"NÃO FIQUE LÁ PEDRA SOBRE PEDRA. O MUNDO CATÓLICO NÃO PODE CONSENTIR E NÃO CONSENTIRÁ JAMAIS, NA DESTRUIÇÃO VIRTUAL DO CRISTIANISMO POR UMA SÓ CIDADE EM PODER DE LOUCOS FRENÉTICOS"
Alberto Carlos
Rosa Ferreira das Neves Cabral
Procedamos à leitura de excertos da alocução do Papa
Pio IX aos Cardeais reunidos em Consistório, em 29 de Abril de 1848:
« Mais do que
uma vez, veneráveis irmãos, nós nos erguemos perante vós contra a audácia de
alguns homens, que não tiveram vergonha de fazer a nós e à Sede Apostólica a
injúria de afirmar que nós nos afastámos, não sòmente das santíssimas
instituições dos nossos predecessores, mas ainda (blasfémia horrível), de mais
do que um princípio fundamental da Igreja. Hoje ainda, encontram-se pessoas que
falam de nós como se nós fôssemos o principal autor das perturbações públicas,
que nestes últimos tempos, agitaram diversos países da Europa, particularmente
a Itália. Nós temos conhecimento, particularmente, de regiões alemãs da Europa,
de como aí se semeiam distúrbios, entre o povo, que o Romano Pontífice, seja
por meio de emissários, seja por outras maquinações, terá excitado as nações
italianas a provocar novas sedições políticas. Nós tomámos igualmente
conhecimento que alguns inimigos da religião católica disso tiraram ocasião
para sublevar sentimentos de vingança nas populações alemãs, para as separar da
unidade desta Sé Apostólica (…)
(…) São ainda
conhecidas por todos, veneráveis irmãos, as palavras da nossa alocução, no
Consistório de 4 de Outubro do último ano, pelas quais nós recomendámos aos
Soberanos uma paternal benevolência e sentimentos mais afectuosos para com os
seus súbditos, ao mesmo tempo que nós exortamos de novo os povos à fidelidade e
obediência para com os príncipes (…) para que todos, firmemente vinculados à
doutrina Católica, fiéis observadores das Leis de Deus e da Igreja, se
aplicassem à manutenção da concórdia mútua, da tranquilidade e da Caridade para
todos. (…)
(…) Mas aqui, nós
não podemos nos impedir de repudiar, à face de todas as Nações, as pérfidas
asserções publicadas nos jornais, e em diversos escritos, por aqueles que
quereriam que o Romano Pontífice presidisse à constituição duma nova república
formada por todos os povos de Itália. E o que é mais, nessa ocasião, nós
advertimos e exortámos vivamente estes mesmos povos italianos, pelo amor que
nós nutrimos por eles, a manterem-se cuidadosamente defendidos contra estes
conselhos pérfidos e tão funestos à Itália. Nós suplicamos a esses povos para
permanecerem fortemente unidos aos seus príncipes, de quem experimentaram
afeição, e que jamais se deixem desviar da obediência que lhes devem. Agir de
forma diferente, constituiria não sòmente uma infracção aos seus deveres, mas
exporia a Itália ao perigo de ser dilacerada por discórdias cada dia mais
vivas, e por facções intestinas.» – EXTRAÍDO DA OBRA DE CRÉTINEAU-JOLY – «
L’ÉGLISE ROMAINE EN FACE DE LA RÉVOLUTION » (1859)
Nos últimos tempos do Pontificado de Gregório XVI, a
polícia dos Estados Pontifícios apreendeu importantíssima e mortalmente
comprometedora documentação sobre as sociedades secretas actuando na Europa, e
particularmente em Itália. O Papa Gregório XVI mandou chamar à sua presença
Crétineau-Joly (1803-1875), um dos maiores historiadores católicos do século
XIX, encarregando-o de estruturar crìticamente uma obra que desmascarasse
perante a História os propósitos deicidas das lojas maçónicas – assim nasceu a
«L’Église Romaine en face da la Révolution”, que escalpeliza a revolução
anti-cristã, desde o pontificado de Pio VI até à definição do Dogma da
Imaculada Conceição.
Através desta obra, nós tomamos conhecimento do plano
de satanás para destruir a Santa Madre Igreja, não através de ataques
exteriores, mas sim mediante a usurpação dos seus cargos mais eminentes, a
começar pela própria Cátedra de São Pedro.
O processo de unificação italiana à custa dos Estados
Pontifícios constituiu, quer se queira, quer não, uma primeira fase essencial,
dum plano mais extenso, que só se completou com o maldito concílio de Roncalli
e Montini. Efectivamente, o domínio temporal directo da Sé Apostólica – cujas
origens mais remotas entroncam no Pacto de Quiercy, em 753, no qual Pepino o
Breve, filho de Carlos Martel, cedeu ao Papa Estevão II antigos territórios
Lombardos – foi sempre considerado pelo Direito Público Eclesiástico como
absolutamente essencial à liberdade de exercício do poder Espiritual; já
Voltaire dizia que o Papa, uma vez privado do seu domínio temporal, se tornaria
um simples capelão do Imperador.
As tentativas iniciais das sociedades secretas em
conseguir uma Itália Republicana unificada sob a presidência nominal dum Papa
Pio IX tornado apóstata, filiavam-se caracterizadamente neste afã de destruir
primeiro o poder temporal da Santa Sé, para melhor poder ulteriormente destruir
o seu poder espiritual.
Em 8 de Setembro de 1847, Mazzini (1805-1872), um dos
maiores inimigos da Santa Madre Igreja, escrevia o seguinte ao Papa Pio IX: «
Não vos direi as minhas opiniões individuais sobre o rumo futuro da religião,
pouco importam. Dir-vos-ei que seja qual for o destino das actuais crenças, vós
podereis ser o chefe (…) Exorto-vos, depois de tantos séculos de dúvida e de
corrupção, a ser apóstolo do eterno verdadeiro – sede crente. Rejeitai ser rei,
político, homem de estado (…). Anunciai uma Era: Declarai que a humanidade é
sagrada e filha de Deus, que quantos violam os seus direitos ao progresso e à
associação estão nas vias do erro (…). Unificai a Itália, a vossa pátria (…).
Faremos surgir em torno de vós uma Nação e um desenvolvimento livre e popular,
se fordes vivo vós presidireis».
Era todavia necessário que o Papa Pio IX se dispusesse
a enfrentar militarmente a Áustria – o que ele recusou; afirmando não poder
declarar guerra a uma Nação Católica. Foi Pio IX um Papa liberal? Evidentemente
que não; agiu todavia de forma imprudente, ao esboçar um estatuto
constitucional semi-liberal para o governo temporal dos Estados Pontifícios,
com uma Câmara alta de notáveis nomeados pelo Sumo Pontífice e uma Câmara baixa
sujeita a representação popular restrita; mas também é certo que após as
monstruosidades da “república Romana” de 1848-49 de Mazzini, Saffi e Armelini,
após Pio IX se ter refugiado em Gaeta, pertencente ao Reino de Nápoles, e ter
sido enviada por Napoleão III, ainda em regime republicano, uma força que
derrotou a referida “república romana”, após todos estes dolorosos sucessos –
Pio IX não mais quis saber para nada de governo constitucional.
Cumpre assinalar que Napoleão III, Presidente da
República e depois Imperador da França, agia por motivos ESTRITAMENTE
POLÍTICOS, e não por dilecção à causa católica. Por essa época, em que o poder
satânico das seitas anti-católicas atingia o auge, proclamava Donoso Cortés no
parlamento espanhol: « Proponho-me falar francamente e assim falarei – eu
afirmo necessário ou que o Soberano de Roma retorne a Roma, OU QUE NÃO FIQUE LÁ
PEDRA SOBRE PEDRA. O MUNDO CATÓLICO NÃO PODE CONSENTIR E NÃO CONSENTIRÁ JAMAIS,
NA DESTRUIÇÃO VIRTUAL DO CRISTIANISMO POR UMA SÓ CIDADE EM PODER DE LOUCOS
FRENÉTICOS. A Europa civil não consente, nem nunca consentirá, QUE SEJA
DERRUBADA A CÚPULA DA CIVILIZAÇÃO EUROPEIA. O mundo não pode consentir, nem
nunca consentirá, que na insensata cidade de Roma ascenda ao trono uma nova e
estranha dinastia, A DINASTIA DO DELITO. (…) As assembleias constituintes não
podem existir em qualquer lugar, NÃO PODEM EXISTIR EM ROMA; EM ROMA NÃO PODE EXISTIR
PODER CONSTITUINTE, PARA ALÉM DO PODER CONSTITUÍDO. ROMA E OS ESTADOS
PONTIFÍCIOS NÃO PERTENCEM A ROMA, NÃO PERTENCEM AO PAPA, PERTENCEM AO MUNDO
CATÓLICO.»
Sabemos que a Romanidade da Santa Madre Igreja é de
Direito Divino; efectivamente, mesmo nos setenta anos em que os Papas residiram
em Avinhão, A SANTA IGREJA CATÓLICA CONTINUAVA A SER ROMANA, E O BISPO DE ROMA,
PELO FACTO DE O SER, POR INERÊNCIA, ERA CONSTITUÍDO NA DIGNIDADE DE SUCESSOR DE
PEDRO. Todavia a Romanidade da Santa Igreja não é uma realidade puramente
espiritual, FUNDAMENTA-SE EM RAÍZES TEMPORAIS E MATERIAIS, NUMA SOBERANIA
TERRENA EFECTIVA QUE TAMBÉM É DE DIREITO DIVINO; neste quadro conceptual, o
Papa Pio XI aceitou nos Acordos de Latrão, em 11 de Fevereiro de 1929, a
desistência DE FACTO da reivindicação dos antigos territórios pontifícios, em
troca da reconstituição da sua soberania internacional, ainda que em território
exíguo, posto que, formalmente, moralmente, jurìdicamente, todos os Estados
soberanos possuem igual dignidade.
Sua Santidade o Papa Pio IX possuia plena consciência
DE QUE O OBJECTIVO ÚLTIMO DA MAÇONARIA INTERNACIONAL ERA A DESTRUIÇÃO DA SANTA
MADRE IGREJA PELA DECAPITAÇÃO DA SUA CABEÇA; A DESTRUIÇÃO DA SOBERANIA TEMPORAL
ERA SÓ UM PRINCÍPIO.
A Bula “Ineffabilis Deus”(1854) na qual Pio IX definiu
o Dogma da Imaculada Conceição, a Constituição “Pastor Aeternus” (1870) na qual
foi definida a Infalibilidade Pontifícia, e a encíclica “Quanta Cura” e
respectivo “Sílabo” (1864) na qual o mesmo Papa CONDENOU EM FORMA EXTRAORDINÁRIA
E DEFINITIVA OS PRINCÍPIOS DE TODO O LIBERALISMO: RELIGIOSO, POLÍTICO,
ECONÓMICO, SOCIAL E CULTURAL; todos estes magnos eventos constituem,
indubitàvelmente, os momentos mais elevados deste Pontificado.
Inicialmente ponderou-se se não constituiria melhor
solução integrar num só documento a definição da Imaculada e a condenação dos
erros modernos, para melhor demonstrar como estes últimos se filiam,
essencialmente, no Pecado Original; mas após consultas a figuras eminentes do
Catolicismo, Pio IX decidiu o contrário.
Após a publicação da “Quanta Cura” e respectivo
Sílabo, Monsenhor Dupanloup (1802-1878) Bispo de Orleães, procurou minimizar o
alcance das condenações (assim procederam sempre todos os liberais), mas logo o
grande Louis Veuillot (1813-1883) saiu à liça, atacando Dupanloup, e
restabelecendo todo o vigor doutrinário e dogmático da solene condenação
proferida; Pio IX muito apreciou o espírito acutilante de Veuillot,
reconhecendo, privadamente, que se revia perfeitamente na intervenção do grande
polemista católico.
Uma vez constituído o novo Estado Italiano, ainda sem
a cidade de Roma, o processo de laicização foi muito rápido: expulsão das
Ordens Religiosas, ensino laico, casamento civil, propaganda ateia; com a
guerra franco-prussiana em 1870, o corpo francês que defendia a cidade de Roma
foi retirado – e Roma foi constituída capital laica do reino de Itália.
A maçonaria internacional triunfara em toda a linha, e
organizou um anti-concílio durante o Sagrado concílio Vaticano I. Assim se
compreende como o espírito fundador do novo Estado Italiano foi o espírito de
satanás. A terra Sagrada de Itália foi o local onde as malditas seitas
anti-Cristo conseguiram maior hegemonia em todo o século XIX, mesmo maior do
que em França e Portugal.
É próprio do espírito das trevas atacar para
conquistar aqueles que ainda não possui, os que já lhe pertencem, deixa-os em
paz. A maldita Igreja conciliar “beatificou” Pio IX, junto com Roncalli, visto
que constitui o próprio do modernismo misturar sempre o mal com a aparência de
Bem. Quando a falsa Igreja conciliar proclama (materialmente) o Bem, É SÓ PARA
FAZER PASSAR FORMALMENTE O MAL.
Existe plena contradição entre a “Quanta Cura” e a
“Pacem in Terris”, a primeira pertence aos Céus e a segunda aos Infernos. Nem é
preciso acrescentar que todas as beatificações e canonizações da seita
conciliar são plenamente inválidas. A Roma Eterna triunfa e triunfará sempre
sobre a Roma temporal e apóstata. Nós, criaturas finitas, mortais, não
possuímos, nem podemos possuir, a chave da História, mesmo no Céu, mesmo
participando eternamente da Natureza Divina, da Inteligência Divina, da
Caridade Divina, não possuiremos uma intelecção plenamente compreensiva do
Mistério da Providência, bem como do ainda maior Mistério da Predestinação. Por
isso proclamemos, ardentemente, vigorosamente, com Santa Teresa de Ávila:
“Repara bem como os homens mudam e como podemos confiar pouco neles, portanto,
agarra-te a Deus que é imutável, e que jamais te abandonará quando todos te
tiverem abandonado.”
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Lisboa, 26 de Fevereiro de 2014
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