“O OBJECTO DA FÉ PODE TORNAR-SE DE TAL MODO OBSCURO E INCERTO QUE HOJE
SEJA NECESSÁRIO TOLERAR OPINIÕES PELO MENOS CONTRÁRIAS ENTRE SI?”
Alberto
Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral
Escutemos o Papa Pio XI, num
trecho da sua encíclica “Mortalium Animos”, promulgada em 6 de
Janeiro de 1928:
«Acaso poderemos tolerar –
o que seria bastante iníquo – que a Verdade, em especial a revelada, seja
diminuída mediante pactuações? No caso presente, trata-se da verdade revelada
que deve ser defendida.
Se Jesus Cristo enviou os
Apóstolos a todo o mundo, a todos os povos, que deviam ser instruídos na Fé
Evangélica, e para que não errassem em nada, quis que anteriormente lhes fosse
ensinada toda a Verdade pelo Espírito Santo, acaso esta Doutrina dos Apóstolos
faltou inteiramente, ou foi alguma vez perturbada na Santa Igreja, em que o
próprio Deus está presente como Regente e Guardião? Se o nosso Redentor
promulgou claramente o Seu Evangelho, não apenas para os tempos Apostólicos,
mas também para pertencer às futuras épocas, O OBJECTO DA FÉ PODE TORNAR-SE DE
TAL MODO OBSCURO E INCERTO QUE HOJE SEJA NECESSÁRIO TOLERAR OPINIÕES PELO MENOS
CONTRÁRIAS ENTRE SI? SE ISTO FOSSE VERDADE, DEVER-SE-IA IGUALMENTE DIZER QUE O
ESPÍRITO SANTO, QUE DESCEU SOBRE OS APÓSTOLOS, QUE A PERPÉTUA PERMANÊNCIA DELE
NA IGREJA, E TAMBÉM QUE A PRÓPRIA PREGAÇÃO DE CRISTO, JÁ PERDERAM, DESDE MUITOS
SÉCULOS, TODA A EFICÁCIA E UTILIDADE: AFIRMAR ISTO, É SEM DÚVIDA BLASFEMO.
Quando o Filho Unigénito
de Deus ordenou a seus enviados que ensinassem a todos os povos, vinculou então
todos os homens pelo dever de crer nas coisas que lhes fossem anunciadas pelas
“Testemunhas pré-ordenadas por Deus” (At 10,41). Entretanto, um e outro
preceito de Cristo, o de ensinar e o de crer na consecução da Salvação Eterna,
que não podem deixar de ser cumpridos, não poderiam ser entendidos a não ser
que a Igreja propusesse de modo íntegro e claro a Doutrina Evangélica, e que ao
propô-la, fosse imune a qualquer perigo de errar. Afastam-se igualmente do
caminho, os que julgam que o Depósito da Verdade existe realmente na Terra; mas
que é necessário trabalho difícil, com tão longos estudos e disputas para
encontrá-lo e possuí-lo, que a vida dos homens quase não seja suficiente para
tal, como se Deus benigníssimo tivesse falado pelos Profetas e pelo Seu
Unigénito, para que apenas uns poucos, e esses mesmos já avançados em idade,
aprendessem perfeitamente as coisas que por Eles revelou, e não para que
preceituasse uma Doutrina da Fé e de costumes pela qual, em todo o decurso da
sua vida mortal, o homem fosse regido.
Esses pancristãos, que
empenham o seu espírito na união das Igrejas, pareceriam seguir, por certo, o
nobilíssimo conselho da Caridade que deve ser promovido entre os cristãos. Mas
dado que a Caridade se desvia em detrimento da Fé, o que pode ser feito?
Ninguém ignora por certo que o próprio João, o Apóstolo da Caridade, que em seu
Evangelho parece ter manifestado os segredos do Coração Sacratíssimo de Jesus,
e que permanentemente costumava inculcar à memória dos seus o Mandamento novo:
“Amai-vos uns aos outros”; vetou inteiramente até mesmo manter relações com os
que professavam de forma não íntegra e incorrupta a Doutrina de Cristo: “Se
alguém vem a vós e não traz esta Doutrina, não o recebais em casa, nem digais a
ele uma saudação”(IIJo 10). Pelo que, como a Caridade se apoia na Fé íntegra e
sincera, como que em fundamento, então é necessário unir os discípulos de
Cristo pela unidade de Fé, como no vínculo principal.»
Existe um abismo
transcendental e infinito entre a Verdade e Bondade Sobrenatural Revelada, e o
erro e o mal. “Bonum ex integra causa”, isto é: A Verdade e o Bem, para o
serem, só podem ser íntegros, puros, perfeitos.
Deus é o ser infinitamente
perfeito, logo a Verdade, que é a Sua Verdade, só pode conduzir as criaturas ao
seu Criador. A Verdade do Fim ilustra a Verdade dos meios e dos fins
secundários; na alma muito elevada em Graça, a contemplação bem como a operação
moral logra, de alguma forma, unificar e simplificar, mìsticamente, estas três
realidades.
Por necessidade metafísica e
transcendental, a Verdade e o Bem, conhecidos Sobrenaturalmente, não toleram
ser maculados pela menor mancha. Porque, por diminuta, materialmente, que seja
a nódoa, o contraste extremamente profundo com a absolutamente excelsa
dignidade das coisas de Deus, conhecidas sobrenaturalmente, insiste-se,
repercute-se formalmente com extraordinária ampliação e poder destruidor –
TORNA-SE PÉSSIMO. Neste quadro conceptual, desencadeia-se um processo que
termina sempre e invariàvelmente com a total apostasia do sujeito, em
associação com um descomunal aviltamento moral, tanto a nível individual, como
no plano colectivo.
Nas coisas de Deus, na vida
Sobrenatural, o dique, cognitivo e moral, ou se coloca bem a montante, ou o
colapso é certo.
Não vou apresentar o Vaticano
2 como exemplo, em si mesmo, do que acabo de descrever, porque o princípio da
liberdade religiosa, então promulgado, não constitui uma pequena nódoa, MAS JÁ
DE SI MESMO IDENTIFICA E COMPORTA A APOSTASIA. Mas para se chegar ao Vaticano
2, percorreu-se um caminho: Para uns, já membros da maçonaria, a questão nem se
coloca, PORQUE JAMAIS FORAM CATÓLICOS, A NÃO SER, POSSÌVELMENTE, DE BAPTISMO,
toda a sua carreira foi realizada ao serviço da maçonaria, com aparências
cristãs, antes e depois do amaldiçoado concílio. Mas houve uma maioria de
prelados, como tenho referido, que não opugnaram qualquer hostilidade à invasão
modernista, exactamente, PORQUE ACHANDO-SE, HABITUALMENTE, EM PECADO MORTAL,
NÃO DISPUSERAM DA FORÇA SOBRENATURAL PARA ISSO ABSOLUTAMENTE NECESSÁRIA. Como é
que essa maioria de bispos foi conduzida a tal situação? Deixando-se contaminar
com o mal, cedência após cedência, leitura após leitura, sedução após sedução,
permitindo que o Tesouro Sobrenatural da Graça, espelho fidelíssimo da Imagem
de Deus, fosse impenitente e copiosamente deslustrado com o pecado venial
plenamente deliberado. É certo que o pecado venial, mesmo deliberado, não elide
o Hábito da Graça Santificante e da Caridade, dizemos DO HÁBITO, PORQUE O ACTO PRÒPRIAMENTE
DITO DA CARIDADE TORNA-SE FREQUENTEMENTE IMPOSSÍVEL. Tal sucede, porque a alma
fica moralmente enfraquecida, e tanto mais enfraquecida, quanto mais numerosos,
graves e impenitentes forem os pecados veniais. O método da sedução e do
envenenamento espiritual progressivo é sempre tanto mais eficaz quanto menos
percebido.
São Tomás explica que no
pecado mortal a inconsideração da Lei de Deus suprime directamente o a
Finalidade Sobrenatural da vida humana. No pecado venial, o Fim, enquanto tal,
é conservado, EMBORA SE ALONGUEM DESNECESSÀRIAMENTE OS MEIOS A ELE CONDUCENTES.
Assim se compreende como é fácil o trânsito do pecado venial ao pecado mortal.
É necessário que se afirme,
que mesmo num bispo, E ATÉ NUM PAPA, as más leituras, realizadas com fins
puramente lúdicos, SÃO PECADO MORTAL. Evidentemente, sabemos que os Bispos,
integrando a Igreja docente, possuem a estrita obrigação de condenar os maus
livros e deles defender os fiéis. Por isso eu referi “fins lúdicos”. No
exercício das suas funções, os Bispos, e mesmo os fiéis munidos da necessária
autorização do seu Bispo, podem ler tudo o que para tal for necessário. Estou
evidentemente a falar de épocas de vida eclesiástica normal.
É conhecido como a
encíclica “Pascendi”, e restantes medidas vigorosas de São Pio X,
obliteraram a face mais ostensiva do aparelho exterior modernista; mas como a
Santa Madre Igreja, não só não dispunha do apoio do braço secular, mas tinha
todas as laicizadas potências civis contra ela, não logrou extirpar as raízes
da heresia onde quer que esta se manifestasse externamente. Consequentemente, o
modernismo continuou vicejando nas almas, utilizando processos
subliminais para caçar novos adeptos, entre almas em estado de Graça, mas
sobretudo naqueles eclesiásticos e leigos cultos, que por viverem habitualmente
em pecado mortal, poucas ou nenhumas defesas possuíam. E são precisamente esses
desonestíssimos métodos subliminais, ignóbeis mesmo na vida civil, que
permitiam colocar a primeira e discreta nódoa no maravilhoso e objectivamente
infrangível edifício da Fé Católica; porque, como sabemos, as almas em estado
de pecado mortal, e portanto moralmente enlanguescidas, possuem ainda a Fé
informe, que os modernistas pretendem aniquilar, corrompendo-a num processo de
degenerescência e abastardamento cognitivo e moral. Porque, PROCLAME-SE EM
ALTOS BRADOS: TAL PROCESSO DE DEGENERESCÊNCIA E DE SEDUÇÃO, SÓ PODE ATINGIR A
VERDADE E O BEM SOBRENATURAL. LÒGICAMENTE, O ERRO E O MAL, QUAISQUER QUE SEJAM
AS SUAS MODALIDADES, JÁ ESTÃO PRIVADOS DE SER, JÁ ESTÃO, NO MÍNIMO, CHAMUSCADOS
PELO DEMÓNIO. O ISLÃO, O PROTESTANTISMO, NÃO PODEM SOFRER PROCESSO ALGUM DE
CORRUPÇÃO ESSENCIAL, POIS QUE ELES JÁ SÃO CONSECTÁRIOS DE PROCESSOS DE
ADULTERAÇÃO AFINS.
Em síntese: Existiu toda uma
operosidade pré-conciliar, que por discreta e subliminal, não foi menos real.
Possuiu como objectivo semear, na esfera temporal, o Inferno no Céu, não
directamente, mas suscitando uma certa relativização da Verdade e do Bem, ainda
muito moderada, mas suficiente para eliminar a Graça Santificante e a Caridade,
quando existiam, e desencadear um processo de apostasia, a várias velocidades,
mas preparando activamente, sinèrgicamente, a fase final do Vaticano 2, em que,
NO MAIOR CRIME DA HISTÓRIA, seria abertamente proclamado o direito dos homens a
abraçar livremente a religião da sua preferência ou a não professar nenhuma, se
nenhuma lhes agradar. Este, insiste-se, CONSTITUI UM PONTO DE CHEGADA, SÓ
POSSÍVEL, PORQUE A CORRUPÇÃO DO ÓPTIMO FOI PÉSSIMA. Certamente que constituiu
igualmente um ponto de partida: O DA INAUGURAÇÃO FORMAL DA IDADE PÓS-CRISTÃ,
QUE SE SEGUE, IMEDIATAMENTE, À IDADE DO LAICISMO. Os recentes desenvolvimentos
“bergoglianos”nada acrescentam de essencial, apenas explicitam formalmente
todas as consequências dos nefandos princípios enunciados no Vaticano 2.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR
JESUS CRISTO
Lisboa, 31 de Agosto de 2017
Alberto Carlos Rosa Ferreira
das Neves Cabral
Fonte: https://promariana.wordpress.com/2017/10/16/a-corrupcao-do-optimo-e-pessima/
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