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manuscrito do Pastor de Hermas |
O PASTOR DE HERMAS - III PARTE
O PASTOR
Autor:
Hermas
Tradução:
Ivo Storniolo/Euclides M. Balancim
Fonte:
Site “Ictis”
Esta obra
foi escrita em meados do segundo século por Hermas, entre 142 e 155 d.C.
Foi um
dos escritos mais considerados da antiguidade cristã; por muito tempo, tida
como inspirada, inclusive alguns a colocavam no Cânon do NT. As frequentes
referências que se encontram dela em várias obras do período patrístico,
demonstram a alta estima em que era tida. A obra era muito usada no
cristianismo primitivo para instruir aqueles que acabavam de entrar na Igreja e
queriam ser instruídos na piedade, como podemos comprovar no início do século
IV no testemunho de Eusébio (HE, III,3:6).
Após
larga difusão, especialmente, no Oriente, nas Igrejas gregas, inspirado para
uns, apenas útil para todos e até mesmo recusado por outros, o Pastor foi,
definitivamente, colocado entre os apócrifos após o Concílio Ecumênico de
Hipona em 393, onde a Igreja definiu o catálogo bíblico.
Trata-se
de uma obra longa, com 114 capítulos dispostos em 3 partes: 5 visões, 12
mandamentos e 10 Parábolas.
A
preocupação central de Hermas não é doutrinário-dogmática, mas moral. Seu
argumento principal é a necessidade de penitência indo ao encontro da
misericórida divina. O leitor notará que o conceito de penitência, isto é,
meios de santificação do homem, corresponde aos Sacramentos da Igreja. A
Eclesiologia em Hermas, domina a idéia de que a Igreja é uma instituição
necessária para a salvação. Quanto a Cristo, Hermas não emprega nenhuma vez, ao
longo de sua obra, os termos Jesus Cristo, ou Logos. Chama-o de Salvador, Filho
de Deus e Senhor. A Cristologia de Hermas suscitou dificuldades, pois segundo
sua obra, há duas pessoas em Deus: Deus Pai e Deus-Espírito-Filho.
O PASTOR
DE HERMAS
PARÁBOLAS
PRIMEIRA PARÁBOLA
CAPÍTULO
50
Ele me
disse: "Vós, servos de Deus, sabeis que habitais em terra estrangeira. De
fato, vossa cidade acha-se longe desta cidade. Portanto, se conheceis vossa
cidade, aquela que deveis habitar, por que correis assim atrás de campos,
instalações luxuosas, palácios e mansões inúteis? Quem procura tais coisas
nesta cidade não espera retornar à sua própria cidade. Insensato, vacilante,
homem infeliz! Ignoras que tudo isso é estrangeiro e está em poder de outro? De
fato, o dono desta cidade dirá: 'Não quero que habites na minha cidade. Vai
embora daqui, porque não obedeces às minhas leis'. Então, tu, que possuis
campos, casas e muitos bens, ao ser expulso por ele, o que farás com teu campo,
tua casa e tudo o que te resta do que acumulaste? Porque o dono desta cidade te
diz justamente: 'Ou obedeces às minhas leis, ou sais do meu país'. Portanto, o
que farás, tu que segues a lei da tua cidade? Por causa de teus campos e do
resto de teus bens, renegarás tua lei e andarás de acordo com a lei dessa
cidade? Atenção! É perigoso renegar tua lei, porque, se queres retornar à tua
cidade, temo que não te acolham mais, por teres renegado a lei de tua cidade, e
assim sejas excluído dela. Vigia, portanto. Visto que moras em terra
estrangeira, não reserves para ti senão o estritamente necessário, e estejas
pronto. Desse modo, quando o dono dessa cidade quiser te expulsar, porque te
opões às suas leis, sairás da sua cidade, chegarás à tua, e aí viverás conforme
tua lei, sem prejuízo e com alegria. Atenção, vós que servis ao Senhor e o
tendes no coração. Praticai as obras de Deus, lembrando-vos de seus mandamentos
e das promessas que ele vos fez. Crede que ele as manterá, se seus mandamentos
forem observados. Em lugar de campos, resgatai os oprimidos, conforme cada um
puder; visitai as viúvas e os órfãos, e não os desprezeis. Gastai vossas
riquezas e todos os vossos bens, que recebestes de Deus, nesses campos e casas.
De fato, o Senhor vos enriqueceu, para que presteis a ele tais serviços. E
melhor adquirir esses campos, bens e casas, que reencontrarás em tua cidade,
quando aí retornares. Esse investimento é nobre e alegre, não produz tristeza,
nem medo, mas alegria. Não procureis o investimento dos pagãos, perigoso para
os servos de Deus. Fazei vossos próprios investimentos, com os quais podeis
alegrar-vos. Não cometais fraude, não toqueis nos bens de outros, nem os
desejeis, porque é mau desejar os bens alheios. Realiza tua tarefa, e serás
salvo."
SEGUNDA PARÁBOLA
CAPÍTULO
51
Caminhava
eu para o meu campo e, observando um olmeiro e uma videira, refletia sobre
essas árvores e seus frutos. Então o Pastor me apareceu e disse: "O que
pensas sobre o olmeiro e a videira?" Eu respondi: "Senhor, penso que
eles se completam perfeitamente." Ele disse: "Essas duas árvores
existem para servir de modelo aos servos de Deus." Eu pedi:
"Desejaria saber o modelo que podem oferecer essas árvores das quais
falas." Ele perguntou: "Vês o olmeiro e a videira?" Respondi:
"Sim, senhor." Ele continuou: "A videira produz frutos, mas o
olmeiro é estéril. Entretanto, se essa videira não se prende ao olmeiro, fica
estendida no chão e não produzirá frutos. Os frutos que produzir apodrecerão,
se ela não estiver suspensa no olmeiro. Vês, portanto, que o olmeiro também dá
muitos frutos, não menos que a videira, e até mais." Eu perguntei:
"Por que mais, Senhor?" Ele respondeu: "Porque a videira
suspensa no olmeiro dá muitos frutos belos, ao passo que estendida no chão só
produz frutos podres e poucos. Essa parábola vale para os servos de Deus, o
pobre e o rico." Eu perguntei: "Senhor, como assim? Explica-me."
Ele respondeu: "Escuta. O rico tem muitos bens, mas aos olhos do Senhor
ele é pobre, porque se distrai com suas riquezas. A oração e a confissão ao
Senhor não lhe são importantes e, se ele as faz, são breves, fracas e sem
nenhum poder. Contudo, se o rico se volta para o pobre e atende às suas
necessidades, crendo que o bem que ele fez ao pobre poderá encontrar sua
retribuição junto a Deus (porque o pobre é rico por sua oração e confissão, e
sua oração tem grande poder junto de Deus), então o rico atende sem hesitação
às necessidades do pobre. Assim, o pobre, socorrido pelo rico, reza por ele e
agradece a Deus pelo seu benfeitor; este, por sua vez, redobra o zelo para com
o pobre, para que não lhe falte nada na vida, pois sabe que a oração do pobre é
bem acolhida e rica junto a Deus. Desse modo, ambos cumprem sua tarefa: o pobre
o faz mediante sua oração, que é sua riqueza recebida do Senhor. Ele a devolve
ao Senhor na intenção daquele que o ajuda. E o rico, sem hesitação, dá ao pobre
a riqueza que recebeu do Senhor. Essa é uma ação nobre e bem acolhida por Deus,
porque o rico compreendeu perfeitamente o sentido da sua riqueza e partilhou
com o pobre os dons do Senhor, cumprindo assim, convenientemente, a sua tarefa.
Para os homens, o olmeiro parece não produzir fruto. Eles não ignoram e não
compreendem que, se vier seca, o olmeiro, que conserva água, nutre a videira, e
esta, continuamente provida de água, produz o duplo de frutos, para ela mesma e
para o olmeiro. Da mesma forma, os pobres, rezando ao Senhor para os ricos,
asseguram pleno desenvolvimento às riquezas deles. Por sua vez, os ricos,
atendendo às necessidades dos pobres, dão satisfação à sua alma. Portanto,
ambos participam da ação justa. Quem age assim não será abandonado por Deus,
mas será inscrito no livro dos viventes. Felizes os que possuem e compreendem
que o Senhor preserva suas riquezas, pois aquele que o compreende poderá também
prestar bons serviços."
TERCEIRA PARÁBOLA
CAPÍTULO
52
Ele me
mostrou muitas árvores sem folhas, que me pareciam mortas, e eram todas
semelhantes. E me perguntou: "Vês essas árvores?" Respondi:
"Sim, senhor, eu as vejo: são semelhantes e mortas." Ele continuou:
"Essas árvores que vês são os habitantes deste mundo." Eu perguntei:
"Senhor, então por que são semelhantes e mortas?" Ele respondeu:
"Porque os justos e os pecadores não se distinguem neste mundo, mas são
semelhantes. De fato, para os justos este mundo é inverno, e eles não se distinguem,
pois nele habitam juntamente com os pecadores. No inverno, despojadas de suas
folhas, as árvores são semelhantes, e não se distingue quais estão mortas e
quais vivas. Da mesma forma, os justos e os pecadores não se distinguem neste
mundo; são todos semelhantes."
QUARTA PARÁBOLA
CAPÍTULO
53
De novo,
ele me mostrou muitas árvores, umas verdes e outras secas. E me disse:
"Vês essas árvores?" Respondi: "Sim, senhor, eu as vejo: umas
estão verdes e outras secas." Ele continuou: "As árvores verdes são
os justos, que habitarão no mundo que está para chegar. De fato, o mundo que
está para chegar será verão para os justos e inverno para os pecadores.
Portanto, quando brilhar a misericórdia do Senhor os servos de Deus poderão ser
distinguidos e serão visíveis para todos. No verão, os frutos de cada árvore
aparecem e se pode saber de que espécie são. Do mesmo modo, naquele mundo os
frutos dos justos serão manifestos e se saberá que todos eles são vigorosos.
Entretanto, naquele mundo, os pagãos e os pecadores, as árvores secas que viste,
serão encontrados secos e mortos, e serão queimados, como madeira morta,
patenteando-se assim que durante a vida deles sua conduta foi má. De fato, os
pecadores serão queimados, porque pecaram e não fizeram penitência; os pagãos
serão queimados porque não conheceram o seu Criador. Portanto, leva frutos em
ti mesmo, para que, naquele verão, teu fruto seja conhecido. Evita muitas
ocupações e não cometas nenhum pecado. Os que se carregam de muitas ocupações
cometem também muitos pecados. São absorvidos por seus negócios e não servem
mais em nada ao Senhor. Como poderia o homem assim pedir algo ao Senhor e ser
atendido, se ele não serve ao Senhor? Os que o servem, receberão o que pedem,
mas os que não o servem, não receberão absolutamente nada. Aquele que tem
apenas uma ocupação, pode também servir ao Senhor; o seu pensamento não se
corromperá longe do Senhor, mas o servirá, conservando pensamento puro. Se
assim fizeres, poderás levar frutos para o mundo que está para chegar. Qualquer
um que fizer isso, levará frutos."
QUINTA PARÁBOLA
CAPÍTULO
54
Eu
jejuava, sentado sobre um monte, e agradecia a Deus tudo o que ele fizera por
mim. Então vi o Pastor sentado junto de mim, dizendo: "Por que vieste aqui
tão cedo?" (Eu respondi): "Senhor, porque estou montando guarda."
EIe perguntou: "Que quer dizer guarda?" Eu respondi: "Senhor,
estou jejuando." Ele continuou: "E que jejum é esse que estás
fazendo?" Eu respondi: "Senhor, eu jejuo por costume." Ele
disse: "Não sabes jejuar para o Senhor, e esse jejum que fazes é sem
valor." Eu perguntei: "Senhor, por que dizes isso?" Ele
explicou: "Digo-te que não é jejum esse que imaginas fazer. Eu te
ensinarei, porém, qual é o jejum agradável e perfeito para o Senhor." Eu
disse: "Sim, senhor. Tu me farás feliz, se eu puder conhecer o jejum que
agrada a Deus." Então ele explicou: "Escuta. Deus não deseja esse
jejum vazio. Com efeito, jejuando desse modo para Deus, não farás nada para a
justiça. Jejua do seguinte modo: Não faças nada de mau em tua vida e serve ao
Senhor de coração puro; observa seus mandamentos, andando conforme seus
preceitos, e que nenhum desejo mau entre em teu coração, e crê em Deus. Se
fizeres isso e o temeres, abstendo-te de toda obra má, viverás em Deus. Se
cumprires essas coisas, farás um jejum grande e agradável ao Senhor."
CAPÍTULO
55
Escuta a
parábola sobre o jejum. Um homem possuía um campo e muitos escravos, e mandou
plantar uma vinha numa parte do campo. Ele escolheu um servo muito fiel e
estimado, chamou-o e lhe disse: "Toma conta desta vinha que plantei e,
durante minha ausência, coloca as estacas. Não faças mais nada na vinha.
Observa esta minha ordem e serás livre na minha casa." Então o senhor do
escravo saiu de viagem. Depois que partiu, o escravo tomou conta e estaqueou.
Tendo terminado de estaquear, viu que a vinha estava cheia de mato. Então
refletiu e disse: "Já executei a ordem do senhor. Agora capinarei a vinha,
pois capinada ficará mais bela e, não sendo sufocada pelo mato, produzirá mais
fruto. Decidido, capinou a vinha e arrancou todo o mato que havia nela. Sem o
mato que a sufocava, a vinha ficou mais bela e florescente. Depois de certo
tempo, o senhor do campo e do servo voltou. Foi até à vinha e, vendo que estava
muito bem estaqueada, capinada, o mato extirpado e que as videiras floresciam,
ficou muito satisfeito com o trabalho do escravo. Chamou então seu filho amado,
que era o herdeiro, e seus amigos conselheiros. Disse-lhes o que ordenara ao
escravo e tudo o que ele vira executado. Eles se alegraram com o escravo, por
causa do testemunho que o patrão dera dele. Então o patrão lhe disse:
"Prometi a liberdade a esse escravo, se ele executasse a ordem que lhe
dera. Ele não só executou a ordem, mas fez bom trabalho na vinha, e isso me
agradou muito. Portanto, como recompensa do trabalho que ele realizou, quero
que seja herdeiro junto com meu filho, porque teve uma boa idéia e, ao invés de
descartá-la, a realizou." O filho do senhor aprovou a intenção de designar
o escravo como seu co-herdeiro. Alguns dias mais tarde, o patrão dava um banquete
e enviou muita comida do banquete ao escravo. Este aceitou a comida que o
senhor lhe enviara, reteve o suficiente para si e distribuiu o resto a seus
companheiros de escravidão. Os companheiros o receberam, se alegraram e
começaram a rezar para que ele, que os tratara tão bem, recebesse ainda mais
favores do senhor. "O senhor soube de tudo o que acontecera e de novo se
alegrou muito com a conduta do escravo. Chamou novamente os amigos e o filho e
contou-lhes a respeito da atitude do servo quanto à comida recebida. E eles
concordaram mais ainda que o servo se tornasse herdeiro juntamente com o filho
do senhor."
CAPÍTULO
56
Eu lhe
disse: "Senhor, não compreendo essas parábolas, nem as poderei entender,
se não me explicares." EIe respondeu: "Vou te explicar tudo, e, te
esclarecerei tudo que eu falar. Guarda os mandamentos do Senhor, e lhe serás
agradável e contado entre os que observam seus mandamentos. Se fizeres algo de
bom, além do mandamento de Deus, conseguirás glória maior e serás glorificado
junto a Deus, mais do que deverias ser. Portanto, se, observando os mandamentos
de Deus, acrescentares essas boas obras, te alegrarás, se as observares
conforme a minha ordem." Eu lhe disse: "Senhor, observarei tudo o que
me indicares, pois sei que estás comigo." Ele me respondeu: "Estarei
contigo, pois tens esse desejo de fazer o bem, e estarei com todos os que têm o
mesmo desejo. Se os mandamentos do Senhor são observados, teu jejum é muito
bom. Eis como observarás o jejum que queres praticar: Antes de tudo, guarda-te
de toda palavra má, de todo desejo mau, e purifica teu coração de todas as
coisas vãs deste mundo. Se observares isso, teu jejum será perfeito. E jejuarás
do seguinte modo: depois de cumprir o que foi escrito, no dia em que jejuares,
não tomarás nada, a não ser pão e água. Calcularás o preço dos alimentos que
poderias comer nesse dia e o porás à parte para dar a uma viúva, a um órfão ou
necessitado e, desse modo, te tornarás humilde. Graças a essa humildade, quem
tiver recebido ficará saciado e rogará ao Senhor por ti. Se jejuares como te
ordenei, teu sacrifício será aceito por Deus, teu jejum será anotado, e o
serviço, assim realizado, será bom, alegre e bem acolhido pelo Senhor.
Observarás isso com teus filhos e toda a tua família. Desse modo, serás feliz,
e todos os que ouvirem esses preceitos e os observarem, serão felizes e
receberão do Senhor as coisas que pedirem."
CAPÍTULO
57
Eu lhe
pedi insistentemente que me explicasse o sentido simbólico do campo, do senhor,
da vinha, do escravo que estaqueara a vinha, do filho e dos amigos
conselheiros, pois compreendera que tudo isso era uma parábola. Ele me
respondeu: "És muito ousado em tuas perguntas! De modo algum deves
perguntar, pois, se alguma coisa se deve explicar a ti, será explicada."
Eu lhe disse: "Senhor, tudo o que me mostrares sem explicar, será inútil
que eu veja, pois não compreenderei o que significa. Da mesma forma, se me
contas parábolas sem explicá-las, terei ouvido em vão alguma coisa de ti."
De novo, ele me respondeu, dizendo: "Todo servo de Deus que tem o Senhor
em seu coração, pode lhe pedir a compreensão e obtê-la. Ele poderá, então,
explicar qualquer parábola e, graças ao Senhor, tudo o que for dito em
parábolas será compreensível para ele. Os indolentes e preguiçosos para a oração,
porém, vacilam em pedir ao Senhor. O Senhor é misericordioso e atende todos os
que lhe pedem sem hesitação. Tu, porém, que foste fortificado pelo anjo
glorioso e dele recebeste essa oração, e não és preguiçoso, por que não pedes a
compreensão? Tu a receberás." Eu repliquei: "Senhor, tendo a ti
comigo, tenho necessidade de te pedir e perguntar. Com efeito, tu me mostras
tudo e falas comigo. Se eu visse ou ouvisse essas coisas sem ti, pediria ao
Senhor que as explicasse a mim".
CAPÍTULO
58
Ele
continuou: "Já te disse, e não faz muito, que és esperto e ousado para
pedir explicação das parábolas. Como és tão perseverante, vou te explicar o
sentido simbólico do campo e de tudo o mais que o acompanha, para que possas
explicá-lo a todos. Escuta, portanto, e compreende. O campo é este mundo, e o
dono do campo é aquele que criou todas as coisas, que as organizou e lhes deu
força. O filho é o Espírito Santo, e o escravo é o Filho de Deus. As videiras
são o povo, que ele mesmo plantou. As estacas são os santos anjos do Senhor,
que protegem o seu povo. O mato arrancado da vinha são as iniqüidades dos
servos de Deus. A comida do banquete que ele enviou ao escravo são os
mandamentos que ele deu por meio de seu filho. Os amigos e conselheiros, são os
primeiros santos anjos criados. A viagem do senhor é o tempo que resta para a
sua parusia." Eu lhe perguntei: "Senhor, tudo isso é grande,
admirável e glorioso. Como poderei, Senhor, compreender essas coisas por mim
mesmo? Nenhum outro homem, ainda que fosse muito inteligente, poderia
compreendê-las. Explica-me ainda, Senhor, o que vou perguntar." Ele disse:
"Se desejas alguma explicação, podes pedi-la." Eu perguntei:
"Senhor, por que o Filho de Deus aparece na parábola sob forma de
escravo?"
CAPÍTULO
59
Ele
respondeu: "Escuta. O Filho de Deus não aparece sob a forma de escravo,
mas com grande poder e soberania." Eu disse: "Como, senhor? Não
compreendo." Ele continuou: "Porque Deus plantou a vinha, isto é,
criou o seu povo e o entregou a seu Filho, e o Filho estabeleceu os anjos sobre
eles para guardá-los individualmente. Ele próprio purificou os pecados deles,
trabalhando muito e suportando muitas fadigas, pois ninguém pode capinar uma
vinha sem trabalho e fadiga. Ele, portanto, tendo purificado os pecados do
povo, ensinou os caminhos da vida, dando-lhes a lei, que recebera de seu Pai.
Observa que ele é o senhor do povo, porque recebeu todo o poder do seu Pai.
Escuta por que o Senhor nomeou seu Filho conselheiro e os anjos gloriosos para
decidir a herança que deveria ser dada ao escravo. Deus fez habitar na carne
que ele havia escolhido o Espírito Santo preexistente, que criou todas as
coisas. Essa carne, em que o Espírito Santo habitou, serviu muito bem ao
Espírito, andando no caminho da santidade e pureza, sem macular em nada o
Espírito. Ela se portou digna e santamente, participou dos trabalhos do
Espírito e colaborou com ele em todas as coisas. Comportou-se com firmeza e
coragem e, por isso, Deus a escolheu como companheira do Espírito Santo. Com
efeito, a conduta dessa carne agradou a Deus, pois ela não se maculou na terra,
enquanto possuía o Espírito Santo. Ele tomou então o Filho e os anjos gloriosos
por conselheiros, para que essa carne, que tinha servido ao Espírito
irrepreensivelmente, obtivesse um lugar de repouso e não parecesse ter perdido
a recompensa pelo seu serviço. Toda carne em que o Espírito Santo habitou e que
for encontrada pura e sem mancha, receberá sua recompensa. Aí tens a explicação
dessa parábola."
CAPÍTULO
60
Eu disse:
"Senhor, fiquei contente em ouvir a explicação." Ele disse:
"Escuta agora. Guarda tua carne pura e sem mancha; para que o espírito,
que nela habita, dê testemunho em favor dela e assim seja justificada. Cuida
para que nunca entre em teu coração a idéia de que tua carne é perecível. E
cuidado para não abusar dela com alguma impureza. Se manchas tua carne,
mancharás também o Espírito Santo. Portanto, se manchas tua carne, não
viverás." Eu perguntei: "Senhor, se tiver havido alguma ignorância
antes que essas palavras tivessem sido ouvidas, como se pode salvar o homem que
manchou a sua carne?" Ele respondeu: "Quanto às ignorâncias
anteriores, somente Deus pode conceder a cura, pois ele tem todo o poder.
Agora, porém, estejas atento, e o Senhor, em sua grande misericórdia, as
curará, se doravante não manchares nem tua carne, nem teu espírito, pois os
dois vão juntos e não podem manchar-se um sem o outro. Portanto, conserva os
dois puros, e viverás em Deus."
SEXTA PARÁBOLA
CAPÍTULO
61
Sentado
em casa, eu glorificava ao Senhor por tudo que tinha visto, e meditava sobre os
mandamentos, descobrindo que eles são bons, fortes, alegres, gloriosos e
capazes de salvar a alma do homem. E dizia a mim mesmo: "Serei feliz, se
caminhar conforme esses mandamentos, e qualquer um que andar nesse caminho
também será feliz." Enquanto dizia isso a mim mesmo, de repente vi o
pastor ao meu lado dizendo: "Por que duvidas a respeito dos mandamentos
que te dei? Eles são bons. Não duvides em nada. Ao contrário, reveste-te da fé
do Senhor e andarás em seus caminhos, porque eu te fortificarei neles. Esses
mandamentos são úteis para os que farão penitência, porque, se não andarem
nesse caminho, sua penitência será inútil. Vês, portanto, que fazeis
penitência, rejeitai os males deste mundo, que vos aniquilam. Revestidos de
toda a virtude de justiça, podereis observar os meus preceitos, mas não
acrescenteis pecados aos vossos pecados. Se não acrescentardes mais pecados,
cancelarei os vossos pecados passados. Caminhai, portanto, conforme os meus
mandamentos, e vivereis em Deus. Todas essas coisas vos foram ditas por
mim." Depois de me dizer isso, ele acrescentou: "Vamos ao campo, e te
mostrarei os pastores das ovelhas." Eu disse: "Vamos, Senhor."
Fomos para uma planície, e ele me mostrou um jovem pastor, vestido com roupa
amarela. Apascentava numerosas ovelhas, as quais viviam de modo voluptuoso e
dissoluto, saltando alegremente de cá para lá. O pastor também estava muito
satisfeito com seu rebanho; sua fisionomia era alegre, e ele andava de um lado
para o outro, no meio das ovelhas. Vi também outras ovelhas juntas, dissolutas
e voluptuosas; mas estas não saltavam.
CAPÍTULO
62
Então ele
me perguntou: "Vês esse pastor?" Eu respondi: "Vejo,
senhor." Ele continuou: "E o anjo da volúpia e do erro. Ele aniquila
as almas dos servos de Deus que são vazios, desviando-os da verdade e
enganando-os com maus desejos, nos quais eles morrem. De fato, eles esquecem os
mandamentos do Deus vivo e caminham nos enganos e volúpias vãs, e são
destruídos por esse anjo: alguns morrem, outros se corrompem." Eu lhe
disse: "Senhor, não sei o que é essa morte e essa corrupção." Ele
respondeu: "Escuta. Todas as ovelhas que viste muito alegres e saltitantes
são os que se separaram definitivamente de Deus e se entregaram às paixões
deste mundo. Para eles não há mais penitência para a vida, porque, além de
tudo, blasfemaram contra o nome do Senhor. Para eles, portanto, resta apenas a
morte. Aquelas que viste, pastando no mesmo lugar sem saltitar, são os que se
entregaram às volúpias e aos enganos, mas sem blasfemar contra o Senhor.
Corromperam-se longe da verdade. Para eles, portanto, existe esperança de
penitência, a fim de que possam viver. A corrupção conserva ainda alguma
esperança de restauração, ao passo que a morte implica em perdição
eterna." Avançamos um pouco, e ele me mostrou um pastor de porte alto e de
aspecto selvagem, vestido com pele branca de cabra, com bornal nas costas, e na
mão um cajado rude e cheio de nós e um grande chicote. Seu olhar era tão severo
que me infundiu medo. Assim era o seu olhar! Esse pastor recebia do pastor
jovem as ovelhas dissolutas e voluptuosas, mas que não saltitavam. Ele as
impelia para lugar escarpado, cheio de espinhos e cardos, e as ovelhas não
conseguiam livrar-se dos espinhos e dos cardos, pois ficavam emaranhadas neles.
Pastavam presas, entre os espinhos e cardos, e sofriam muito, açoitadas pelo
pastor, o qual as fazia andar de cá para lá, sem lhes dar descanso, e elas
jamais se tranqüilizavam.
CAPÍTULO
63
Ao vê-Ias
assim flageladas e atormentadas, fiquei triste por elas, porque assim
torturadas não tinham nenhum tipo de trégua. Então perguntei ao pastor que
conversava comigo: "Senhor, quem é esse pastor tão cruel e severo, que não
tem nenhuma piedade dessas ovelhas?" Ele respondeu: "Esse é o anjo do
castigo. Ele é justo, mas foi encarregado do castigo. Ele recebe aqueles que
vagueiam longe de Deus e que seguiram o caminho dos desejos e enganos deste
mundo. Ele os pune conforme cada um merece, com castigos terríveis e variados."
Eu pedi: "Senhor, eu desejaria saber quais são esses diversos
castigos." Ele continuou: "Escuta quais são as diversas provações e
castigos. As provações são as da vida. Alguns são castigados com prejuízos,
outros pela indigência outros por doenças diversas, outros por alguma
insegurança e outros ainda são injuriados por pessoas indignas e têm que sofrer
muitas outras calamidades. De fato, incertos em suas intenções, muitos se
lançam a muitas coisas, mas em nada conseguem sucesso. Dizem que não são felizes
em seus negócios e não lhes entra no coração que cometeram ações más; ao
contrário, acusam o Senhor. Quando são atribulados por essas provações, são
entregues a mim para uma boa reeducação. Eles se reforçam na fé do Senhor e o
servem, de coração puro, pelo resto de seus dias. Quando fazem penitência, as
obras más que praticaram lhes entram no coração e então eles glorificam a Deus,
porque é juiz justo e porque cada um sofreu justamente por suas próprias ações.
Doravante, eles servem ao Senhor de coração puro e têm sucesso em tudo o que
fazem, pois recebem do Senhor tudo o que pedem. Então eles glorificam ao
Senhor, por terem sido entregues a mim, e já não sofrem mal nenhum".
CAPÍTULO
64
Eu lhe
disse: "Senhor, explica-me ainda esse ponto." Ele perguntou: "O
que procuras ainda?" Eu continuei: "Senhor, os voluptuosos e
transviados são atormentados por tanto tempo quanto aquele em que foram
voluptuosos e transviados?" Ele respondeu: "São atormentados durante
tempo igual." Observei: "Senhor, são atormentados por pouquíssimo
tempo. Com efeito, seria preciso que as pessoas que vivem assim na volúpia e se
esquecem de Deus, fossem torturadas por tempo sete vezes maior." Ele me
disse: "Insensato! Não conheces a força do tormento." Eu respondi:
"Senhor, se eu conhecesse, não pediria explicação." Ele continuou:
"Escuta qual é a força de uma e outra coisa. O tempo da volúpia e do
engano é de uma hora; mas uma hora de tormento tem a força de trinta dias.
Passando um dia na volúpia e no engano, e um dia nos tormentos, esse dia de
tormento vale por um ano inteiro. A pessoa é atormentada por tantos anos
quantos dias passou na volúpia. Vês, portanto, que o tempo da volúpia e do
engano é mínimo, mas o do castigo e do tormento é longo."
CAPÍTULO
65
Eu disse:
"Senhor, não compreendi inteiramente os tempos do engano, da volúpia e do
tormento. Explica-me com mais clareza." Ele respondeu: "Tua
insensatez é insistente e não queres purificar teu coração e servir a Deus.
Cuidado para que o tempo não se cumpra e sejas encontrado insensato. Ouve,
portanto, para compreender o que desejas. Aquele que vive um dia na volúpia e
no engano, fazendo o que quer, reveste-se de muita insensatez e não percebe a
ação que faz. No dia seguinte, esquece o que fez no dia anterior. A volúpia e o
engano não têm memória, por causa da insensatez de que se revestem. Quando,
porém, o castigo e o tormento se ligam ao homem por um dia, é durante um ano
todo que ele é castigado e atormentado, pois o castigo e o tormento têm grande
memória. Atormentado e castigado durante um ano inteiro, ele se lembra então da
volúpia e do engano, e reconhece que é por causa deles que sofre esses males.
Todo homem que vive na volúpia e no engano é assim atormentado, porque,
possuindo a vida, ele se entregara à morte." Eu perguntei: "Senhor,
quais são as volúpias perniciosas?" Ele respondeu: "Tudo o que o
homem faz com prazer, é volúpia. Assim o colérico, fazendo aquilo que é
conforme a sua paixão, é voluptuoso. O mesmo acontece com o adúltero, o bêbado,
o maledicente, o mentiroso, realizando aquilo que é conforme à sua própria
doença, se entrega por esse ato à volúpia. Todas essas volúpias são más para os
servos de Deus. Portanto, é por causa desses enganos que sofrem aqueles que são
castigados e atormentados. Contudo, há também volúpias que salvam os homens,
pois muitos experimentam volúpia em fazer o bem: são impulsionados pelo próprio
prazer. Essa é volúpia proveitosa para os servos de Deus e traz vida para o homem.
As volúpias perniciosas, de que falamos antes, só lhe trazem tormentos e
castigos. Caso se obstinem e não se arrependam, acarretam a morte para si
mesmos."
SÉTIMA PARÁBOLA
CAPÍTULO
66
Poucos
dias depois, vi o pastor na mesma planície onde tinha visto também os pastores,
e ele me perguntou: "O que procuras ainda?" Respondi: "Senhor,
estou aqui a fim de te pedir que mandes o pastor justiceiro sair da minha casa,
pois ele me atribula muito." Ele disse: "É preciso que sejas atribulado.
Com efeito, foi assim que o anjo glorioso ordenou a respeito de ti. Ele quer
que sejas provado." Perguntei: "Senhor, o que fiz de tão mau, para
ser entregue a esse anjo?" Ele respondeu: "Escuta. Teus pecados são
numerosos, mas não tanto para que sejas entregue a esse anjo. Todavia, tua
família cometeu grandes pecados e iniqüidades, e o anjo glorioso ficou irritado
com as obras deles e, por isso, ordenou que sejas atribulado por algum tempo.
Dessa forma, eles farão penitência e se purificarão de todo desejo deste mundo.
Quando se tiverem arrependido e purificado, o anjo do castigo se
afastará." Perguntei-lhe: "Senhor, se foram eles que fizeram essas
coisas para irritar o anjo glorioso, que fiz eu? Ele respondeu: "E que não
há outro modo para que eles sejam atribulados, se tu, chefe da família, não
sofreres tribulação. Porque sendo tu atribulado, eles forçosamente o serão
também, mas, se tiveres prosperidade, nenhuma tribulação poderá
atingi-los." Eu repliquei: "Senhor, eles já fizeram penitência de
todo o coração." Ele respondeu: "Eu sei muito bem que eles fizeram
penitência do fundo do coração. Você pensa que os pecados daqueles que fazem
penitência são imediatamente remidos? De modo algum. E preciso que aquele que
fez penitência prove sua própria alma, se humilhe profundamente em tudo o que
faz e passe por muitas e variadas tribulações. Se ele suportar as tribulações
que lhe sobrevierem, aquele que tudo criou e fortaleceu terá compaixão dele e
lhe concederá a cura. Isso acontecerá seguramente, se ele vir puro de toda
coisa má o coração do penitente. E, portanto, proveitoso a ti e à tua família
passar agora por tribulações. Mas, por que estou falando tanto? Tens que passar
por tribulações, conforme ordenou esse anjo do Senhor que te confiou a mim.
Agradece ao Senhor por julgar-te digno de te mostrar previamente a tribulação.
Dessa forma, conhecendo-a de antemão, tu a suportarás valorosamente." Eu
lhe pedi: "Senhor, fica comigo, e eu poderei suportar qualquer
tribulação." Ele respondeu: "Eu estarei contigo, e pedirei ao anjo
justiceiro para te atribular mais suavemente. Todavia, serás atribulado por
pouco tempo, e depois serás restabelecido em teu lugar. Continua, porém, a te
humilhar e a servir ao Senhor de coração puro - tu, teus filhos e tua família -
e anda conforme os meus mandamentos que te dei. Desse modo, tua penitência
poderá ser firme e pura. Se observares isso com tua família, toda tribulação se
afastará de ti. E a tribulação também se afastará de todos os que andarem
conforme os meus mandamentos."
OITAVA PARÁBOLA
CAPÍTULO 67
Ele me
mostrou um grande salgueiro, que cobria planícies e montanhas, e ao abrigo do
salgueiro tinham-se recolhido todos os que são chamados pelo nome do Senhor.
Debaixo do salgueiro, estava de pé o anjo glorioso do Senhor, com enorme
estatura. Tinha uma grande foice, e cortava ramos do salgueiro e as dava à
multidão abrigada debaixo do salgueiro. Os ramos que entregava eram pequenos,
com cerca de meio metro. Depois de todos terem recebido seu ramo, o anjo deixou
a foice, e a árvore estava inteira, da mesma forma como eu a vira. Eu me
admirava e dizia a mim mesmo: "Como é possível que, depois de tantos ramos
cortados, a árvore esteja inteira?" O pastor me disse: "Não te
admires que essa árvore permaneça inteira, depois que tantos ramos foram
cortados. Espera e, depois de ver tudo, te será explicado o que significa
isso." O anjo que entregara os ramos à multidão, pediu-os de novo.
Pedia-os na ordem segundo a qual eles os haviam recebido, e cada um entregava
seu ramo. O anjo do Senhor os tomava e os examinava. De alguns, ele recebia
ramos secos e roídos como por vermes, e aos que entregavam tais ramos o anjo
dizia que formassem um grupo à parte. Outros entregavam ramos secos, mas não
roídos por vermes. Também a estes o anjo dizia que formassem um grupo separado.
Outros os entregavam meio secos, e também estes formavam um grupo separado.
Outros entregavam seus ramos meio secos e fendidos, e também estes formavam um
grupo separado. Outros entregavam seus ramos verdes e fendidos, e também estes
formavam um grupo separado. Outros entregavam ramos com metade seca e metade
verde, e também esses formavam um grupo separado. Outros devolviam seus ramos,
dois terços verdes e secos no resto, e também estes formavam um grupo separado.
Outros entregavam seus ramos, dois terços secos, e verdes no resto, e também
estes formavam um grupo separado. Outros entregavam seus ramos quase
completamente verdes; apenas uma pequena parte dos seus ramos estava seca, bem
na ponta, mas estavam fendidos. E também estes formavam um grupo separado. Os
ramos de alguns outros tinham apenas uma pequena ponta verde e o resto estava
seco, e também estes formavam um grupo separado. Outros vinham com os ramos
verdes, como os tinham recebido do anjo. A maior parte da multidão entregava
ramos assim, e o anjo alegrava-se muito com isso. E também estes formavam um
grupo separado. Outros entregavam seus ramos verdes com brotos novos, e também
estes formavam um grupo separado, e o anjo ficava muito alegre com eles. Outros
entregavam seus ramos verdes e com brotos, os quais traziam uma espécie de
fruto. Os homens, cujos ramos foram encontrados assim, estavam muito alegres.
Também o anjo se alegrava com eles, e igualmente o pastor estava muito alegre
com eles.
CAPÍTULO
68
O anjo do
Senhor ordenou que trouxessem coroas, e foram trazidas coroas que pareciam
feitas de palmas. Então coroou os homens que haviam entregue os ramos que
tinham brotos e uma espécie de fruto, e enviou-os para a torre. Também enviou
para a torre aqueles que haviam entregue os ramos com brotos, mas sem fruto,
dando-lhes um selo. Todos os que iam para a torre vestiam roupas brancas como a
neve. Enviou também aqueles que tinham entregue os ramos verdes como os haviam
recebido, dando-lhes roupas brancas e o selo. Ao terminar isso, o anjo disse ao
pastor: "Eu também vou. Conduze tu para dentro das muralhas os que são
dignos de habitar aí. Examina com cuidado seus ramos, e depois os conduze.
Examina cuidadosamente. Atenção para que ninguém te escape, pois, se alguém
escapar, eu mesmo julgarei junto ao altar." Dito isso ao pastor, foi
embora. Depois que o anjo saiu, o pastor me disse: "Tomemos os ramos de
todos e os plantemos, para ver se alguns dentre eles viverão." Eu lhe
perguntei: "Senhor, como esses ramos secos viverão?" Ele me
respondeu: "Esta árvore é salgueiro, e é cheia de vida por natureza.
Plantando esses ramos, muitos deles viverão, se receberem um pouco de umidade.
Por isso, procurarei água para regá-los. Se algum deles viver, eu me alegrarei
com ele; se não viver, não terei sido negligente." O pastor me ordenou que
os chamasse conforme estavam agrupados. Eles vieram, grupo por grupo, e
entregaram seus ramos ao pastor. O pastor os tomou e, por grupo, os replantou;
depois de plantados, jogou tanta água neles, de modo que os ramos não apareciam
sobre a água. Depois de regar os ramos, disse-me: "Vamos embora. Dentro de
poucos dias, voltaremos para examinar todos esses ramos, pois aquele que criou
esta árvore deseja que vivam todos aqueles que receberam um ramo dela. Quanto a
mim, espero que, encontrando umidade e regados com água, a maioria desses ramos
viverá."
CAPÍTULO
69
Eu lhe
disse: "Senhor, faze-me compreender o que é essa árvore, pois não entendo
como ela, aparada de tantos ramos, continua inteira, sem parecer em nada que
foi aparada. É isso que eu não entendo." Ele me respondeu: "Escuta.
Essa grande árvore que cobre planícies, montanhas e toda a terra, é a lei de
Deus dada ao mundo inteiro, e essa lei é o Filho de Deus anunciado até os
confins da terra. Os povos que se encontram debaixo da árvore são aqueles que
ouviram o anúncio e creram. O anjo grande e glorioso é Miguel, que tem o poder
sobre esse povo e o governa. É ele que dá a lei e grava no coração daqueles que
crêem. Ele examina, portanto, se aqueles a quem deu a lei, a observaram bem.
Vês muitos ramos inúteis. Reconhecerás entre eles os que não observaram a lei,
e verás a morada de cada um." Perguntei-lhe: "Senhor, por que o anjo
enviou alguns para a torre e deixou para ti os outros?" Ele respondeu:
"Todos aqueles que transgrediram a lei que receberam dele foram deixados
em meu poder para fazerem penitência. Todos os outros que se alegraram na lei e
a observaram, ele os tem em seu próprio poder." Perguntei: "Senhor,
quem são aqueles que foram coroados e se dirigiram para a torre?" Ele me
respondeu: "Esses coroados são os que lutaram contra o diabo e o venceram;
eles sofreram pela lei. Os outros que entregaram seus ramos verdes com brotos
novos, mas sem fruto, foram atribulados por causa da lei, sem entretanto serem
torturados por ela, mas não a renegaram. Os que entregaram os ramos verdes como
os haviam recebido, são santos e justos. Caminharam muito de coração puro,
observando os mandamentos do Senhor. Conhecerás o resto, quando eu examinar os
ramos plantados e regados."
CAPÍTULO
70
Alguns
dias depois, voltamos a esse lugar e o pastor sentou-se no lugar do anjo
grande, e eu fiquei ao seu lado. Então ele me disse: "Cinge-te com uma
toalha e serve-me.” Eu me cingi com uma toalha limpa, feita de saco. Vendo-me
cingido e pronto para servi-lo, ele me disse: "Chama os homens cujos ramos
foram plantados, na mesma ordem em que cada um o devolveu." Fui até à
planície, chamei a todos, e todos os grupos se apresentaram. O pastor lhes
disse: "Cada um arranque seu próprio ramo e o traga a mim." Os
primeiros a devolvê-los foram aqueles cujos ramos estavam secos e corroídos.
Como estavam secos e corroídos, ele mandou que fossem colocados à parte. Em
seguida, os devolveram os que tinham os ramos secos, mas não corroídos. Alguns
deles os devolveram verdes, e outros, secos e corroídos como por vermes. Aos
que os devolveram verdes, o pastor mandou formar um grupo separado; aos que os
devolveram secos e corroídos, ele mandou que os colocassem com os primeiros. Depois,
os devolveram os que os tinham recebido metade secos e fendidos, e muitos deles
os devolveram verdes e sem fendas; alguns, verdes com brotos novos e frutos
nesses brotos, como os tinham aqueles que foram coroados para a torre. Alguns
os devolveram secos e carcomidos; outros, secos mas não carcomidos; outros
ainda, tais como estavam antes: meio secos e fendidos. E o pastor mandou que
eles se separassem, cada um em seu grupo respectivo, e os outros restantes, à
parte.
CAPÍTULO
71
Em
seguida, os devolveram os que tinham recebido os ramos verdes, mas fendidos.
Todos esses os devolveram verdes e tomaram lugar em seu próprio grupo. O pastor
alegrou-se com estes, pois todos se tinham transformado e livrado de suas
fendas. Também os devolveram aqueles que os haviam recebido metade verdes e
metade secos. Os ramos de alguns foram encontrados inteiramente verdes; de
outros, metade verdes; de outros, secos e carcomidos; e de outros ainda, verdes
com brotos novos. Todos esses foram mandados para seus respectivos grupos. Em
seguida, os devolveram aqueles que os tinham recebido com dois terços verdes e
um terço seco. Muitos deles os devolveram verdes; muitos outros, metade secos;
e outros, secos e carcomidos. Todos esses foram mandados cada um para seu
próprio grupo. Em seguida, os devolveram aqueles que tinham recebido ramos
secos em dois terços e verdes no resto. Muitos deles os devolveram metade
secos; alguns, secos e carcomidos; e alguns ainda, metade secos e fendidos.
Muito poucos os devolveram verdes. E todos esses tomaram lugar em seus
respectivos grupos. Em seguida, os devolveram aqueles que tinham recebido ramos
verdes, mas com mínima parte seca e fendida. Desses, alguns os devolveram
verdes; e alguns, verdes com brotos novos. Também esses se foram para seus respectivos
grupos. Em seguida, os devolveram aqueles que tinham recebido com mínima parte
verde e todo o resto seco. Os ramos destes, em sua maior parte, foram
encontrados verdes, com brotos novos e com frutos neles; e outros, inteiramente
verdes. O pastor se alegrou muito com esses ramos, por tê-los encontrado assim.
E também esses se foram, cada um para seu próprio grupo.
CAPÍTULO
72
Depois de
examinar os ramos de todos, o pastor me falou: "Eu lhe disse que esta
árvore é cheia de vida. Vês quantos fizeram penitência e foram salvos?" Eu
respondi: "Vejo, senhor." Ele continuou: "Isso é para que saibas
que a misericórdia de Deus é grande e gloriosa, e como ele deu um espírito
àqueles que eram dignos de fazer Penitência." Perguntei: "Senhor,
então, por que nem todos fizeram penitência?" Ele respondeu: "O
Senhor concedeu a penitência àqueles cujo coração ele viu que estava pronto
para se purificar e que haviam de servi-lo de todo o coração. Contudo, àqueles
nos quais viu a perfídia e a maldade e que iriam arrepender-se apenas
hipocritamente, ele não concedeu a penitência, para que não blasfemassem
novamente sua lei." Eu lhe pedi: "Senhor, explica-me quem é cada um
daqueles que te devolveram os ramos, e a morada que lhes cabe. Desse modo, após
terem ouvido, aqueles que acreditaram e receberam o selo, mas que o quebraram e
não o preservaram inteiro, reconhecerão suas obras, farão penitência e
receberão de ti um selo. Assim glorificarão o Senhor, por ter usado piedade com
eles e te haver enviado para renovar seus espíritos." Ele explicou:
"Escuta. Aqueles cujos ramos foram encontrados secos e carcomidos por
vermes, são os apóstatas e traidores da Igreja que, com seus pecados,
blasfemaram o Senhor e que ainda se envergonharam do nome do Senhor invocado
sobre eles. Tais indivíduos estão definitivamente mortos para Deus. Vês que
nenhum deles fez penitência, embora tenham ouvido as palavras que lhes
transmitiste, sob minha ordem. A vida, portanto, foi tirada desses homens.
Aqueles que devolveram os ramos secos, mas não apodrecidos, estão próximos dos
anteriores: eram hipócritas que introduziam ensinamentos errados, que desviavam
os servos de Deus e sobretudo os pecadores, não lhes permitindo fazer
penitência, mas persuadindo-os com ensinamentos loucos. Todavia, esses têm esperança
de fazer penitência. Vês que muitos dentre eles já fizeram penitência, desde
quando lhes falaste sobre os meus preceitos. Outros ainda farão penitência, e
todos aqueles que não fizerem penitência, já perderam a vida. Aqueles que
fizeram penitência tornando-se bons, têm sua morada nas primeiras muralhas;
alguns subiram à torre. Vês, portanto, que a penitência dos pecadores traz
vida, e a impenitência, traz morte."
CAPÍTULO
73
Escuta
também sobre aqueles que devolveram os ramos metade secos e fendidos. Aqueles
cujos ramos estavam somente secos pela metade, são os que duvidam; não estão
nem vivos nem mortos. Os que os tinham secos pela metade e fendidos, são os que
duvidam e murmuram, e que nunca estão em paz entre si, mas sempre em discórdia.
Também esses ainda têm possibilidade de fazer penitência. Vês que alguns deles
já fizeram penitência e ainda há esperança de penitência para eles. Todos os
que dentre eles fizeram penitência, têm sua morada na torre. Aqueles, porém,
que se arrependerem demasiadamente tarde, habitarão nos muros; aqueles que não
fizerem penitência, persistindo em suas ações, certamente morrerão. Aqueles que
devolveram ramos verdes, mas fendidos, sempre foram fiéis e bons, mas têm entre
si inveja pelos primeiros lugares e por alguma honraria. Todos eles são loucos
em rivalizarem entre si pelos primeiros lugares. Todavia, depois de terem
ouvido meus mandamentos, como eram bons, eles se purificaram e logo fizeram
penitência. A morada deles foi na torre. Contudo, se um deles voltar novamente
à discórdia, será expulso da torre e perderá a própria vida. A vida pertence a
todos os que observam os mandamentos do Senhor. Ora, nesses mandamentos nada se
diz de primeiros lugares, nem de alguma honraria, mas fala-se da paciência e
humildade do homem. Nessas pessoas, portanto, está a vida do Senhor; nos que
provocam discórdia e violam a lei, está a morte."
CAPÍTULO
74
"Aqueles
que devolveram seus ramos metade verdes e metade secos, são os que estavam
imersos em seus negócios e não se juntavam aos santos. Por isso, metade neles
estava viva, e metade estava morta. Todavia, depois de terem ouvido meus
mandamentos, fizeram penitência e foram morar na torre. Alguns outros se
afastaram definitivamente, e não têm possibilidade de fazer penitência. Com efeito,
por causa de seus negócios, eles blasfemaram o Senhor e o renegaram. Portanto,
perderam a vida, por causa da maldade que praticaram. Muitos dentre eles são
vacilantes; esses ainda têm possibilidade de fazer penitência, se logo se
arrependerem, e sua morada será na torre. Se levarem demasiado tempo para
fazerem penitência, irão morar nas muralhas; se não fizerem penitência, também
eles já terão perdido a vida. Aqueles que devolveram os ramos dois terços
verdes e no resto secos, são aqueles que renegaram de diversas formas. Muitos
deles fizeram penitência e foram morar na torre. Outros se afastaram
definitivamente de Deus; esses perderam definitivamente a vida. Alguns deles
duvidaram e provocaram discórdia; estes ainda têm possibilidade de fazer penitência,
se a fizerem logo, sem persistir em seus prazeres. Mas, se eles se obstinarem
em suas ações, estarão trabalhando para a própria morte."
CAPÍTULO
75
"Aqueles
que devolveram ramos com dois terços secos e no resto verdes, são os que foram
fiéis, mas que se enriqueceram e adquiriram honra entre os pagãos.
Revestiram-se de grande orgulho, tornaram-se arrogantes, abandonaram a verdade
e se separaram dos justos. Ao contrário, conviveram com os pagãos, e esse
caminho lhes pareceu mais agradável. Eles não se afastaram de Deus,
permaneceram na fé, mas não praticaram as obras da fé. Muitos deles fizeram
penitência e tiveram sua morada na torre. Outros, convivendo inteiramente com
os pagãos e arrastados pelas suas glórias vãs junto aos pagãos, afastaram-se de
Deus e praticaram as obras dos pagãos; esses foram contados como pagãos. Outros
entre eles ficaram na dúvida, porque não esperavam mais ser salvos, por causa
das ações que haviam praticado. Outros ainda, não só duvidaram, mas fomentaram
divisões entre si. Para esses indivíduos e para aqueles que permaneceram na
dúvida por causa de suas ações, ainda há possibilidade de penitência. Mas a sua
penitência deve ser rápida, para que a morada deles seja dentro da torre. Para
os que não fazem penitência, mas permanecem nos seus prazeres, a morte está
próxima."
CAPÍTULO
76
"Os
que devolveram ramos verdes, mas com a ponta seca e fendida, são os que sempre
foram bons, fiéis e gloriosos junto de Deus, mas pecaram um pouco, por leve
concupiscência e leves rancores mútuos. Depois de ouvirem minhas palavras, a
maioria deles arrependeu-se logo, e tiveram sua morada na torre. Alguns
duvidaram, e outros, por causa de sua dúvida, promoveram maiores divisões.
Estes ainda têm esperança de penitência, pois sempre foram bons; é difícil que
um deles morra. Aqueles que devolveram seus ramos secos e com uma pequenina
parte verde, são os que apenas creram, mas praticaram as obras da iniqüidade.
Nunca se afastaram de Deus, levaram com alegria o Nome, e receberam com alegria
os servos de Deus em sua casa. Ouvindo o anúncio desta penitência,
arrependeram-se sem hesitação e praticam toda a virtude da justiça. Alguns até
sofrem e são atribulados com alegria, pois conhecem as ações que praticaram. A
morada de todos esses será na torre."
CAPÍTULO
77
Quando
terminou de explicar acerca de todos os ramos, o pastor me disse: "Vai e
dize a todos que façam penitência, e viverão em Deus. De fato, o Senhor teve
compaixão, e me enviou para oferecer a ocasião de penitência a todos, embora
alguns, por causa de suas obras, sejam indignos da salvação. O Senhor, porém, é
paciente e quer que o chamado feito pelo Filho não seja invalidado." Eu
lhe disse: "Senhor, espero que, depois de ouvir essas coisas, todos farão
penitência. Estou persuadido de que cada um, conhecendo suas ações e temendo a
Deus, faça penitência." Ele me respondeu: "Todos os que se
arrependerem do fundo do coração, se purificarem dos pecados anteriormente
assinalados e não acrescentarem mais nada a seus pecados, receberão do Senhor a
cura de seus pecados passados, se não duvidarem a respeito desses mandamentos;
então eles viverão em Deus. Todos aqueles, porém, que aumentarem seus pecados e
caminharem nas paixões deste mundo, se condenarão à morte. Quanto a ti, caminha
segundo os meus mandamentos e viverás em Deus. Do mesmo modo, aquele que andar
no caminho dos mandamentos e os praticar retamente, viverá em Deus."
Depois de meter mostrado tudo isso, ele me disse: "O resto, eu te
explicarei dentro de poucos dias."
NONA PARÁBOLA
CAPÍTULO
78
Depois
que escrevi os mandamentos e as parábolas do pastor, anjo da penitência, ele
veio a mim e disse: "Quero te mostrar tudo o que te mostrou o Espírito
Santo, que te falou na figura da Igreja. Esse Espírito é o Filho de Deus.
Estavas muito fraco na carne e, por isso, não te foi revelado por meio de anjo.
Contudo, quando ficaste fortalecido pelo Espírito e tu mesmo tiveste a força
para poderes ver um anjo, então te foi revelada, por meio da Igreja, a
construção da torre. Viste bem e santamente, qual uma virgem, todas as coisas.
Agora, graças a um anjo, vês por meio do próprio Espírito. E preciso que
compreendas tudo, por meu intermédio, de modo mais preciso. O anjo glorioso me
conferiu a missão de habitar em tua casa, para que vejas tudo com coragem, e
não mais com apreensão, como antes." Então me transportou para a Arcádia,
sobre um monte de forma cônica. Fez-me sentar no topo da montanha, e me mostrou
uma grande planície e, ao redor da planície, outras doze montanhas, cada uma
com aspecto diferente. A primeira era negra como fuligem; a segunda, seca e sem
vegetação; a terceira, cheia de espinhos e cardos; a quarta, com vegetação meio
seca, verde na parte de cima e seca junto às raízes; quando o sol brilhava,
parte da vegetação secava. A quinta montanha era muito rochosa, mas tinha
vegetação verde. A sexta montanha estava cheia de fendas, algumas pequenas,
outras grandes; nas fendas havia vegetação, mas não era muito verdejante:
parecia antes estar murcha. A sétima montanha tinha vegetação cheia de viço e a
montanha toda era exuberante; todas as espécies de rebanhos e aves se
alimentavam sobre a montanha e, quanto mais os rebanhos e aves comiam, tanto
mais a vegetação brotava da montanha. A oitava montanha estava cheia de fontes,
e todas as espécies da criação do Senhor vinham beber nessas fontes da
montanha. A nona montanha não tinha água nenhuma, e estava completamente
deserta; havia nela animais selvagens e répteis mortíferos, que provocam a
morte dos homens. Na décima montanha havia árvores gigantes e estava coberta de
sombras; debaixo das sombras estavam deitadas muitas ovelhas, que repousavam e
ruminavam. A décima primeira montanha era coberta de árvores, as quais eram
frutíferas e carregadas de frutas de toda espécie, e quem as via, desejava
comê-las. A décima segunda montanha era inteiramente branca; seu aspecto era
muito exuberante, e a montanha em si mesma era belíssima.
CAPÍTULO
79
No meio
da planície, ele me mostrou uma grande rocha branca que se erguia da planície.
Era mais alta que as montanhas, e quadrada, de modo a conter o mundo inteiro. A
rocha era antiga, e havia nela uma porta escavada, que parecia ter sido
escavada recentemente. Resplandecia mais do que o sol, e eu me maravilhava com
tal esplendor. Ao redor da porta estavam doze virgens. As quatro que havia nos
cantos me pareciam mais gloriosas, mas as outras o eram também. As virgens
estavam nos quatro lados da porta, duas a duas, à meia distância das quatro
primeiras. Vestiam túnica de linho, belamente cingidas, com o ombro direito
descoberto, como para transportar algum peso. Estavam prontas, alegres e
animadas. Vendo isso, fiquei admirado pelas coisas grandes e gloriosas que via.
Além disso, fiquei perplexo com essas virgens, que eram delicadas, mas que se
comportavam virilmente, como se devessem sustentar todo o céu. Então o pastor
me disse: "Em que estás pensando, preocupando-te e causando tristeza a ti
mesmo? As coisas que não consegues compreender, não as trates como se fosses
inteligente. Pede antes ao Senhor que te dê inteligência para compreender essas
coisas. Não podes ver o que está atrás de ti, mas vês o que está diante de ti;
não te atormentes pelo que não podes ver. Procura dominar as coisas que vês, e
não te angusties com o resto. Explicarei tudo o que te vou mostrar. Vê,
portanto, o resto."
CAPÍTULO
80
Então vi
que haviam chegado seis homens altos, gloriosos e de aspecto semelhante.
Chamaram uma multidão de homens. Estes recém-chegados eram de grande estatura,
muito belos e fortes. Os seis homens lhes deram ordens de construir uma torre
sobre a rocha. Os homens que vieram construir a torre fizeram então grande
tumulto, correndo de cá para lá ao redor da porta. As virgens que estavam ao
redor da porta diziam aos homens que apressassem a construção da torre. Elas
estendiam as mãos, como se devessem receber alguma coisa dos homens. Os seis
homens ordenaram que subissem pedras de um abismo e se colocassem na construção
da torre. Então subiram dez pedras quadradas e brilhantes, não lavradas. Os
seis homens chamaram as virgens e lhes disseram que carregassem todas as pedras
que haviam de entrar na construção da torre, que as passassem através da porta,
e entregassem aos homens que iriam construir a torre. As virgens então
carregaram sobre si, mutuamente, as dez primeiras pedras que haviam subido do
abismo, e as transportaram juntas, pedra por pedra.
CAPÍTULO
81
Elas
carregavam as pedras na mesma ordem em que estavam ao redor da porta: as
virgens que pareciam vigorosas, se colocavam nos ângulos da pedra; as outras se
colocavam dos lados. E assim carregavam todas as pedras, passando pela porta,
conforme lhes fora ordenado, e as entregavam aos homens na torre, os quais
recebiam as pedras e construíam. A torre era construída sobre a grande rocha e
em cima da porta. As dez pedras foram então ajustadas e cobriram toda a rocha,
tornando-se, desse modo, o alicerce da construção da torre. A rocha e a porta
suportavam toda a torre. Depois das dez pedras, subiram do abismo outras vinte
e cinco. Elas também foram ajustadas à construção, carregadas pelas virgens
como as anteriores. Depois, subiram trinta e cinco pedras, que foram igualmente
ajustadas à torre. A seguir, subiram outras quarenta pedras, e todas foram
também empregadas na construção da torre. Desse modo, formaram-se quatro
camadas no alicerce da torre. Pararam então de subir do abismo, e os
construtores descansaram um pouco. Depois, os seis homens ordenaram à multidão
numerosa que trouxesse pedras das montanhas, a fim de construir a torre. Eram
trazidas de todas as montanhas, de cores variadas, lavradas pelos homens, e
entregues às virgens, as quais as transportavam pela porta e as entregavam para
a construção da torre. Quando essas pedras de cores diferentes eram colocadas
na construção, tornavam-se igualmente brancas, mudando as cores precedentes.
Algumas pedras eram entregues aos homens para a construção, mas não se tornavam
brilhantes; continuavam tais como eram antes, pois não tinham sido entregues
pelas virgens, nem tinham passado pela porta. Tais pedras, portanto, destoavam
na construção da torre. Os seis homens viram que essas pedras destoavam na
construção, e ordenaram que fossem retiradas, levadas para baixo, para o lugar
de onde tinham sido transportadas. Então disseram aos homens que transportavam
as pedras: "De modo nenhum, não entregueis vós mesmos pedras aos
construtores. Colocai-as perto da torre, para que as virgens, fazendo-as passar
pela porta, as entreguem para a construção. Com efeito, se elas não passarem a
porta pelas mãos das virgens, não poderão mudar suas cores. Portanto, não vos
afadigueis em vão."
CAPÍTULO
82
Terminou
naquele dia o trabalho de construção, mas a torre não ficou concluída. Devia-se
retomar a construção, mas houve uma pausa. Os seis homens mandaram que todos os
construtores se retirassem um pouco e descansassem; às virgens, porém,
ordenaram que não se afastassem da torre. Parecia-me que as virgens foram
deixadas aí para guardá-la. Depois que todos se retiraram para descansar, eu
perguntei ao pastor: "Senhor, por que não foi terminada a construção da
torre?" Ele respondeu: "A torre não pode ser terminada enquanto o seu
proprietário não vier examinar a construção, para trocar as pedras que
estiverem corroídas. A torre foi construída segunda a vontade dele." Eu
então pedi: "Senhor, desejaria saber o que significa a construção da torre
e a rocha, a porta, as montanhas, as virgens e as pedras que subiram do abismo,
porque não foram lavradas, mas entraram na construção tais quais eram. Também
desejaria saber por que primeiro foram postas no alicerce dez pedras, depois vinte
e cinco, trinta e cinco, e quarenta. E também o que significam as pedras que
entraram na construção e depois foram logo retiradas e recolocadas em seu
lugar. Senhor, tranqüiliza a minha alma sobre tudo isso, e explica-me
tudo." Ele respondeu: "Se tua curiosidade não for considerada vã,
conhecerás tudo. Daqui a poucos dias voltaremos aqui, e verás o resto do que
acontecerá a esta torre, e saberás completamente todas as parábolas."
Poucos dias depois, voltamos ao lugar onde estivéramos sentados, e ele me
disse: "Vamos até à torre, pois o proprietário virá examiná-la."
Então fomos até à torre, e perto dela não havia absolutamente ninguém, exceto
as virgens. O pastor perguntou às virgens se o proprietário da torre estava aí,
e elas responderam que ele chegaria para examinar a construção.
CAPÍTULO
83
Eis que
pouco depois vejo um cortejo de muitos homens chegando, e no meio deles um
homem tão alto que ultrapassava a torre. Os seis homens que trabalharam na
construção caminhavam com ele à direita e à esquerda, e todos os que
trabalharam na construção estavam com ele, e muitos outros, gloriosos, ao seu
redor. As virgens que guardavam a torre correram ao seu encontro, o beijaram e
começaram a caminhar com ele ao redor da torre. Esse homem examinava minuciosamente
a construção, a ponto de apalpar pedra por pedra; com um bastão na mão, batia
em cada uma das pedras da construção. À medida que batia nelas, algumas ficavam
negras como fuligem; outras, corroídas, ou fendidas, ou mutiladas, ou nem
brancas nem negras; outras, desiguais, já não se harmonizavam com as demais
pedras; e outras ainda, cheias de manchas. Tais foram as variedades de pedras
achadas inúteis para a construção. E ele ordenou retirá-las todas da torre,
colocá-las junto dela e trazer outras para substituí-Ias. Os construtores lhe
perguntaram de qual montanha ele queria que tirassem as pedras para colocar no
lugar das outras. Ele ordenou que fossem tiradas, não das montanhas, mas de uma
planície vizinha. Cavou-se então a planície e foram encontradas pedras
brilhantes, quadradas, e algumas redondas. Todas as pedras encontradas nessa
planície foram trazidas, e as virgens as transportaram através da porta. As
pedras quadradas foram lavradas e colocadas no lugar das que tinham sido
tiradas; as redondas não foram colocadas na construção, porque eram duras, e o
trabalho de lavrá-las era lento. Foram colocadas perto da torre, pois deviam
ser lavradas para serem colocadas na construção, já que eram muito brilhantes.
CAPÍTULO
84
Terminando
isso, o homem glorioso e senhor de toda a torre chamou o pastor e lhe entregou
todas as pedras que se achavam perto da torre e que foram tiradas da
construção, e lhe disse: "Limpa cuidadosamente todas essas pedras, e
emprega na construção da torre as que se ajustam às outras; as que não se
ajustarem, atira-as para longe da torre." Depois de ordenar isso ao
pastor, foi embora, acompanhado de todos os que tinham vindo com ele; as
virgens, porém, permaneceram ao redor da torre, para guardá-la. Eu perguntei ao
pastor: "Como podem essas pedras, que foram rejeitadas como indignas,
voltar à construção da torre?" Ele me respondeu: "Vês estas
pedras?" Eu disse: "Sim, senhor, estou vendo." Ele continuou:
"Lavrarei a maior parte delas e as empregarei na construção, e elas se
ajustarão às outras." Eu perguntei: "Senhor, como poderão, depois de
esquadradas, preencher o mesmo lugar?" Ele me respondeu: "As que
forem achadas pequenas serão colocadas no interior da construção; as maiores
serão colocadas no lado externo e sustentarão as outras." Dito isso,
continuou: "Vamos embora. Dentro de dois dias voltaremos, limparemos essas
pedras e as colocaremos na construção. E preciso limpar tudo ao redor da torre,
pois, se o proprietário vier de improviso e encontrar tudo sujo ao redor da
torre, ficará irritado. Nesse caso, essas pedras não entrariam na construção da
torre, e aos olhos do proprietário eu pareceria negligente." Dois dias
depois, voltamos à torre e ele me disse: "Examinemos todas as pedras e
vejamos quais delas podem entrar na construção." Eu respondi: "Sim,
senhor, vamos examiná-las".
CAPÍTULO
85
Para
começar, examinamos primeiro as pedras negras. Da forma como foram retiradas da
torre, assim as encontramos. O pastor ordenou que fossem levadas embora da torre
e colocadas à parte. Depois, examinou as corroídas. Pegou muitas delas,
lavrou-as e ordenou que as virgens as levantassem e as colocassem na
construção. As virgens as levantaram e as colocaram no interior da construção
da torre. Ele ordenou então que as restantes fossem colocadas com as pretas,
pois elas também foram encontradas pretas. Em seguida, examinou as fendidas.
Lavrou muitas e mandou que as virgens as levassem para a construção.
Puseram-nas, porém, no lado externo, pois eram mais sólidas. As outras, como
tinham muitas fendas, não puderam ser lavradas e, por isso, foram excluídas da
construção da torre. Examinou depois as mutiladas. Entre elas se encontraram
muitas pedras pretas, e algumas com grandes fendas, e ele mandou que também
essas fossem colocadas com as rejeitadas. Quanto às restantes, ele as limpou,
lavrou e mandou colocar na construção. As virgens as levantaram e as ajustaram
no meio da construção, pois eram muito fracas. Depois, examinou as meio brancas
e meio pretas, e muitas delas foram encontradas pretas. Mandou que também essas
fossem levantadas e colocadas junto com as que tinham sido rejeitadas. Todas as
outras foram levantadas pelas virgens. Como eram brancas, foram ajustadas à
construção pelas próprias virgens. Foram postas no lado externo da muralha,
pois foram encontradas sólidas, de modo que podiam sustentar as que eram
colocadas no meio. Nada foi cortado delas. Em seguida, examinou as que eram
duras e ásperas, e algumas delas foram rejeitadas; não era possível lavra-las,
porque eram muito duras. As outras foram lavradas, levantadas pelas virgens, e
ajustadas no interior da construção da torre, pois eram mais fracas. Em
seguida, ele examinou as que tinham manchas, e delas poucas ficaram pretas e
foram rejeitadas com as outras. As que restaram foram encontradas brilhantes e
sólidas, ajustadas pelas virgens à construção; foram colocadas no lado externo,
porque eram resistentes.
CAPÍTULO
86
Em
seguida, ele foi examinar as pedras brancas e redondas, e me disse: "Que
faremos com essas pedras?" Eu respondi: "Que sei eu, senhor?"
(Ele continuou:) "Não tens nenhuma idéia sobre isso?" Eu respondi:
"Senhor, não conheço esse ofício, não sou talhador de pedras, nem consigo
entender nada." Ele continuou: "Não vês que elas são redondas e que,
se eu quiser deixá-las quadradas, será preciso cortar bastante? Contudo, é
preciso que algumas delas entrem na construção." Eu perguntei: "Senhor,
se é necessário, por que te preocupas? Por que não escolhes para a construção
aquelas que preferes e as ajustas na construção?" Ele escolheu as maiores
e mais brilhantes delas, e as lavrou. As virgens as levantaram e as ajustaram
no lado externo da construção. As restantes foram levantadas e colocadas na
planície, de onde tinham sido tiradas. Não foram, porém, reprovadas. Ele me
disse: "Porque resta ainda um pouco da torre para construir, e o
proprietário dela quer de todo modo que essas pedras sejam ajustadas à construção,
pois são muito brilhantes." Então ele chamou doze mulheres muito belas,
vestidas de preto e cingidas, com os ombros descobertos e os cabelos soltos.
Elas me pareceram selvagens, e o pastor ordenou que levantassem as pedras
rejeitadas da construção e as levassem para as montanhas de onde tinham sido
tiradas. EIas as levantaram, alegres, e transportaram todas e as puseram no
lugar de onde haviam sido tiradas. Quando todas as pedras foram retiradas, e
não restou nenhuma pedra ao redor da torre, o pastor me disse:
"Percorramos ao redor da torre, para ver se não há nenhum defeito."
Dei a volta com ele. Vendo que a torre era bela em sua construção, o pastor
ficou muito contente. Com efeito, a torre era tão bem construída, que eu
experimentei o desejo de habitá-la, pois ela era construída como se fosse uma
pedra única, sem a mínima juntura. A pedra parecia ter sido cortada da rocha,
pois me parecia formar um único bloco.
CAPÍTULO
87
Andando
com ele, eu estava contente de ver coisas tão boas. E o pastor me disse: "Vai
me buscar cal e cacos para igualar as formas das pedras que foram levantadas e
empregadas na construção. E preciso que todo o contorno da torre fique
igualado." Fiz conforme ele ordenou e lhe trouxe tudo. Ele pediu:
"Ajuda-me, para que a obra fique logo terminada." Então ele igualou
as formas das pedras que entraram na construção; depois mandou varrer e limpar
ao redor da torre. As virgens pegaram vassouras e varreram, tirando toda a
sujeira da torre, e espalharam água. Então o lugar da torre ficou alegre e
muito belo. O pastor me disse: "Tudo foi lavado. Se o proprietário vier
examinar a torre, não terá nada a nos reprovar." Dito isso, queria ir
embora. Eu, porém, o segurei pelo bornal e comecei a conjurá-lo, pelo Senhor,
que me explicasse o que me mostrara. Ele me disse: "Ainda tenho coisas
para fazer. Depois te explicarei tudo. Espera-me aqui até que eu volte."
Eu lhe perguntei: "Senhor, que farei aqui sozinho?" Ele respondeu:
"Não estás sozinho. As virgens estão contigo." Eu lhe pedi:
"Recomenda-me então a elas." Então o pastor as chamou, e lhes disse:
"Confio a vós este homem, até que eu volte." E foi embora. Fiquei
sozinho com as virgens. Elas estavam muito contentes, e me trataram com muita
atenção, principalmente as quatro mais gloriosas.
CAPÍTULO
88
As
virgens me disseram: "O pastor não voltará aqui hoje." Eu perguntei:
"Então, o que é que eu faço?" Elas responderam: "Espera-o até à
tarde. Se ele vier, falará contigo; se não vier, ficarás até que ele
volte." Eu lhes disse: "Vou esperá-lo até à tarde. Se não vier,
voltarei para casa e retornarei amanhã de manhã." Elas responderam:
"Foste confiado a nós. Portanto, não podes sair de perto de nós." Eu
perguntei: "Onde ficarei?" Elas responderam: "Dormirás conosco,
como irmão, e não como marido, pois tu és nosso irmão e, doravante, habitaremos
contigo, porque te amamos muito." Eu fiquei envergonhado de permanecer com
elas. Então, aquela que me parecia ser a primeira delas começou a beijar-me e
abraçar-me. As outras, vendo-a abraçar-me, começaram também a beijar-me, a
andar ao redor da torre e a brincar comigo. De minha parte, eu me senti
rejuvenescido, e também comecei a brincar com elas. Umas formavam coros de
danças, outras dançavam e outras cantavam. Eu fiquei em silêncio, passeava com
elas ao redor da torre, e estava alegre com elas. Chegando a tarde, quis
retirar-me para casa. Elas, porém, não me deixaram e me retiveram. Fiquei com
elas à noite e dormi perto da torre. As virgens estenderam no chão suas túnicas
de linho e me fizeram deitar no meio delas. E nada mais fizeram do que rezar.
Eu comecei a rezar sem cessar com elas, e não menos que elas. As virgens se
alegraram, vendo-me rezar assim. Permaneci aí com as virgens até à manhã
seguinte, pela décima hora. Em seguida, o pastor chegou e perguntou: "Não
lhe fizestes nenhuma insolência?" Elas responderam: "Pergunta a ele
mesmo." Eu lhe respondi: "Senhor, estou muito contente de ter ficado
com elas." Ele me perguntou: "O que você comeu?" Eu respondi:
"Comi palavras do Senhor a noite inteira." Ele perguntou: "Elas
te receberam bem?" Eu respondi: "Sim, senhor." EIe continuou:
"Agora, o que queres ouvir em primeiro lugar?" Eu disse:
"Senhor, quero ouvir na mesma ordem que me mostraste desde o começo.
Peço-te, senhor, que me expliques à medida que eu for perguntando." Ele me
disse: "Explicarei como quiseres e não esconderei de ti absolutamente
nada."
CAPÍTULO
89
Eu
perguntei: "Antes de tudo, explica-me o que representam a rocha e a
porta." Ele me respondeu: "A rocha e a porta são o Filho de
Deus." Eu continuei: "Como é que a rocha é antiga e a porta é
recente?" Ele explicou: "Escuta, homem insensato, e compreende. O
Filho de Deus nasceu antes de toda a criação, embora ele tenha sido o
conselheiro de seu Pai para a criação. E por isso que a rocha é antiga."
Eu lhe perguntei: "E por que a porta é nova, senhor?" Ele respondeu:
"Por que ele se manifestou nos últimos dias da consumação. Aporta foi
feita recentemente, para que os que devem salvar-se entrem por ela no Reino de
Deus." Viste que as pedras que passaram pela porta foram utilizadas na
construção da torre, mas as que não passaram por ela foram rejeitadas para seu
antigo lugar?" Eu respondi: "Sim, senhor, eu vi." Ele continuou:
"Da mesma forma, ninguém entrará no Reino de Deus, se não tiver recebido o
seu nome santo. Se quiseres entrar numa cidade e ela for cercada de muralhas e
só houver uma porta, poderias entrar nela sem ser pela única porta que
tem?" Eu respondi: "Como poderia ser de outra maneira, senhor?"
Ele continuou: "Da mesma forma que não poderias entrar na cidade a não ser
pela sua porta, também o homem não pode entrar no Reino de Deus senão pelo nome
de seu Filho amado. Viste a multidão que construía a torre?" Eu respondi:
"Sim, senhor, eu vi." Ele continuou: "Todos eles são anjos
gloriosos. E por meio deles que o Senhor foi cercado com muralha. A porta é o
Filho de Deus. É a única entrada para o Senhor. Ninguém chegará até ele, senão
por meio de seu Filho. Viste os seis homens e, no meio deles, um homem grande e
glorioso, que andava ao redor da torre e que rejeitou como indignas as pedras
da construção?" Eu disse: "Sim, senhor, eu vi." Ele explicou:
"O homem glorioso é o Filho de Deus, e os outros seis são os anjos
gloriosos que o escoltam, à sua direita e à sua esquerda. Sem ele, nenhum
desses anjos gloriosos poderá entrar para junto de Deus. Quem não tiver
recebido o nome dele, não entrará no Reino de Deus."
CAPÍTULO
90
Eu
perguntei: "O que é a torre?" Ele disse: "A torre é a
Igreja". (Eu perguntei:) "E quem são as virgens?" Ele respondeu:
"São espíritos santos. Um homem não pode entrar de outra forma no Reino de
Deus, se essas virgens não o revestirem com a própria veste delas. Se receberes
apenas o nome, mas não a veste, nada adiantará, porque essas virgens são os
poderes do Filho de Deus. Se levas o nome, mas não a força dele, é em vão que
serás o portador do nome. As pedras que viste rejeitadas, são as pessoas que
levaram o nome, mas não foram revestidas com as vestes das virgens." Eu
perguntei: "Senhor, qual é a veste delas?" Ele, respondeu: "O
próprio nome delas é sua veste. Aquele que leva o nome do Filho de Deus, deve
levar também os nomes delas, porque o próprio Filho de Deus leva o nome dessas
virgens. Todas as pedras que viste entrar na construção da torre, levadas pela
mão delas, e aí permanecem, são pessoas revestidas com o poder dessas virgens.
Por isso vês a torre formar um só bloco com a rocha. O mesmo acontece com os
que acreditaram no Senhor por meio do seu Filho e, revestidos com esses
espíritos, formarão um só espírito, um só corpo, e suas vestes terão uma só
cor. Tais pessoas que portam o nome das virgens têm sua morada na torre."
Eu perguntei: "Senhor, e as pedras que foram rejeitadas? Por que o foram?
Elas tinham passado pela porta e foram colocadas na construção da torre pela
mão das virgens." Ele respondeu: "Uma vez que te preocupas de tudo e
pesquisas acuradamente, escuta o que se refere às pedras rejeitadas. Todos
esses indivíduos receberam o nome do Filho de Deus e também o poder das
virgens. Acolhendo esses espíritos, eles foram fortalecidos e se encontraram
entre os servos de Deus. Tinham um só espírito, um só corpo e uma só veste,
pois todos pensavam a mesma coisa e praticavam a justiça. Depois de certo
tempo, porém, foram seduzidos pelas mulheres que viste vestidas de preto, com
os ombros descobertos, cabelos soltos e belos. Vendo-as, eles as desejaram e se
revestiram com o poder delas, rejeitando a veste e o poder das virgens. Esses
foram rejeitados da casa de Deus e entregues a essas mulheres. Mas os que não
se deixaram seduzir pela beleza delas, permaneceram na casa de Deus. Aí tens a
explicação das pedras rejeitadas."
CAPÍTULO
91
Eu
perguntei: "Senhor, se esses homens, mesmo que sejam assim, fizerem
penitência, rejeitarem o desejo por essas mulheres e voltarem às virgens,
andando conforme seus poderes e suas obras não entrarão na casa de Deus?"
Ele respondeu: "Eles entrarão se renunciarem às obras dessas mulheres,
assumirem o poder das virgens e andarem em suas obras. Houve uma pausa na
construção, justamente para que eles pudessem, no caso de se arrependerem,
entrar de novo na construção da torre. Caso não fizerem penitência, outros
entrarão, e eles serão definitivamente rejeitados." Dei graças ao Senhor
por todas essas coisas, por se ter compadecido de todos os que são chamados
pelo nome dele, por nos ter enviado o anjo da penitência, a nós que pecamos
contra ele; por ter concedido nova vida, a nós que já estávamos corrompidos e
sem esperança de viver. Eu disse: "Agora, Senhor, explica-me por que a
torre não está construída no chão, mas sobre a rocha e sobre a porta." Ele
respondeu: "Ainda és idiota e insensato!" Eu repliquei: "Senhor,
tenho necessidade de perguntar tudo, pois não consigo compreender absolutamente
nada. Essas coisas são grandes, gloriosas e difíceis para os homens
compreenderem." Ele explicou: "Escuta. O nome do Filho de Deus é
grande, imenso e sustenta o mundo inteiro. Se toda a criação é sustentada pelo
Filho de Deus, o que pensar então daqueles que foram chamados por ele, que
levam o nome do Filho de Deus e andam conforme os seus mandamentos? Estás
vendo, portanto, os que ele sustenta? São os que levam o seu nome de todo o
coração. Por isso, ele se constituiu alicerce deles e, para ele é uma alegria
sustentá-los, pois eles não se envergonham de levar o nome dele."
CAPÍTULO
92
Eu pedi:
"Senhor, dize-me o nome das virgens e das mulheres trajadas de
preto." Ele respondeu: "Escuta o nome das virgens mais fortes, que
estão nos ângulos (da porta). A primeira é a Fé; a segunda, a Temperança; a
terceira, a Força; a quarta, a Paciência. As outras, colocadas entre as
primeiras, chamam-se: Simplicidade, Inocência, Castidade, Alegria, Verdade,
Inteligência, Concórdia, Caridade. Aquele que leva esses nomes e também o nome
do Filho de Deus, poderá entrar no Reino de Deus. Escuta também os nomes das
mulheres trajadas de preto. Quatro delas são mais fortes: a primeira é a
Incredulidade; a segunda, Intemperança; a terceira, Desobediência; a quarta,
Engano. As que se seguem chamam-se: Tristeza, Maldade, Dissolução, Cólera,
Falsidade, Insensatez, Maledicência e Ódio. O servo de Deus que leva esses
nomes verá o Reino de Deus, mas nele não entrará." Eu perguntei:
"Senhor, e as pedras que saíram do abismo e foram ajustadas à construção?
Quem são elas?" Ele respondeu: "As dez primeiras, colocadas no
alicerce, é a primeira geração; as vinte e cinco seguintes são a segunda
geração de homens justos; as trinta e cinco seguintes são os profetas de Deus e
seus servos; as quarenta são os apóstolos e doutores que anunciaram o Filho de
Deus." Eu perguntei: "Senhor, por que as virgens passaram as pedras
pela porta, para entregá-las aos construtores da torre?" EIe respondeu:
"Porque eles foram os primeiros a levar esses espíritos e não se separaram
uns dos outros; nem os espíritos se separaram dos homens; nem os homens, dos
espíritos. Os espíritos permaneceram com eles até à morte. Se não levassem em
si esses espíritos, tais homens não teriam sido úteis à construção da
torre."
CAPÍTULO
93
Eu pedi:
"Senhor, explica-me mais ainda." Ele respondeu: "O que procuras
mais?" Eu continuei: "Senhor, por que as pedras tiveram que subir do
fundo, para ser colocadas na construção da torre, embora tivessem esses
espíritos?" Ele respondeu: "Era preciso que saíssem da água, para
receber a vida. Elas não podiam entrar no Reino de Deus, senão deixando a
mortalidade da vida anterior. Tais mortos receberam o selo do Filho de Deus e
entraram no Reino de Deus. De fato, antes de levar o nome do Filho de Deus o
homem está morto. Quando recebe o selo, deixa a morte e retoma a vida. O selo é
a água: eles descem à água e daí saem vivos. Também a eles foi anunciado esse
selo, e eles o usaram para entrar no Reino de Deus." Eu perguntei:
"Senhor, por que as quarenta pedras também sobem com eles do abismo, visto
que estas já haviam recebido o selo?" Ele respondeu". "Porque
esses apóstolos e doutores que anunciaram o nome do Filho de Deus, adormecidos
no poder e na fé do Filho de Deus, o anunciaram também àqueles que tinham
morrido antes deles, e lhes deram o selo do anúncio. Desceram com eles à água e
novamente subiram. Contudo, desceram vivos e subiram vivos, enquanto os que
estavam mortos antes deles desceram mortos e subiram vivos. E graças a eles que
estes últimos receberam o nome do Filho de Deus. Por isso, subiram com eles,
foram ajustados à construção da torre, e colocados sem ser lavrados, porque
morreram na justiça e na pureza. Apenas não tinham o selo. Agora tens a
explicação dessas coisas." Eu respondi: "Sim, senhor."
CAPÍTULO
94
(Eu
perguntei): "Senhor, explica-me agora a respeito das montanhas. Por que
são tão diferentes entre si e suas formas variadas?" Ele respondeu:
"Escuta. Essas doze montanhas são as doze tribos, que habitam o mundo
inteiro. O Filho de Deus lhes foi anunciado por meio dos apóstolos." (Eu
pedi): "Porque as montanhas têm formas variadas entre si? Explica-me,
senhor." Ele respondeu: "Escuta. Essas doze tribos que habitam o
mundo inteiro são doze nações. Elas são diferentes no sentimento e no
pensamento. Assim como são diversas as montanhas que vês, também o são as
qualidades do pensamento e do sentimento das nações. Eu te explicarei, porém, o
comportamento de cada uma em particular." Eu pedi: "Senhor,
explica-me primeiramente porque, apesar da diversidade dessas montanhas, as pedras,
quando colocadas na construção, se tornaram brilhantes e com a mesma cor
branca, como as pedras que subiram do abismo." Ele me respondeu: "E
porque todas as nações que habitam debaixo do céu, tendo ouvido e acreditado,
foram chamadas com o nome do Filho de Deus. Depor de terem recebido o selo,
tiveram todas um só sentimento e um só pensamento, uma só fé e uma só caridade.
Com o nome levaram também os espíritos das virgens. Por isso, a construção da
torre tornou-se de uma só cor, brilhante como o sol. Mas, depois de terem
entrado para o mesmo lugar e terem formado um só corpo, alguns deles se
contaminaram. Foram excluídos do povo dos justos e se tornaram como antes, ou
talvez piores."
CAPÍTULO
95
Eu
perguntei: "Senhor, como puderam tornar-se piores, depois de conhecer a
Deus?" Ele respondeu: "Aquele que não conhece a Deus e pratica o mal,
merece alguma punição por seu mal. Contudo, aquele que conhece a Deus não deve
praticar o mal, e sim o bem. Se aquele que deve praticar o bem, pratica o mal,
não te parece que comete erro maior do que aquele que não conhece a Deus? Por
isso, aqueles que não conhecem a Deus e praticam o mal, são condenados à morte.
Mas os que conhecem a Deus, que viram sua grandeza, e ainda praticam o mal,
serão duplamente castigados, e morrerão para sempre. É desse modo que a Igreja
de Deus será purificada. Viste essas pedras tiradas da torre, entregues aos
espíritos maus e rejeitadas dela. Aqueles que tiverem sido purificados, formarão
um só corpo. Desse modo, a torre, depois de purificada, ficou aparentemente
como de uma só pedra. Igualmente acontecerá com a Igreja de Deus, depois que
for purificada e forem expulsos os maus, os hipócritas, os blasfemadores, os
vacilantes e os que tiverem praticado todo tipo de mal. Depois da exclusão
deles, a Igreja de Deus será um só corpo, um só sentimento, um só pensamento,
uma só fé, uma só caridade. Então, o Filho de Deus se alegrará e se regozijará
com eles por ter encontrado puro o seu povo." Eu disse: "Senhor, tudo
isso é grande e glorioso. Mas agora, Senhor, mostra-me o poder e a conduta de
cada uma das montanhas, a fim de que cada alma fiel ao Senhor, ouvindo isso,
glorifique o seu nome grande, admirável e glorioso." Ele respondeu:
"Escuta a respeito da diversidade das montanhas e das doze nações."
CAPÍTULO
96
"Os
fiéis que vieram da primeira montanha, a preta, são apóstatas, pessoas que
blasfemaram contra o Senhor e traíram os servos de Deus. Para esses não há
penitência, mas a morte; são pretos porque é geração sem lei. Os fiéis que
vieram da segunda montanha, a seca, são hipócritas e mestres do mal. São
semelhantes aos anteriores: não produziam nenhum fruto de justiça. Com efeito,
assim como a montanha deles é infrutífera, tais homens possuem o nome, mas são
vazios de fé, e neles não há nenhum fruto de verdade. A penitência é possível
para eles, caso se arrependam logo; porém, se tardarem, a morte será o destino
deles, junto aos primeiros." Eu perguntei: "Senhor, por que existe
penitência para estes, enquanto para os primeiros não? Até certo ponto, as
ações deles são semelhantes." Ele respondeu: "A penitência é possível
para eles, porque não blasfemaram o seu Senhor, nem traíram os servos de Deus.
Agiram hipocritamente pelo desejo do lucro, e cada um ensinou conforme os
desejos dos homens pecadores. Por isso, sofrerão alguma pena. Para eles há
possibilidade de penitência, porque não foram blasfemadores, nem
traidores."
CAPÍTULO
97
"Os
fiéis que vieram da terceira montanha, a coberta de espinhos e cardos, são
estes: alguns deles são ricos e outros enredados em numerosos negócios. Os
cardos simbolizam os ricos, e os espinhos são os que se enredaram em múltiplos
negócios. Estes últimos, enredados em múltiplos negócios, não se ligam aos servos
de Deus, mas se extraviam, afogados em seus negócios. Os ricos dificilmente se
ligam aos servos de Deus, porque temem que alguém lhes peça alguma coisa e, por
isso, dificilmente entrarão no Reino de Deus. Assim como é difícil andar
descalço sobre os cardos, também-o é para eles entrar no Reino de Deus.
Todavia, para todos esses existe possibilidade de penitência, com a condição de
que seja logo, para recuperar nesses dias o que não fizeram no passado, e assim
praticar alguma coisa boa. Se fizerem penitência e praticarem algo de bom,
viverão em Deus; mas, se persistirem obstinados em suas obras, serão entregues
àquelas mulheres que os matarão."
CAPÍTULO
98
"Os
fiéis que vieram da quarta montanha, a que possui muita vegetação verde na
ponta e seca perto das raízes, e alguma ressequida pelo sol, são os seguintes:
alguns são vacilantes, outros têm o Senhor nos lábios, mas não no coração. Por
isso, a base deles é seca e sem força; somente suas palavras são vivas, mas
suas obras são mortas. Tais pessoas não estão vivas, nem mortas; são parecidas
com os vacilantes, que não são nem verdes, nem secos, pois eles não vivem nem
estão mortos. Assim como essa vegetação seca ao ver o sol, também os
vacilantes, quando ouvem falar de perseguição, por causa de sua covardia, sacrificam
aos ídolos e se envergonham do nome do seu Senhor. Eles, portanto, nem vivem,
nem estão mortos. Contudo, também eles, se fizerem logo penitência, viverão; se
não fizerem penitência, porém, já estão entregues às mulheres que lhes tirarão
a vida."
CAPÍTULO
99
"Os
fiéis que vieram da quinta montanha, que tinha vegetação verde e era pedregosa,
são os seguintes: indóceis, arrogantes, cheios de si; querem saber tudo, mas
não sabem nada. Por causa de sua presunção, a inteligência se afastou deles e a
loucura insensata neles penetrou. Gabam-se de como se tivessem inteligência e
desejam ser mestres, quando são apenas insensatos. Por causa desse orgulho,
muitos, enaltecendo a si mesmos, acabaram se esvaziando. De fato, a presunção e
a vaidade são um grande demônio. Muitos deles, foram rejeitados; alguns fizeram
penitência, creram e, reconhecendo sua própria insensatez, submeteram-se aos
que têm inteligência. Os outros também ainda podem fazer penitência, pois não
eram maus, mas idiotas e insensatos. Se fizerem penitência, viverão em Deus;
mas, se não fizerem penitência, habitarão com as mulheres que lhes fazem
mal."
CAPÍTULO
100
"Os
fiéis que vieram da sexta montanha, a que tem grandes e pequenas fendas e
vegetação murcha nas fendas, são os seguintes: os que têm pequenas fendas são
os que guardam algum rancor mútuo e, por causa de suas maledicências
recíprocas, estão murchos na fé. Muitos deles, porém, fizeram penitência;
outros a farão quando ouvirem os meus mandamentos, pois suas maledicências são
pequenas e eles se arrependerão logo. Os que têm grandes fendas, obstinam-se na
maledicência, tornam-se rancorosos e furiosos uns com os outros. Esses foram
rejeitados para longe da torre e julgados indignos da sua construção. Tais
homens dificilmente viverão. Deus nosso Senhor, que domina tudo e tem poder
sobre toda a sua criação, não guarda rancor para com os que confessam seus
pecados. Se ele é misericordioso, por que o homem, que é mortal e cheio de
pecados, guarda rancor contra o homem, como se tivesse poder de destruí-lo ou
salvá-lo? Eu, o anjo da penitência, vos digo: Vós que tendes essa tendência,
afastai-a e fazei penitência. O Senhor curará vossos pecados passados, se vos
purificardes desse demônio; caso contrário, sereis entregues a ele para a
morte."
CAPÍTULO
101
"Os
fiéis da sétima montanha, onde crescia vegetação verde e viçosa, e onde tudo
era exuberante, todo tipo de rebanho e aves se alimentavam da vegetação dessa
montanha, e cuja vegetação, quanto mais era cortada, mais abundante brotava,
são os seguintes: aqueles que sempre foram simples, inocentes, felizes, sem
rancor mútuo, sempre satisfeitos com os servos de Deus e revestidos com o santo
espírito dessas virgens, sempre cheios de compaixão para com todos os homens e,
graças a seus esforços, puderam socorrer a todos, sem altivez e sem hesitação.
O Senhor, vendo sua simplicidade e candura, multiplicou o fruto do trabalho de
suas mãos e os favoreceu em todas as ações. Eu, o anjo da penitência, digo a
vós que assim sois: permanecei assim, e vossa descendência jamais será
destruída. Com efeito, o Senhor vos experimentou e vos inscreveu no número dos
nossos, e toda a vossa posteridade habitará com o Filho de Deus, pois
recebestes do seu Espírito."
CAPÍTULO
102
"Os
fiéis que vieram da oitava montanha, cheia de fontes, nas quais ia beber toda a
criação do Senhor, são os seguintes: apóstolos e doutores que anunciaram no
mundo inteiro e que ensinaram, com santidade e pureza, a palavra do Senhor. Não
se deixaram de modo algum desviar por paixão má, mas sempre caminharam na
justiça e na verdade, conforme o Espírito Santo que receberam. O lugar desses
homens é ao lado dos anjos."
CAPÍTULO
103
"Os
fiéis que vieram da nona montanha, repleta de répteis e feras que causam a
morte do homem, são os seguintes: aqueles que têm manchas são diáconos que
administraram mal a sua função, roubando a subsistência de viúvas e órfãos
Enriqueceram-se com os recursos que receberam para socorrer. Se continuarem
nessa ambição, já estão mortos e não têm mais nenhuma esperança de viver.
Contudo, se fizerem penitência e desempenharem retamente seu ministério,
poderão viver. Os que têm sarna são aqueles que renegaram seu Senhor e não se
converteram a ele. Tornando-se áridos e solitários, não se vinculam aos servos
de Deus, mas vivem isolados e perdem a vida. A vinha abandonada em alguma parte
degenera por falta de cuidados; sufocada pelas ervas daninhas, com o tempo ela
se torna selvagem, e seus frutos não são mais úteis para o seu dono. Da mesma
forma, esses homens, abandonados a si mesmos, tornam-se selvagens e inúteis
para o seu Senhor. Eles ainda podem fazer penitência, se não tiverem de coração
renegado o Senhor; contudo, se alguém o tiver renegado de coração, não sei se
poderá viver. O que digo não vale para o tempo presente, de modo que alguém o
negue e faça penitência. Para aqueles que o renegaram no passado é que parece
haver possibilidade de penitência. Portanto, se alguém quiser fazer penitência,
que a faça logo, antes que a torre esteja terminada. Caso contrário, será morto
pelas mulheres. Os mutilados são os espertos e maledicentes; eles são as feras
que viste na montanha. Essas feras, com seu veneno, matam e destroem o homem.
Da mesma forma, as palavras dessas pessoas envenenam o homem e o fazem morrer.
Eles estão mutilados na fé, por causa da conduta que assumem. Alguns fizeram
penitência e foram salvos; os outros, sendo como são, podem ser salvos, se se
arrependerem. Se não fizerem penitência, morrerão vitimados pelas mulheres, das
quais têm o poder."
CAPÍTULO
104
"Os
fiéis que vieram da décima montanha, onde as arvores abrigavam ovelhas, são os
seguintes: bispos e pessoas hospitaleiras, que sempre receberam com prazer os
servos de Deus em sua casa, sem nenhuma hipocrisia. Os bispos, com seu
ministério, continuamente protegeram os necessitados e as viúvas, e sempre
levaram vida pura. Eles serão, por sua vez, protegidos pelo Senhor, para
sempre. Os que assim agiram são gloriosos junto de Deus; seu lugar já é junto
com os anjos, se perseverarem até o fim no serviço ao Senhor.
CAPÍTULO
105
"Os
fiéis que vieram da décima primeira montanha, cujas árvores estavam cheias de
frutos de várias espécies, são os seguintes: homens que sofreram por causa do
nome do Filho de Deus, que sofreram corajosamente, de todo o coração,
entregando a própria vida." Eu perguntei: "Senhor, por que todas
essas árvores têm frutos e, algumas delas, frutos mais belos?" Ele
respondeu: "Escuta. Todos aqueles que sofreram por causa do Nome são
gloriosos junto de Deus. Os pecados de todos eles foram perdoados, porque
sofreram por causa do nome do Filho de Deus. Escuta, porém, por que os frutos
deles são variados, e alguns deles melhores. Aqueles que foram arrastados
diante das autoridades, submetidos a interrogatórios e não renegaram, mas
sofreram corajosamente, são muito mais gloriosos junto do Senhor, e o fruto
deles é o melhor. Aqueles, porém, que tremeram e hesitaram e interrogavam no
coração se renegariam ou confessariam, e sofreram, esses levam frutos
inferiores, por lhes ter entrado essa intenção no coração. Com efeito, é má
intenção um servo renegar seu próprio Senhor. Vigiai, portanto, vós que tendes
essa intenção, para que ela não permaneça em vosso coração, e morrais para
Deus. Vós que sofreis por causa do Nome deveis glorificar a Deus, por vos ter
julgado dignos de levar seu nome e ser curados de todos os vossos pecados.
Felicitai-vos, portanto, e crede também que realizastes grande obra, quando
algum de vós sofrer por causa de Deus. O Senhor vos agracia com a vida, e vós
não compreendeis. De fato, os vossos pecados se tornaram pesados, e se não
sofrêsseis pelo nome do Senhor, estaríeis mortos para Deus por causa de vossos
pecados. Digo isso a vós que hesitais em negar ou confessar. Confessai que
tendes um Senhor, pois, se o negardes, sereis entregues à prisão. Se os pagãos
punem o escravo que renega seu senhor, o que pensais que fará convosco o vosso
Senhor, que tem poder sobre todas as coisas? Afastai esses desejos de vossos
corações, a fim de viver eternamente para Deus."
CAPÍTULO
106
"Os
fiéis que vieram da décima segunda montanha, a branca, são os seguintes: são
como crianças pequeninas, em cujo coração não entra maldade nenhuma. Eles nem
sequer sabem o que é o mal, e sempre permaneceram na inocência. Tais homens
certamente habitarão no Reino de Deus, pois em nada violaram os mandamentos de
Deus, mas perseveraram todos os dias de sua vida na inocência e no mesmo
sentimento. Todos vós que assim perseverardes e fordes sem malícia, como
crianças pequenas, sereis mais gloriosos do que todos os anteriores. Com
efeito, todas as crianças são gloriosas diante de Deus e os primeiras diante
dele. Felizes, portanto, sereis vós, se arrancardes de vós mesmos o mal e vos
revestirdes da inocência, pois sereis os primeiros de todos a viver em Deus."
Depois que ele terminou (de explicar) as parábolas a respeito das montanhas, eu
lhe pedi: "Senhor, explica-me agora o que são as pedras tiradas da
planície e colocadas no lugar das pedras que foram tiradas da torre, e também
as pedras redondas que foram colocadas na construção, e aquelas que ainda são
redondas."
CAPÍTULO
107
Ele
respondeu: "Escuta também o sentido de todas essas coisas. As pedras
tiradas da planície e que entraram na construção da torre, no lugar das pedras
que foram tiradas, são as raízes dessa montanha branca .2Como os fiéis que
vieram dessa montanha branca foram todos encontrados inocentes, o Senhor da
torre mandou empregar, na construção da torre, pedras que vieram das raízes
dessa montanha. De fato, ele sabia que se essas pedras entrassem na construção
da torpe, elas permaneceriam brilhantes, e nenhuma delas escureceria. Se ele
tivesse acrescentado pedras vindas de outras montanhas ter-lhe-ia sido
necessário examinar e purificar a torre novamente. Estes, porém, foram
encontrados brancos, tanto os que creram, como os que creriam, pois eles
pertencem à mesma geração. Feliz essa geração, pois ela é inocente! Escuta
agora o que se refere às pedras redondas e brilhantes. Elas vêm todas dessa
montanha branca. Escuta, porém, por que foram encontradas redondas. Suas
riquezas os obscureceram um pouco na verdade e os ofuscaram; porém, nunca se
afastaram de Deus, nem saiu palavra má, de sua boca, mas sempre a eqüidade e a
virtude da verdade. Vendo, pela mente deles, que poderiam servir à verdade permanecendo
bons, o Senhor mandou cortar suas riquezas, sem as tirar de todo, para que
pudessem fazer algum bem com o que lhes restava. Essas pessoas viverão em Deus,
porque são de índole boa. E por isso que essas pedras foram cortadas
ligeiramente, e depois colocadas na construção dessa torre."
CAPÍTULO
108
"Quanto
às outras, que até agora se conservaram redondas e não foram ajustadas à
construção, porque não tinham ainda recebido o selo, foram recolocadas em seu
lugar; de fato, foram encontradas demasiadamente redondas. É preciso cortá-los
deste século e da vaidade de suas riquezas, e então se adaptarão ao Reino de
Deus. De fato, é necessário que eles entrem no Reino de Deus, pois o Senhor
abençoou essa geração inocente. Dessa geração, ninguém perecerá. Pode ser que
alguém deles, seduzido pelo diabo infame, cometa algum pecado e imediatamente
recorra a seu Senhor. Eu, o anjo da penitência, vos julgo todos felizes. Sois
inocentes como as crianças, pois vossa herança é boa e honrada diante de Deus.
Digo a todos vós, que recebestes esse selo: sede simples, esquecei as ofensas,
não permaneçais em vossa malícia ou na lembrança amarga das ofensas. Tende um
só espírito, remediai e tirai de vós essas más divisões, a fim de que o Senhor
das ovelhas se alegre com isso. Ele ficará contente, se encontrar todas as suas
ovelhas, e nenhuma transviada. Ai, porém, dos pastores, se ele encontrar
transviada alguma delas. Se os próprios pastores forem encontrados desviados, o
que poderão dizer ao Senhor do rebanho? Poderão talvez dizer que foram
desviados pelas ovelhas? Não se dará crédito a eles, pois é incrível que o
pastor sofra alguma coisa por parte das ovelhas. Será mais gravemente punido
por causa de sua mentira. Eu também sou pastor, e é preciso que eu preste
rigorosamente conta de vós."
CAPÍTULO
109
"Curai-vos,
portanto, enquanto a torre ainda está em construção. O Senhor habita nos homens
que amam a paz, pois de fato a paz lhe é agradável, e ele se afasta para bem
longe dos que brigam e dos que se perderam pela malícia. Devolvei-lhe,
portanto, o espírito íntegro, como o recebestes. Se entregas ao lavadeiro uma
roupa nova e intacta, esperas recebê-la de volta intacta. Se o lavadeiro te
devolver a roupa rasgada, tu a receberás? Não te irritarás e o perseguirás com
reprovação, dizendo: "Eu te entreguei uma roupa intacta. Por que a
rasgaste, tornando-a inútil? Por causa do rasgão que nela fizeste, agora não
pode ser mais usada." Não dirás tudo isso ao lavadeiro, por causa do
rasgão que ele fez em tua roupa? Se ficas aborrecido assim com a tua roupa e te
lamentas, por não tê-la recebido intacta, o que julgas que te fará o Senhor,
que te deu espírito intacto, e tu o devolves completamente inútil, a ponto de
não servir para mais nada ao teu Senhor? De fato, ele se tornou inútil, desde o
dia em que o corrompeste. O Senhor desse espírito não te fará morrer por teres
feito isso?" Eu respondi: "Certamente. Ele tratará assim todos
aqueles que conservarem o rancor." Ele concluiu: "Não calceis nos pés
a clemência dele, mas glorificai-o por ser tão paciente frente aos vossos
pecados e por não ser semelhante a vós. Fazei, portanto, penitência útil para
vós."
CAPÍTULO
110
Eu, o
pastor, o anjo da penitência, mostrei e expliquei aos servos de Deus todas
essas coisas, que estão acima escritas. Portanto, podereis viver se
acreditardes e ouvirdes as minhas palavras, se caminhardes nelas e corrigirdes
os vossos caminhos. No entanto, se permanecerdes na malícia e no rancor, não
vivereis em Deus. Tudo o que devia dizer, eu vos disse. Então o pastor me
disse: "Fizeste-me todas as perguntas?" Eu respondi: "Sim,
senhor." (Então ele me perguntou:) "Por que não me perguntaste sobre
a forma das pedras recolocadas na construção, das quais melhoramos as
formas?" Eu respondi: "Senhor, eu esqueci." Ele explicou:
"Escuta agora sobre elas. São aqueles que ouviram os meus mandamentos e
fizeram penitência de todo o coração. Tendo visto que a penitência deles era
boa e pura, e que podiam nela perseverar, o Senhor mandou apagar seus pecados
anteriores. Aquelas formas eram os pecados deles, e foram igualadas, para que
não aparecessem mais."
DÉCIMA PARÁBOLA
CAPÍTULO
111
Quando
terminei de escrever este livro, o anjo que me confiara a esse pastor, veio à
casa onde eu me encontrava, e sentou sobre o leito. O pastor apareceu de pé à
direita. Então o anjo me chamou, e disse: "Eu te confiei a esse pastor a
ti e à tua casa, para que fosses protegido por ele." Eu respondi:
"Sim, senhor." Ele continuou: "Se queres, portanto, ser
protegido de toda tribulação e violência, ter sucesso em toda boa obra e
palavra, e ter toda a virtude da eqüidade, caminha nos seus mandamentos que te
dei, e poderás dominar todo mal. Com efeito, se guardares os seus mandamentos,
toda ambição e delícias deste mundo serão dominadas, e o sucesso te acompanhará
em toda boa obra. Acolhe em ti a sua santidade e a sua modéstia e dize a todos
que ele goza de grande honra e dignidade junto ao Senhor. Ele detém grande
poder, e a sua função é forte. Somente a ele foi conferido o poder da
penitência para o mundo inteiro. Não te parece poderoso? Mas vós desprezais a
sua santidade e moderação, que ele tem para convosco."
CAPÍTULO
112
Eu disse:
"Senhor, pergunta ao pastor se eu fiz alguma coisa errada desde que ele
está em minha casa." O anjo respondeu: "(quanto a mim, sei que não
fizeste nada de errado e que também não o farás. Eu te digo isso para que
perseveres. O pastor disse-me que tem boa impressão de ti. Quanto a ti,
transmitirás essas palavras aos outros, para que aqueles que fizeram ou estão
para fazer penitência, tenham os mesmos sentimentos que tu. Dessa forma, o
pastor falará bem deles para mim, e eu ao Senhor." Eu disse: "Senhor,
de minha parte mostrarei a todo homem as grandezas do Senhor. E espero que
todos os que outrora pecaram, ao ouvirem essas coisas, façam espontaneamente
penitência, para recuperar a vida." Ele me disse: "Permanece nessa
missão, realizando-a até o fim. Todos aqueles que praticam os mandamentos do
pastor, terão vida e grande honra junto ao Senhor. Por outro lado, todos aqueles
que não observam seus mandamentos, afastam-se da vida e desprezam o pastor. No
entanto, o pastor, tem a sua honra junto de Deus. Todos aqueles que o desprezam
e não observam seus mandamentos, se entregam à morte, e cada um deles se torna
réu do seu próprio sangue. Digo-te mais uma vez: coloca-te a serviço desses
mandamentos e terás o remédio para os seus pecados."
CAPÍTULO
113
"Eu
te enviei essas virgens, para que habitem contigo; percebi que são afáveis
contigo. Tu as tens como auxiliares, de modo que possas observar melhor os
mandamentos do pastor. Não é possível observar esses mandamentos, sem essas
virgens. Vejo, porém, que elas estão contigo de boa vontade; mas ordenei-lhes
que de modo algum se afastem de tua casa. Apenas limpa bem a tua casa, pois
elas habitarão com prazerem casa limpa. Elas são limpas e castas, ativas, e
todas gozam de grande crédito junto ao Senhor. Portanto, se encontrarem tua
casa limpa, permanecerão contigo. Se houver, porém, alguma coisa poluída,
imediatamente elas deixarão tua casa, pois essas virgens não gostam de nenhum
tipo de poluição." Eu lhe respondi: "Senhor, espero poder agradar-lhes,
de modo que elas habitem sempre em minha casa de boa vontade. O pastor, a quem
me confiaste, não se queixa de mim; elas também não se queixarão de mim."
O anjo disse ao pastor: "Vejo que o servo de Deus quer viver, que guardará
esses mandamentos, e instalará as virgens numa casa limpa." Tendo dito
isso, confiou-me de novo ao pastor, chamou as virgens e lhes disse: "Como
estou vendo que habitais com satisfação na casa desse homem, eu vo-lo
recomendo, tanto a ele como à sua casa, para que não vos afasteis da casa dele".
Elas, por sua vez, ouviram com prazer essas palavras.
CAPÍTULO
114
Em
seguida, ele me disse: "Sê forte nesse ministério, mostra a todos os
homens as grandezas do Senhor, e alcançarás a graça nesse ministério. Todo
aquele que se comportar conforme esses mandamentos, viverá, e será feliz em sua
vida. Por outro lado, quem os deixar à margem, não viverá, e será infeliz em
sua vida. Dize a todos que não deixem de fazer tudo o que puderem praticar de
bom, porque praticar boas obras é útil para eles. Digo também que é necessário
arrancar da miséria todo homem. O necessitado e que sofre revezes em sua vida
cotidiana está em grande tormento e angústia. Aquele, pois, que livrar uma
pessoa da necessidade, adquire para si uma grande alegria. Com efeito, quem se encontra
na miséria, sofre o mesmo tormento e as mesmas torturas que alguém que está na
prisão. Muitos, não podendo suportar essas calamidades, se suicidam. Aquele,
portanto, que conhece a miséria de tal homem e dela não o retira, comete grande
pecado e se torna réu do sangue dele. Fazei, portanto, boas obras, todos vós
que recebestes bens do Senhor, para que a construção da torre não termine,
enquanto tardais em praticá-las. E por vossa causa que os trabalhos da
construção foram interrompidos. Portanto, se não vos apressais em agir bem, a
torre será terminada, e vós sereis excluídos dela." Quando ele terminou de
falar comigo, o anjo se ergueu do leito e, tomando consigo o pastor e as
virgens, retirou-se. Disse-me, porém, que me enviaria de novo o pastor e as virgens
à minha casa.
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