EXPLICAÇÃO DA SANTA MISSA
Autor: pe.
Martinho de Cochem (1630-1712)
Fonte: Lista "Tradição Católica"
Digitalização: Carlos Melo
XXII. A SANTA MISSA É
O MAIS EFICAZ ALÍVIO DAS ALMAS DO PURGATÓRIO
Não podendo
compreender, durante esta vida, o rigor das chamas do purgatório, virá, porém,
o dia em que o experimentaremos. Meditemos, enquanto podemos, a doutrina dos
Santos e Doutores da Igreja.
Santo Agostinho diz:
"O eleito e o condenado são atormentados pelo fogo, cuja ação é mais
violenta que tudo quanto, sobre a terra, se pode imaginar, ver e sentir"
(Sermão 41). Fosse este testemunho o único, e bastaria para espantar-nos,
porque os males de que a terra está cheia, são incalculáveis, e nossa
capacidade de sofrer é um abismo de que ninguém sondou a fundo. Pensa nas
terríveis doenças que corrompem o corpo; lê, no martirológio, as torturas
espantosas, a que foram submetidos os confessores da fé, e persuadir-te-ás de
que tudo isto é apenas uma pálida imagem do que te espera, segundo a afirmação
de São Cirilo: "Todas as penas e torturas, diz ele, todos os tormentos
desta vida, comparados à menor pena do purgatório, parecem ainda uma
consolação". São Tomás de Aquino afirma também: "A menor faísca desse
fogo é mais cruel que todos os males desta vida" (In e. Sent. dist. 20,
qu. 1. c. 2).
Meu Deus! Como minha
alma suportará essas dores terríveis? Ora, é quase certo que não chegará ao céu
sem passar por essas chamas purificadoras, porque, longe de ser bastante
perfeita para evitá-las, está repleta de manchas e de más inclinações.
Há vários meios
eficazes de aliviar as almas do purgatório; porém, o mais salutar, declara o
Concílio de Trento, é o santo Sacrifício da Missa: "As almas do purgatório
são aliviadas pelas orações e sufrágios dos fiéis, principalmente pelo
sacrifício do Altar" (Conc. Trento, Sess. 25). Dois séculos antes, São
Tomás de Aquino dizia: "Segundo o uso geral, a Igreja sacrifica e ora
pelos defuntos e, assim, liberta-os, prontamente, do purgatório".
A razão é porque, na
santa Missa, o sacerdote e os assistentes não somente pedem misericórdia, mas
oferecem também a Deus um resgate preciosíssimo. As almas do purgatório não
estão fora dos favores de Deus, visto que, por sua contrição e confissão,
reconciliaram-se com Ele, porém ficam prisioneiras, para se purificarem das
chamas. Por conseguinte, se cheio de compaixão, orares por elas, cedendo-lhes teus
méritos, contribuis para saldar uma parte desta dívida de que o Juiz supremo
diz: Toma cuidado "para que não sejas lançado na prisão, donde não sairás
sem ter pago o último ceitil" (Mt. 5, 25-26). Entretanto, se assistes, ou
fazes celebrar a santa Missa por uma destas almas, satisfarás grande parte de
sua dívida.
Ignora-se em que
medida são remidas as penas do purgatório pelo santo Sacrifício. Em todo o
caso, fica certo que uma Missa celebrada, ou ouvida durante tua vida, serve-te
mais do que outra oferecida em tua intenção depois da morte, segundo a palavra
de Santo Anselmo: "Uma única Missa assistida por uma pessoa durante a
vida, lhe é mais vantajosa do que muitas oferecidas, em sua intenção, depois da
morte". Eis porque:
1.
Se estiveres em estado de graça, quando ouvires, ou mandares celebrar a
santa Missa por ti, obterás um aumento de glória para o paraíso; vantagem que,
mesmo cem missas, celebradas depois de teu falecimento, não poderiam
merecer-te, visto que o tempo de merecer acabou.
2.
Se estiveres em estado de pecado mortal, a santa Missa te atrairá, pela
infinita misericórdia de Deus, a luz necessária para reconhecer os pecados e a
dor de havê-los cometidos, dor que te põe em graça com ele, cousa impossível
depois da morte. Se, em vida, já estás marcado com o selo da reprovação, a
santa Missa pode ainda deter-te na beira do abismo infernal e conceder-te o
inestimável benefício de morreres na graça de Deus.
3.
Missas ouvidas, ou celebradas te esperam além do túmulo, onde, como
outros tantos advogados eloqüentes, solicitarão, para ti, o perdão no tribunal
da Justiça divina. Se não te preservam inteiramente do purgatório,
abreviar-lhe-ão a duração e diminuir-lhe-ão a intensidade. Apesar de Deus
aplicar-te todo o fruto de uma Missa após tua morte, seria ainda mister que
fosse celebrada, e deverias esperá-la.
Supõe qeu morras à
tarde e devas permanecer nas chamas do purgatório somente até a hora da Missa
do dia imediato, oh, como seria longa esta única noite! Supõe mesmo o caso mais
favorável em que tua pena duraria o tempo de uma Missa; caro leitor, esta meia hora
te pareceria ainda uma eternidade. Se te obrigassem a ter a mão em fogo vivo
durante o tempo em que se pode celebrar uma santa Missa, quanto não darias para
escapar a uma prova tão cruel? Entretanto, não atingiria senão a um membro de
teu corpo, e não se pode comparar à pena muito mais intensa que tem sede na
alma. Poderíamos ter menos compaixão de nossa alma que de nosso corpo? Em todo
caso, é melhor que as Missas nos esperem na outra vida do que termos que
esperá-las. Amontoemos, pois, tesouros no céu, pela piedosa assistência à santa
Missa, porque a noite virá, e quem trabalhará então por nós?
4.
A esmola que consagras para fazer celebrar a santa Missa, é um dom
espontâneo, voluntário, muito agradável a Deus, ao passo que, depois de tua
morte, não será mais dado por ti, mas por teus herdeiros. Não vemos, todos os
dias, como demoram a satisfazer os piedosos desejos dos moribundos?
Acredita-nos, é mais
conveniente assegurar o futuro, desde a vida presente, enquanto podes dispor de
teus bens.
5.
Enfim, não esqueçamos que o tempo presente é o tempo da misericórdia, e
o tempo futuro, o da justiça. São Boaventura diz: "Assim como uma palheta
de ouro é mais preciosa do que um pedaço de chumbo, também uma pequena
penitência, a que nos submetemos, voluntariamente, nesta vida, é mais agradável
aos olhos de Deus do que uma grande penitência feita na outra.
Ah, se pudesses
contemplar, com teus olhos mortais, os rios de graças que, do altar, se
derramam sobre o purgatório, com que pressa procurarias, para as almas
exiladas, este divino benefício! Não objetes tua pobreza. É verdade, a pobreza
pode privar-te do prazer de mandar celebrar os divinos Mistérios; porém, não te
explicamos que a simples audição da santa Missa é, por si, muito meritória?
Pede a teus amigos que ouçam também uma ou mais Missas, na intenção das almas
do purgatório.
Era o conselho de um
homem de Deus a uma pobre viúva que lamentava não poder mandar celebrar Missas
por seu defunto marido: "Assisti, freqüentemente, ao santo Sacrifício por
ele; deste modo será mais prontamente libertado do que por uma ou duas Missas
celebradas em sua intenção". Este excelente conselho o damos, de bom
grado, aos pobres; não que seja menos vantajoso fazer celebrar a Missa, quando
se pode, porém, é uma consolação para a alma do purgatório ver-te oferecer, por
ela, nosso Senhor a seu Pai. Então o precioso Sangue inunda-a como orvalho
celeste. Jamais um doente devorado pela febre foi tão aliviado por um copo
d'água fresca, como nossos caros defuntos, quando na santa Missa, derramamos,
misticamente, sobre eles algumas gotas deste Sangue divino.
XXIII. DA PRECE DO
SACERDOTE E DOS ANJOS PELOS QUE OUVEM A SANTA MISSA
É uma queixa geral,
entre as pessoas piedosas, de serem perseguidas pelas distrações durante a
oração. Para isso, não conhecemos remédio melhor que a freqüente assistência à
santa Missa, onde nossa pobre oração se une à de Jesus e a de seu sacerdote. Do
mesmo modo que uma moeda de cobre se torna bela e brilhante, quando imersa no
ouro em fusão, nossa oração, fraca e distraída, torna-se, por esta maneira,
atenta e fervorosa.
Por isso disse o
sábio e piedoso bispo Fornero: "A oração feita na Missa, em união com o
Sacrifício, é mais eficaz do que todas as outras, embora cheias de fervor
perfeito e longa duração".
Exporemos, neste
capítulo, a razão de tão consoladora doutrina.
O sacerdote que
celebra deve orar não somente pelos fiéis em geral e oferecer o Sacrifício por
sua salvação, mas é ainda obrigado a orar, particularmente, pelos assistentes e
apresentar-lhes as súplicas ao Altíssimo. Assim a oração do começo, chamada
"Coleta" e a "Secreta" que se segue ao Ofertório, a
"Post-Comunhão", e, em geral, todas as orações em que o pedido é
feito em nome de muitos, são ditas pelos assistentes, por ti, portanto, se és
do número deles, e te são proveitosas como se estivesses só na igreja com o
sacerdote.
A fim de que saibas,
minuciosamente, as orações em que tens parte oficial, vamos enumerá-las umas
após outras.
Ao começar a santa
Missa, o ministrante recita o "Confiteor", em nome do povo, sobre o
qual o sacerdote pronuncia a absolvição seguinte: "O Senhor onipotente se
compadeça de vós, e, perdoados os vossos pecados, vos conduza à vida eterna!
Assim seja". Em seguida, subindo ao altar, continua: "Apagai, Senhor,
Vos suplicamos, nossas iniqüidades, para que mereçamos, com pureza, entrar no
lugar santo. Por Cristo Senhor Nosso. Amém".
Ao "Kyrie",
que é um grito, um pedido de socorro à Santíssima Trindade; ao "Glória in
excelsis", como também à "Coleta", o sacerdote fala em seu nome
e no teu. Saúda a assembléia, reunida ao redor do altar, com a santa saudação:
"Dominus vosbiscum - o Senhor esteja convosco!" Era a saudação do
Anjo a Gedeão; de Booz aos ceifadores; do Arcanjo Gabriel à Santíssima Virgem.
Por estas palavras, oito vezes repetidas, o sacerdote deseja salvação e bênção
ao povo, porque, se Deus está conosco, que pode nos faltar?
Ao "Credo"
pronuncia, em seu nome e em nome dos fiéis, a confissão da fé católica, em que
desejamos todos viver e morrer.
"A oblação do
pão" diz: "Recebei Pai Santo, onipotente e eterno Deus, esta Hóstia
imaculada que eu, indigno servo, vos ofereço, meu Deus vivo e verdadeiro, por
todos os meus inumeráveis pecados e ofensas e negligências, por todos os presentes,
e por todos os fiéis cristãos, vivos e defuntos, para que a mim e a eles
aproveite e seja a salvação na vida eterna. Amém".
Quando deita a água e
o vinho no cálice, diz: "Deus, que criaste, maravilhosamente, a dignidade
da humana natureza e, mais admiravelmente, a reparaste, concede-nos, por este
mistério da água e do vinho, que sejamos consortes da divindade daquele que se
dignou de fazer-se partícipe de nossa humanidade, Jesus Cristo, teu Filho,
Senhor nosso que contigo reina na unidade do Espírito Santo, Deus por todos os
séculos dos séculos. Amém".
A "oblação do
cálice", o sacerdote diz: "Oferecemos-te, Senhor, o cálice da
salvação, rogando-te a clemência, para que suba à presença da divina Majestade
o suave perfume, por nossa salvação e de todo o mundo".
Depois do "Lavabo",
diz o sacerdote, inclinando-se: "Recebei, Santíssima Trindade, esta
oblação que te oferecemos em memória da Paixão e Ressurreição e Ascensão de
Jesus Cristo, nosso Senhor, e em honra da Bem-aventurada Virgem Maria, do
Bem-aventurado São João Batista, dos Santos Apóstolos São Pedro e São Paulo, e
de todos os Santos; para que lhes seja em honra e a nós em salvação, e estes,
cuja memória celebramos na terra, se dignem de interceder por nós no céu. Pelo
mesmo Cristo, Senhor nosso. Amém". Voltando-se para o povo, continua:
"Orai, irmãos, para que o sacrifício vosso e meu seja aceito por Deus
onipotente"; e o ministrante responde: "Receba o Senhor o sacrifício
de tua mão, para louvor e glória de seu nome e também para proveito nosso e de
toda a sua santa Igreja".
A
"Secreta", oração misteriosa, segue-se em voz baixa e, nela, o
sacerdote reza também por todo o povo. Ordinariamente são três, outras vezes
mais, nas grandes festas, uma apenas.
No
"Prefácio", o sacerdote excita a assembléia a unir os louvores aos
seus, dizendo: "O Senhor seja convosco. - Erguei os vossos corações! -
demos graças ao Senhor, nosso Deus! - verdadeiramente é justo, conveniente e
salutar que, sempre e em toda a parte, demos graças, Senhor santo, Pai
onipotente, Deus eterno, porque, pelo Mistério do Verbo encarnado,
resplandeceu, aos olhos de nossa mente, uma nova luz de tua claridade; de sorte
que, enquanto conhecemos a Deus visivelmente, sejamos por ele arrebatados ao
amor das cousas invisíveis. E por isso, com os Anjos e Arcanjos, com os Tronos
e Dominações e com toda a milícia do celestial exército, cantemos o hino de tua
glória, dizendo sem cessar: - Santo, Santo, Santo, Senhor Deus dos exércitos!
Cheios estão o céu e a terra de tua glória. Hosana nas alturas! Bendito seja o
que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!"
Logo depois começa o
"Cânon", parte da santa Missa que se reza em voz baixa, e da qual
lembraremos somente o "Memento" pelos vivos: "Lembrai-vos,
Senhor, de vossos servos e servas N. N. ..... e de todos os circunstantes, cuja
fé e devoção vos são conhecidas, pelos quais vos oferecemos este sacrifício de
louvor, por eles e por todos os seus, pela redenção de suas almas, pela
esperança de sua salvação e incolumidade, e vos tributam os votos, a vós,
eterno Deus, vivo e verdadeiro".
Aprende, por estas
palavras, a não te afligir, se tua pobreza te priva de mandar celebrar Missas.
Aquela que ouves é oferecida em tua intenção pelo sacerdote que aplica o mérito
também a ti e aos teus, segundo tua piedade e teu desejo.
O sacerdote continua:
"Nós, que participamos duma mesma comunhão, honramos, em primeiro lugar, a
memória da gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Jesus Cristo, nosso Senhor e
Deus, e a dos Bem-aventurados Apóstolos e Mártires, Pedro e Paulo... e todos os
Santos; pedimos que nos concedais, pelos seus merecimentos e rogos, que, em
todas as cousas, sejamos defendidos pelo auxílio de vossa proteção. Por Cristo,
Nosso Senhor. Amém".
As mãos estendidas
sobre a oferta, o sacerdote prossegue ainda: "Por isso vos pedimos,
Senhor, que recebais, favoravelmente, esta nossa oferta, e de toda a Igreja; e
que, enquanto vivermos, gozemos de vossa paz e, depois, sejamos livres da
eterna condenação e contados entre o número de vossos escolhidos. Por Jesus
Cristo Nosso Senhor. Amém".
Depois da
"elevação", diz: "Portanto, Senhor, nós, teus servos e teu povo
santo, lembrando-nos da Paixão de Cristo, teu Filho e Senhor nosso, de sua
Ressurreição saindo vitorioso do sepulcro, e de sua gloriosa Ascensão aos céus;
oferecemos à tua gloriosa Majestade, de teus mesmos dons e dádivas, a Hóstia
pura, a Hóstia santa, a Hóstia imaculada, o Pão santo da vida eterna, e o
Cálice da salvação perpétua. Sobre estes dons te dignes lançar um olhar
favorável e recebê-los benignamente, assim como recebestes as ofertas do justo
Abel, teu servo, e o sacrifício de nosso patriarca Abraão, e o que te ofereceu
o sumo sacerdote Melquisedec, santo sacrifício, Hóstia imaculada".
O sacerdote faz,
depois, uma profunda reverência, humilhando-se diante de Deus, e continua:
"Ó Deus onipotente, nós te suplicamos, com humildade profunda, que mandes
levar estes dons pelas mãos de teu santo Anjo, a teu sublime altar, na presença
de tua divina Majestade, para que todos nós que, participando deste altar,
recebamos o sacrossanto Corpo e Sangue de teu Filho, fiquemos cheios de toda a
graça e bênção celestial. Pelo mesmo Cristo, Nosso Senhor. Amém".
Ao
"Memento" dos defuntos, o sacerdote ora, em primeiro lugar, por todos
os fiéis defuntos, depois por todos aqueles em cuja intenção celebra ou que lhe
foram recomendados, e acrescenta: "E também a nós pecadores, que esperamos
na multidão de tuas misericórdias, te dignes dar alguma parte e sociedade com
teus santos Apóstolos e Mártires: com João, Estevão, Matias, Barnabé, Inácio,
Alexandre, Marcelino, Pedro, Felicidade, Perpétua, Águeda, Lúcia, Cecília,
Anastácia, e com todos os santos, em cuja companhia te rogamos nos admitas
generoso, não considerando nossos méritos, mas a tua indulgência. Por Cristo,
Nosso Senhor. Amém".
Em seguida, reza o
"Padre-Nosso" por si, e acrescenta: "Livrai-nos, te rogamos,
Senhor, de todos os males passados, presentes e futuros e, pela intercessão da
gloriosa sempre Virgem Maria e de teus Bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo,
de André e de todos os Santos, dá-nos benigno a paz em nossos dias; para que,
ajudados com o socorro de tua misericórdia, vivamos sempre livres do pecado e
seguros de toda a perturbação. Pelo mesmo Senhor nosso, teu Filho Jesus Cristo,
que contigo vive e reina em unidade com o Espírito Santo, por todos os séculos
dos séculos. Amém".
Depois faz a fração
da sagrada Hóstia, dizendo: "Esta mistura e consagração do Corpo e Sangue
de Nosso Senhor Jesus Cristo, aproveite-nos para a vida eterna. Amém". -
Inclinando-se então profundamente, diz três vezes: "Cordeiro de Deus, que
tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós ... dai-nos a paz".
Depois da
"Comunhão", seguem-se algumas orações que o sacerdote reza por si,
mas, antes de abençoar os fiéis, diz ainda: "Agradável vos seja,
Santíssima Trindade, o obséquio de minha servidão, fazei que este Sacrifício,
que eu, indigno, Vos ofereci, aos olhos de vossa Majestade, seja aceito por
Vós, e por vossa misericórdia se torne propiciatório para mim e todos aqueles
por quem o ofereci. Por Cristo Nosso Senhor. Amém".
Enfim, o sacerdote te
abençoa em nome de Jesus Cristo e de sua Igreja para que estejas preservado do
mal durante o dia.
Eis as orações que o
ministro de Deus diz em teu favor. Simples na aparência, têm, todavia, uma
maravilhosa eficácia, pois são inspiradas pelo divino Espírito Santo, compostas
e sancionadas pela santa Igreja. O sacerdote não as diz em seu nome, porém em
nome de Jesus Cristo e de toda a cristandade, da qual é o representante. Com
efeito, a santa Igreja, isto é, todos os fiéis enviam o sacerdote como seu
representante ao altar e o encarregam de seus pedidos, para que os exponha a
Deus, durante a santa Missa, e trate da felicidade eterna e temporal de todos
os fiéis e, em particular também, da libertação das almas do purgatório. As
palavras deste sublime entretenimento acham-se ditadas e encerradas no missal
pela própria Igreja; de maneira que, quando o sacerdote chega ao altar e se
apresenta diante da divina Majestade, Deus não o considera mais como pecador,
porém como embaixador da Igreja, como representante de seu Filho, do qual traz
as vestes e as insígnias, e em nome do qual pronuncia as palavras da
consagração: "Isto é o meu Corpo, isto é o meu Sangue". Nestas
condições, sua oração vale junto a Deus tanto como a oração do próprio Jesus. E
não somente ora o sacerdote, mas oferece também um dom, uma jóia de valor
infinito: o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo. Este dom, Deus não o pode
repelir, nem recusar ao sacerdote os piedosos pedidos. Unamos, pois, nossa
fraca oração à do sacerdote e assim tornar-se-á mais eficaz, mais nobre e
obterá o que nunca obteríamos sozinhos.
Talvez perguntes:
Todas as santas Missas são igualmente boas? - Antes de responder, dizemos que
deves bem distinguir entre o sacrifício e a piedade de quem o oferece. O
sacrifício, sem dúvida, é igualmente santo e agradável a Deus, tanto do bom
como do mau sacerdote, pois quem é oferecido, em todas as Missas, é o próprio
Jesus Cristo. A celebração, isto é, a recitação das orações na santa Missa,
porém, não é igualmente agradável a Deus em todas as Missas. Neste sentido, o
maior ou menor agrado depende do fervor e da devoção do celebrante. O sacerdote
bem o sabe e, por isso, pede em cada Missa, freqüentemente, a Deus as suas
graças, e aos assistentes, que o ajudem com as orações, a fim de que seu
sacrifício seja agradável a Deus onipotente. É o sentido do "Orate
fratres": "Orai, irmãos", diz o sacerdote voltando-se para o
povo, "para que o vosso sacrifício e o meu seja agradável a Deus onipotente".
São Boaventura escreve:
"Todas as Missas são igualmente boas no que diz respeito ao divino
Salvador, com relação ao celebrante, porém, há Missas melhores e menos
boas".
O cardeal Bona
acentua este pensamento, quando diz: "Quanto mais santo e agradável a Deus
for o sacerdote, tanto mais agradável será o acolhimento reservado à sua oração
e ao seu sacrifício e mais útil a sua Missa, porque se dá com a santa Missa o
mesmo que se dá com as outras obras pias: os frutos obtidos são proporcionais
ao fervor".
É certo que os Anjos
estão presentes à santa Missa. A Igreja o afirma. O profeta real assim cantou:
"Ordenou a seus Anjos que te guardem em todos os teus caminhos".
Segue-se que os Anjos nos acompanham os passos. Quando, porém, nos dirigimos
para o altar do Senhor, é, com mais alegria e maior satisfação, que desempenham
o ofício, afugentando os maus espíritos que querem perturbar-nos a devoção,
impondo-lhes silêncio ao cochichar dissipado que chamamos distrações. Há, pelo
menos, o mesmo número de Anjos presentes à santa Missa quanto de pessoas, visto
que cada assistente tem seu Anjo da guarda, ajudando-o a orar e adorar a Jesus
Cristo sobre o altar. Pede, pois, ao teu que ouça a santa Missa por ti e
contigo, e sua oração inflamada suprirá as misérias da tua.
Além dos Anjos da
guarda, príncipes da milícia celeste estão, igualmente, presentes no altar,
porque ao Rei dos Anjos, descendo do céu, em pessoa, convém que seus ministros
rodeiem e lhe prestem homenagens.
Assistindo à santa
Missa, podemos, pois, dizer a Deus com o rei David: "Adorar-vos-ei, em
vosso santo tabernáculo, cantarei vossos louvores, na presença dos espíritos
celestes, e bendirei vosso santo nome" (Sal. 137). Está, portanto,
ajoelhado no meio destes espíritos puros que ouvem a santa Missa contigo e
oram, ardentemente, por tua salvação.
"Lembra-te, ó
homem, diz São João Crisóstomo, junto de quem te achas, durante este misterioso
Sacrifício. Estás entre Querubins e Serafins, entre as Potências celestes.
Comporta-te, pois, de modo a não entristecê-los com a tua impiedade, pelo
contrário, regozija-os com o teu fervor".
Quando o sacerdote
celebra o sublime e temível Sacrifício, os Anjos assistem-no e, com coro,
elevam a voz para cantar a glória daquele que se imola sobre o altar. Neste
momento, não oram somente os homens, mas os próprios Anjos dobram os joelhos
ante Deus e intercedem por nós, e esta oração dos Anjos, é mais poderosa do que
a nossa. É o tempo propício, pois o santo Sacrifício está ao dispor destas
potências celestes. Entretanto, unidos os nossos rogos aos dos Anjos, os nossos
pedidos atravessam as nuvens e são mais facilmente ouvidos do que se tivéssemos
orando em casa, sozinhos.
Os Anjos não somente
estão presentes à santa Missa, como também oferecem ao Altíssimo o santo
Sacrifício e as nossas orações. São João viu-os nesta sublime função e no-lo
refere assim: "Veio, então, o Anjo e pôs-se ante o altar, trazendo um
turíbulo de ouro; lhe foram dados muitos perfumes, a fim de que fizesse a
oferta das orações de todos os Santos sobre o altar de ouro, que está diante do
trono de Deus. E a fumaça dos perfumes, emanados das orações dos Santos, subiu
da mão do Anjo até a presença de Deus" (Apoc. 8, 3 e 4).
Assim os Anjos
apressam-se em recolher-te as orações durante a santa Missa, para leva-las ao
céu e espalhá-las como perfume, em presença de Deus. E, se estas orações são
unidas às de Jesus Cristo e às dos Anjos, seu perfume é infinitamente agradável
à divina Majestade e tem uma eficácia muito maior, que todas as orações feitas
fora da santa Missa. Novo motivo, pois, para assistires, todos os dias, ao
santo sacrifício, onde tão poderosos Anjos te esperam e transmitem-te os votos
a Deus, vivificando-os com os seus santos ardores.
XXIV. A SANTA MISSA
NÃO PREJUDICA AO TRABALHO, ANTES O FAVORECE
Um dos principais
pretextos alegados pelos homens, para dispensar-se da santa Missa, é o
trabalho. Dia e noite a ele se entregam, lastimam a perda de tempo, se devem
consagrar uma hora ao serviço de Deus, e qualificam de preguiçosos os que
encaram, de modo sobrenatural, o emprego da vida. Que erro grosseiro é o destes
insensatos!
Se encontram um
amigo, quando vão para o trabalho, param de bom grado para ouvir novidades,
conversam sobre isto ou aquilo; tratando-se, porém, de ouvir a santa Missa, a
lembrança do trabalho os atormenta. Não vê que o inimigo é quem os torna tão
apressados para as cousas da terra e tem grande interesse em afastar da santa
Missa? Longe, porém, de prejudicar o trabalho, o santo Sacrifício o adianta e o
torna mais lucrativo.
Nosso divino Mestre
nos recomenda a procurar, antes de tudo, o reino de Deus e sua justiça, porque
tudo o mais nos será dado por acréscimo. Estas palavras podem se interpretar
assim: Não te inquietes do alimento corporal, porém, antes de principiar o
trabalho, procura ouvir a santa Missa, ou pelo menos que um membro da família o
assista em nome da família toda. Assim prestes a Deus, o culto que lhe é
devido, e Deus, em troca, te dará o pão de cada dia.
Se prestares um
serviço importante e agradável a um príncipe deste mundo, não serás recompensado?
Ora, assistindo à santa Missa, rendes a Deus uma homenagem relevante, uma
glória infinita, uma incomparável satisfação: ofereces um presente mais
precioso que o próprio céu. O Senhor, riquíssimo e bondosíssimo, deixaria este
ato sem recompensa? Jamais! Se todo e qualquer bem é recompensado por Ele,
quanto mais o maior de todos os bens!
Sim, a santa Missa é
o tesouro de que fala o livro da Sabedoria: "É um tesouro inestimável para
os homens; os que nele têm parte gozam da amizade de Deus". É uma mina donde
se extrai o ouro terrestre e o celeste. O que assiste a este Sacrifício, sai
enriquecido dos méritos de Jesus Cristo, cumulado de bênçãos do Pai celeste: a
bênção da santa Missa é, ao mesmo tempo, temporal e espiritual, assim como
vemos pela oração que se segue à consagração: ... "para que todos,
participando deste altar, recebendo o sacrossanto Corpo e Sangue de teu Filho,
fiquemos cheios de toda a graça e bênção celestial".
Em virtude desta
oração e do santo Sacrifício, és abençoado em teu corpo e tua alma, em tuas
empresas e teus trabalhos.
Todos reconhecem a
verdade do velho provérbio: "Tudo depende da bênção de Deus". Por
maiores que sejam o zelo e a habilidade do homem no trabalho, sem a mão de
Deus, não frutificará. Ora, não há meio mais eficaz neste mundo, de atrair os
favores celestes, do que a piedosa audição da santa Missa. Numa visão, Santa
Brígida viu o divino Salvador que, depois da elevação da sagrada Hóstia,
traçava com a mão direita o sinal da cruz sobre o povo, dizendo: "Eu vos
abençôo a vós todos que credes em mim". - Avalia, pois, o prejuízo, mesmo
no teu trabalho, se, podendo assistir à santa Missa, por descuido, lhe perderes
as graças abundantes.
Não digas, caro
leitor, que a santa Missa de pouco serve, materialmente falando. Pois, só a
ignorância pode afirmar isto e não duvidamos de que a leitura deste livro te
iluminará a inteligência e te fará apreciar o valor e eficácia do santo
Sacrifício dos nossos altares. "No dia em que ouvires a santa Missa, diz
Fornero, bispo de Hebron, teu trabalho andará melhor, tuas penas serão mais
aliviadas, tua cruz menos pesada". "O Senhor te fortificará no corpo
e na alma, acrescenta outro autor de vida espiritual, os Anjos te cercarão mais
afetuosamente e, se vieres, neste dia, a morrer, Jesus te assistirá no último
momento, como o assististe pela manhã na santa Missa".
A audição da santa
Missa favorece o trabalho; nossa própria experiência no-lo testemunha.
Lemos, na vida de
Santo Isidoro, que cultivava as terras de um rico senhor. Entregava-se ao
trabalho com todo o zelo possível, sem, todavia, faltar à santa Missa um dia.
Sua devoção agradou de tal modo ao bom Deus, que Ele mandou que os Anjos
ajudassem-no nos trabalhos campestres. Quando sua esposa lhe levava a refeição,
via, não raras vezes, dois Anjos trabalhando ao lado de Isidoro. Este não os
via e a piedosa mulher nada dizia, com receio de incitá-lo ao orgulho.
XXV. DA MANEIRA DE
OFERECER A SANTA MISSA E DO VALOR DA OBLAÇÃO
Caro leitor, lê neste
capítulo com grande atenção; grava-o, profundamente, em tua memória, segue os
conselhos que encerra e tirarás, do santo Sacrifício, imenso proveito.
Já ficou dito que a
santa Missa, único sacrifício do cristianismo, é um ato de adoração, uma oferta
divina. O grande Sacerdote, o verdadeiro Sacrificador, é Nosso Senhor Jesus
Cristo. Depois dele vem o celebrante, o instrumento que lhe empresta as mãos e
a boca. Em terceiro lugar, vêm os assistentes, que mandam celebrar a santa
Missa, os que oferecem os objetos necessários ao culto, enfim, todos os que,
impedidos por ocupações de assistir, se unem, espiritualmente, aos assistentes.
Todos oferecem, em certo sentido, a divina Vítima e participam dos frutos desta
preciosa oferta. Sem a oblação do divino Sacrifício nem mesmo ouvirias a santa
Missa como deves: porque ouvir a Missa não é somente assistí-la, é oferecer o
Sacrifício em união com o sacerdote e pelas mãos do sacerdote. Por conseguinte,
os fiéis que, na santa Missa, se entregam a toda sorte de devoções
particulares, sem se ocuparem da oblação do santo Sacrifício, privam-se de um
número infinito de graças.
Não acharás,
certamente, inútil que te expliquemos, minuciosamente, a maneira de oferecer a
Deus o santo Sacrifício.
Supõe que uma pessoa
recite, devotamente, muitos terços, oferecendo-os a Jesus Cristo e à sua
Santíssima Mãe, enquanto outra pessoa assiste a uma só Missa, oferecendo-a.
Qual das duas, pensas, dará mais e será, mais profusamente, recompensada? Sem dúvida,
a segunda. Pois, que oferece a primeira? Uma prece, muito santa, ensinada, na
maior parte, por Jesus Cristo e por seu Anjo, mas que tem todo o valor da
piedade pessoal da pessoa que reza, e fica, por conseguinte, muito imperfeita.
Que se oferece, porém, na santa Missa? Um dom absolutamente sobrenatural,
perfeitíssimo, divino: o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, suas lágrimas, sua
morte, seus méritos.
Dir-me-ás, talvez: A
pessoa que oferece os terços oferece um dom que ela própria adquiriu, ao passo
que, na santa Missa, oferecem-se méritos que pertencem a Jesus Cristo.
Afirmamos, porém, de novo: Aquele que oferece a santa Missa, oferece um bem
próprio, porque, pelo Sacrifício não cruento da santa Missa, recebem os frutos
do Sacrifício cruento na Cruz.
Que imenso favor,
pois, é aquele com que o Senhor te enriquece, quando, na santa Missa, te
constitui, espiritualmente, sacerdote e te concede o poder de oferecer a Deus,
seu Pai, segundo a maneira dos sacerdotes, não só por ti, como pelos outros. É
neste sentido que o celebrante diz depois do "Sanctus":
"Lembrai-vos, Senhor, dos vossos servos e servas e de todos os
circunstantes, pelos quais vos oferecemos, e eles mesmos vos oferecem este
sacrifício de louvor por si e por todos os seus amigos, benfeitores, vivos e
mortos".
Para esta cooperação,
o sacerdote já convidou os fiéis no "Orate fratres", dizendo:
"Orai, meus irmãos, para que meu sacrifício, que é também o vosso, seja
agradável a Deus Padre todo poderoso".
Em outras palavras:
Este sacrifício vos pertence tanto quanto a mim, é tanto obra vossa quanto
minha; peço-vos que me ajudeis a oferecê-lo.
Depois da
"Elevação do cálice", o sacerdote diz: "Portanto, Senhor, nós,
teus servos e teu povo santo, oferecemos à tua gloriosa Majestade, de teus
mesmos dons e benefícios, esta Hóstia pura, Hóstia santa, Hóstia imaculada. Pão
santo da vida eterna, Cálice da salvação perpétua".
Tua cooperação pela
oblação é, pois, muito real, o celebrante conta com ela. Se não lhe aceitares o
convite e não unires a voz e o coração à sua ação, engana-lo-ás em sua
expectativa e a ti mesmo, privando-te do benefício da oblação. "Aqueles,
diz o bispo Fornero de Hebron, que deixam de oferecer a santa Missa por si e
pelos seus, privam-se dum imenso benefício". É, pois, igualmente um ato de
injustiça para contigo mesmo faltar à Missa ou não oferecê-la quando a
assistires. O oferecimento é a melhor das práticas; quanto mais o renovares,
mais alegrarás o céu, maior número de dívidas pagarás, maior glória futura
adquirirás. Dizer a Deus: Eu te ofereço, significa na Missa: Eu te pago, com o
ouro dos merecimentos de Jesus Cristo, o resgate de meus pecados, os bens
celestes, o livramento das almas do purgatório.
É verdade que se pode
dizer, fora da santa Missa, a qualquer hora e com muita vantagem: "Senhor,
eu te ofereço o caro Filho, te ofereço sua dolorosa Paixão e Morte, seus
méritos". Entretanto, esta oblação não é senão espiritual, enquanto que,
na santa Missa, é real. Aí Jesus Cristo está, realmente, presente e com ele
suas virtudes e seus méritos; aí se imola de novo e renova sua Paixão e sua
Morte, nos dá seus méritos, a fim de que os ofereçamos a seu Pai celeste.
Santa Mechtildes
ouviu, uma vez, durante a santa Missa, Nosso Senhor lhe falar desta forma:
"Concedo-te meu amor divino, minha oração e minha Paixão, a fim de que
possas mas oferecer por tua vez. Dai-mas, eu tas restituirei multiplicadas, e,
toda vez que mas ofereceres, novamente as duplicarei. É assim que o homem
recebe o cêntuplo no tempo e uma glória infinita na eternidade" (Lib.
Revelation I, cap. 14).
Entre todas as
orações da santa Missa, diz Sanchez, nenhuma é mais consoladora do que a que se
segue à elevação do cálice, quando o sacerdote oferece ao Pai celeste o
"Cordeiro" imaculado, dizendo: "Senhor, nós, que somos vossos servos
e vosso povo santo, oferecemos à vossa sublime Majestade a Hóstia pura, a
Hóstia santa, a Hóstia imaculada, etc.". Chama o povo, isto é, os
assistentes, santos, porque são santificados pela santa Missa, conforme a
palavra de Jesus Cristo: "Eu me santifico por eles, a fim de que sejam
santificados na verdade" (Jo. 22, 19).
Ele os santifica pela
"aspersão do sangue divino", como diz o Apóstolo São Paulo (Heb. 13,
12).
Quão preciosa é a
Hóstia pura, santa, sem mácula! É a carne puríssima, a alma santíssima, o
sangue imaculado de Jesus! A que pode se comparar esta oferta, se a terra
inteira não é senão um grão de poeira ao seu lado! Que dizemos? A imensidade do
céu nada contém de mais precioso. O que dás ao Deus onipotente, oferecendo esta
Hóstia, é o dom perfeitamente digno de sua Majestade infinita, é seu Filho com
sua humanidade santa, é o próprio Deus!
Se todos os súditos
de um monarca poderoso oferecessem a seu soberano, em testemunho de seu amor e
fidelidade, por embaixadores escolhidos, uma taça artística do ouro mais puro,
ornada de pedras preciosas de inestimável valor, a satisfação e o
reconhecimento do príncipe seria, sem dúvida, muito grande. Se porém, esta taça
contivesse uma jóia do valor de um reino, a admiração e alegria do rei seriam
ainda mais profundas. Na santa Missa, porém, oferecemos ao Altíssimo a
humanidade de Jesus Cristo, isto é, o que sua mão onipotente criou de mais
excelente e mais sublime. Eis a taça preciosa; a jóia de um valor incomparável
que encerra, é a divindade do Salvador; é nele que "reside a plenitude da
divindade" (Col. 2, 9).
Propriamente falando,
não é a divindade, mas a humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo que oferecemos
à adorável Trindade; as duas naturezas, porém, são estreitamente unidas, e
nunca realmente separadas, de sorte que as oferecemos juntas. Que satisfação
para o Pai eterno quando recebe de tuas mãos este dom incomparável, aquele do
qual disse: "É meu Filho predileto em quem pus todas as minhas
complacências!" (Mt. 3, 17). Avalia a recompensa que te espera em troca, e
a soma de dívidas que pagas por esta preciosa oferta.
Henrique I, rei da
Inglaterra, ouvia, todos os dias, três Missas, ajoelhado ao pé do altar.
Chegado o momento da consagração, aproximava-se do celebrante e sustentava-lhe
os braços durante a elevação do Corpo e Sangue de Nosso Senhor. Era a maior
consolação do piedoso monarca. Se houvesse ainda este piedoso costume, qual não
seria a tua pressa em tomar lugar junto ao sacerdote! Deus se contenta, porém,
com teu desejo, dize-lhe somente do íntimo do coração: "Senhor,
ofereço-vos vosso caro Filho pelas mãos do sacerdote". Deus muito bem
saberá interpretar-te a intenção.
A oferta da santa
Hóstia é preciso unir a do preciosíssimo Sangue. É um meio excelente de salvar
as almas. Lê-se, na vida de Santa Maria Madalena de Pazzi, que o próprio Senhor
a instruíra neste assunto, fazendo-lhe conhecer quanto a oferta de seu precioso
Sangue é própria para apaziguar a cólera de Deus. O divino Salvador se queixava
do pequeno número dos que trabalham para acalmar a Justiça de seu Pai celeste,
e exortava a santa a aplicar-se a isto. Desde então, ela oferecia o
preciosíssimo Sangue até cinqüenta vezes por dia, pelos vivos e pelos mortos; e
seu celeste Esposo lhe mostrou, muitas vezes, as almas que tirava do purgatório
por este meio.
"Quando ofereces
o precioso Sangue ao Pai celeste, diz a mesma Santa, lhe ofereces um dom tão
agradável, que ele se reconhece teu devedor". Como efeito, que haverá, no
céu e sobre a terra, que iguale, em valor, o precioso Sangue, do que diz São
Tomás de Aquino, uma só gota vale mais que um mar de Sangue dos Mártires; do
qual uma só gota seria assas poderosa para purificar o mundo de todos os
pecados. Por conseguinte, se, em troca da oferta do precioso Sangue, Deus te
concede o céu, não te retribui um bem de igual valor.
Se tivesses
presenciado a crucificação do divino Salvador e recolhido o Sangue adorável que
lhe corria das chagas sagradas, e tivesses elevado este precioso Sangue ao céu,
implorando misericórdia para ti e para o gênero humano, o Pai celeste ter-se-ia
enternecido, sem dúvida; todos os teus pecados teriam sido perdoados. Ora, é
isto que fazes quando, durante a santa Missa, ofereces o precioso Sangue ao
Deus altíssimo.
XXVI. COMO PODEMOS
PARTICIPAR DOS FRUTOS DE VÁRIAS MISSAS QUE, AO MESMO TEMPO E NA MESMA IGREJA,
SE CELEBRAM
Já explicamos como
todos os sacerdotes oram e oferecem o santo Sacrifício na intenção dos
assistentes. É, pois, vantagem considerável achar-se numa igreja onde se
celebram grande número de Missas de uma vez. Se celebrar um só sacerdote, terás
uma única oração, havendo mais, teu proveito espiritual aumentará.
Ora, para tirar
proveito de várias Missas celebradas no mesmo tempo, é preciso cooperar para
cada uma numa certa medida. Não dizemos seguir várias Missas ao mesmo tempo,
isto seria impossível; aconselhamos simplesmente seguir uma, com toda a atenção
possível, e recomendar-se às outras, dizendo: "Meu Deus, oferece-vos
também este Sacrifício que vai se cumprir". Quando vires, porém, em outro
altar, levantar-se a Hóstia consagrada e o Cálice, adora o divino Salvador e
oferece-o ao Pai celestial.
Dir-me-ás talvez: Se
me entregar a esta prática, ela me impedirá de seguir e satisfazer minhas
devoções quotidianas. - Escuta esta parábola: Um vinhateiro, trabalhando na sua
vinha, achou um tesouro. Levou-o para casa, muito escondidamente, e voltou ao
trabalho. Ao cabo de algumas horas, descobriu outro tesouro que levou por sua
vez para casa. Enfim, sua enxada encontrou um terceiro, levou-o, correndo, e
anunciou sua felicidade à sua mulher. "Como, lhe disse esta muito
admirada, tomas isto por felicidade? É uma verdadeira infelicidade, porque, se
continuares assim, nunca tua vinha será cultivada e não haverá colheita".
O marido sorriu a este raciocínio, e disse: "Queira Deus que continue a
achar tesouros semelhantes e pouco me importa que haja ou não uvas!"
Aplica ao caso o
sentido da parábola e verás que a oblação reiterada de Cristo, no altar, é
incomparavelmente, mais útil que outra.
Nota ainda isto:
Quando entras numa igreja e vês que a santa Missa se acha depois da
consagração, faze, todavia, a oblação de nosso Senhor até que o sacerdote
consuma as santas espécies. Desta maneira te tornarás participante de muitas e
grandes graças. Se no momento em que entras, vês dois sacerdotes consagrarem,
ao mesmo tempo, faze o teu ato de adoração na intenção de oferecer Jesus
presente sobre os dois altares. Não é preciso, para assistir à santa Missa, ver
o celebrante. Basta ser advertido pelo toque da campainha. Não deixes a igreja,
imediatamente, antes da consagração, espera que Jesus apareça, adora-o e
pede-lhe a bênção.
Na vida de Santa
Isabel, rainha de Portugal, refere-se o seguinte: Um príncipe da corte real,
estando para morrer, disse ao filho: "Meu filho, deixo este mundo na
esperança da Misericórdia divina. És o único herdeiro de minhas posses; porém,
antes de tudo, deixo-te esta recomendação: ouve a santa Missa todos os dias e
sê fiel a teu rei".
Depois da morte do
pai, o jovem veio à corte real como pajem de honra da rainha Isabel. Ela o
estimava muito, por causa da sua piedade, dava-lhe sábias instruções e
empregava-o, muitas vezes, na distribuição de suas esmolas, testemunhando-lhe
um interesse materno. Havia, na corte, outro pajem de costumes maus. Este,
invejoso do favor de que gozava o colega, caluniou-o junto ao rei da maneira
mais odiosa. O rei, que levava uma vida desregrada, acreditou facilmente no que
lhe havia referido o pajem mau e jurou a morte do inocente.
Um dia que passeava montado,
nos arredores de sua capital, meditando sobre o modo de vingança, avistou ao
longe uma caeira em atividade. Seu plano foi, então, determinado: vai
diretamente ao dono da caeira e lhe dá ordem de lançar nela o pajem da corte
que havia de vir, no dia seguinte, pela manhã, perguntar se as ordens do rei
havia sido executadas.
Ao voltar a seu
palácio o rei, mandou vir o pajem, tão injustamente caluniado, e ordenou-lhe
que fosse, no dia seguinte, muito cedo, à caeira, informar-se da execução das
ordens reais. O jovem partiu, ao romper do dia, tristonho de não poder ouvir
Missa antes de sair e receando não poder assistí-la neste dia. No caminho,
encontrou uma igreja, onde se dava justamente o sinal da consagração. Entrou,
pois, adorou Cristo, Nosso Senhor, e ofereceu-o a Deus por sua salvação eterna
e temporal. Terminado a santa Missa, saiu contente por ter podido ouvir uma
parte importante da santa Missa.
Instantes depois,
achava-se diante de outra igreja, onde tocavam igualmente à consagração, o que
lhe causou nova alegria. Também nesta entrou e cumpriu a sua devoção,
recomendada por seu pai moribundo, mas demorou-se um só instante, porque as
ordens do rei eram apressadas. Aconteceu, entretanto, que o caminho o
conduzisse a terceira igreja. O sino tocava e o pajem entrou ainda esta vez,
para adorar Nosso Senhor. Sua devoção foi tão grande, que ficou até o fim da
santa Missa.
No entanto, o rei
ardia por saber se sua obra de vingança fora consumada. Por isso, mandou o
outro pajem à caeira informar-se da execução de suas ordens. Este espreitava a
ocasião de satisfazer a inveja, e, sabendo perfeitamente o que isto
significava, partiu alegre e ligeiro. Chegando, fez logo a pergunta ao caeiro.
Mas, oh terror, foi preso, e apesar de sua resistência e de seus protestos, foi
precipitado na fornalha ardente.
Pouco depois,
apareceu também o pajem inocente. Cumpriu a sua mensagem, recebeu a resposta
que tudo se fizera como o monarca havia mandado, e, voltou, sem suspeitar a
visível proteção que a divina Providência acabava de testemunhar-lhe.
Ao ver o mancebo e
ouvir-lhe as palavras, o rei compreendeu que o acusador tinha sofrido a pena de
fogo, humilhando-se no coração perante Deus, protetor da inocência.
Os que se acham na
impossibilidade de assistir à santa Missa, devem, pelo menos, dizer: "Meu
Deus, deixai-me compartilhar dos frutos preciosos de todas as Missas que se
celebram, hoje, em todo orbe católico. Oxalá, possa eu aproximar-me do altar e
oferecer com o sacerdote, o Cordeiro Imaculado!" - Deus lhes abençoará a boa
vontade e lhes concederá o que pedirem, segundo o grau de sua caridade.
Não é verdadeiramente
consolador para os doentes e pessoas que moram muito longe da igreja, poder,
unindo-se espiritualmente ao santo Sacrifício, participar de seus méritos?
Aproveitemos, pois, todas as ocasiões para pedir aos sacerdotes que se lembrem
de nós no altar do Senhor. É a mais preciosa de todas as lembranças. Eis como
fala um piedoso autor: Tendes grande motivo de felicitar-vos, quando um
sacerdote vos promete seu "Memento" à santa Missa. Deveríeis
recomendar-vos a todos os sacerdotes conhecidos. Deste modo, teríeis, por assim
dizer, outros tantos tesoureiros que vos abrissem a tesouraria de Nosso Senhor
Jesus Cristo.
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