"A finalidade última de todos os bens da Terra é o serviço dos homens, ajudando-os, proporcionadamente, a proclamarem a Glória extrínseca de Deus e a salvarem as suas almas."
Alberto Carlos Rosa Ferreira
das Neves Cabral
Escutemos o Papa
Leão XIII, em excertos da sua encíclica “Rerum Novarum”, promulgada em 15
de Maio de 1891:
«Ninguém
pode ter verdadeira inteligência da vida mortal, nem estimá-la no seu justo
valor, se não se eleva à condição da outra vida que é imortal. Suprimi esta, e
imediatamente toda forma e toda verdadeira noção de honestidade desaparecerão;
mais ainda: Todo o Universo se tornará um impenetrável mistério. Só quando
tivermos abandonado esta vida, começaremos a viver – esta Verdade, que a
natureza nos ensina, e que é um Dogma Cristão, sobre o qual se assenta, como
sobre o seu primeiro fundamento, toda a economia da Religião. Não, Deus não nos
fez para estas coisas frágeis e caducas, mas para as coisas celestes e Eternas;
não nos deu esta Terra como morada fixa, mas como lugar de exílio. Quer
abundeis em riquezas ou outros bens, chamados bens de fortuna, ou que estejais
privados deles, isso nada importa à Eterna Beatitude. O uso que fizerdes deles
é o que interessa. Pela Sua superabundante Redenção, Jesus Cristo não
suprimiu as aflições que formam quase toda a trama da vida mortal; fez delas
estímulos da virtude e fonte de mérito, de sorte que não há homem que possa
pretender as recompensas Eternas, SE NÃO CAMINHAR SOBRE OS PASSOS
SANGUINOLENTOS DE JESUS CRISTO. “Se sofrermos com Ele, com Ele reinaremos”
(IITim 2,12). Por outra parte, escolhendo Ele mesmo a Cruz e os tormentos,
minorou-lhes singularmente o peso e a amargura, a fim de nos tornar ainda mais
suportável o sofrimento; ao exemplo acrescentou a Sua Graça e a promessa de uma
recompensa sem fim: “Porque o momento tão curto e tão ligeiro das aflições que sofremos
nesta vida, produz em nós o peso Eterno de uma Glória Soberana
incomparável”(IICor 4,17).
Assim, os
afortunados deste mundo são advertidos de que as riquezas não os isentam da
dor, QUE ELAS NÃO SÃO DE NENHUMA UTILIDADE PARA A VIDA ETERNA, MAS ANTES UM
OBSTÁCULO (cf. Mt 19, 23-24); que eles devem temer diante das ameaças severas
que Jesus Cristo profere contra os ricos (cf. Lc 6, 24-25); que enfim, virá um
dia em que deverão prestar a Deus, seu Juiz, RIGOROSÍSSIMAS CONTAS DO USO QUE
HAJAM FEITO DA SUA FORTUNA. Sobre o uso das riquezas, já a filosofia pode
delinear alguns ensinamentos de suma excelência e extrema importância; mas só a
Santa Igreja no-los pode dar na sua perfeição e fazê-los descer do conhecimento
à prática.
O fundamento
dessa Doutrina está na distinção entre a justa posse das riquezas, e o seu
legítimo uso. A propriedade particular, é DE DIREITO NATURAL PARA O HOMEM; o
exercício desse direito é coisa não só permitida, sobretudo a quem vive em
sociedade, mas ainda absolutamente necessária. Agora, se se pergunta em que é
necessário fazer consistir o uso dos bens, a Santa Igreja responderá sem
hesitação: “A esse respeito o homem não deve ter as coisas exteriores por
particulares, mas por comuns, de tal sorte que fàcilmente dê parte delas aos
outros, nas suas necessidades” ( S.Tomás, Summa Theo.II II, q.61, a.1 ad 2// q.32, a.6). Ninguém
certamente é obrigado a aliviar o próximo, privando-se do necessário para si ou
para a sua família; nem mesmo a nada suprimir do que as conveniências e a decência
impõem à sua pessoa. Mas desde que haja satisfeito convenientemente à
necessidade e ao decoro, é um dever lançar o supérfluo no seio dos pobres.
(…) Quem
quer que tenha recebido da Divina Bondade maior abundância, quer de bens
externos e do corpo, quer de bens da alma, RECEBEU-OS COM O FIM DE OS FAZER
SERVIR AO SEU PRÓPRIO APERFEIÇOAMENTO, E AO MESMO TEMPO, COMO MINISTRO DA
PROVIDÊNCIA, PARA ALÍVIO DOS OUTROS: “É por isso que quem tiver o talento da
palavra, tome cuidado em não se calar; quem possuir superabundância de bens,
não deixe a misericórdia intumescer-se no fundo do seu coração; quem tiver a
arte de governar, aplique-se com cuidado a partilhar dela, com o irmão, o
exercício e os frutos”(S. Gregório Magno. In Evang.Hom 9, n.7).»
A finalidade última
de todos os bens da Terra é o serviço dos homens, ajudando-os,
proporcionadamente, a proclamarem a Glória extrínseca de Deus e a salvarem as
suas almas.
O direito de
propriedade é essencialmente social; mas assim como Deus Nosso Senhor quer que
a sociedade reflicta na Ordem Natural a hierarquia da Criação, assim o direito
de propriedade terá de subordinar-se a essa ordem hierárquica. Porque a
propriedade, constituindo uma extensão moral e ontológica da pessoa,
necessàriamente terá de ser, anàlogamente, espiritualizada e pessoal.
No Paraíso
Terrestre, se não tivesse havido pecado original, a sociedade seria
hierárquica, rigorosamente ordenada, mas sem qualquer espécie de coacção, pois
nela não existiria pecado original. Não se deve pensar que pelo facto de não
ter havido pecado original, fosse impossível que algum descendente de Adão
pecasse; Não, mas mesmo que tal acontecesse, o seu pecado jamais infectaria
toda a raça humana, pois não fora cometido pelo seu chefe orgânico. No Paraíso
Terrestre os homens teriam de trabalhar, mas o trabalho não lhes seria penoso,
seria mesmo um prazer, tanto mais que a natureza não fora contaminada,
desordenada, com o pecado da criatura racional.
No Paraíso
Terrestre, não haveria fragmentação numa pluralidade de Estados; existiriam
classes sociais, mas não haveria miséria, e todos gozariam do bem da
propriedade privada, embora de forma desigual. A estruturação social seria
espontaneamente elaborada e edificada, com base na virtude sobrenatural dos
membros do corpo social. Até porque seria essa mesma virtude que equilibraria
automàticamente as assimetrias económicas e sociais que pudessem surgir, na
exacta medida em que o regime político, NÃO SENDO COACTIVO, TAMBÉM NÃO SERIA,
NEM PODERIA SER, NEM LIBERAL, NEM SOCIALISTA, NEM CAPITALISTA – PORQUE TODOS OS
HOMENS E MULHERES VIVERIAM PARA DAR GLÓRIA A DEUS NA SANTIDADE INTEMERATA DA
VERDADE E DO BEM. Os “ismos” dos regimes políticos, e até o próprio conceito de
“regime” nascem irrevogàvelmente do pecado da Humanidade e consequente e
inevitável emergência da coacção social, policial e militar.
O liberalismo
económico participa das convicções do liberalismo em geral, começando logo, na
melhor das hipóteses, pelo seu deísmo; mas o que é o deísmo? É uma forma
totalmente aberrante de conceber a Deus e ao mundo, que se produziu logo a
seguir à Reforma, sobretudo em Inglaterra, daí passando para a França, e
através da maçonaria encarnou o chamado iluminismo, desembocando na revolução
de 1789. O deísmo nega, rotundamente, a Revelação Sobrenatural, nega a Santa
Providência, nega todos os Mistérios, considera vagamente que “deus” criou o
mundo, mas que depois o abandonou(?), e culmina num HORRÍVEL FANTASMA DO
VERDADEIRO DEUS NOSSO SENHOR. John Locke; David Hume, Isaac Newton, Leibnitz; o
próprio Descartes, foram deístas. Todavia, o liberalismo contemporâneo, e muito
especialmente o económico, é radicalmente ATEU, UM ATEÍSMO, SE POSSÍVEL, MAIS
PROFUNDO, MAIS AMARGO, DO QUE O COMUNISTA, E QUE MAIS PRÒPRIAMENTE DEVE SER
DENOMINADO – LIBERTINISMO.
O liberalismo
económico do século XIX, muito apoiado ainda em doutrinas fisiocráticas e num
optimismo pré-industrial, acreditava num fluir harmonioso e num equilíbrio dos
factores naturais e humanos, individuais e colectivos, cujo livre concurso
contribuiria para a prosperidade geral. MAS TUDO ISTO CONSTITUEM REALIDADES
QUE, DEPOIS DO PECADO ORIGINAL, SE ENCONTRAM MISERÀVELMENTE INQUINADAS E
DESORDENADAS, OBLITERANDO PELA RAIZ ESSE PRETENSO EQUILÍBRIO RECTIFICADOR.
E esta tese é
tanto mais verdadeira quanto a dita revolução industrial agravou
extraordinàriamente as condições da sociedade com o corolário maldito DO
ESMAGAMENTO DO FRACO PELO FORTE, DO POBRE PELO RICO. O liberalismo económico
actual JÁ NÃO SE PREOCUPA, NEM NA TEORIA, NEM NA PRÁTICA, PELA PROSPERIDADE
GERAL, POIS ESMAGA O FRACO POR PURO SATANISMO. Pois que outro não podia ser o
resultado de doutrinas, ATEIAS, que deixam aos agentes económicos e sociais
completa, E ANÁRQUICA, liberdade de acção ao sabor das leis do mercado. A
propriedade dos meios de produção pelos particulares – o que em si é
absolutamente legítimo – dissociada de vínculos religiosos, morais e
político-sociais tutelados directamente pelo Estado Católico e indirectamente
pela Santa Madre Igreja, produz e encarna numa lógica torpemente materialista,
em que todos os valores humanos, a começar pela própria família, são
subordinados à adicção do lucro.
A Santa Madre
Igreja sempre proclamou o carácter orgânico e rigorosamente hierárquico da
sociedade; o corporativismo defendido pela Santa Igreja foi sempre de natureza
estática, hereditária, com eliminação do conceito de “igualdade à partida” QUE
CONSTITUI UM PRINCÍPIO LIBERAL E É RESPONSÁVEL PELA MISÉRIA IMERECIDA DE MUITAS
FAMÍLIAS. Porque o corpo social não pode ser constituído por indivíduos
concebidos como minúsculos “deuses” desvinculados uns dos outros e de Deus
Criador; a sociedade humana pertence a Deus Nosso Senhor, foi redimida por
Nosso Senhor Jesus Cristo, e mesmo como entidade política está obrigada a
render Glória a Deus Uno e Trino.
O liberalismo
económico, como todo o liberalismo, desenvolveu-se acentuadamente com as
doutrinas protestantes, tendencialmente anárquicas e inimigas de qualquer
mediação institucional entre Deus e o homem, consequentemente, negadoras do
verdadeiro sacerdócio. Ainda hoje, para os protestantes a opulência económica
constitui um sinal da benção Divina, sem que se preocupem muito com os métodos
utilizados para essa ascensão. Assim era no Antigo Testamento; todavia Nosso
Senhor superando (não negando) a Antiga Aliança, e sem condenar a riqueza em si
mesma, não deixou de lhe denunciar o grande perigo que encerra para a salvação
Eterna.
O liberalismo
económico, em virtude do pecado original e dos pecados actuais, estimula a
adicção pela acumulação de riquezas; uma tal desordem propaga-se como uma
epidemia, quer nos ricos quer nos pobres, porque estes últimos, se não
aceitarem evangèlicamente a sua condição, tombam igualmente nos maiores
excessos e em grandes crimes.
Como já se
notou, uma das grandes monstruosidades, primeiro do protestantismo, e depois da
revolução, para além de haver renegado a Fé Católica, FOI TER SEPARADO OS
HOMENS UNS DOS OUTROS; aliás, ambas as realidades são estritamente conexas;
Porque negado o vínculo transcendental que une Deus e os homens,
necessáriamente se dissociam, irremediàvelmente, os homens uns dos outros –
ESSA FOI A OBRA DEMONÍACA DO LIBERALISMO ECONÓMICO.
E não se pense
que o liberalismo económico moderado pela denominada social-democracia, poderá
não ser censurável. Porque a social-democracia, para além de ser estritamente
ateia, continua a considerar os homens como “saídos do nada e a caminhar para o
nada”. Qualquer ordenamento oriundo deste tipo de sociedades não deixará de
exalar um fedor a Sartre, o qual afirmava: “O INFERNO SÃO OS OUTROS”.
Mas pior que o
fedor a Sartre é o fedor a Bergoglio, o qual consegue recapitular todas as
heresias, todos os deicídios, todos os genocídios, de todos os séculos – OU NÃO
FOSSE UM ANTI-CRISTO!
Para concluir:
Nunca olvidemos que a transição do regime de escravatura moderada para a selva
do liberalismo económico, no Brasil(1888) e nos Estados Unidos (1865), foi
altamente prejudicial para os próprios ex-escravos, porque perderam, para si e
para a família, a protecção tutelar dos seus senhores, muitos deles benévolos.
Nisto o Papa
Leão XIII não teria sido suficientemente perspicaz ao insistir na abolição do
regime de escravidão, sem medir as consequências. Porque a falta de liberdade
do escravo, em regime de moderação, sob a acção da Santa Madre Igreja, cerceava
simultaneamente um possível libertinismo do senhor, vinculando ambos numa
solidariedade orgânica de ordem superior, susceptível de tornar a sociedade bem
menos cruel do que sob a férula amaldiçoada do liberalismo económico.
LOUVADO SEJA
NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
Lisboa, 13 de
Novembro de 2016
Alberto Carlos
Rosa Ferreira das Neves Cabral
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