BULA CONVOCATÓRIA DO
CONCÍLIO DE TRENTO NO
PONTIFICADO DE PAULO III
Paulo Bispo, servo dos
servos de Deus, para perpétua memória.
Considerando que desde os princípios de nosso Pontificado - não por
algum mérito de nossa parte, porém por Sua grande bondade, nos confiou a
providência de Deus onipotente - que em tempos tão revoltosos e que em
circunstâncias tão mesquinhas de quase todos os negócios, foi eleita nossa
solicitude e vigilância Pastoral; desejávamos por certo aplicar soluções aos
males que há tanto tempo tem afligido, e quase oprimido a república cristã: mas
nós, possuídos também, como homens, de nossa própria debilidade, compreendemos
que eram insuficientes nossas forças para sustentar tão grave peso. Então, como
entendêssemos que se necessitava de paz, para libertar e conservar a república
de tantos perigos que a ameaçavam, achamos ao contrário que tudo estava cheio
de ódios e contradições e em especial, opostos entre si aqueles príncipes aos
quais Deus havia confiado todo o gerenciamento das coisas. Assim sendo,
tomando-se por necessário que fosse apenas um o redil, e um só o pastor do
rebanho do Senhor, para manter a unidade da religião cristã, e para confirmar
entre os homens a esperança dos bens celestiais; se achava quase quebrada e
despedaçada a unidade do nome cristão com cismas, contradições e heresias. E
desejando nós também que fosse prevenida e assegurada a república contra as
armas e os feitos dos infiéis; pelos erros e culpas de todos nós, visto que ao
descarregar a ira divina sobre nossos pecados, foi perdida a ilha de Rodes, foi
devastada a Hungria, e concebida e projetada a guerra por mar e por terra
contra a Itália, contra a Áustria e contra a Escalavônia: porque, não
sossegando em tempo algum nosso ímpio e feroz inimigo, os Turcos; julgava que
os ódios e contradições que fomentavam os cristãos entre si, era a ocasião mais
oportuna para executar de modo feliz seus desígnios. Sendo pois chamados, como
dizíamos, em meio de tantas turbulências, de heresias, de contradições, de
guerras, de tormentas tão revoltosas como se revoltaram para reger e governar a
nave de São Pedro; e desconfiando de nossas próprias forças voltamos ante todas
as coisas, nossos pensamentos a Deus, para que Ele mesmo nos vigorasse e
armasse nosso ânimo de fortaleza e constância, e nosso entendimento do Dom de
conselho e sabedoria. Depois disto, considerando que nossos antepassados, que
tanto se distinguiram por sua admirável sabedoria e santidade, se valeram
muitas vezes nos mais iminentes perigos da república cristã, dos concílios
ecumênicos, e das juntas gerais dos Bispos, como do melhor e mais oportuno
remédio; tomamos também a resolução de celebrar um concílio geral: e
averiguados os pareceres dos príncipes, cujo consentimento em particular nos
parecia útil e condizente para celebrá-lo; então, achando-os inclinados a tão
santa obra, indicamos o concílio ecumênico e geral de aqueles Bispos, e a
reunião de outros Padres, a quem tocasse concorrer para a cidade de Mantova. No
ano da Encarnação do Senhor, 1537, terceiro de nosso pontificado, como consta
em nossas escrituras e monumentos, assinando sua abertura para o dia 23 de
maio, com esperanças quase certas que quando estivermos ali congregados em nome
do Senhor, sua Majestade estará no meio de nós, como prometeu, e dissipará, por
sua bondade e misericórdia, todas as tempestades destes tempos, e todos os
perigos com o alento de sua boca. Mas como sempre o inimigo arma laços de
linhagem humana contra todas as obras piedosas; inicialmente nos foi recusada
toda a esperança e expectativa sobre a cidade de Mantova, a não admitir algumas
condições muito alheias à conduta de nossos superiores, das circunstâncias do
tempo, de nossa dignidade e liberdade, e do nome e da honra eclesiástica desta
Santa Sé, e as que temos expressados em outros documentos apostólicos.
Consequentemente precisamos procurar outro lugar e determinar outra
cidade, a qual não nos ocorreu prontamente oportuna e nem proporcionada, nos
vimos em necessidade de prorrogar a celebração do Concílio até o dia primeiro
de novembro. Entretanto, nossos perpétuos e cruéis inimigos, os Turcos,
invadiram a Itália com uma forte e numerosa esquadra, tomou, saqueou e destruiu
alguns lugares na costa de Pulla, e levou muitas pessoas como escravos cativos.
Nós estivemos ocupados, em meio do grande temor e perigo por que passavam
todos, em reforçar nosso litoral e ajudar com nossos socorros, os cidadãos, sem
deixar de aconselhar e exortar os Príncipes cristãos para que nos indicassem um
lugar oportuno para celebrar o Concílio. Mas, sendo vários e duvidosos seus
pareceres e crendo que o tempo corria mais rápido do que exigiam as
circunstâncias, com bom senso e, a nosso ver, também com resoluções prudentes,
elegemos Veneza, que era uma cidade grande, e também por Ter entrada franca,
gozava de uma situação inteiramente livre e segura para todos, em virtude da
probidade, crédito e poder dos Venezianos, que nos ofereciam a cidade. Porém,
tendo se passado muito tempo, e sendo necessário avisar a todos sobre a eleição
da nova cidade, e não sendo isso possível, devido à proximidade de primeiro de
novembro, que se divulgasse a noticia que se havia assinado, e estando também
próximo ao inverno, nos vimos outra vez obrigados a fazer nova prorrogação do
início do Concílio até a próxima primavera, no dia primeiro de maio. Tomada e
firmemente resolvida esta determinação, havendo-nos preparado, assim como
preparado todas as coisas para realizar e celebrar o Concílio exatamente
conforme a vontade de Deus, crendo que era muito condizente, tanto para sua
celebração, como para toda a cristandade, que os príncipes cristãos tivessem
entre si paz e concórdia, insistimos em rogar e suplicar a nossos caríssimos
filhos em Cristo, Carlos, sempre augusto imperador dos Romanos, e Francisco,
rei cristão, ambos colunas e apoios principais do nome cristão, que fizessem
uma reunião entre si e conosco. Com efeito, com ambos havíamos trocado correspondência
muitíssimas vezes, e tido contato por meio de Núncios e Delegados escolhidos
entre nossos veneráveis irmãos Cardeais, para que se dignassem a esquecer as
inimizades e discórdias, e que tivessem uma piedosa aliança e amizade, e
prestassem seu auxílio aos interesses da cristandade que estavam em decadência,
pois tendo eles o poder principal concedido por Deus, para conservá-lo teriam
que dar rígida e severa conta dos mesmos a Deus se não fizessem assim, e nem
dirigissem seus desígnios ao bem comum da cristandade. Por fim, sensibilizados
os dois por nossas súplicas, ambos concorreram a Nice, para onde também fizemos
uma viagem longa e muito penosa em nossa avançada idade, movidos pela
necessidade da causa de Deus e do restabelecimento da paz. Entretanto, sem nos
omitirmos, pois estava chegando o tempo assinalado para o início do Concílio, o
primeiro de maio, enviamos a Veneza os Delegados de suma virtude e autoridade,
escolhidos entre os mesmos irmãos Cardeais da Santa Igreja Romana, para que
fizessem a abertura do Concílio, recebessem os Prelados que viriam de todas as
partes e executassem e tratassem tudo que fosse necessário até que nós
voltássemos da viagem e das conferências de paz e pudéssemos então fazer parte
do mesmo com mais exatidão. Nesse meio tempo, nos dedicamos àquela santa e
extremamente necessária obra de tratar da paz entre os Príncipes, o que fizemos
com sumo cuidado e com toda a caridade e esmero de nossa parte. Nossa
testemunha é Deus, em cuja clemência confiávamos, quando nos expusemos aos
perigos de vida e do caminho. Nosso testemunho é nossa própria consciência, que
em nada por certo tem que nos responder, ou por haver omitido, ou por não haver
buscado os meios de conciliar a paz.
Testemunhos são também os mesmos príncipes aos quais tantas vezes e com
tanta veemência suplicamos por meio dos Núncios, cartas, delegados, avisos,
exortações e toda espécie de rogos para que esquecessem suas inimizades e se
confederassem e concorressem unidos, com suas providências, a socorrer a república
cristã, que estava em grande e iminente perigo. Finalmente, testemunhos são
aquelas vigílias e cuidados, aqueles trabalhos que dia e noite afligiam nosso
ânimo e aqueles graves e freqüentíssimos desvelos que temos tido por esta causa
e objeto. Sem que, todavia hajam tocado a finalidade pretendida por nossos
desígnios e disposições. Esta foi a vontade de Deus, de quem, sem dúvida, não
perdemos a esperança de que olhara algumas vezes com benignidade os nossos
desejos. Nós, por certo, de nossa parte, nada omitimos de tudo quanto pertencia
ao nosso ofício pastoral. E se existe alguns que possam interpretar em sentido
contrário estas nossas ações de paz, sentimos muito, mas no meio de nossa dor
damos graças a Deus Onipotente, Quem por nos dar o exemplo de ensinamento e
paciência, quis que seus apóstolos sofressem injúrias pelo nome de Jesus
Cristo, que é a nossa paz. E ainda que naquele nosso congresso e colóquio que
tivemos em Nice, não se pode, por nossos pecados, efetuar uma verdadeira e
perpétua paz entre os príncipes, porém foi feita uma trégua por dez anos e nós
ficamos esperançosos de que com esta oportunidade se poderia celebrar mais
comodamente o sagrado Concílio, e também, além disso, efetivar-se a paz com a
autoridade do mesmo, insistimos com os príncipes que se chegassem pessoalmente
ao Concílio, conduzissem os Prelados que tinham consigo e chamassem os
ausentes. Os príncipes se escusaram por ter na ocasião, necessidade de voltar a
seus reinos e também porque os prelados que haviam vindo consigo, cansados da
viagem e preocupados com os gastos, pudessem descansar e se restabelecer, e
então nos exortaram a prorrogar a celebração do Concílio. Como tivéssemos a
dificuldade em conceder essa prorrogação, recebemos nesse meio tempo, cartas de
nossos delegados que estavam em Veneza, nas quais nos diziam que passados já
muitos dias da data marcada para o início do Concílio, haviam chegado àquela
cidade apenas um ou outro prelado das nações estrangeiras. Com estas novidades,
e vendo que de nenhum modo se poderia celebrar o Concílio naquela ocasião,
concedemos aos príncipes que a data de início fosse prorrogada para o santo dia
de Páscoa, festa próxima à Ressurreição do Senhor. As bulas de nosso decreto
sobre a alteração da data foram expedidas e publicadas em Gênova, em 28 de
junho do ano da Encarnação do Senhor de 1538. Tivemos um maior gosto com esta
prorrogação, pois os príncipes nos prometeram que enviariam suas embaixadas a
Roma para que negociassem ali, juntamente conosco, e mais comodamente, os
pontos que faltavam para resolver para a conclusão do tratado de paz e que não
tiveram tempo de ser tratados em Nice.
Ambos os soberanos também nos haviam pedido, por esta razão, que a
pacificação precedesse à celebração do Concílio, pois se restabelecida a paz, o
concílio seria sem dúvida muito mais útil e saudável para a república Cristã.
Sempre, por certo, tiveram muita força sobre nossa vontade, as esperanças que
os príncipes nos davam de seus desejos de paz, o que facilitou nossa decisão em
favor de seus apelos. Estas esperanças de paz aumentaram muito devido à
amistosa e benévola conferencia de ambos soberanos entre si, depois de nos
termos retirado de Nice, e essas conferências era entendida por nós com
extraordinário júbilo, e nos confirmou na justa confiança de que chegássemos a
crer que finalmente Deus havia ouvido nossas orações, e aceitado a nossos
desejos de paz, pois nós, pretendendo e estreitando a conclusão dessa
conferência, e sendo de ditame, não só dos príncipes mencionados, mas também
nosso caríssimo filho em Cristo, Ferdinando, rei dos romanos, o qual também
achava que não deveria se realizar o Concílio antes de estar concluída a paz,
empenhando-nos, todos nós, por meio de cartas e embaixadores, para que
concedêssemos novas prorrogações, e insistindo com especialidade o sereníssimo
César, demonstrando que havia prometido aos que estivessem separados da unidade
católica, que interporia conosco sua mediação para que se encontrasse algum
meio de concórdia, o que se poderia fazer comodamente antes de sua viagem à
Alemanha. Nós, persuadidos com a mesma esperança de paz que sempre, e por
desejos de tão grandes príncipes, vendo principalmente que nem para o dia
assinalado da festa da Ressurreição, haviam chegado a Veneza mais prelados,
informados já com o nome de prorrogação, que tantas vezes havia sido repetida
em vão, achamos melhor suspender a celebração do Concílio geral, e a nosso
critério e da Sé apostólica. Tomamos assim, nossas resoluções e despachamos
nossas cartas a cada um dos mencionados príncipes, feitas em 10 de junho de
1539, como claramente se pode nelas ver. Feita pois, por nós e por motivos de
força maior aquela suspensão, enquanto esperávamos um tempo mais oportuno, e
algum tratado de paz que contribuísse depois, a dar autoridade e militância de
padres ao Concílio, e assim, mais recursos saudáveis à república Cristã, pois
de um dia para o outro caíram muito as ocupações da cristandade para um estado
deplorável, pois os Húngaros, depois de morto seu rei, chamaram os Turcos. O
rei Ferdinando declarou-lhes guerra, uma parte dos Flamengos se tumultuou,
rebelando-se contra o César, que passou a subjugá-los em Flandes, pela França,
porém, amistosamente e com grande harmonia do rei cristianíssimo, e com grandes
indícios de benevolência entre os dois, e dali até a Alemanha, começou a
celebrar as remunerações de seus príncipes e cidades com o objetivo de tratar a
concórdia que havia oferecido. Frustadas, porém, todas as esperanças de paz, e
parecendo também que aquele meio de procurar e tratar a concórdia das
remunerações seria a mais eficaz para suscitar maiores turbulências do que para
apaziguá-las, nós resolvemos voltar a adotar o antigo remédio de celebrar o
Concílio geral, e oferecemos essa decisão ao César, por intermédio de nossos
delegados e Cardeais da Santa Igreja Romana, e o mesmo tratamos com Ratisbona,
chamando a ela nosso amado filho em Cristo, Gaspar Contareno, Cardeal de Santa
Praxedes, nosso delegado e pessoa de suma doutrina e integridade, para que
pudéssemos pelo mesmo juízo daquela região, o mesmo que havíamos receado antes
o que haveria de suceder, a saber, que declarássemos que tolerassem certos
artigos dos que estão apartados da Igreja, até que se examinassem e decidissem
pelo concílio geral, não permitindo a fé católica Cristã, nem nossa dignidade,
nem a da Sé Apostólica, que os concedêssemos. Mandamos que o melhor fosse
proposto abertamente ao Concílio para que fosse celebrado o quanto antes. Nem
jamais tivemos, na verdade, outro parecer nem desejo de que ele se congregasse
na primeira ocasião o concílio ecumênico e geral. Esperávamos por certo que se
poderia restabelecer com ele a paz do povo cristão e a unidade da religião de
Jesus Cristo, mas não obstante, desejávamos celebrá-lo com a aprovação e gosto
dos príncipes cristãos. Enquanto esperávamos sua vontade, enquanto observávamos
esse tempo decorrido , esse tempo de Tua aprovação, ó Deus! Nos vimos,
ultimamente, necessitados de resolver que todos os tempos são do Divino
beneplácito, quando se tomam resoluções de coisas santas e da piedade cristã.
Portanto, vendo com gravíssima dor de nosso coração, que pioravam de dia a dia
os assuntos da cristandade, pois a Hungria estava oprimida pelos Turcos, os
Alemães em grande perigo, e todas as demais províncias cheias de medo, tristeza
e aflição, determinamos não aguardar mais o consentimento de nenhum príncipe,
senão atender unicamente à vontade de Deus Onipotente, e os interesses da
república Cristã. Em conseqüência, então, não podendo mais dispor de Veneza, e
desejando atender assim o bem estar eterno de todos os Cristãos, bem como a
comodidade da nação alemã, na eleição do lugar em que haveríamos de fazer
realizar o Concílio, ainda que houvessem sido propostos outros lugares,
sabíamos que os alemães desejavam que se elegesse a cidade de Trento, ainda que
nós julgássemos que poderiam ser tratados mais comodamente todas as resoluções
na Itália, ajustamos, movidos por nosso amor paternal, nossas determinações a
suas petições, e em conseqüência elegemos a cidade de Trento para que fosse
sede do Concílio Ecumênico no dia primeiro do próximo mês de novembro,
determinando aquele lugar como próprio para que pudessem ali chegar os Bispos e
Prelados da Alemanha e de outras nações próximas com bastante facilidade, e os
de Espanha, França e outras províncias também chegariam sem muitas
dificuldades. Dilatamos a abertura até aquele dia assinalado, para dar tempo de
serem publicadas as notas deste nosso decreto, por todas as nações Cristãs de
modo que todos os prelados tivessem tempo de chegar a tempo.
E para ter deixado de assinalar nesta ocasião o término de um ano na
mudança do lugar do concílio, como tínhamos prescrito em outras ocasiões e
bulas, o motivo foi de nós não termos querido diferenciar a esperança de sanar
de algum modo a república Cristã que tem sofrido tantas perdas e calamidades.
Não obstante as circunstâncias de tempo, conhecemos as dificuldades,
compreendemos que é incerto quanto se pode esperar de nossa resolução, mas
sabendo que está escrito: Mostre ao Senhor tuas resoluções e espera Nele que
Ele as cumprirá, decidimos que o mais acertado colocar nossa esperança na
clemência e na misericórdia deste mesmo Deus Onipotente, Pai, Filho e Espirito
Santo, e de Seus bem aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, as quais gozamos na
terra, e além disso, com o conselho e consenso de nossas veneráveis irmãos
cardeais da Santa Igreja Romana. Quitada e resolvida a suspensão acima
mencionada, a mesma que removemos e quitamos pela presente Bula, indicamos,
anunciamos, convocamos, estabelecemos e decretamos que o santo, ecumênico e
Geral Concílio, haverá de ter início, prosseguir e finalizar com o auxílio do
mesmo Senhor, para sua honra e glória, e em benefício do povo cristão, na
cidade de Trento, lugar confortável, livre e oportuno para todas as nações, no dia
primeiro do próximo mês de novembro do presente ano da encarnação do Senhor
1542, requerendo, exortando, advertindo e além disso, ordenando com todo rigor
e preceito em força do juramento que fizeram a nós e a esta Santa Sé, e em
virtude de santa obediência e sob as demais penas que tem por costume intimar e
propor contra os que não concordem quando se celebram Concílios, que tanto
nossos veneráveis irmãos de todos os lugares, os Patriarcas, os Arcebispos,
Bispos e nossos amados filhos, os Abades, como todos os demais a quem por
direito ou por privilégio é permitido tomar assento nos Concílios Gerais, e dar
seu voto, que todos devam absolutamente vir e assistir esse Sagrado Concílio, a
menos que se achem legitimamente impedidos, circunstância na qual estão
obrigados a avisar com fidedigno testemunho, ou assistir pelo menos por seus
procuradores e enviados com legítimos poderes. Pedindo e também suplicando
pelas entranhas da misericórdia de Deus e nosso Senhor Jesus Cristo, cuja
religião e verdades de fé se combatem por dentro e por fora tão gravemente, aos
mencionados Imperador e Rei Cristão, assim como os demais reis, duques e
príncipes, cuja presença se em algum tempo tenha sido necessária à santíssima
fé de Jesus Cristo, e à salvação de todos os Cristãos, é principalmente neste
tempo que se desejam ver salva a república Cristã, se compreendem que tem
estreita obrigação para com Deus, por todos os benefícios que tem recebido de
Suas mãos, não abandonem a causa, nem os interesses desse mesmo Deus, colaborem
por si mesmos à celebração do Concílio, onde será muito proveitosa sua piedade
e virtude para a utilidade comum e sua salvação, e também de outros, tanto na
vida temporal como na eterna. Mas se (o que não quereríamos) não puderem
participar eles próprios, que enviem seus embaixadores autorizados que possam
representar no Concílio, cada um a pessoa de seu príncipe, com prudência e
dignidade. Ante todas essas coisas, que se ponham a caminho, o que lhes é
extremamente fácil, sem evasivas nem atrasos, para vir ao Concílio, os Bispos e
Prelados de seus respectivos reinos e províncias. Circunstância que em
particular é absolutamente de conformidade com a justiça que o mesmo Deus e nós
alcancemos dos Prelados e príncipes da Alemanha. É sabido que iniciado o Concílio,
principalmente por sua causa e desejos, e na mesma cidade que eles haviam
pretendido, que todos o celebrem perfeitamente e lhe dêem o esplendor com sua
presença para que melhor e com maior comodidade, se possa quanto antes, e do
melhor modo possível, tratar no mesmo Sagrado e Ecumênico Concílio, consultar,
expor, resolver e levar até o final, desejando todas as coisas que sejam
necessárias na integridade e verdade da Religião Cristã, ao recebimento dos
bons costumes à cura dos males, à paz, unidade e concórdia dos cristãos entre
si, tanto dos príncipes como das populações, assim como rechaçar o ímpeto com
que maquinam os Bárbaros e infiéis para oprimir toda a cristandade, sendo Deus
quem guie nossas deliberações e quem leve à frente de nossas almas, a luz de
Sua sabedoria e verdade. E para que cheguem a estas novas escrituras, e quanto
existe nelas, como notícia que todos devem Ter, e nenhum deles possa alegar
ignorância, principalmente por não ser eventualmente livre o caminho para que
cheguem a todas as pessoas a quem determinadamente se deveria intimar, queremos
e ordenamos que quando houver reuniões de pessoas na basílica do Vaticano do
Príncipe dos Apóstolos, e na igreja de Latrão, a ouvir a missa, sejam lidas
publicamente e com vós clara e alta, pelos cursores de nossa Cúria, ou por
alguns notários públicos, e lidas, sejam fixadas nas portas das ditas igrejas,
também nas portas da Chancelaria Apostólica, e no lugar de costume no campo de
Flora, e aonde possam estar expostas por algum tempo para que possam ser lidas
e suas notícias cheguem a todos, e quando as tirarem dali, sejam colocadas
cópias nos mesmos lugares. Nossa vontade determinada é que todas a quaisquer
pessoas mencionadas mesta Bula, estejam obrigadas e compelidas por sua leitura,
publicação e fixação durante dois meses depois de fixada, contados desde o dia
de sua publicação e fixação, como se tivesse lido e intimado a suas próprias
pessoas. Ordenamos também e decretamos que se de indubitável e correta fé aos
seus exemplares que estejam escritos ou firmados por mãos de algum notário
público, e referendados com o selo de alguma pessoa eclesiástica constituída em
dignidade. Não seja, pois, licito a pessoa alguma, quebrar ou contradizer
temerariamente a esta nossa Bula de invicção, aviso, convocação, estatuto,
decreto, mandamento, preceito e rogo. E se algum presunçoso atentar contra ela,
saiba que incorrerá na indignação de Deus Onipotente, e também na de seus bem
aventurados apóstolos Pedro e Paulo.
Dado em Roma, em São Pedro, em 22 de maio do ano da Encarnação do Senhor
de 1542 e oitavo de nosso Pontificado.
Blosio. Hier. Dan.
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