Publicada
por Rafael Vitola Brodbeck
Do blog Subsídios
Litúrgicos, por Luís Augusto, membro da Associação Redemptions
Sacramentum
Pax et bonum!
Caríssimos, certamente há muitas pessoas que ainda não conhecem a Missa
na Forma Extraordinária (usus antiquior) e outras podem ainda estar
tendo seu primeiro contato. Outras já a conhecem, todavia podem ignorar a razão
para aquela que é a última parte do Ordo Missæ de 1962: a
proclamação do Prólogo do Evangelho segundo São João (Jo 1,1-14).
Pe. Jacques Olivier, da Fraternidade Sacerdotal São Pedro, escreveu um
estudo sobre o assunto, donde tiro algumas citações. Algo mais pode ser
conferido no artigo sobre o Evangelho nas Liturgia, da Catholic
Encyclopedia.
Sabemos que o uso do Evangelho e dos demais livros da Sagrada Escritura
na Liturgia, onde são lidos e explicados, existe desde o início do
cristianismo. Testemunho claro é o relato de São Justino (séc. II) explicando a
Liturgia de seu tempo: "no dia chamado 'do sol' [que chamamos 'do
Senhor' = Domingo], todos os que moram nas cidades ou nos campos se reúnem num
mesmo lugar, e as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profeta são lidos,
de acordo com o que o tempo permitir; então, quando o leitor termina, o
presidente instrui com palavras, e exorta à imitação de tão bons
conselhos".
Muitos outros dos antigos Padres da Igreja dão igual testemunho.
Antiga também é a divisão do culto cristão em um momento em que há a
instrução e um momento em que há o sacrifício; uma Liturgia dos Catecúmenos e
uma Liturgia dos Fiéis; a Liturgia da Palavra e a Liturgia da Eucaristia.
Há evidências de que a leitura era espontânea, tirada da Sagrada
Escritura diretamente. "Nesse tempo, então, o texto era lido
continuamente de uma Bíblia, até que o presidente (o bispo que estava
celebrando) dissesse ao leitor que parasse. Esta leituras variavam em número.
Uma prática comum era ler primeiramente do Antigo Testamento (Prophetia),
depois uma Epístola (Apostolus) e por último de um Evangelho (Evangelium).
Em todo caso, o Evangelho era lido por último, como consumação de todo o
restante".
Passados alguns séculos as perícopes (trechos que compõem as leituras)
foram sendo organizadas e daí foram surgindo gradativamente livros organizados
como o Lecionário e o Evangeliário.
Sobre o Último Evangelho, retirado do Ordinário da Missa durante a
Reforma pós-conciliar, diz-se que se trata de um desenvolvimento tardio,
provavelmente do séc. XII-XIII.
As últimas palavras do rito eram Ite missa est. A oração Placeat
tibi, a bênção e o Evangelho apareceram como devoção do sacerdote
celebrante, mas foram sendo cada vez mais absorvidos até entrarem oficialmente
no Ordo Missæ.
O prólogo de João era lido na celebração do Batismo, segundo alguns
Sacramentários, por causa das palavras: "Quotquot autem receperunt
eum, dedit eis potestatem filios Dei fieri, his, qui credunt in nomine eius:
qui non ex sanguinibus, neque ex voluntate carnis, neque ex voluntate viri, sed
ex Deo nati sunt". (Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem
no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não
nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim
de Deus.)
Igualmente adequado seria usar deste Prólogo no Santo Sacrifício pelo
fato de dizer: "Et verbum caro factum est, et habitavit in
nobis" (E o Verbo se fez carne e habitou entre nós), precisamente
o que acontece na Oração Eucarística e na Comunhão, lembra-nos o Pe. Jacques.
No Missal dos jacobinos, de 1254, o Prólogo aparece como uma das preces
do sacerdote para ser rezada após a Missa. No estudo, Pe. Jacques cita ainda
outros exemplos de como este trecho do Evangelho aparece ou ao fim da Missa, ou
no caminho entre o altar e a sacristia, ou como primeira oração após a Missa.
Foi com São Pio V que se tornou uniforme a proclamação do Prólogo junto
do altar, no fim da Missa.
Ao contrário do Evangelho normal, da Liturgia dos Catecúmenos ou da
Palavra, este Evangelho nunca é solenizado: sempre é lido (sem canto), do altar
(do lado norte = lado do Evangelho), sem incenso ou castiçais. E mesmo estando
presente um diácono, é sempre o sacerdote quem o lê.
No Ritual Romano antigo, usado como Forma Extraordinária, o mesmo
Prólogo de João aparece como última ação antes da bênção e aspersão de um
enfermo, durante uma visita. Este uso remonta a um costume muito antigo, que
era o de rezar este Evangelho no leito dos enfermos. Houve até mesmo usos
supersticiosos deste trecho do Evangelho.
O Evangelho normal é o Prólogo de João, mas em algumas poucas ocasiões o
texto é outro.
O estudo do Pe. Jacques segue com uma explicação de cada expressão deste
Evangelho, recordando, por fim, o ânimo agradecido que é suscitado pelo
testemunho da bondade tamanha de Deus neste belíssimo Prólogo de João.
Por último, cito o Servo de Deus Pe. Reus, que diz, em seu Curso de
Liturgia: "O último evangelho de São João é a parte mais recente
da missa. Encontra-se no século XIII, tornou-se geral no século XV. Motivos
para recitá-lo no fim da missa seriam: a) grande confiança que o povo tinha e
tem nele por causa da sua eficácia, para proteger contra os demônios e as suas
infestações. Pois é um exorcismo (Rit. XI, c. 2, n. 3), usado também nas famílias.
Em caso de trovoada violenta, acende-se uma vela e reza-se o evangelho de São
João, contra os demônios. Por isto explica-se o desejo dos fiéis que este
exorcismo se rezasse no fim da missa, para proteger os frutos da agricultura.
b) a devoção do celebrante. Pois é uma ação de graças muito própria, pela
profissão de fé na divindade de Jesus Cristo; pelas palavras: In
propria venit et sui eum non receperunt, inciso este que exprime a humildade
do celebrante, em cujo coração Nosso Senhor entrou; pelas palavras: Et
Verbum caro factum est, cuja recitação depois da comunhão estava prescrita
por missais medievais".
Referências:
FORTESCUE, Adrian. GOSPEL
IN THE LITURGY. The last gospel. New York. 1909. Disponível em:
REUS, Pe. João Baptista. CURSO DE LITURGIA. Pp. 263-264. Petrópolis-RJ.
1944. Disponível em:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Antes de postar seu comentário sobre a postagem, leia: Todo comentário é moderado e deverá ter o nome do comentador. Comentário que não tenha a identificação do autor (anônimo), ou sua origem via link e ainda que não tenha o nome do emitente no corpo do texto, bem como qualquer tipo de identificação, poderá ser publicado se julgar pertinente o assunto. Como também poderá não ser publicado, mesmo com as identificações acima tratadas, caso o assunto for julga impertinente ou irrelevante ao assunto. Todo e qualquer comentário só será publicado se não ferir nenhuma das diretrizes do blog, o qual reserva o direito de publicar ou não qualquer comentário, bem como de excluí-los futuramente. Comentários ofensivos contra a Santa Madre Igreja não serão aceitos. Comentários de hereges, de pessoas que se dizem ateus, infiéis, de comunistas só serão aceitos se estiverem buscando a conversão e a fuga do erro. De indivíduos que defendem doutrinas contra a Verdade revelada, contra a moral católica, de apoio a grupos ou ideias que contrários aos ensinamentos da Igreja, ao catecismo do Concílio de Trento, ferem, denigrem, agridem, cometem sacrilégios a Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, a Mãe de Deus, seus Anjos, Santos, ao Papa, ao clero, as instituições católicas, a Tradição da Igreja, também não serão aceitos. Apoio a indivíduos contrários a tudo isso, incluindo ao clero modernista, só será publicado se tiver uma coerência e não for qualificado como ofensivo, propagador do modernismo, do sedevacantismo, do protestantismo, das ideologias socialistas, comunistas e modernistas, da maçonaria e do maçonismo, bem como qualquer outro tópico julgado impróprio, inoportuno, imoral, etc. Alguns comentários podem ser respondidos via e-mail, postagem de resposta no blog, resposta do próprio comentário ou simplesmente não respondido. Reservo o direito de publicar, não publicar e excluir os comentários que julgar pertinente. Para mensagens particulares, dúvidas, sugestões, inclusive de publicações, elogios e reclamações, pode ser usado o quadro CONTATO no corpo superior do blog versão web. Obrigado! Adm do blog.