Nascera para ser santa!
"Terezinha do Menino Jesus e da Sagrada Face foi canonizada pelo Papa Pio XI, em 17 de maio de 1925.
Em 1997 no dia 19 de outubro proclamada Doutora da Igreja."
"Senhor, que dissestes: Se não vos fizerdes como crianças, não entrareis no reino dos céus; concedei-nos seguir de tal maneira os exemplos de humildade e simplicidade de coração da Virgem Santa Teresa, que mereçamos alcançar a recompensa eterna."
SANTA TEREZINHA DO MENINO JESUS
Na tarde de 30 de setembro de 1897, uma cena
inesquecível desdobrava-se na enfermaria do Carmelo de Lisieux. Cercada de toda
a comunidade ajoelhada em torno de seu leito de dores, Santa Terezinha do
Menino Jesus, fitando os olhos no crucifixo, pronunciava suas últimas palavras
nesta terra de exílio:
— Oh! eu O amo...
Meu Deus... eu... Vos amo!
Subitamente, seus amortecidos olhos de agonizante
recuperam vida e fixam-se num ponto abaixo da imagem de Nossa Senhora. Seu
rosto retoma a aparência juvenil de quando ela gozava de plena saúde. Parecendo
estar em êxtase, ela fecha os olhos e expira. Um misterioso sorriso aflora-lhe
aos lábios e aumenta a formosura de sua fisionomia.
“Eu não morro, eu entro na Vida”, havia ela escrito
poucos meses antes.
Sua luz brilha no
mundo inteiro
Talis vita finis
ita.
– “Cada um morre como viveu.”
Sua morte, aos 24 anos, foi um reflexo de sua breve
existência — uma vida de virtude heroica, de amor a Deus e ao próximo levado a
limites extremos, e de sofrimentos suportados com uma radiante alegria e uma
santa despretensão.
Quis ela passar inteiramente despercebida neste mundo.
E este seu desejo de vida oculta teria sido realizado, se Deus não tivesse
outros desígnios a esse respeito.
Por ordem das superioras, a humilde carmelita escreveu
seus famosos Manuscritos Autobiográficos — “História de uma alma” — que tanto
bem fizeram, fazem e farão ao longo dos séculos, além de várias cartas, poesias
e outros documentos registrados pela História. E algumas irmãs de hábito que
bem compreenderam sua extraordinária virtude, tomaram nota das conversas tidas
com ela nos seus últimos meses de vida.
Graças a isso, a chama acesa por Jesus na alma dessa
Santa ilumina hoje o mundo inteiro. E nós podemos, nas linhas abaixo, apreciar
alguns “flashes” fulgurantes dessa luz.
* * *
Em abril de 1897, quando a doença mortal entrava em
sua última fase, sua irmã Paulina (em religião, Madre Inês de Jesus) fez
percebida neste mundo. E este seu de- a primeira anotação em seu caderno:
“Quando somos
incompreendidas e julgadas desfavoravelmente, de que nos serve defender-nos ou
explicar-nos? É muito melhor não dizer nada e deixar que os outros nos julguem
como lhes agrada. Não vemos no Evangelho Maria explicando-se quando sua irmã a
acusou de ficar aos pés de Jesus sem fazer nada! Não, ela preferiu permanecer
em silêncio. Ó abençoado silêncio que dá tanta paz às almas!”
Trechos como este, de conversas íntimas com a Santa,
quase nos fazem esquecer que ela está passando por sofrimentos físicos atrozes,
incompreensões e, muito mais duro de suportar, uma terrível provação
espiritual, “a noite da Fé”.
* * *
Descrevendo essa provação nos Manuscritos
Autobiográficos, ela afirma:
“Jesus permitiu
que uma escuridão negra como boca de lobo varresse minha alma e deixasse o
pensamento do Céu, tão doce para mim desde a minha infância, destruir minha paz
e torturar-me...”
E em conversa com suas irmãs acrescenta: “Minha alma está exilada, o Céu está fechado
para mim e do lado da terra tudo é provação também”.
Olhando pela janela da enfermaria, viu um “buraco negro”
no jardim e confidenciou à Madre Superiora: “É num buraco como esse que eu me encontro, de corpo e alma. Oh! sim,
que trevas! Mas estou em paz dentro delas”.
No dia da partida para a eternidade, pôde ela declarar
com singela despretensão: “Oh, eu rezei
fervorosamente a Ele, mas estou realmente em agonia sem nenhuma mistura de
consolação”.
* * *
Apesar de todos os sofrimentos físicos e espirituais,
ela iluminava com seu sorriso e aquecia com sua caridade as demais religiosas
do convento. Naquela enfermaria não se respirava atmosfera de tristeza. Santa
Terezinha não o permitia! Escreve sua irmã Maria: “Quanto à força moral, é sempre a mesma coisa, a alegria em pessoa,
fazendo rir todos quantos dela se aproximam. Creio que ela morrerá rindo, de
tal forma ela é alegre!”
A Santa usava seu vasto repertório de jogos de
palavras, imitações de pessoas, ditos espirituosos a respeito dela mesma e da
incapacidade dos médicos — tudo para praticar a caridade fraterna.
Sua alegria nada tinha de inautêntico, de forjado. A
Irmã Terezinha detestava o fingimento! No entanto, ela se encontrava num tal
extremo de padecimentos que chegou a dizer: “Nunca eu teria acreditado que
fosse possível sofrer tanto. Nunca! Nunca! Não posso explicar isto, exceto
pelos desejos ardentes que eu tive de salvar almas”. E em outra ocasião: “Que seria de mim se Deus não me desse
forças? Não se tem idéia do que é sofrer tanto assim. Se eu não tivesse a Fé,
eu teria me dado a morte sem hesitar um só instante...”
Donde lhe vinha, pois, tanta força e alegria? Da total
aceitação da vontade de Deus — “o Papai bom Deus”, dizia ela graciosamente.
* * *
Santa Terezinha tinha um grande medo: o de desagradar,
no mínimo que fosse, seu bem-amado Jesus. Quanto ao resto, nada temia, muito
menos a morte. Fazendo alusão ao ensinamento do Evangelho: “a morte vem como um
ladrão”, gracejava ela de forma encantadora: “Diz-se no Evangelho que a morte
virá como um ladrão. Oh! ele virá roubar-me muito gentilmente. Como eu gostaria
de ajudar este ladrão!”
E mais: “Não tenho medo do ladrão. Eu o vejo à
distância e tomo muito cuidado para não gritar: ‘Socorro, ladrão!’ Pelo
contrário, eu o chamo dizendo: ‘Por aqui, por aqui!’”
Como explicar uma tal serenidade diante da morte
iminente, mais ainda, uma tal vontade de que ela se apresse? Muito fácil. Pela
confiança inabalável no amor misericordioso de Jesus, e pelo ardente desejo de
perder-se nesse Amor o mais cedo possível.
O amor à bondade e
à misericórdia
Santa Terezinha foi escolhida por Deus para ensinar um
caminho de santificação a ser trilhado pelas almas fracas — a “pequena via”, a
via da Confiança por excelência.
Escreveu ela nos Manuscritos: “Sempre desejei ser uma santa (...) O bom Deus não inspira desejos
irrealizáveis, eu posso, portanto, aspirar à santidade apesar de minha
pequenez. Tornar-me grande, é impossível. Devo, pois, suportar-me tal como sou,
com todas as minhas imperfeições, mas quero procurar um meio de ir ao Céu por
uma pequena via, bem reta, bem curta (...) Eu quereria encontrar um elevador
para subir até Jesus, porque sou pequena demais para escalar a áspera escada da
perfeição. (...) Ah! o elevador que me fará subir ao Céu são vossos próprios
braços, ó meu Jesus!”
Essa grande Santa manteve intacta sua Inocência
batismal, nunca manchou sua alma por um único pecado grave sequer. É por este
motivo que ela demonstrava tal confiança na bondade do Divino Salvador?
Nem de longe! Nas últimas frases dos Manuscritos,
podemos ler esta confortadora mensagem, a qual não deixa a menor dúvida de que
a via da confiança está aberta inteiramente até para os maiores pecadores:
“... mas,
sobretudo, imito a conduta de Maria Madalena. Sua admirável, ou melhor, sua
amorosa audácia encanta o Coração de Jesus, e seduz o meu. Sim, eu o sinto:
mesmo se me pesassem na consciência todos os pecados possíveis de cometer, eu
iria, com o coração partido de arrependimento, jogar-me nos braços de Jesus,
pois sei quanto Ele ama o filho pródigo que vem Lhe pedir perdão. Não é porque
o bom Deus, em sua previdente misericórdia, preservou minha alma do pecado
mortal que eu me elevo a Ele pela confiança e pelo amor.”
E já nos últimos dias de sua vida terrena, exclama:
“Oh! como sou
feliz por me ver imperfeita e por ter tanta necessidade da misericórdia do bom
Deus no momento da morte!”
Deixar-se carregar por Jesus, por Maria Santíssima, no
caminho da santidade... Sentir-se feliz por ser fraco e ter necessidade da
misericórdia e da bondade de Deus... Eis o caminho curto e seguro indicado por
Santa Terezinha — Doutora da Igreja, note-se! — para os católicos de nossos
dias, homens e mulheres, de todas as idades e condições sociais.
Ninguém tem
pretexto para não desejar a santidade
O preceito do Divino Mestre, “sede perfeitos como
vosso Pai celeste é perfeito”, é dirigido à humanidade inteira. O que para
qualquer ser humano é impossível, Ele tornou possível até para os mais débeis,
pelos méritos infinitos de sua Paixão e Morte na Cruz. As miríades de Santos do
Céu dão testemunho dessa verdade consoladora.
Santa Terezinha, porém, vai mais longe. Além de nos
ensinar pela doutrina e pelo exemplo, ela se põe à nossa disposição, como se
pode ver nas palavras ditas a suas irmãs de Vocação no dia 17 de julho, menos
de três meses antes de subir ao Céu:
“Sobretudo,
sinto que minha missão vai começar, minha missão de fazer amar o bom Deus como
eu O amo, de comunicar às almas minha “pequena via”. Se o Bom Deus realiza meus
desejos, meu Céu se passará sobre a terra até o fim do mundo. Sim, quero passar
meu Céu fazendo bem à terra.”
“... minha missão
de fazer amar o bom Deus como eu O amo”. — Então, que ela cumpra em cada um de
nós, leitor, sua sublime lição! Peçamos esta graça com toda confiança.
Revista Arautos do
Evangelho n.33 set. 2004
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