interior das almas, reconduzindo-as a Deus, trabalhando para
estabelecer nelas o reino de Cristo no mais íntimo de suas inteligências, de
seus corações, de sua vontade ativa.
Para que as almas desviadas retornem Àquele que,
único, pode salvá-las, importa recorrer à intercessão de Maria, medianeira
universal e mãe de todos os homens. Dos pecadores que parecem ter se perdido
para sempre, diz-se que é necessário confiá-los à Maria. Assim também com os povos
cristãos que se desviam.
Toda a influência da bem-aventurada Virgem tem por fim
conduzir as almas a seu Filho, como toda influência do Cristo, mediador
universal, tem por fim conduzi-las a seu Pai.
A oração de Maria é universal no mais alto sentido da
palavra. Como mostram suas ladainhas, recitadas por toda Igreja, no céu ela
pede por nós, pelos pecadores dos quais ela é o refúgio, pelos aflitos dos
quais é consolação, pelos fracos dos quais é socorro, pelas virgens que
preserva, pelos apóstolos que ilumina, pelos mártires que sustenta. Ela
intercede não apenas pelas almas individuais da terra e do purgatório, mas
também pelas famílias e por todos os povos que devem viver sob a luz do
Evangelho, sob a influência da Igreja.
Quando ainda estava na terra, a beatíssima Virgem
Maria, aos pés da Cruz, oferecendo seu Filho por nossa salvação e unindo-se de
modo muito íntimo ao seu sacrifício, nos mereceu, no sentido largo da palavra,
tudo o que o próprio Cristo nos mereceu em sentido estrito. Após a morte e a
ressurreição do Salvador, ela intercedia para que, pelos apóstolos, o reino de
Deus e de Cristo Jesus chegasse até as extremidades do mundo. Ela sustentava
sobrenaturalmente os apóstolos em seus trabalhos e em suas lutas e lhes obtinha
graças elevadíssimas de luz, de amor e força. Seu zelo puríssimo sustentava o
deles.
Desde que Maria foi assunta ao céu, sua intercessão
não é senão mais poderosa, posto que mais iluminada, e procede de um amor de
Deus e das almas que nada pode atenuar ou interromper, ainda que por um único
instante.
O amor misericordioso de Maria por todos os homens
ultrapassa o de todos os santos reunidos, assim como o poder de sua intercessão
sobre o Coração de seu Filho.
*
É por isto que, de diversas partes, muitas almas
espirituais, considerando os grandes perigos da hora presente, sentem a
necessidade de recorrer, pela intercessão de Maria medianeira, ao Amor redentor
de Cristo.
Em diversas partes, particularmente nos conventos de
fervorosa vida contemplativa, conserva-se a memória de que muitos bispos
franceses reunidos em Lourdes, no segundo Congresso mariano nacional, em 27 de
julho de 1929, expressaram ao Soberano Pontífice o desejo de uma consagração do
gênero humano ao Coração imaculado de Maria. E também que o Pe. Deschamps, S.
J., em 1900, o cardeal Ricard, arcebispo de Paris, em 1906, o Pe. Le Doré,
superior geral dos Eudistas, em 1908 e 1912, o Pe. Lintelo, S. J., em 1914,
iniciaram petições ao Soberano Pontífice para obter a consagração universal do
gênero humano ao Coração imaculado e misericordioso de Maria.
Por um ato coletivo, os bispos de França, no início da
guerra, dezembro de 1914, consagraram a França à Maria. O cardeal Mercier, em
1915, na sua carta pastoral sobre Maria medianeira, saúda Maria, Mãe do gênero
humano, como soberana do mundo. O Rvdo. P. Lucas, novo superior geral dos
Eudistas e a Legião do Coração imaculado de Maria, aprovada por numerosos
bispos, conseguiram em poucos meses mais de 300.000 assinaturas para apressar,
por esta consagração, a paz de Cristo no reino de Cristo.
*
A força da qual temos necessidade, na confusão em que
se encontra o mundo na hora atual, a intercessão de Maria, Mãe do gênero
humano, nos conseguirá do Salvador.
Sua intercessão é poderosíssima contra o espírito de
divisão que lança indivíduos, classes e povos uns contra os outros.
A Virgem dulcíssima é terrível contra o demônio e, no
dizer do bem-aventurado Grignion de Montfort, aquele que é o orgulho personificado
mais sofre por ser vencido pela humildade de Maria, do que por ser
imediatamente esmagado pela Onipotência divina.
Se um pacto formal e plenamente consentido com o
demônio pode trazer enormes conseqüências na vida de uma alma e mesmo perdê-la
para sempre, que efeito espiritual não produzirá uma consagração a Maria, feita
com verdadeiro espírito de fé e renovada a cada dia com sempre crescente
fidelidade?
É preciso lembrar que, em dezembro de 1836, o
venerável cura da igreja de Nossa Senhora das Vitórias, em Paris, ao celebrar a
missa no altar da santíssima virgem, o coração moído por pensamentos sobre a
inutilidade de seu ministério, escutou estas palavra: “Consagra tua paróquia ao
santíssimo e imaculado Coração de Maria”. Feita a consagração, a paróquia
transformou-se.
No mesmo espírito, bispos italianos pediram a Leão
XIII a autorização de consagrar suas dioceses ao Coração puríssimo de Maria e,
na França, o cardeal Couillé, Mons. Touchet e Mons. Dadolle proclamaram Maria
Rainha do universo. As ladainhas do Loreto, que há muito a invocam como Rainha
dos anjos e de todos os santos, contém hoje, desde a última guerra, a
invocação: Regina pacis, ora pro nobis.
A súplica de Maria por nós é a de uma Mãe
sapientíssima, amorosíssima, fortíssima, que vela incessantemente sobre todos
seus filhos, sobre todos os homens chamados a receber os frutos da Redenção.
Quem faz a experiência de consagrar todos os dias a
Maria todos seus trabalhos, obras espirituais e empresas, encontra fé e
confiança quando tudo parece perdido.
É o que o bem-aventurado Grignion de Montfort mostra
admiravelmente no seu Tratado da verdadeira devoção à Santa Virgem, e no resumo
que dele sob o título: O Segredo de Maria.
Ora, se a consagração individual de uma alma a Maria
lhe obtém diariamente tantas graças de luz, direção, amor e força; se Maria nos
faz assim entrar cada dia mais profundamente no mistério da Comunhão dos
santos, quais não seriam os frutos de uma consagração do gênero humano feito ao
Salvador pela própria Maria, à rogos do Pai comum dos fiéis, o Pastor supremo?
Qual não seria o efeito de uma consagração assim feita, sobretudo se os fiéis
de diferentes povos se unissem e vivessem dela, numa prece fervorosa, renovada
freqüentemente durante a missa?
*
Como escrevia a madre Maria de Jesus, fundadora da
Sociedades das Filhas do Coração de Jesus³: “Posto que o inferno quer banir
Jesus Cristo e sua Igreja das almas e das sociedades, é mais que nunca hora de
elevar as mãos suplicantes à incomparável Virgem, por quem o Pai Celeste deu
Jesus Cristo ao mundo; a fim de que esta doce Mãe do Salvador, devolvendo, por
assim dizer, Jesus às almas, lhes devolva a vida perdida; que esta poderosa
Protetora da Igreja, “terrível como um exército em ordem de batalha” (Ct 6, 3),
triunfe sobre seus inimigos e que esta gloriosa Rainha da hierarquia faça cair
sobre todos os membros do Clero católico bênçãos tais do Coração de Jesus que
lhes conservem sua coragem e lhes aperfeiçoem no meio das tormentas de nossa
triste época, e lhes façam brilhar como diamantes sem mancha sobre a admirável
túnica da Igreja.”
A mesma serva de Deus acrescenta um pouco mais adiante4
estas palavras que tanto convém ao nosso tempo:
“Não vivemos por nós, é preciso tudo enxergar nos
desígnios de Deus; nossas dores atuais – ainda que cheguem ao cúmulo e que nos
sacrifique nesse desastre – conquistam e preparam os triunfos futuros e certos
da Igreja... A Igreja segue assim de luta em luta, de vitória em vitória, uma
sucedendo a outra até a Eternidade, que será o triunfo definitivo.
“Foi preciso que Jesus sofresse e que assim entrasse
na “sua glória” (Lc 24, 26); é preciso que a Igreja e as almas perfaçam o mesmo
caminho. A Igreja não dura apenas um dia; quando os mártires caiam como flocos
de neve no inverno, não se podia pensar que tudo estava perdido? Não, o sangue
deles preparava a vitória que estava por vir.
“Como uma Esposa que se prepara para seu Esposo, a
Igreja marcha através dos séculos rumo à perfeição do céu; ela se embeleza mais
e mais; ela está pronta, mas continuará se embelezando até o dia das núpcias
eternas.
“Não temais, pois, pelos perigos da Igreja: não é a
Igreja que está em perigo; ela tem a palavra de Jesus Cristo e nada a abalará...
As portas do inferno não prevalecerão contra ela.”
*
No difícil período que atravessamos, a Igreja tem
necessidade de almas muito generosas, verdadeiramente santas. É Maria, Mãe da
divina graça, Mãe puríssima, Virgem prudentíssima e forte, que as formará. Por
toda parte, o Senhor sugere a almas interiores uma oração cuja forma varia, mas
cuja substância é a mesma: “Neste tempo em que um espírito de orgulho inflado
até o ateísmo procura se espalhar por todos os povos, Senhor, sede como a alma
de minha alma, dai-me uma inteligência mais profunda do mistério da Redenção e
de vossos santos aniquilamentos, remédio contra todo orgulho. Dai-me o desejo
sincero de participar, na medida desejada para mim pela Providência, nesses
salutares aniquilamentos, e fazei-me encontrar neste desejo a força, a paz e,
por vezes, a alegria que é como o prelúdio ou o gosto das alegrias da
eternidade.”
Para ingressar assim na profundidade do mistério da
Redenção, é preciso que Maria, que nele ingressou mais que qualquer outra
criatura, nos instrua silenciosamente aos pés da cruz e nos faça descobrir na
letra do Evangelho o espírito do qual ela mesmo tão profundamente viveu.
*
Que a Mãe do Salvador digne-se, por sua oração,
colocar as almas fiéis de diferentes povos sob a luz desta palavra do Cristo:
“Eu dei-lhes a glória que tu me deste, para que sejam um, como também nós somos
um” (Jo 17, 22).
“É da ordem das coisas, escrevia o cardeal Mercier,
que as crianças exprimam a seu Pai seus mais íntimos desejos.” Podemos esperar
que um dia, quando a hora providencial chegar, S. S. Pio XI, chamado o Papa das
Missões, tomando em consideração os votos de bispos e fiéis, consagrará o
gênero humano ao Coração imaculado e misericordioso de Maria, para que ela
mesma, mais instantemente, peça por nos a seu Filho. Isto seria uma nova
afirmação da mediação universal da Santíssima Virgem.
A intercessão mais poderosa ao Coração de Jesus é a da
santa Mãe, que é também a Mãe de todos os homens, e que mais que ninguém depois
de seu Filho conhece as imensas necessidades espirituais da hora presente.
Dirijamo-nos a ela com a maior confiança; ela foi
chamada “a esperança dos desesperados”, e dirigindo-se a ela como à melhor das
Mães e à mais iluminada, iremos à Jesus como ao nosso único e misericordioso
Salvador.
Roma, Angélico.
1. O culto perpétuo das missas é mantido em particular
pela União Eucarística, da qual a revista La Vie Spirituelle falou muitas
vezes. Ver em particular La Vie Spirituelle, outubro de 1934 e março 1935, pág.
314.
2. Um movimento neste sentido, começado no Rio de
Janeiro em 1935, atingiu rapidamente mais de oito milhões de horas de adoração
para o ano de 1935.
3. Pensées de la servante de Dieu, Mère Marie de
Jesus, 1841-1884, Roma, 1918, pág. 43.
4. Ibidem, pág. 50.
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