O último mistério: o silêncio das Irmãs. Mas, “quem cala”…
Por
Antonio Socci
Tradução:
Fratres in Unum.com
Apareceu uma novidade no suspense
acerca do “terceiro segredo de Fátima”, uma profecia que atravessa todo o
século XX e parece apontar para a sua realização final.
olg-dragonA novidade está numa
publicação oficial do Carmelo de Coimbra, onde viveu e morreu (em 2005) a Irmã
Lúcia dos Santos, a última vidente. Entitula-se “Um caminho sob o olhar de
Maria” e é uma biografia da Ir. Lúcia, escrita por suas co-irmãs, com preciosos
documentos inéditos da própria vidente.
Antes de vê-los, precisamos recordar
bem a história de Fátima.
A HISTÓRIA DE UM SÉCULO
No inflamar-se da Grande Guerra, em 13
de maio de 1917, Nossa Senhora apareceu, no vilarejo português, a três
pastorinhos.
Os jornais laicos zombavam dos
“ingênuos”, desafiando a Virgem a dar um sinal público de sua presença. Ela
anuncia às três crianças que dará um sinal e, na última aparição, em 13 de
outubro, 70 mil pessoas vindas à Cova da Iria assistem aterrorizadas o dançar
do sol no céu. Um fenômeno que no dia seguinte seria noticiado pelos jornais
(também pelos anticlericais).
Na aparição de 13 de julho, Nossa
Senhora tinha confiado às crianças uma mensagem para todo o mundo. Era a grande
profecia sobre as décadas vindouras, se a humanidade não voltasse para Deus.
Efetivamente, tudo se cumpriu: a
revolução bolchevique na Rússia, a difusão do comunismo no mundo, as
sanguinárias perseguições contra a Igreja e, enfim, a segunda trágica guerra
mundial.
Além disso, havia uma terceira parte
daquele segredo que se deveria revelar – disse Nossa Senhora – em 1960. Chegado
àquela data, João XXIII resolveu deixá-la sob segredo, porque o seu conteúdo
era terrível.
Provocou, assim, uma série de
hipóteses. No ano 2000, João Paulo II tornou público o texto do terceiro
segredo que contém a famosa visão do “bispo vestido de branco”, com o Papa que
atravessa uma cidade destruída e tantos cadáveres, e depois o martírio do Santo
Padre, dos bispos, padres e fieis.
Por muitos elementos, podia-se intuir
que não continha tudo. Também eu, como outros autores, em 2006 publiquei um
livro, “O quarto segredo de Fátima”, onde mostrava que faltava a parte, escrita
e enviada depois, com as palavras de Nossa Senhora, que explicavam a mesma
visão.
O próprio secretário de João XXIII,
Mons. Capovilla, que tinha vivido tudo em primeira pessoa, numa conversa com
Solideo Paolini, acenou para a existência de um misterioso “anexo”.
Pela parte eclesiástica, desmentiu-se
que exista e que houvessem profecias relativas aos tempos hodiernos.
RATZINGER 2010
Mas uma clamorosa confirmação implícita
veio do próprio Bento XVI, que, durante uma improvisada peregrinação a Fátima,
em 13 de maio de 2010, afirmou: “Iludiria-se quem pensasse que a missão
profética de Fátima esteja concluída”.
Acrescentou: “estão indicadas
realidades que dizem respeito ao futuro da Igreja, que pouco a pouco se
desenvolvem e se revelam… e, portanto, são sofrimentos da Igreja que se
anunciam”.
Mas quais profecias poderiam ser
encontradas naquele texto?
Estas duas frases do Papa, pronunciadas
naquele discurso em Fátima, nos fazem refletir: “O homem pôde desencadear um
ciclo de morte e de terror, mas não consegue interrompê-lo”. E depois: “A fé em
amplas regiões da terra corre o risco de apagar-se como uma chama que não é
mais alimentada”.
As palavras de Papa Bento nos fazem
intuir que haja, portanto, algo a mais no Terceiro Segredo, e é dramático para
o mundo e para a Igreja. Talvez seja devido àquela visita do Papa a publicação
deste livro, que deixa escapar um outro pedaço da verdade.
O volume, de fato, é escrito a partir
das cartas da Irmã Lúcia e do Diário inédito, intitulado “O meu caminho”.
Impressionante, entre os episódios inéditos, é a narração de como a Irmã Lúcia
superou o terror que lhe impedia de escrever o Terceiro Segredo.
O INÉDITO
Por volta das 16h do dia 3 de janeiro
de 1944, na capela do convento, diante do sacrário, Lúcia pediu a Jesus que lhe
fizesse conhecer a Sua vontade: “senti então, que uma mão amiga, carinhosa e
maternal me toca no ombro”.
É “a Mãe do Céu” que lhe diz: “Está em
paz e escreve o que te mandam, não porém o que te é dado entender do seu
significado”, querendo aludir ao significado da visão que a própria Virgem lhe
tinha revelado.
Logo depois – diz a Irmã Lúcia – “senti
o espírito inundado por um mistério de luz que é Deus e N’Ele vi e ouvi, – A
ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, – Ela
estremece: montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são
sepultados. O mar, os rios e as nuvens saem dos seus limites, transbordam,
inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que não
se pode contar, é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. O
ódio, a ambição provocam a guerra destruidora! Depois senti no palpitar
acelerado do coração e no meu espírito o eco duma voz suave que dizia: – No
tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica. Na
eternidade, o Céu! Esta palavra Céu encheu a minha alma de paz e felicidade, de
tal forma que quase sem me dar conta, fiquei repetindo por muito tempo: – O
Céu! O Céu!”.
Assim lhe foi dada a força para que
escrevesse o Terceiro Segredo.
O inédito que acabei de citar é um
documento muito interessante, no qual os que se dedicam a este tema encontram
facilmente a confirmação para a reconstrução histórica pela qual o Terceiro
Segredo está composto de duas partes: uma, a visão, foi escrita e enviada
antes, enquanto a outra – aquela que nas palavras de Nossa Senhora é o
“significado” da própria visão – foi escrita e enviada sucessivamente.
É o famoso e misterioso “anexo” ao qual
se referia Capovilla. É o texto ainda não publicado, onde presumivelmente está
a parte que mais assustava a Irmã Lúcia. A mesma parte que assustou João XXIII
(e, antes dele, Pio XII) e que Roncalli decidiu não publicar porque – como
advertia – poderia ser apenas um pensamento da Irmã Lúcia e não ter origem
sobrenatural.
É uma parte tão explosiva que ainda se
continua oficialmente a negar sua existência. E a abertura de Bento XVI em 2010,
que levou também à publicação deste volume, hoje fechou-se novamente.
QUEM CALA…
Prova disso é o que aconteceu com
Solideo Paolini, o maior estudioso italiano de Fátima, que, vendo as páginas
deste livro que lhe enviei, escreveu ao Carmelo de Coimbra, pedindo para poder
consultar as duas obras inéditas, mencionadas no volume, considerando que ali
existissem mais detalhes sobre a parte em segredo.
A carta chegou ao destino (testifica-o
o recibo), mas não teve resposta. Então, Paolini escreveu de novo, entrando no
mérito da questão e perguntando se a Irmã Lúcia tinha alguma vez esclarecido o
“significado da visão” que do Alto lhe tinha sido dado compreender e que
naquele 3 de janeiro evitou anotar, sob sugestão de Nossa Senhora: “nas obras
que lhe pedi para consultar há alguma referencia a ‘algo a mais’, relativo ao
Segredo de Fátima, que ainda hoje seja textualmente inédito?”.
A carta chegou em 6 de junho. Mas
também esta não teve resposta. E, do mesmo modo, seria simples responder que
“não”. Evidentemente, a resposta era “sim”, mas não pode ser dada, porque seria
explosiva. Deste modo, calam.
Entretanto, a visão que acabo de citar
remete a dois elementos que presumivelmente estariam contidos no texto inédito
do Segredo: a profecia de uma terrível catástrofe para o mundo e uma grande
apostasia e crise da Igreja. Uma prova apocalíptica, em cujo término – Nossa
Senhora em pessoa o disse, em Fátima – “o meu Imaculado Coração triunfará”.
Bento XVI fez referência a este
esperado “triunfo” em 2010: “Possam estes sete anos que nos separam do
centenário das Aparições (2017) apressar o prenunciado triunfo do Coração
Imaculado de Maria, para a glória da Santíssima Trindade”.
Significa que hoje, em 2014, já
entramos na prova assustadora? De fato, se lermos os jornais…
Antonio Socci
Em “Libero”, 17 de agosto de 2014
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