Seja por sempre e em todas partes conhecido, adorado, bendito, amado, servido e glorificado o diviníssimo Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria.
Nota do blog Salve Regina: “Nós aderimos de todo o coração e com toda a nossa alma à Roma católica, guardiã da fé católica e das tradições necessárias para a manutenção dessa fé, à Roma eterna, mestra de sabedoria e de verdade.
Pelo contrário, negamo-nos e sempre nos temos negado a seguir a Roma de tendência neomodernista e neoprotestante que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II, e depois do Concílio em todas as reformas que dele surgiram.” Mons. Marcel Lefebvre
Pax Domini sit semper tecum
Item 4º do Juramento Anti-modernista São PIO X: "Eu sinceramente mantenho que a Doutrina da Fé nos foi trazida desde os Apóstolos pelos Padres ortodoxos com exatamente o mesmo significado e sempre com o mesmo propósito. Assim sendo, eu rejeito inteiramente a falsa representação herética de que os dogmas evoluem e se modificam de um significado para outro diferente do que a Igreja antes manteve. Condeno também todo erro segundo o qual, no lugar do divino Depósito que foi confiado à esposa de Cristo para que ela o guardasse, há apenas uma invenção filosófica ou produto de consciência humana que foi gradualmente desenvolvida pelo esforço humano e continuará a se desenvolver indefinidamente"- JURAMENTO ANTI-MODERNISTA
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“Eu conservo a MISSA TRADICIONAL, aquela que foi codificada, não fabricada, por São Pio V no século XVI, conforme um costume multissecular. Eu recuso, portanto, o ORDO MISSAE de Paulo VI”. - Declaração doPe. Camel.
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“Ao negar a celebração da Missa Tradicional ou ao obstruir e a discriminar, comportam-se como um administrador infiel e caprichoso que, contrariamente às instruções do pai da casa - tem a despensa trancada ou como uma madrasta má que dá às crianças uma dose deficiente. É possível que esses clérigos tenham medo do grande poder da verdade que irradia da celebração da Missa Tradicional. Pode comparar-se a Missa Tradicional a um leão: soltem-no e ele defender-se-á sozinho”. - D. Athanasius Schneider
"Os inimigos declarados de Deus e da Igreja devem ser difamados tanto quanto se possa (desde que não se falte à verdade), sendo obra de caridade gritar: Eis o lobo!, quando está entre o rebanho, ou em qualquer lugar onde seja encontrado".- São Francisco de Sales
“E eu lhes digo que o protestantismo não é cristianismo puro, nem cristianismo de espécie alguma; é pseudocristianismo, um cristianismo falso. Nem sequer tem os protestantes direito de se chamarem cristãos”. - Padre Amando Adriano Lochu
"MALDITOS os cristãos que suportam sem indignação que seu adorável SALVADOR seja posto lado a lado com Buda e Maomé em não sei que panteão de falsos deuses". - Padre Emmanuel
“O conteúdo das publicações são de inteira responsabilidade de seus autores indicados nas matérias ou nas citações das referidas fontes de origem, não significando, pelos administradores do blog, a inteira adesão das ideias expressas.”
13/10/2017
O milagre do sol
“Os pecados que levam mais
almas para o Inferno, são os pecados da carne. Hão de vir umas modas que vão
ofender muito a NOSSO SENHOR. As pessoas que servem a DEUS não devem andar com
a moda. A Igreja não tem modas. NOSSO SENHOR é sempre o mesmo. Os pecados do
mundo são muito grandes”
De um modo geral, os livros e a
mídia mencionam "O Milagre do Sol" muito superficialmente,
às vezes de modo incompleto e bastante resumido, sem destacar o colorido e o
esplendor do acontecimento, e com esse procedimento, proporcionam uma ideia
extremamente modesta que não realça o valor da ação de DEUS. Todavia, na realidade
foi uma ocorrência única, deslumbrante e admirável, que impressionou a todas as
pessoas. Por essa razão, decidimos buscar na origem as informações do fato, a
fim de apresentar integralmente uma correta e minuciosa descrição do fenômeno
utilizado pelo CRIADOR para atestar de maneira veemente e definitiva, a vinda
de NOSSA SENHORA à Fátima e também, com a finalidade de autenticar e colocar em
realce, o conteúdo da Missão da Divina Mãe.
Já haviam decorrido as duas
primeiras aparições de NOSSA SENHORA em Fátima, quando Lúcia, no dia 13 de
Julho de 1917 dirigiu à SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA este pedido:
- “Queria pedir-LHE para nos
dizer quem é, para fazer um milagre com que todos acreditem que Vossemecê nos
aparece.”
NOSSA SENHORA respondeu:
- “Continuem a vir aqui todos os
meses. Em Outubro direi quem sou o que quero e farei um Milagre que todos hão
de ver, para acreditar.”
O Milagre é Obra Divina e somente
ele, é que coloca o sinete de DEUS nos acontecimentos, para provar a sua
veracidade.
Dessa forma, a Missão de NOSSA
SENHORA foi plenamente confirmada com a realização do Milagre do Sol, no dia 13
de Outubro de 1917. Ele foi anunciado com 92 dias de antecedência, a fim de que
uma maioria de pessoas soubessem da profecia e se interessassem em conferir a
realidade.
No dia e à hora anunciada,
aconteceu o fenômeno nunca visto antes, presenciado e testemunhado por milhares
de pessoas estarrecidas e maravilhadas com sua grandeza e inconfundível beleza.
Também foi testemunha o
jornalista Avelino de Almeida, que fora enviado pelo diário “O Século”,
para relatar as ocorrências daquele dia, na Cova da Iria. Assim, com os seus
próprios olhos viu “as coisas espantosas” e nesse jornal diário, no
dia 15 de Outubro, sob o título: “Como o Sol bailou ao meio dia em Fátima” descreveu
todos os fatos deslumbrantes e memoráveis que teve a felicidade de presenciar.
Naquele dia começou a chover às
11 horas e na hora marcada chovia torrencialmente! Mas a multidão de 70.000
pessoas esperou pacientemente durante 4 horas a chegada dos Pastorzinhos. O
terrível temporal molhou as roupas, o corpo e até os ossos de todos que estavam
lá, deixando poças por todos os lados com uma espessura de até 10 centímetros
de água, além de estar soprando um vento úmido, incômodo e muito frio. O
Milagre fora marcado para as 12 horas. E exatamente à essa hora, as nuvens
escuras carregadas de água de repente desmancharam-se no firmamento.
Apareceu em Fátima um maravilhoso
arco-íris ao meio dia, muito embora pela posição do sol, os arco-íris somente
acontecem pela manhã ou a tarde. Contudo ali estava um arco-íris especial e
suas cores brilhavam com uma intensidade cem vezes superior a cor dos arco-íris
normais, formando ao invés de um arco abobadado como habitualmente, formou uma
grande faixa perpendicular com 12 metros de altura que cobriu homens, muros e
árvores. A multidão pareceu ver por cima o céu azul, mas era apenas uma ilusão
de ótica. Porque na realidade, as pessoas olhavam não para o sol planetário,
atrelado a sua órbita, mas para um disco na mesma dimensão do sol, que parecia
dourado a uns observadores, prateado a outros, ou ainda na cor de salmão, ou
também, como se fosse um disco multicolorido que mudava a sua cor. Entretanto,
o que espantava não era o disco, mas sim a faixa circular de luz ao redor dele,
que crescia rapidamente de luminosidade e derramava o seu admirável brilho
sobre a multidão, sem cegar os olhos, envolvendo todos os presentes numa luz
difusa, como se fosse uma meia sombra sem, contudo, projetar uma imagem de
sombra em qualquer direção!
O disco começou a girar neste mar
de luz celestial, imprimindo cada vez mais velocidade, aumentando o seu
movimento de rotação, projetando feixes de luzes coloridas em todas as
direções, que encantava a todos os observadores. Acontecimento lindo que
fascinava e fazia lembrar as "rodinhas" (fogos de
artifício), mas muito mais intenso e mais fantástico! E assim permaneceu
durante 2 minutos. Depois parou. Fez uma pausa cerca de 1 minuto e logo
recomeçou num segundo ato, mais vibrante e de uma maneira diferente da
anterior. Sob o intenso campo luminoso do céu, o disco passou a se movimentar
mudando continuamente de posição e também mudando de cor: dourado, prateado,
azul, vermelho, amarelo canário, verde, etc., proporcionando a impressão mais
bonita e surpreendente. Agora o disco começou a dar pulos, eram saltos
triangulares com tão grande agilidade que imitava um ritmo, ou talvez uma dança
popular. A seguir, depois de mostrar uma agitação oscilatória fez uma nova
pausa. Assim permaneceu por mais 1 minuto e logo, recomeçou de modo
impressionante o terceiro ato. O disco como um foguete, num aumento crescente
de velocidade, se projetou em direção a terra sobre a multidão, como se fosse
massacrar o povo, e de repente, evitando a colisão, parou próximo ao solo, que
de tão perto dir-se-ia poder alcança-lo com as mãos, e retornou velozmente.
Agora, mudando a sua trajetória, fazendo aquele movimento de zigzag em direção
ao verdadeiro sol planetário, que por fim o absorveu, ou seja, ficaram
superpostos, aparecendo só o disco solar que rompeu as nuvens mais altas com a
força de seu brilho e iluminou toda a multidão. As muitas nuvens que existiam
dispostas no espaço a milhares de metros de distância uma das outras, foram
movidas com precisão sensacional e de tal maneira sobrepostas, que o sol
verdadeiro perdeu o brilho e nenhuma das 70.000 pessoas que presenciavam o
fenômeno, sofreu danos na retina ocular. Neste momento veio uma onda de calor e
de repente, todas as roupas molhadas secaram-se numa fração de tempo e a água
das poças e dos charcos evaporou-se. Em menos de 2 minutos a água pantanosa e a
lama fria transformaram-se em suave beleza campestre! Essa onda de calor foi
sentida agradavelmente por algumas pessoas e por outras nem sequer foi notada.
Quando terminou aquela notável apresentação tudo estava completamente seco.
Muitos estavam profundamente
comovidos. Rezavam em voz alta, pediam a DEUS o perdão de seus pecados. Contudo
é importante ressaltar, que a extraordinária dança do disco solar não
constituiu uma ameaça e nem trouxe terror em nenhum momento, mas trouxe sim, um
estimulo vigoroso que convidava todas as pessoas a viverem com alegria e a
cultivarem a fé com atenção, devoção e um fervoroso ardor.
O Milagre teve a duração de 12 minutos.
Na realidade, naquele dia estava
acontecendo dois Milagres, ou melhor, um Milagre dentro do outro. Depois que
NOSSA SENHORA se despediu, enquanto a multidão apreciava os fenômenos
extraordinários com as manifestações mais impressionantes e surpreendentes do
disco solar, e também se admiravam com a atuação da chuva, do vento e daquele
maravilhoso festival de cores, os três Pastorzinhos receberam visitas
inesquecíveis. Vamos acompanhar as palavras da Irmã Lúcia. Ela descreve em sua
Quarta Memória as ocorrências do dia 13 de Outubro de 1917.
"Saímos de casa bastante
cedo, contando com as demoras do caminho (as pessoas que se aproximavam,
faziam pedidos, queriam orações ou narravam alguma ocorrência).O povo era em
massa. A chuva, torrencial. Minha mãe, temendo que fosse aquele o último dia da
minha vida, com o coração retalhado pela incerteza do que iria acontecer, quis
acompanhar-me. Pelo caminho, as mesmas cenas do mês passado, mais numerosas e
comovedoras. Nem a lamaceira dos caminhos impedia essa gente de se ajoelhar na
atitude mais humilde e suplicante. Chegados à Cova da Iria, junto da
carrasqueira, levada por um movimento interior, pedi ao povo que fechasse os
guarda-chuvas para rezarmos o Terço. Pouco depois, vimos o reflexo da luz
e, em seguida, NOSSA SENHORA apareceu sobre a carrasqueira.
- “Que é que Vossemecê
quer?” foi a pergunta de Lúcia.
-"Quero dizer-te que façam
aqui uma Capela em Minha honra, que Sou a SENHORA DO ROSÁRIO, que continuem
sempre a rezar o Terço todos os dias. A guerra (1ª Guerra Mundial) vai
acabar e os militares voltarão em breve para suas casas."
- "Eu tinha muitas coisas
para LHE pedir: se curava uns doentes e se convertia uns pecadores, etc."
- "Uns, sim; outros não. É
preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados."
E tomando um aspecto com as
feições mais triste, ELA disse:
- “Não ofendam mais a DEUS
NOSSO SENHOR que já está muito ofendido!”
Descreveu a Irmã Lúcia: "E
abrindo as mãos, projetou feixes de luz que refletiram no Sol. E enquanto se
elevava da azinheira para o Céu, continuava o reflexo da Sua própria luz a
projetar-se no Sol.”
Lúcia emocionada gritou: "Olhem,
olhem para o Sol". Depois ela explicou: "O meu fim não era
chamar para si a atenção do povo, pois que nem sequer me dava conta da sua
própria presença. Fi-lo apenas levada por um movimento interior que a isso me
impeliu."
Naquele exato momento "as
nuvens desapareceram num instante, a chuva terminou e apareceu o sol que tinha
uma cor prateada e não cegava". E então, começaram as duas manifestações
sobrenaturais distintas: a dos Pastorzinhos e aquela da multidão que foi
apresentada acima.
Lucia continua a descrever:
-"Desaparecida NOSSA SENHORA
na imensa distância do firmamento, vimos, ao lado do Sol, São José com o Menino
JESUS e NOSSA SENHORA vestida de branco, com um manto azul. São José com o
Menino JESUS pareciam abençoar o Mundo com uns gestos que faziam com a mão em
forma de cruz. Pouco depois, desvanecida esta aparição, vi NOSSO SENHOR e NOSSA
SENHORA que me dava a ideia de ser NOSSA SENHORA DAS DORES. NOSSO SENHOR
parecia abençoar o Mundo da mesma forma que São José. Desvaneceu-se esta
aparição e pareceu-me ver ainda NOSSA SENHORA em forma semelhante a NOSSA
SENHORA DO CARMO."
Esta extraordinária manifestação
sobrenatural, representa mais um supremo esforço do Amor de DEUS, objetivando
acordar a humanidade do torpor do pecado, atraindo todos os seus filhos à conhecerem
a Verdade Cristã e a se dedicarem com entusiasmo e devoção, ao estabelecimento
de uma sincera e permanente amizade com o SENHOR, procurando cultivar em
plenitude, o direito, a justiça e o amor fraterno. A grandeza do acontecimento,
testemunha a dimensão infinita do poder Divino e coloca na mente e no coração
da humanidade, a imensidão da felicidade que a amizade e o amor de DEUS
proporcionam a todos os seus filhos, que buscam a sua tão querida e eficaz
proteção.
OS TRES PEQUENOS PASTORES
Aljustrel é uma pequena
localidade próximo a Fátima, onde vivem poucas famílias. Entre elas
residiam as famílias "Dos Santos" e "Marto" ,
que eram parentes. Maria dos Santos teve sete filhos sendo Lúcia de Jesus
(22/03/1907) a última. Sua parenta Olímpia, esposa de Manuel Pedro Marto, eram
os pais de Francisco (11/03/1908) e Jacinta (10/03/1910). Olímpia era irmã do
pai de Lúcia, em consequência Lúcia, Francisco e Jacinta eram primos.
Muitos anos mais tarde, em carta
escrita ao Bispo de Leiria, Lúcia descreve com pormenores comovedores a sua
infância feliz. Sendo a filha mais nova foi muito mimada pelas irmãs mais
velhas e era sempre lembrada nas brincadeiras, nos passeios e nas festas.
Também se recorda com muita ternura e alegria do dia em que fez a primeira comunhão.
Descreve assim: "Já vestida com o meu vestido branco, a minha irmã
Maria levou-me à cozinha para pedir perdão aos meus pais, para lhes beijar a
mão e lhes pedir a benção. Ao terminar esta cerimônia, a mãe fez-me as últimas
recomendações. Disse-me o que eu devia pedir a NOSSO SENHOR, quando ELE
estivesse dentro de meu peito e deixou-me com estas palavras: Sobretudo pede a
NOSSO SENHOR que faça de ti uma Santa. Estas palavras ficaram gravadas de forma
inesquecível no meu coração e foram as primeiras que eu disse a NOSSO SENHOR
depois de o ter recebido".
A amizade com os primos Francisco
e Jacinta cresceu quando eles foram juntos apascentar as ovelhas. Francisco era
um menino tranquilo e um pouco calado. Só falava o absolutamente necessário,
assim mesmo, depois de muita insistência. Gostava da solidão e só participava
dos jogos quando era convidado. Gostava de tocar pífaro, de cantar e também
tinha prazer em admirar a natureza. Sempre dava de comer as aves, brincava com
os lagartos e as cobras pequenas, aos quais dava o leite das ovelhas. Jacinta
tinha o gênio completamente diferente do irmão: era sensível e cuidadosa, era
muito viva, esperta e teimosa, mas era também muito delicada e gentil. Ela
também gostava dos animais, sempre brincava com os cordeirinhos e as vezes
levava um para casa nas costas, para o animal não se cansar.
Durante as Aparições do Anjo,
eles tiveram a oportunidade de sentir a magnitude do delicioso prazer de estar
diante do sobrenatural, embora fosse apenas o prelúdio do extraordinário evento
que estava para acontecer. Foi como se a visita do Anjo, fosse um meio de
prepara-los, para o incomparável evento da suprema visita da MÃE DE DEUS.
Quando NOSSA SENHORA os visitou,
transformou os seus dias numa felicidade sem limites. Foram inundados pela
imensidão do Amor de DEUS e suas vidas se transformou numa doce e terna
preocupação de querer retribuir, para agradar muito mais a DEUS e a VIRGEM
MARIA. Rezavam com fervor, flagelavam o corpo e se submetiam a duras e difíceis
penitencias, por iniciativa própria, objetivando consolar e desagravar o
Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria, por causa de todas as
blasfêmias, das maldades, das injúrias e de todos os pecados cometidos contra
eles.
Mas também foi naquele período
que eles viveram momentos de intensa angústia e aflições. À medida que os fatos
se tornavam do conhecimento público, muita gente levada pelo despeito e pela
inveja criticavam e zombavam deles, pois imaginavam que era mentira ou
brincadeira de mal gosto das crianças. Os seus próprios pais e irmãos,
inicialmente não acreditavam no que os filhos diziam e não lhes davam a mínima
importância. Com a sucessão dos acontecimentos e a continuidade das Aparições
foi que começaram a acreditar. O povo passou a acompanhá-los nos "encontros
com NOSSA SENHORA", a princípio timidamente, somente movidos pela
curiosidade, embora algumas pessoas ficassem impressionadas com a simplicidade
e a espontaneidade daquelas crianças tão pequenas e com um comportamento tão
adulto, e por isso mesmo, decidiram acreditar. Porque também elas começaram a
perceber os fenômenos que aconteciam na natureza, quando a MÃE DE DEUS
conversava com as crianças: o sol perdia o brilho e podia-se ver a lua e as
estrelas; uma cor amarelada envolvia toda a atmosfera; uma pequena nuvem
envolvia a azinheira onde estava a VIRGEM MARIA e os videntes; e também, caía
do Céu uma chuva de flocos de neve que não chegava a tocar o chão, mas se
desfazia a certa altura. Mas, as autoridades, pelo contrário, não estavam
satisfeitas com aquela aglomeração e movimentação de pessoas na Cova da Iria e
por isso, tentaram por diversos modos proibir a frequência do povo. Como nada
conseguiram, decidiram pressionar as crianças: primeiro com interrogatórios
forçados e depois com ameaças, chegando ao absurdo de prendê-los na cadeia
municipal, numa cela junto com malfeitores.
Depois das Aparições, a vida dos
três priminhos resumiu-se no ascendente propósito de intensificar as suas
orações, penitências e jejuns, suplicando pela conversão dos pecadores, para
consolar o Coração do SENHOR DEUS.
Por ordem de seus pais, somente a
Lúcia continuou pastoreando o rebanho de ovelhas, até uma certa época, quando
decidiu ir para o Convento. A Jacinta e o Francisco ficaram com a tarefa de
atender as pessoas que os procuravam, respondendo todas as perguntas que faziam
sobre as Aparições. Mas frequentemente eles desapareciam, sem que ninguém os
pudesse encontrar. É possível que fossem para a gruta do Monte Cabeço e em
companhia de Lúcia, ficassem rezando o Terço, a Oração do Anjo e fazendo
sacrifícios que só NOSSO SENHOR conhece. Quando frequentavam a escola,
aproveitavam a proximidade da Igreja, para visitar JESUS Sacramentado. Jacinta
queria falar e passar muito tempo ao lado de "JESUS escondido".
Francisco também, até faltava as aulas e permanecia na Igreja, ao lado de "JESUS
escondido".
No dia 23 de Dezembro de 1918,
Francisco e Jacinta foram atacados por uma epidemia de broncopneumonia que
tinha se alastrado por toda a Europa e adoeceram gravemente. O caso do Francisco
foi mais complicado e o organismo dele não resistiu. Recebeu a Primeira
Comunhão Eucarística com "grande lucidez e piedade" e ficou
radiante de felicidade. Disse para a Jacinta:
- "Hoje sou mais feliz do
que tu, porque tenho dentro de meu peito "JESUS escondido".
Faleceu no dia seguinte,
sexta-feira, dia 4 de Abril de 1919, às 22 horas, com o rosto iluminado por um
sorriso angélico, sem agonia e nem dores.
Lúcia e Jacinta sentiram muito a
morte dele, principalmente a irmãzinha, por estar com o organismo
enfraquecido pela pneumonia. Nas semanas seguintes, Jacinta contraiu uma
pleurisia purulenta, seguida de outras complicações, que por conselho médico,
foi levada para o Hospital de Vila Nova de Ourém. Muito pouco resolveu a
internação, voltou para casa com uma ferida aberta no peito, à qual devia fazer
curativos diários, e por causa dela sofria muito. Guardava silêncio, não queria
demonstrar o seu sofrimento, porque oferecia todas as suas dores pelos
pecadores, para reparar o Coração Imaculado de Maria, por amor a JESUS e pelo
Santo Padre. Viajou para Lisboa com a mãe, por insistência do Dr. Eurico
Lisboa, que visitava Aljustrel em meados de Janeiro de 1920, porque viu que ela
necessitava de um tratamento mais especializado.
Na capital portuguesa, pelo fato
de seu estado de saúde ser extremamente grave, foi rejeitada por diversas Casas
de Saúde e só encontrou hospedagem na pobreza do Orfanato de NOSSA SENHORA DOS
MILAGRES, na rua da Estrela, 17. Conta a Irmã Superiora, Madre Maria da
Purificação Godinho, que imediatamente reconheceu nela o extraordinário tesouro
que o Céu havia colocado em suas mãos. Sua paciência, o notável espírito de
oração e sua obediência, aliadas a uma inocência belíssima e a uma modéstia
nata, influiu diretamente no comportamento das outras crianças.
Recebia a Sagrada Comunhão
diariamente e sentia-se feliz de viver embaixo do mesmo teto onde estava JESUS
Sacramentado.
Por mais de uma vez recebeu a
visita de NOSSA SENHORA. Como não tinha mais a Lúcia e o Francisco para
confidenciar-lhes os seus segredos, escolheu a Madre Godinho, a quem chamava de
Madrinha. Dentre as muitas anotações feitas pela Madre das conversas da Jacinta
com nossa MÃE SANTÍSSIMA, relacionamos o seguinte:
"Os pecados que levam mais
almas para o Inferno, são os pecados da carne. Hão de vir umas modas que vão
ofender muito a NOSSO SENHOR. As pessoas que servem a DEUS não devem andar com
a moda. A Igreja não tem modas. NOSSO SENHOR é sempre o mesmo. Os pecados do
mundo são muito grandes. As guerras são castigos por causa dos pecados do
mundo. NOSSA SENHORA já não consegue sustar o braço de seu FILHO sobre o mundo.
É preciso fazer penitência."
No dia 2 de Fevereiro de 1920,
depois de se confessar e comungar, foi dizer adeus a "JESUS
escondido" no sacrário da pequena Igreja do Orfanato, porque
despedia-se da Casa de NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, para ser internada no
Hospital D. Estefânia, para ser operada.
A operação não deu resultado. Na
sexta-feira, dia 20 de Fevereiro, pediu os últimos Sacramentos, porque
sentia-se muito mal. As 22horas e 30minutos deste dia NOSSA SENHORA veio
buscá-la para o Céu. Jacinta morreu com muita paz, assistida apenas por uma
enfermeira.
Lúcia ficou muito triste quando
soube do acontecimento, principalmente porque estava muito longe e não pode acompanhar
a doença da Jacinta e consolar os seus sofrimentos.
A Jacinta e o Francisco foram
beatificados pelo Papa João Paulo II em cerimônia solene no Santuário de
Fátima no dia 13 de Maio de 2000.
Agora, Lúcia estava só sem os
seus queridos priminhos. Conforme tinha anunciado NOSSA SENHORA, ela ainda
ficaria algum tempo aqui para divulgar e propagar a devoção ao Imaculado
Coração de Maria. Lúcia viveu uma existência de labor, fazia o trabalho de casa
e ajudava a mãe nas arrumações e na costura. Mas em virtude de sua
popularidade, por causa das Aparições, todos queriam vê-la, conversar com ela,
pedir orações e inclusive, queria que ela pegasse em determinados objetos os
quais depois eram zelosamente guardados pelos possuidores como recordação.
Visitantes apareciam em quantidade e até vinham em peregrinação com o objetivo
de estar com ela. Ela não se acostumava com aquela evidência, e também, com
aquelas constantes solicitações, porque representava um sacrifício monstruoso,
muito além de seu limite pessoal. Por isso, as vezes entristecia e não poucas
vezes, chorava às escondidas. Permaneceu nesta "roda viva", em
companhia dos pais e irmãos, até maio de 1920.
Em 17 de Maio foi admitida no
Asilo de Vilar, na cidade do Porto, dirigido pelas irmãs religiosas de Santa
Dorotéia, onde ouviu a voz de NOSSO SENHOR que a chamou para a vida religiosa.
Foi para Tuy na Espanha e a 2 de Outubro de 1926, entrou no noviciado do
Instituto das Irmãs de Santa Dorotéia. Com o hábito da irmandade, recebeu o
nome de Maria Lúcia das Dores e foi destinada aos trabalhos domésticos. Fez a
profissão religiosa dos votos temporários a 3 de Outubro de 1928 e seis anos
depois, em 3 de Outubro de 1934, fez os votos perpétuos.
Com a eclosão da revolução
espanhola em 1936, ela com outras irmãs, foram transferidas para o Colégio de
Sardão, em Vila Nova de Gaia, no Porto. Ali recomeçaram as entrevistas, as
constantes visitas, os inoportunos e exaustivos interrogatórios, que fizeram
com que ela decidisse deixar as Religiosas de Santa Dorotéia e entrar no
Convento de Santa Teresa, para viver isolada do mundo, no claustro. E conseguiu
obter, depois de várias tentativas, a desejada autorização diretamente de Sua
Santidade o Papa Pio XII.
No dia 23 de Março de 1948 entrou
no Carmelo de Coimbra. A 13 de Maio vestiu o hábito das Carmelitas Descalças e
a 31 de Maio de 1949, emitiu a profissão solene com o nome de "Irmã
Maria Lúcia de JESUS e do Coração Imaculado".
Desenvolveu uma atividade notável
dentro do Convento em benefício da conversão dos pecadores, incrementou a
difusão e a veneração ao Imaculado Coração de Maria, propagou e estimulou a
reza cotidiana do Terço, se empenhou em orações pela saúde e proteção de Sua
Santidade, o Santo Padre o Papa e também, procurou divulgar com intensidade a
Comunhão Reparadora nos cinco primeiros sábados de cada mês para consolo e
desagravo do Sagrado Coração de JESUS e do Imaculado Coração de Maria. Dedicou
sua vida a oração, à contemplação e a penitência. Também exercitou grande
atividade literária e manteve uma imensa correspondência. Utilizava uma maquina
de escrever elétrica com um monitor com muitas memórias. Escreveu as Suas
Memórias (2 volumes) e Apelos da Mensagem de Fátima, que foram traduzidos em
diversos idiomas. Gostava também de confeccionar trabalhos manuais. Com
habilidade e beleza, fabricou milhares de terços. Faleceu com 97 anos de idade
no dia 13 de Fevereiro de 2005, no Carmelo português de Santa Teresa, em
Coimbra. NOSSA SENHORA veio buscá-la às 17horas e 25minutos. O jornal da Santa
Sé "L'Osservatore Romano" escreveu recordando a carmelita: Fecharam-se
docemente aqueles olhos que viram os OLHOS da VIRGEM. Todas as realidades do
país se detiveram para render homenagem à grandiosa figura de uma pastorinha
que com a "força escondida" da oração e da fé, soube tocar
os corações de todos.
O jornal "O
Século" publica um artigo de Avelino de Almeida, onde este descreve o que
presenciou na Cova da Iria no dia 13 de Outubro de 1917.
COISAS ESPANTOSAS!
COMO O SOL BAILOU AO MEIO DIA EM FÁTIMA
As aparições da
Virgem - Em que consistiu o sinal do céu - Muitos milhares de pessoas afirmam
ter-se produzido um milagre - A guerra e a paz
Lucia, de 10 anos;
Francisco, de 9, e Jacinta, de 7, que na charneca de Fátima, concelho de Vila
Nova de Ourem, dizem ter falado com a Virgem Maria
Avelino de Almeida Publ.: "O Século",
Lisboa (edição da manhã) 37 (l2.876)
15 Out. 1917, p. 1, cols. 6-7; p. 2, col. 1.
OUREM, 13 de
Outubro
Ao saltar, após demorada viagem, pelas dezesseis horas de honrem, na estação de
Chão de Maçãs, onde se apearam também pessoas religiosas vindas de longes
terras para assistir ao "milagre", perguntei, de chofre, a um
rapazote do "char-á-bancs" da carreira se já tinha visto a Senhora.
Com seu sorriso sardoico e o olhar enviezado, não hesitou em responder-me:
- Eu cá só lá vi
pedras, carros, automóveis, cavalgaduras e gente!
Por um fácil
equivoco, o trem que nos devia conduzir, a Judah Ruah e a mim, até à vila, não
apareceu e decidimo-nos a calcoffiar corajosamente cêrca de duas léguas por não
haver logar para nós na diligência e estarem, desde muito, afreguezadas as
carriotas que aguardavam passageiros. Pelo caminho, topámos os primeiros
ranchos que seguiam em direção ao local santo, distante mais de vinte
kilometros bem medidos.
Homens e mulheres
vão quasi todos descalços - elas com saquiteis à cabeça, sobrepujados pelas
sapatorras; eles abordoando-se a grossos vara-paus e cautelosamente munidos tambem
de guarda-chuva. Dir-se-hiam, em geral, alheados do que se passa à sua volta,
n"um desinteresse grande da paizagem e dos outros viandantes, como que
imersos em sonho, rezando n"uma triste melopeia o terço. Uma mulher rompe
com a primeira parte da ave-maria, a saudação; os companheiros, em côro,
continuam com a segunda parte, a suplica. N"um passo certo e cadenciado,
pisam a estrada poeirenta, entre pinhaes e olivedos, para chegarem antes que se
cerre a noite ao sitio da aparição, onde, sob o relento e a luz fria das
estrelas, projetam dormir, guardando os primeiros Jogares junto da azinheira
bemdita - para no dia de hoje verem melhor.
À entrada da vila,
mulheres do povo a quem o meio já infêtou com o virus do céticismo, comentam,
em tom de troça, o caso do dia:
- Então vaes vêr
ámanhã a santa?
- Eu, não. Se ela
ainda cá viesse!
E riem-se com
gosto, emquanto os devotos proseguem indiferentes a tudo o que não seja o
objetivo da sua romagem. Em hourem só por uma amabilidade extrema se encontra
aposentadoria. Durante a noite, reunem-se na praça da vila os mais variados
veículos conduzindo crentes e curiosos sem que faltem velhas damas vestidas de
escuro, vergadas já ao peso dos anos, mas faiscando-lhes nos olhos o lume
ardente da fé que as animou ao ato corajoso de abandonar por um dia o
inseparavel cantinho da sua casa. Ao romper d"alva, novos ranchos surgem
intrépidos e atravessam, sem pararem um instante, o povoado, cujo silencio
quebram com a harmonia dos canticos que vozes femininas, muito armadas, entoam
n"um violento contraste com a rudeza dos tipos...
O sol nasce, mas o
cariz do céu ameaça tormenta. As nuvens negras acastelam-se precisamente sobre
as bandas de Fátima. Nada, todavia, detem os que por todos os caminhos e
servindo-se de todos os meios de locomoção para lá confluem. Os automoveis
luxuosos deslisam vertiginosamente, tocando as buzinas; os carros de bois
arrastam-se com vagar a um lado da estrada; as galeras, as vitorias, os
caleches fechados, as carroças nas quaes se improvisaram assentos vão ajoujados
a mais não poderem. Quasi todos levam com os farneis, mais ou menos modestos,
para as bocas cristãs a ração de folhelho para os irracionaes que o
"poverelo" de Assis chamava nossos irmãos e que cumprem valorosamente
a sua tarefa... Tilinta uma ou outra guiseira, vê-se uma carrocinha adornada de
buxo; no em tanto, o ar festivo é discreto, as maneiras são compostas e a ordem
absoluta... Burrinhos choutam à margem da estrada e os ciclistas,
numerosissimos, fazem prodígios para não esbarrar de encontro aos carros.
Pelas dez horas, o
ceu tolda-se totalmente e não tardou que entrasse a chover a bom chover. As
cordas de agua, batidas por um vento agreste, fustigam os rostos, encharcando o
macadame e repassando até os ossos os caminhantes desprovidos de chapeus e de
quaesquer outros resguardos. Mas ninguem se impaciente ou desiste de proseguir
e, se alguns se abrigam sob a copa das arvores, junto dos muros das quintas ou
nas distanciadas casas que se debruçam ao longo do caminho, outros continuam a marcha
com uma impressionante resistencia, notando-se algumas senhoras cujos vestidos
colados aos corpos, por efeito do impeto e da pertinácia da chuva, lhes
desenham as fórmas como se tivessem saído do banho!
O ponto da charneca
de Fátima, onde se disse que a Virgem aparecera aos pastorinhos do logarejo de
Aljustrel, é dominado n"uma enorme extensão pela estrada que corre para
Leiria, e ao longo da qual se postaram os veículos que lá conduziram os
peregrinos e os mirones. Mais de cem automoveis alguem contou e mais de cem
bicicletas, e seria impossível contar os diversos carros que atravancaram a
estrada, um d"eles o auto-omnibus de Torres Novas, dentro do qual se
irmanavam pessoas de todas as condições sociaes.
Mas o grosso dos
romeiros, milhares de creaturas que foram de muitas leguas ao redor e a que se
juntaram fieis idos de varias províncias, alemtejanos e algarvios, minhotos e
beirões, congregam-se em tomo da pequenina azinheira que, no dizer dos
pastorinhos, a visão escolhera para seu pedestal e que podia considerar-se como
que o centro de um amplo circulo em cujo rebordo outros espectadores e outros
devotos se acomodam. Visto da estrada, o conjunto é simplesmente fantástico. Os
prudentes camponios, abarracados sob os chapeus enormes, acompanham, muitos
d"eles, o desbaste dos parcos farneis com o conduto espiritual dos hinos sacros
e das dezenas do rosário.
Não ha quem tema
enterrar os pés na argila empapada, para ter a dita de ver de perto a azinheira
sobre a qual ergueram um tosco portico em que bamboleiam duas lanternas...
Altenam-se os grupos que cantam os louvores da Virgem, e uma lebre, espavorida,
que galga matagal em fóra, apenas desvia as atenções de meia duzia de zagaletes
que a alcançam e prostram à cacetada...
E os pastorinhos?
Lucia, de 10 anos, a vidente, e os seus pequenos companheiros, Francisco, de 9,
e Jacinta, de 7, ainda não chegaram. A sua presença assinala-se talvez meia
hora antes da indicada como sendo a da aparição. Conduzem as rapariguinhas,
coroadas de capelas de flôres, ao sitio em que se levanta o portico. A chuva
cae incessantemente mas ninguem desespera. Carros com retardatários chegam à
estrada. Grupos de freis ajoelham na lama e a Lucia pede-lhes, ordena que
fechem os chapeus. Transmite-se a ordem, que é obedecida de pronto, sem a
minima relutância. Ha gente, muita gente, como que em extase; gente comovida,
em cujos labios secos a prece paralisou; gente pasmada, com as mãos postas e os
olhos borbulhantes; gente que parece sentir, tocar o sobrenatural...
A criança afirma
que a Senhora lhe falou mais uma vez, e o céu, ainda caliginoso, começa, de
subito, a clarear no alto; a chuva pára e presente-se que o sol vae inundar de
luz a paizagem que a manhã invernosa tomou ainda mais triste...
A hora antiga"
é a que regula para esta multidão, que calculos desapaixonados de pessoas
cultas e de todo o ponto alheias ás influencias misticas computam em trinta ou
quarenta mil creaturas... A manifestação miraculosa, o sinal visivel anunciado
está prestes a produzir-se - asseguram muitos romeiros... E assiste-se então a
um espectáculo unico e inacreditavel para quem não foi testemunha d"ele.
Do cimo da estrada, onde se aglomeram os carros e se conservam muitas centenas
de pessoas, a quem escasseou valor para se meter à terra barrenta, vê-se toda a
imensa multidão voltar-se para o sol, que se mostra liberto de nuvens,
no zenit. O astro lembra uma placa de prata fosca e é possivel fitar-lhe o
disco sem o minimo esforço. Não queima, não cega. Dir-se-hia estar-se
realisando um eclipse. Mas eis que um alarido colossal se levanta, e aos
espectadores que se encontram mais perto se ouve gritar:
- Milagre, milagre!
Maravilha, maravilha!
Aos olhos
deslumbrados d"aquele povo, cuja atitude nos transporta aos tempos
biblicos e que, palido de assombro, com a cabeça descoberta, encara o azul, o
sol tremeu, o sol teve nunca vistos movimentos bruscos fóra de todas as leis
cosmicas - o sol «bailou», segundo a tipica expressão dos camponeses..
Empoleirado no estribo do auto-omnibus de Torres Novas, um ancião cuja estatura
e cuja fisionomia, ao mesmo tempo doce e energica, lembram as de Paul
Déroulède, recita, voltado para o sol, em voz clamorosa, de principio a fim, o
Credo. Pergunte quem é e dizem-me ser o sr. João Maria Amado de Melo Ramalho da
Cunha Vasconcelos.
Vejo-o depois
dirigir-se aos que o rodeiam, e que se conservaram de chapeu na cabeça,
suplicando-lhes, veementemente, que se descubram em face de tão extraordinária
demonstração da existência de Deus. Cenas idênticas repetem-se n"outros
pontos e uma senhora clama, banhada em aflitivo pranto e quasi n"uma
sufocarão:
- Que lastima!
Ainda ha homens que se não descobrem deante de tão estupendo milagre!
E, a seguir,
perguntam uns aos outros se viram e o que viram. O maior numero confessa que
viu a tremura, o bailado do sol; outros, porém, declaram ter visto
o rosto risonho da propria Virgem, juram que o sol girou sobre si mesmo como
uma roda de fogo de artificio, que ele baixou quasi a ponto de queimar a terra
com os seus raios... Ha quem diga que o viu mudar sucessivamente de côr...
São perto de quinze
horas.
O ceu está varrido
de nuvens e o sol segue o seu curso com o esplendor habitual que ninguem se
atreve a encarar de frente. E os pastorinhos? Lucia, a que fala com a Virgem,
anuncia, com ademanes teatraes, ao colo de um homem, que a transporta de grupo
em grupo, que a guerra terminára e que os nossos soldados iam regressar...
Semelhante nova, todavia, não aumenta o jubilo de quem a escuta. O sinal
celeste foi tudo. Ha uma intensa curiosidade em vêr as duas rapariguinhas com
suas grinaldas de rosas, ha quem procure oscular as mãos das «santinhas», uma
das quaes, a Jacinta, está mais para desmaiar do que para danças", mas
aquilo por que todos anciavam - o sinal do ceu - bastou a satisfazel-os, a
radical-os na sua fé de carvoeiro. Vendedores ambulantes oferecem os retratos
das crianças em bilhetes postaes e outros bilhetes que representam um soldado
do Corpo Expedicionario Portuguez "pensando no auxilio da sua protetora
para salvação da Patria" e até uma imagem da Virgem como sendo a figura da
visão...
Bom negocio foi
esse e decerto mais centavos entraram na algibeira dos vendedores e no tronco
das esmolas para os pastorinhos do que nas mãos estendidas e abertas dos
leprosos e dos cegos que, acotevelando-se com os romeiros, atiravam aos ares
seus gritos lancinantes...
O dispersar faz-se
rapidamente, sem dificuldades, sem sombra de desordem, sem que fosse mister que
o regulasse qualquer patrulha da guarda. Os peregrinos que mais depressa se
retiram, correndo estrada fóra, são os que primeiro chegaram, a pé e descalços
com os sapatos à cabeça ou dependurados nos varapaus. Vão, com a alma em
lausperene, levar a boa nova aos logarejos que não se despovoaram de todo. E os
padres? Alguns compareceram no local, sorridentes, enfileirando mais com os
espectadores curiosos do que com os romeiros avidos de favores celestiaes.
Talvez um ou outro não lograsse dissimular a satisfação que no semblante dos
triunfadores tantas vezes se traduz...
Resta que os
competentes digam de sua justiça sobre o macabro bailado do sol que hoje, em
Fátima, fez explodir hossanas dos peitos dos fieis e deixou naturalmente
impressionados - ao que me asseguraram sujeitos fidedignos os livres pensadores
e outras pessoas sem preocupações de natureza religiosa que acorreram à já
agora celebrada charneca.
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