“Enquanto a luz do sacrário estiver acesa, sabemos que Alguém nos espera. Não estamos sozinhos. E podemos ajudar, com a graça do Senhor, a salvar os irmãos!” (Dom Manoel Pestana Filho).
Marcos Delson da
Silveira*
No Sermão da montanha, contido no
Evangelho do apóstolo São Mateus, Jesus Cristo fez o seguinte convite aos
ouvintes e a nós também: “Portanto, sede santos, assim como vosso Pai celeste é
santo” (Mt 5, 48). Na linguagem contemporânea, nosso Senhor Jesus Cristo
convida o homem a guardar-se para Deus em todas as ocasiões de sua vida,
convida-o a santificar-se, a separar-se do mundo. Este “separar-se do mundo” constitui-se
em separar-se das coisas mundanas e contaminadas pelo pecado e não literalmente
“sair do mundo”, o que seria algo humanamente impossível, uma vez que o homem é
um ser no mundo.
O homem santo, embora muitos pensem, não é
um homem alienado. É “simplesmente” o homem que vive o que Jesus ensinou e que
professa - com coragem, temperança, justiça e sabedoria - esses ensinamentos em
um determinado espaço e tempo. Comporta-se, aqui na terra, segundo os
ensinamentos de Cristo. O desafio não é viver no “mundo da lua” e ser cristão,
mas sim, viver na Terra, séc. XXI, e ser cristão. Precisamos de pessoas que não
necessitem estar sob um hábito ou uma batina para professar e viver sua fé.
Estar sob um hábito ou uma batina é obrigação dos padres e das freiras. Não
acredito que a atual mentalidade profana que retira os hábitos e as batinas
consiga revigorar o cristianismo. Parece-me a conclusão da história do palhaço,
de Kierkegaard, referida por Bento XVI.
Bastar-nos-ia um
simples apelo ao aggiornamento, uma mera retirada da maquilagem e uma
reformulação em termos de linguagem do mundo ou de um cristianismo arreligioso
para recolocar tudo nos eixos? Bastará uma mudança espiritual ou metafórica de
vestes para que os homens acorram animados e ajudem a apagar o incêndio que o
teólogo afirma estar lavrando com sério perigo para todos? Vejo-me compelido a
afirmar que a teologia de fato desmaquilada e revestida de moderna embalagem
profana, tal como hoje surge em muitos lugares, torna muito simplória essa
esperança. Sem dúvida cumpre reconhecer: quem tenta explicar a fé no meio de
homens mergulhados na vida moderna e imbuídos da moderna mentalidade, de fato
pode ter a impressão de ser um palhaço ou alguém surgido de um antigo
sarcófago, que penetrou no mundo hodierno, revestido de trajes e pensamentos da
antiguidade, incapaz de compreender este mundo e de ser por ele compreendido
(RATZINGER 1970, p. 09).
Em relação aos fieis leigos, precisamos de
mecânicos, de marceneiros, de professores, de engenheiros, de médicos, de enfermeiros,
de sapateiros, de escritores, enfim, de pessoas em todos os locais possíveis
testemunhando o Evangelho de Jesus Cristo. O maior testemunho do cristão
transpõem as palavras e concretiza na própria vida. Cristianismo é testemunho
(Tg. 2, 17).
Neste interim, ser santo, neste mundo que
“jaz no maligno” (1 Jo. 5, 19) é tarefa árdua, por isso a porta é estreita.
Relativizaram a fé Católica, foi inserido na mente dos jovens um apelo
desmedido à pornografia, há grande falta de modéstia dentro das Igrejas, não há
santidade na maioria dos namoros, inúmeros divórcios e adultérios, os crentes
não rezam e quando o fazem é uma oração vazia, sem fé e, portanto, sem
significados. Jesus conhecendo o coração do ser humano deixou os Sacramentos
com a finalidade de possibilitar a santificação do homem. Não existem jovens
santos sem os Sacramentos. Os Sacramentos constituem a porta de entrada para o
Céu. É a Igreja Católica que possui a chave de abertura dessa porta¹: “Eu te
darei a chave do Reino dos céus...” disse Jesus a Pedro (Mt 16,17). É ela que
dispensa os sete Sacramentos para o povo: Batismo, Confirmação, Eucaristia,
Penitência, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio. Nos Sacramentos, Deus
materializa sua graça fazendo-a visível à fragilidade cognitiva do homem. Ali,
Ele está presente nos sinais sacramentais.
Por intermédio dos Sacramentos Deus se
comunica com os homens. Qualquer forma de linguagem é constituída por sinais, e
nos Sacramentos escuta-se o chamado divino reacendendo a esperança vacilante do
pecador. Jesus chama o pecador! Através dos Sacramentos a fé² se renova, e é a
fé que, “dá-nos algo da realidade esperada” (Bento XVI 2008; p. 16).
O Batismo é a porta de entrada para os
demais Sacramentos. Diz o Catecismo da Igreja Católica (2000; p. 340) que “o
santo Batismo é o fundamento de toda vida cristã, a porta da vida no Espírito e
a porta que abre o acesso aos demais Sacramentos. Pelo Batismo somos libertos
do pecado e regenerados como filhos de Deus³, tornamo-nos membros de Cristo,
somos incorporados à Igreja e feitos participantes de sua missão”. Com o
mergulho o catecúmeno, aquele que se instrui para o Batismo, sepulta seu pecado
nas águas e ressuscita para uma nova vida. Fixa com a missão deixada por Cristo
um elo inseparável: toma posse da missão de ir pelo mundo e pregar o Evangelho.
Torna-se membro do corpo místico de Nosso Senhor.
A Igreja Católica, diferente de outras religiões,
tem como tradição o Batismo das crianças4. O Santo Batismo é um dos
Sacramentos da iniciação cristã. O batizado é totalmente limpo dos pecados,
inclusive o pecado original, que é inato: “Eis que nasci na culpa, minha mãe
concebeu-me no pecado” (Sl 50-7). O pecado original é o pecado que faz
referência à desobediência do primeiro homem a Deus: “Por isso, como por um só
homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim a morte passou
para todo o gênero humano, porque todos pecaram... a falta de um só causou a
morte de todos os outros... como pelo pecado de um só a condenação se estendeu
a todos os homens, assim por um único ato de justiça recebem todos os homens a
justificação que dá a vida” (Rm 5, 12, 15 e 18). Pelo pecado de um só homem
todos nos tornamos pecadores. Pela desobediência cometida por Adão, todos os
homens nascem manchados pelo pecado de origem. O Batismo lava o pecado original
e nos conduz a justificação em Cristo Jesus.
O Batismo é o primeiro passo. Contudo, o
cristão torna-se de fato cristão quando tem o encontro com Cristo. Temos um
grande exemplo no apóstolo Paulo. Saulo era um dos maiores perseguidor dos
discípulos de Cristo. Quando pediu autorização para ir a Damasco aprisionar os
cristãos apareceu-lhe uma luz (At 9, 3-9). A luz era o próprio Jesus: “Saulo,
Saulo, por que me persegues?”. Após os acontecimentos posteriores ao encontro
com Cristo, saiu pregando a Boa Nova: “Imediatamente começou a proclamar nas
Sinagogas que Jesus é o Filho de Deus” (At 9, 20). Após convertido ao
cristianismo foi batizado por Ananias e mudou o nome de Saulo para Paulo
(Pequeno).
A Igreja sabe que são recorrentes os casos
em que as pessoas são batizadas quando crianças e se esquecem da fé após
adultos. Mas quando dispersas pelas atrações do mundo tiverem uma oportunidade,
assim como Paulo, de encontrar a Cristo, não poderão ser batizados novamente -
o Batismo é único - mas poderão confirmar o Batismo com outro Sacramento: o Crisma.
No Crisma, confirmação ou imposição das
mãos, aperfeiçoa-se a graça batismal. São aprofundadas as raízes no Espírito e
confirmada à missão do cristão perante a Igreja de ser luz para os povos. “Os
apóstolos que se achavam em Jerusalém, tendo ouvido que a Samaria recebera a
palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João. Estes, assim que chegaram, fizeram
oração pelos novos fiéis, a fim de receberem o Espírito Santo, visto que não
havia descido sobre nenhum deles, visto que tinham sido somente batizados em
nome do Senhor Jesus” (At 8, 14-6). Os fieis de Samaria haviam sido batizados,
mas não haviam sido confirmados pelo Espírito Santo. O Espírito Santo enche o
coração do homem de uma viva coragem ao ponto de martirizar-se. De sorte que é
após a confirmação do Espírito Santo em Pentecostes que os apóstolos se enchem
de coragem e se movem a missão dada por Cristo, a eles e a nós, de ser luz para
os povos (At. 2, 1-13).
A Eucaristia é o pão do céu. É o Maná que
cai no deserto de nossas almas fazendo florir a esperança, a certeza da
salvação. É o sublime Sacramento que infunde em nossas mentes a certeza de que
Deus está conosco. É o próprio Cristo sacramentado. A Eucaristia é responsável
pela vida da Igreja como o cérebro o é pelo organismo. “Tomou em seguida o pão
e depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: ‘Isto é o meu corpo,
que é dado por vós’ (...) Do mesmo modo tomou também o cálice, depois de cear,
dizendo: ‘Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que é derramado por
vós...’ ” (Lc 22, 19-20). O pão e o vinho por meio da consagração se
transubstancializam-se no corpo e no sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Sob
as espécies consagradas do pão e do vinho, Cristo mesmo, vivo e glorioso, está
presente de maneira verdadeira, real e substancial, seu Corpo e seu Sangue, com
sua alma e sua divindade” (2000; p. 390). Com palavras do Concílio de Trento,
“pela consagração do pão e do vinho opera-se a conversão de toda a substância
do pão na substância do corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda substância do
vinho na substância do seu sangue” (2011; p.93-4). Cristo não disse que o pão e
o vinho representavam o seu corpo e o seu sangue, mas disse que é. Ali, Ele se
encontra, se doa, está presente pronto para sacrificar-se, é o mesmo sacrifício
que se realiza em cada santa Missa. É o mesmo ontem, hoje e sempre.
É o próprio Cristo que nos atrai com um
chamado silencioso, um toque sutil no coração: “Eis que estou à porta e bato”
(Apc 3, 20). Ali Ele está e nós nos prostramos diante d’Ele em sinal de
submissão. Ali está o nosso Deus presente substancialmente na hóstia
consagrada. Veja que a presença de Jesus é substancial e não acidental.
Acidentalmente a hóstia é pão, substancialmente é Deus. Come-se o pão
saboreando a razão de nossa existência. Acidentalmente é vinho, substancialmente
é o sangue glorioso de Nosso Senhor. Por isso, quem comer indignamente do corpo
e do sangue de Jesus está comendo e bebendo a própria condenação (I Cor. 11,
27-9).
Na última Ceia,
quando Jesus estava com seus apóstolos, segurou o pão em suas santas mãos e
erguendoo aos céus afirmou que aquilo era o seu corpo. Semelhante fez com o
vinho afirmando que aquilo era o seu sangue. Cristo disse firmemente que era e,
em momento algum, afirmou que simbolizava seu corpo e sangue. E terminou
afirmando para os discípulos que fizessem o mesmo em memória Dele. Quero
enfatizar que “fazer isto em memória” não significa simbolizar um acontecimento
e nem tão pouco refazer o acontecimento. Na santa Missa está sendo realizado o
mesmo sacrifício. Portanto, o sacrifício é um e mesmo e acontece de forma única
em cada celebração Eucarística. Por isto sabemos que a hóstia depois de
consagrada é substancialmente a carne de Cristo. Semelhante o vinho é o sangue
de Jesus Cristo. De novo enfatizo: substancialmente. Aristóteles, filósofo
grego, fez uma distinção entre substância e acidente. O acidente é aparente: A
hóstia é branca, redonda e tem o gosto de pão. A substância é o essencial de
uma coisa, diz a identidade. De sorte que mudando a substância muda-se a
identidade. Por exemplo: quando bebemos água a substância é de água. Quando
vamos ao banheiro urinar não excretamos água, mas urina. Mudou a substância
muda-se a identidade do líquido. Assim, antes da consagração a substância é de
pão. Após a consagração a substância é Cristo. Mudou a substância após a
consagração muda-se a identidade. Mesmo porque seria um ato canibalesco se os
acidentes da hóstia mudassem transformando-se em carne humana (Jornal Visão
Anápolis Ano 2 – Edição 22, de 01 a 20 de julho de 2016). Só um adendo: existem
vários milagres eucarísticos, mas há um milagre em específico em que a hóstia
transformou –se em carne de Cristo e foi consumida.
Infelizmente, em alguns ambientes
religiosos, perderam a dimensão do sagrado. Acredito que há uma espécie de profanação
do Sacramento da Eucarístia. É um absurdo as pessoas receberem Cristo sem o
mínimo de reverência, muitos vão pela fila da comunhão com trajes pagãos5,
muitas Igrejas retiraram os genuflexórios do altar... e pior do que isto:
qualquer sacerdote e mesmo leigo que buscar fazer o que é certo é criticado por
muitos do povo e até mesmo por representantes da Igreja, gerando divisões
doutrinarias.
Jovens, antes da comunhão, se necessário,
procurem de forma sincera e arrependida um padre e confessem os pecados. A
Confissão é indispensável para bem receber a comunhão. Somos pecadores! Por
isso, insisto, para melhor participar do mistério eucarístico, faz-se
necessária a Confissão, tendo como pré-requisito o arrependimento, que gera a
conversão: voltar ao caminho do qual se desviou, reiniciar a estrada estreita.
Para isto é necessário uma Confissão com o proposito de não mais pecar. “Se
cair mil vezes, prepare-se para cair mil e uma”, me disse um Sacerdote uma vez.
Jesus convida o homem constantemente ao arrependimento, à conversão interior.
Convida o homem a se abrir movido pela graça de Deus ao arrependimento. Cristo,
movido pela certeza da inconstância do homem para o bem, confirmou em seus
discípulos a missão de perdoar os pecados: “A paz esteja convosco! Como o Pai
me enviou, assim também eu vos envio a vós (...) Recebei o Espírito Santo...
Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhe-ão perdoados; aqueles a quem os
retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 21-3). Esse Sacramento faz parte
constante da vida do crente, pois todos pecam: “Se dissermos: ‘Não temos
pecados’, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1 Jo 1,8). A
vida do Cristão é um combate árduo, um labor imensurável. A fragilidade humana,
a inclinação ao pecado acompanha o crente diariamente para prová-lo na
caminhada. Os erros são muitos... Na confissão está à chave do recomeço; na
confissão assumimos nossas culpas, nossos pecados, pedindo auxílio da divina
graça para não mais pecar. Falamos para Deus que não somos autossuficientes,
que sem a força do alto não conseguiremos caminhar. Necessitamos de Ti, oh,
Senhor! Segure em nossas mãos. Dai-nos roupas limpas. Quare nossa consciência
com sua luz.
Deus quer nos perdoar! A vontade divina é
que todos nós sejamos salvos, mas para isso Ele precisa da nossa vontade de se
salvar. A adúltera que seria apedrejada pelos escribas e fariseus foi
purificada pelo olhar misericordioso de Jesus. Deus olha de frente a nossa
miséria. É fácil apedrejar, apontar a adúltera, difícil mesmo é a misericórdia
para ler em seus olhos o pedido sincero de perdão, o arrependimento. Nós,
pecadores, somos pessoas que necessitamos de compreensão, de amor. Jesus amou a
adúltera dizendo: “Eu não te condeno, vai e não tornes a pecar” (Jo 8, 11). Eu
te perdoo! É isso que nos diz todos os dias: “Não tornes a pecar!” Basta
lembrarmo-nos do “bom ladrão” arrependido na hora da morte. Talvez, quem sabe,
em uma ocasião, escutou as palavras salvadoras de Jesus, sentindo-se chamado a
seguir esse novo caminho, mas as circunstâncias e o amor à vida, o apego, não
permitiu que o seguisse. Na hora da morte, contemplando a insignificância da
própria existência, se arrependeu profundamente e olhando para Cristo viu um
significado, um motivo pelo qual morrer e se entregou. Jesus tinha palavras de
vida eterna. Veja que na Cruz o malfeitor teve o encontro com Cristo. Foi
tocado pelo arrependimento e obteve a salvação: “ainda hoje estará comigo no
Paraíso” (Lc 23-43). Ele não está dormindo esperando o julgamento, mas naquele
dia glorioso (“ainda hoje”) ele foi ao Paraíso com Jesus. O apóstolo Paulo diz
“... pela ocasião da vinda de nosso Senhor Jesus com todos os seus santos!”.
Eles não estão dormindo, ao contrário, estão bem acordados intercedendo por
nós.
Sei, como legionário, que muitas vezes na
hora da morte (como o ladrão na cruz) ou numa enfermidade, as pessoas estão
atônitas, abertas ou fechadas para receberem a boa nova. Diante a pressão
coercitiva da sociedade não conseguiram parar e refletir sobre o dia a dia. Mas
no hospital, acamados, têm essa grande oportunidade de introspecção. A
enfermidade transforma-se em arrependimento, em salvação. E assim como o ladrão
na cruz, o enfermo diz: “Jesus lembra-te de mim!” (Lc 23, 42). Neste contexto,
a Unção dos enfermos é um sacramento que alivia e salva. “Estive doente e me
visitastes...” (Mt 25,36). Cristo se identifica com o sofredor: “Estive...”. Eu
estou presente no filho que chora! O Sacramento da Unção dos enfermos leva
Cristo, de forma material e espiritual, ao encontro do doente. Sua finalidade é
“conferir uma graça especial ao cristão que está passando pelas dificuldades
inerentes ao estado de enfermidade grave ou velhice” (2000; p. 419). Não é um
milagre que irá curar a doença, é um Sacramento que irá curar a alma, mas em
alguns casos o doente se restabelecerá: “Está alguém enfermo? Chame os
sacerdotes da Igreja, e estes façam orações sobre ele, ungindoo com o óleo em
nome do Senhor... a oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o restabelecerá.
Se ele cometeu pecados ser-lhe-ão perdoados” (Tg. 5, 14-5). Quem recebe a Unção
dos Enfermos e morre, com a graça de Deus, estará no Paraíso sem riscos de ir para
o Inferno ou para o Purgatório. Fazendo um adendo, em relação ao purgatório,
quem lá se encontra será salvo. É um momento de purificação, de passar pelo
fogo. Para fundamentar a doutrina do purgatório temos na Bíblia esse dito do
apóstolo Paulo: “a obra de cada um aparecerá. O dia (do julgamento)
demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho
de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se
pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de
alguma maneira através do fogo” (1 Cor. 3, 13-5).
Voltando aos Sacramentos, outro de
imensurável importância é a Ordem. Jesus Cristo, verdadeiro sacerdote e fonte
de todos, fez da Igreja um reino sacerdotal. Os fiéis leigos constituem o
sacerdócio comum dos fieis realizando-se na vida batismal. Os ministros
ordenados agem, em virtude do sacramento da Ordem, na pessoa de Cristo cabeça
(in persona Christi Capitis). As mulheres não podem receber esse sacramento.
Elas não celebram a Eucarístia. “Como em todas as Igrejas dos santos, as
mulheres estejam caladas nas assembleias: não lhes é permitido falar, mas devem
estar submissas, como também ordena a lei. Se querem aprender alguma coisa,
perguntem-na em casa aos seus maridos, porque é inconveniente a uma mulher
falar na assembleia” (I Cor. 14, 34). As mulheres não podem celebrar a
Eucarístia ou (na versão protestante da missa) a palavra. “...Não permito à
mulher que ensine nem que arrogue autoridade sobre o homem...” (1 Tim. 2,
9-12).
O sacerdócio comum dos fiéis difere do
sacerdócio ministerial. O segundo está a serviço do primeiro. “Dito de outro
modo, há uma igualdade fundamental de todos os fiéis cristão. Todos os fiéis
estão radicalmente capacitados para colaborarem na missão da Igreja, que é a santificação
dos seus membros; estas capacitações radicais recebem-na por meio do Batismo, e
aperfeiçoa-se através da Confirmação. Mas, além disso, há outras funções
sacerdotais, dirigidas primariamente à Eucaristia, e, relacionadas com ela, ao
perdão dos pecados e aos outros sacramentos; estas funções incluem também
pregar com autoridade a Palavra de Deus e dirigir os outros fiéis nas coisas
que se referem ao Reino dos céus. Para todas essas últimas funções são
requeridas uma posterior capacitação radical, diversas das anteriores não já em
grau, mas na essência, e que é concebida pelo caráter próprio que confere o
sacramento da Ordem sagrada” (2011; p. 198-90). Jovem, se percebe na razão o
chamado divino para ser padre se entregue a esse chamado. Perceba que o chamado
não é sentimental, é racional. Participe de um encontro vocacional, entre para
o seminário, estude seriamente6 para receber a ordem. Se Deus lhe
chama seja generoso. Mas você é livre para dizer “não” e seguir a sua vida
conforme as suas vontades. Contudo, lembre-se: é Deus que lhe chama ao
presbiterado.
Os fiéis que fazem parte do sacerdócio
comum, isto é, aqueles que não sentem o chamado ao presbiterado, podem receber
outro Sacramento: o Matrimônio7. Deus chama o homem ao amor
conjugal. “Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe, se unirá à sua mulher, e
eles se tornarão uma só carne” (Gn 2,24). O homem não é um animal qualquer
desprovido de compromissos. O homem e a mulher enquanto imagem e semelhança de
Deus são chamados para a união estável: “O que Deus uniu o homem não deve
separar8” (Mt 19,6). O casamento é para toda a vida9.
Para a sustentação desse Sacramento é indispensável a firme presença de Deus
através de orações e sacrifícios: por consequência do pecado, o vínculo
original de amor entre o homem e a mulher foi rompido por acusações recíprocas
e por desejo de cobiça e dominação. Tanto o homem quanto a mulher, para
cicatrizar as feridas que estão abertas, precisam do auxílio da graça divina:
“Sem essa ajuda o homem e a mulher não podem chegar a realizar a união de suas
vidas para o qual foram criados”. O casamento é sustentado em Deus e por Deus
(CATECISMO 2000; p. 440).
Fazendo uma analogia com o sacerdócio
ministerial, no casamento a casa é uma paróquia; a esposa é o sacrário e os filhos
são o povo que Deus confiou ao homem e a mulher. Como qualquer padre, e esse é
o chamado dele, o homem deverá buscar incessantemente a santidade. Deverá, sem
medo, estar aberto aos filhos que Deus lhe cofiar educando-os na fé em Jesus
Cristo nosso Senhor.
Em relação ao chamado, Deus não pode
obrigar a vontade humana a segui-lo. Veja que Deus pode tudo, mas Ele não se
movimenta contra a sua própria essência. Certa vez perguntaram a um santo:
“Deus pode tudo?” E o santo respondeu: “Sim, Ele pode tudo”. Ao passo que o
rapaz disse: “Se Deus pode tudo, Ele pode criar uma pedra tão grande que não
possa carregar?” Se o santo dissesse que “sim”, Deus não poderia tudo, porque
não poderia carregar a pedra; se o santo dissesse que “não”, Deus não poderia
tudo, porque não poderia criar a pedra. Ao passo que o santo respondeu: “Não,
Ele não pode criar uma pedra tão grande que não possa carregar. A essência de
Deus é de poder tudo e Ele não pode ir contra a sua essência”. Muitas pessoas
ignoram a dimensão de Deus. Ele nos fez livres. Todas as coisas boas que
acontecem é a vontade de Deus, mas o homem, por meio de sua liberdade e
vontade, poderá se desviar da vontade divina e fazer a sua própria vontade.
Isso poderá gerar consequências, que não é a vontade de Deus, mas culpa da
irresponsabilidade humana.
Um rapaz de 18 anos de idade entrou no
carro com mais quatro amigos, nas férias de julho, e foi em direção a uma
pequena cidade de Goiás tomar banho nas cachoeiras. Ao entardecer, ele e os
amigos, sentaramse num pequeno quiosque e começaram a ingerir bebidas
alcoólicas. Com o passar das horas, os cinco rapazes estavam completamente
embriagados. Mesmo sentindo o forte efeito da bebida, resolveram retornar para
a cidade onde residiam. Em meio ao caminho um acidente. Morreram os cinco.
Assim, logo após saber do acontecido, um
amigo da família foi ao velório e chegando ao local encontrou uma cena triste:
cinco caixões e cinco famílias em lágrimas. A mãe, de um dos cinco, ao
avistá-lo correu em sua direção e o abraçou. Obviamente, sem muitas palavras
diante de tamanha tragédia, falou: “Eu sinto muito”. Após cinco minutos de
abraços e lágrimas, aquela senhora o olhou nos olhos e disse: “Foi Deus quem
quis. Tudo o que acontece em nossas vidas é a vontade de Deus”. Ele, pela amizade
que tinha com a família, ficou em silêncio.
Aquele homem sabia que a tragédia não
refletia a vontade de Deus, mas que direito ele tinha de dizer algo? O homem é
livre e, por isso, responsável pelos seus atos. Quem escolheu entrar no carro
com os amigos e viajar não foi Deus; Quem escolheu banhar nas cachoeiras não
foi Deus; Quem escolheu se embriagar não foi Deus; Quem escolheu dirigir o
carro bêbado não foi Deus; logo, o acidente não reflete a vontade de Deus. O
acidente tem um culpado: o irresponsável, que mesmo bêbado, dirigia o carro.
Não estamos vivendo uma história que está escrita nos livros da biblioteca
divina. Nós estamos criando nossas histórias. Somos responsáveis pelos nossos
atos. Não podemos pensar como seres determinados a algo. Se pensarmos que tudo
é a vontade de Deus perderemos a fé ao observar crianças assassinadas, mulheres
estupradas, roubos, miséria, fome. Deus não criou o mal, tudo que Deus fez é
bom. Deus só faz o bem e convida o homem ao mesmo caminho. Contudo, muitas
vezes, o homem opta por fazer o mal. Infelizmente, em relação a isso, Deus não
pode fazer nada, justamente porque somos livres. Deus nos criou e nos quer
livres. Disse o apóstolo Paulo: “tudo posso, mas nem tudo me convém” (1 Cor. 6,
12). De fato, tudo posso: posso escolher viajar, me embriagar e dirigir, mas
não devo fazer isso, porque “nem tudo me convém”. Tem coisas que eu posso, mas
não devo fazer. Infelizmente essa tragédia reflete a irresponsabilidade, o
descaso do motorista com a vida dele e de outras pessoas que estavam sobre sua
tutela. O maior mal que o homem faz é quando deixa de fazer o bem que está ao
seu alcance.
* Licenciado em Filosofia; pós-graduado em
Docência Universitária (Católica); Filosofia do Direito (Moderna); Direitos
Humanos da Criança e do Adolescente (UFG); Filosofia Clínica (Católica) e
pós-graduando em Arte-Educação Intermidiática Digital (UFG). Possui Curso
Complementar Superior em Gestão de Segurança. e colaborador do blog Salve
Regina!.
BIBLIOGRAFIA
BENTO XVI. Spes Salvi. São Paulo: Ed. Paulinas, 3ª ed., 2008
Bíblia
Sagrada.
São Paulo: Ed. Ave Maria, 56ª ed., 2005
BRASIL, C. Constituição da República
Federativa do Brasil. Brasília-DF: Senado federal, 1998.
PAULO II, João. Catecismo da Igreja católica. São Paulo: Ed. Loyola, 2000
RATZINGER, Joseph. A Infância de Jesus. São Paulo: Planeta, 2012, p. 30
______. Introdução ao cristianismo: Preleções sobre o Símbolo Apostólico.
São Paulo: Herder, 1970 Jornal Visão Anápolis Ano 2 – Edição 22, de 01 a 20 de
julho de 2016
NOTAS
1 Sei
que é difícil falar de religião e, às vezes, até de Deus na sociedade de hoje.
De religião devida à hipocrisia do meio religioso: uma pobreza que vive no
luxo; uma castidade revolta em masturbação, homossexualismo e promiscuidade; e
uma obediência que segue as próprias vontades e não a vontade de Deus. Mas
também sabemos que não são todos os religiosos (o povo de Deus) que vivem nesse
mar de desonestidade. Para esses que ainda se conservam santos grandes coisas
Deus tem preparado (1 Cor. 2,9). Vivemos um momento de escândalos na Igreja de
Deus, de fuga de princípios. Mas para aqueles que permanecem firmes na Palavra
de Deus, seguindo sua sã doutrina, o Pai celeste preparou “coisas que os olhos
não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou” (Is 64,4). É
imensurável a felicidade que os aguarda.
2 A
fé “Trata-se de uma opção que considera o invisível, o absolutamente incapaz de
alcançar o campo visual, não como o irreal, mas, pelo contrário, como o real
propriamente dito, que representa o fundamento e a possibilidade da restante
realidade (...) fé significa o decidir-se por um ponto no âmago da existência
humana, o qual é incapaz de ser alimentado e sustentado pelo que é visível e
tangível, mas que toca a orla do invisível de modo a torná-lo tangível e a
revelar-se como uma necessidade para a existência humana” (RATZINGER 1970, p.
15).
3
“Todos os que fomos batizados em Jesus Cristo... fomos sepultados com ele na
sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória
do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova” (Rm 6, 3-4). Mergulhado na água
o cristão é sepultado com Cristo; ao sair da água ressuscita para uma nova
vida.
4
Lídia foi batizada juntamente com sua família (At 16, 14-5); Foi batizado o
carcereiro e toda a sua família após anunciada a palavra de Deus (At 16,
24-33). Toda a família indica a existência de crianças?
5
“Do mesmo modo, quero que as mulheres usem traje honesto, ataviando-se com
modéstia e sobriedade. Seus enfeites consistam não em primorosos penteados,
ouro, pérolas, vestidos de luxo, e sim em boas obras, como convém as mulheres
que professam a piedade. A mulher ouça a instrução em silêncio... não permito à
mulher que ensine nem que arrogue autoridade sobre o homem...” (1 Tim. 2, 9-
12).
6
Não faça como alguns que enxergam na condição de padre um status social de
glamour ou que entram no seminário para esconder os seus vícios. Não estudam
corretamente e não possuem, por desleixo, o mínimo prepara intelectual
necessário para ir em direção ao povo. Onde não há seriedade e compromisso, não
há Cristo. A graça divina vai ao encontro do coração sincero.
7
Ler 1 Pedro 3.
8 A
visão profana de divórcio que circula a sociedade não é de cunho judaico-cristão,
é de cunho marxista. “Aos casados mando (não eu, mas o Senhor) que a mulher não
se separe do marido. E, se ela estiver separada, que fique sem se casar, ou que
se reconcilie com seu marido. Igualmente o marido não repudie sua mulher” (I Cor.
7, 10). O casamento é para toda a vida, não existe separação. Ver também a esse
respeito Mateus (5, 32; 19,9) e Marcos (10,11).
9 “A
mulher está ligada ao marido enquanto ele viver. Mas, se morrer o marido, ela
fica livre e poderá casar-se com quem quiser...” (I Cor. 7, 39).
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